Shaman
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Shaman - Leonardo G. Wild
Prologo
" Suando como achara ser impossível, eu corria por
uma passagem escura, não dava para ver muito apenas as
paredes que antes eram brancas agora consumidas pelas
manchas de humidade e o chão forrado por um carpete
imundo cheirava a carniça. Era como se a própria morte
estivesse atrás de mim, tive a sensação de correr por quase
uma hora naquela fila do abate, até que finalmente ver ao
longe uma porta de incêndio vermelha, parecia tão longe,
mas ao mesmo tempo logo no final do corredor. Corri ainda
mais rápido, sendo tomado por todo o desespero do mundo
e quando finalmente a alcancei, não me dei nem ao trabalho
de olhar o que estava do outro lado, apenas cruzei seu
batente sem excitar.
"Meus olhos levaram algum tempo para se adaptar a
luz, era tudo muito claro e barulhento. Só depois de alguns
instantes eu notei que estava em um parque de diversões.
Ainda que suando agora parecia poder descansar um pouco,
e justamente enquanto eu olhava as crianças correndo ao
redor dos brinquedos luminosos que cortavam a noite a
porta de incêndio atrás de mim começou a fazer um barulho
ensurdecedor, como se uma manada estivesse tentando
atravessa-la. Não fiquei muito mais para ver o que estava
prestes a ser libertado, apenas voltei a correr, desviando de
todo obstáculo no caminho, atravessei o parque todo, em
menos de cinco minutos já estava adentrando a enorme
floresta que ficava a cerca de cem metros do parque.
"Assim que entrei na floresta todo os sons e luzes
do parque de diversão não me alcançavam mais, era como se
não estivesse a poucos metros de mim e para ser franco
parecia que nem estava no mesmo mundo. Com medo de
voltar e encontrar aquilo que me perseguiu eu continuei
andando pela floresta. Quanto mais fundo eu ia mais escuro
o lugar ia se tornando. Devo ter andado por horas até que
alcancei o que parecia ser o coração da floresta, uma arvore
gigantesca, sua base quase tão grande como um campo de
futebol se ramificava em milhares de raízes tão grossas como
rios. Estava tudo conectado, a floresta toda era fruto daquela
arvore que assim como um animal exalava vida e consciência,
mas não pude observa-la por muito tempo, logo um riso
vindo do alto me distraiu.
" O riso do alto vinha de uma mulher sentada em um
dos grandes galhos da arvore principal, ela era linda, cabelos
longos e ruivos combinavam perfeitamente com suas sardas
e também com seu enorme sorriso, e embora estivesse em
um lugar tão inóspito ela usava um grande vestido branco
que cobria até seus pés. Eu a chamei mas ela apenas deu
outra risada, então decidi que seria melhor eu escalar até lá e
conhece-la pessoalmente. Já me encontrava na metade do
caminho quando escorreguei e cai... quando me levantei
olhei para cima na esperança de ver que a moça ainda
continuava lá, mas ela não estava. "
"Me virei para olhar novamente a imensa floresta
que ganhava vida das raízes da arvore, dei de cara com a
moça, que pairou no ar, deu um grito tão alto que a própria
arvore tremeu. Só lembro de ter acordado no meu flet.
- Você acha que eu estou ficando louco? - Disse Jack,
encarando o psicólogo que se recostava em uma grande
poltrona a menos de um metro dele.
- Não, Apenas está tendo o que nós psicólogos
chamamos de estresse pós traumático - Disse o senhor - Veja
bem, como seu psicólogo é meu dever te recomendar
descanso e se possível até um afastamento do trabalho. Mas
como seu amigo, digo que seria bom até mesmo você
encontrar um hobbie. Va conhecer outros lugares ou apenas
morar na praia por um mês, Não importa muito. O fato que
você precisa encontrar uma maneira de relaxa, para o bem
da sua saúde.
- Eu venho sonhando com essa mulher quase que
todas as noites no último ano, você realmente acha que uma
viagem será capaz de fazer com que eu a esqueça? - Jack
estava agitado, não mais deitado no divã, agora se
encontrava dando voltas em torno do seu próprio eixo, em
uma tentativa falha de acabar com a ansiedade que o tomava
dos pés a cabeça
- Justamente isso, a cerca de um ano você vem aqui
todas as semanas e menciona sobre essa mulher e suas
incríveis viagens. Talvez esteja na hora de você deixa-la ir,
mesmo ela sendo fruto do seu subconsciente - O homem deu
uma pausa, colocou uma das mãos em seu terno e de lá tirou
um lindo relógio de prata ao qual olhou e disse - Mas tudo
isso teremos que trabalhar melhor semana que vem, pois seu
tempo acabou.
Então a consulta acabou, Jack desceu as escadas do
grande prédio de vidro no coração da paulista rumo a sua
casa, inconformado com o fato do tempo passar tão rápido
justamente nos momentos que nos são mais necessários, e
também com a ideia de largar tudo e simplesmente viajar.
Era um homem simples, sempre fora. Cabelos pretos lisos
como seda que desciam até quase seu pescoço, pele clara
muito bem acompanhada de olhos castanhos (não que
alguém os visse, uma vez que Jack sempre estava usando um
óculos escuro, desses modelos aviadores ao quais cobriam
boa parte do seu rosto) porte atlético algum, era muito baixo
e muito magro para a maioria dos esportes, porem quando
mais novo todo final de semana ia praticar corrida no sitio do
seu tio que ficava algumas horas de são Paulo.
Quando finalmente terminou de descer os 32
andares que o separavam do chão se arrependeu de não ter
esperado mais pelo elevador, mas até ele sabia que o
arrependimento jamais o garantira nada antes, ignorou e foi
para o metro. O metro estava longe de ser o seu lugar
preferido no mundo, ainda mais em horários de pico, porque
mesmo gostando do contato humano, você nunca estará
pronto para os metros e trens de São Paulo lotados. Não sei
se foi o ar viciado ou a simples magia dos tuneis, mas Jack
parou e ficou olhando em direção ao imenso vazio escuro de
onde vem os vagões e ele ouviu como que ao pé do ouvido
uma voz dizendo:
-Venha comigo
Ele se virou tão rápido quanto pálido, não conseguiu
ver nada que fugisse do normal, que no caso seria pessoas
com caras de cansadas e insatisfeitas por estarem mais um
dia se amontoando para em poucas horas estarem voltando
para o trabalho. Ele sabia que não adiantaria ele ficar à
espera de algo ou alguém, seja lá o que fosse aquilo já havia
ido embora, ou nem mesmo havia estado la. Entrou no vagão
seguinte e durantes as nove longas estações que esperou até
saltar, ficou pensando mais uma vez na floresta ao qual
sonhara ter visitado; era realmente linda e foi como se algo o
quisesse lá.
Chegou em casa e como um zumbi soltou sua mala
no chão, trancou a porta e se jogou no sofá e dormiu, mesmo
ainda sendo apenas oito horas de uma sexta. - Seu
apartamento