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Paixões Contestadas: baseado em fatos reais
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Paixões Contestadas: baseado em fatos reais
E-book212 páginas2 horas

Paixões Contestadas: baseado em fatos reais

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Sobre este e-book

Há uma saga real para ser contada. São causos verdadeiros que se sucederam por paixões no sul do Brasil. Várias gerações, obstáculos geográficos e culturais são transgredidos por uma história de amor entre Maria Helena e Antonil; uma história de amor que desafiou os ditames tradicionais de várias gerações. São fatos, aqui relatados, para ficar na história e gravados em prosa e versos.

É necessário destacar a luta de homens desbravadores nessa aventura. Porém, o desafio maior recai sobre as mulheres guerreiras e apaixonadas. Não se pode esquecer do peso que a mulher carregava dentro dessa sociedade repleta de contradições. A história de Maria Helena é capaz de simbolizar o despotismo do homem sobre a mulher e as formas de resistência da mulher naquela época.

São causos de um sul brasileiro perdido, que doravante serão confessos nesse incrível relato histórico. Um relato histórico que será narrado pela avó de Valentina. Valentina é uma menina muito curiosa por histórias que a sua avó costuma contar. No entanto, ela não sabe que o seu presente está interligado com as histórias que gosta de ouvir.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de ago. de 2022
ISBN9786553553811
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    Paixões Contestadas - Silvio Lousa Martins

    CAPÍTULO 1 A FUGA DE MARIA HELENA

    Ela tinha um lacinho no cabelo e, ao colo de sua avó, gostava de ouvir os mais diversos causos. A realidade e a fantasia de mundos distantes inundavam os seus olhos com um brilho especial. Com dez anos, ainda era uma criança ingênua, mas, às vezes, surpreendia os adultos com perguntas difíceis de serem respondidas. Todavia, mesmo a sua avó sendo uma hábil contadora de causos, sempre fazia mistérios de seu passado e de sua terra natal. Talvez a pouca idade de Valentina ilustrasse os grandes segredos que aquela senhora estava lhe reservando.

    O sol de domingo já estava se despedindo no horizonte. O final de semana tinha passado como uma brisa da tarde. A principal razão estava ali, aquela moleca carinhosa, passando um final de semana na casa dos avós.

    Porém, nesse dia, ela estava muito pensativa, parecia preocupada com a tarefa que a professora lhe explicara como fazer.

    — Valentina, larga o celular e vem ajudar a vovó! Vou lhe ensinar como fazer os pastéis deliciosos que você tanto gosta.

    — Oba! Deixa-me adivinhar, são aqueles pastéis com ricota e batata?

    — Sim, isso mesmo. O pastel pierogi² que o vovô também gosta.

    — Sabe vovó, eu tenho uma tarefa da escola para fazer. A Amanda falou que tem muito tempo para fazermos esse trabalho escolar, mas a professora disse que não devemos deixar para a última hora, o que se pode fazer hoje, não se deixa para o amanhã, não acha vovozinha?

    — Verdade querida! Ainda bem que amanhã é feriado e você não vai precisar retornar para sua casa hoje... Então, a Amanda é a tua amiguinha?

    — Sim, só que ela já tirou notas abaixo de 7! — disse Valentina em tom de gravidade. — Ela chegou a brigar até com o Bruno. O Bruno disse que a mulheres são burras em matemática. Foi daí que eu mostrei as minhas notas de matemática.

    — O quê? As suas notas são boas em matemática também? — Nesse instante a avó parou, fitou-lhe com um sorriso e, passou a mão carinhosamente em sua cabeça.

    — Sim vovó, eu tirei a nota 10, o Bruno tirou 8. Bem-feito! — Respondeu a menina com um olhar de satisfação.

    — Então você deu uma lição para um menino da sua sala!? — Enquanto isso, Valentina balança a cabeça dizendo que sim.

    — Vovó, deixa eu perguntar uma coisa bem séria?! Seríssima... — Nesse momento, Valentina chegou mais próxima da vovó e quis ser abraçada.

    — Pergunta logo, querida! — pensou com os seus botões, lá vem outra pergunta cabeluda...

    — Por que os meninos são tão diferentes das meninas?

    — Sabia que eu também já fiz essa mesma pergunta? Eu sabia das diferenças físicas, mas não entendia as diferenças nas atribuições sociais — disse a avó com um olhar distante, olhando para o horizonte, onde o sol mostrava os seus últimos raios luminosos. — E assim continuou:

    — Mas aprendi a fazer essa pergunta quando eu já era mocinha. Eu perguntava o porquê de meu pai ser o chefe de tudo na família, e não a mamãe? Por que os meus irmãos podiam jogar futebol, pescar..., mas eu e as minhas irmãs não podíamos? As pessoas diziam que sempre foi assim, que Deus tinha feito o homem e a mulher com essas diferenças.

    — Mas, vovó... a professora passou um vídeo que mostra diversos povos no mundo. Em certos lugares só o homem manda na mulher; em outras partes, a mulher consegue ser igual ao homem, até mesmo ser presidente, a maior autoridade.

    — Pois bem, minha querida, antigamente era assim. Quem mandava e desmandava era o homem. Quando eu nasci, a vida de uma mulher era bem mais difícil. — Nesse instante, Valentina se cala e fica um pouco em silêncio por alguns segundos. E pergunta:

    — Mas, o vovô?

    — O que tem o seu vovô?

    — Ele é muito diferente da vovó?

    — Acho que não. Ao contrário, eu não iria suportá-lo durante cinquenta anos. — Nesse momento a avó falou alto e piscou para a neta sorrindo.

    — Diga-me, que tarefa da escola é essa que você está pensativa?

    — Ah! Eu preciso entrevistar a vovó... A professora pediu que cada aluno entrevistasse alguém mais velho da família. Que pudesse contar uma história que aconteceu no passado. Não precisa ser da família, pode ser de um adulto mais velho.

    — Entendi. Gostei desse trabalho! Vou poder assim contar algumas histórias que aconteceram antigamente. É uma saga que envolveu muitas pessoas, antes mesmo da sua bisavó nascer. Mas, agora vamos terminar de fazer os pastéis. Eu ouvi a barriga de seu avô roncar de fome. — As duas sorriram e voltaram da varanda para a tarefa dos pastéis.

    Logo após o jantar, as duas se sentaram juntas para a entrevista de Valentina.

    — Vovó, pode falar. Estou muito curiosa. Vou ligar o gravador do celular para gravar tudo que a vovó vai contar. Depois, eu escreverei.

    — Hum... até parece que estou sendo entrevistada por uma repórter de verdade! — Disse a avó com um sorriso carinhoso e continuou: — Há pessoas reais nessa história, inclusive você as conhece! Vou guardar algum desses nomes. Mas, você deve esperar eu contar toda a história. Será você capaz de reconhecê-las? O nosso jogo será assim.

    — Deixa comigo, Vovó! — Exclamou a curiosa menina.

    — Nesse causo, até mesmo vou mudar alguns nomes, que talvez você já tenha ouvido falar. Tudo aconteceu em algum lugar esquecido do sul do Brasil, mas é uma história verdadeira. Porque as pessoas que me contaram não costumavam mentir; foram as mesmas que viveram essa história. — Nesse momento, a avó faz uma pausa, olha para a sua neta... então tenta disfarçar pequenas lágrimas que vieram aos seus olhos.

    Narrativa com preenchimento sólido

    Foi no outono de 1974, ao alvorecer naquela singela casa, um rancho de madeira. As tabuinhas de sua cobertura eram feitas das lascas de pinheiro e cedro. Ao lado, atipicamente em anexo, uma meia-água que servia como garagem abrigava uma picape William de cor azul celeste, a cor do céu daquele lugar esquecido no sul do Brasil. Havia um cercado de ripas que dava saída à frente, donde deparava-se um açude em que carpas borbulhavam. Além, avistava-se um tope onde passava uma cerca de palanques de cernes e arames bem grossos e robustos. Paralelo à cerca, percorria uma estrada de barro, acautelada por um portão de tábuas de canela vigorosa.

    Para quem passava por ali, ainda dentro da mesma propriedade, passava por uma capelinha azul com a imagem da padroeira Senhora de Aparecida, que fora construída por Rodolfo Martins em pagamento de uma promessa. Compondo a mesma paisagem da casa havia um pequeno paiol de tábuas lascadas, uma mangueira para o gado bovino, um curral para os porcos dentro de uma grota. Atrás da casa, dentro de um cercado de cernes lascados a machado, havia uma horta, refúgio perfeito das minhocas, dos sabiás e de pessegueiros que floresciam na primavera. Em direção ao ribeirão ficava uma cerca viva de caraguatás, onde se criava porcos soltos, apartados das roças no sopé da montanha.

    O local era cortejado de belas e verdejantes montanhas do Vale; uma certa montanha, tipo pão-de-açúcar descia do Planalto Norte através da Serra do Mar e ameaçava arremeter-se em direção àquele lugar, mas, por algum motivo, detera-se e apenas observava a uma distância de mil metros, talvez em respeito às águas do Riacho Perdido que se despejava numa cachoeira ao seu lado, e assim a rodeava até desaguar no Rio da Lousa, local circunvizinhado por dois riachos. Um pouco mais distante, quinze minutos por uma trilha dentro da mata, passava o Rio Itajaí do Norte com as suas águas cristalinas, tortuoso e repleto de pedras cilíndricas feito escamas da traíra. Esse rio, que passa por terras dos indígenas Laklãnõ, deságua no Rio Itajaí-Açu³, tem as suas nascentes na terra do Contestado, Planalto Norte catarinense. Tais águas, durante milhões de anos, ajudaram a escavar o belo Vale, para encontrar-se com o mar no litoral do Atlântico.

    — Parecia um lugar muito bonito, não vovó? — Valentina interrompe por um breve momento.

    — Sim, minha querida. Mas, agora deixa eu contar algo que ocorreu naquele dia...

    O despertar

    Ao amanhecer, o galo cantou... uma mãe, a mãe Tereza ao acordar, chamou a sua filha mais velha para levantar e vir fazer o fogo, a sua filha tinha dezessete anos, o seu nome, Maria Helena.

    — Maria! ... Maria! Maria! — Tereza abriu o quarto, mas a sua filha primogênita não estava mais ali.

    Aquele dia não seria igual à rotina de outros, pois a voz desse chamado denunciava um segredo de que a sua filha partira, uma separação para sempre... Muitos e muitos anos se passariam sem que Tereza pudesse revê-la. Mas, esse segredo guardado no coração tinha um motivo: uma paixão proibida e a liberação da tirania de seu pai, Rodolfo.

    Tereza ainda lembrava que tivera a sua primeira filha, Maria Helena com a mesma idade, dezessete anos. Quando Maria acabara de completar dois anos, Rodolfo resolvera se aventurar e arriscar uma nova vida em Blumenau, disse adeus e permaneceu lá por longos dois anos. Foi quando Tereza ficou sozinha naquele lugar. Mas, ela não desistiu; esperou por Rodolfo porque sabia que seu grande amor um dia estaria de regresso. Morava num ranchinho de chão-batido próximo às cascatas do Ribeirão Perdido.

    Quando o céu escurecia, das nuvens as águas se precipitavam e a chuva deslizava pela relva encontrando o ribeirão, então, a cachoeira e as pequenas corredeiras soluçavam à noite perguntando por Rodolfo. Nas manhãs, mais claras, os inhambus entoavam um canto matinal em busca de uma companhia separada pela valada do ribeirão.

    Tereza contava com a ajuda apenas de sua mãe, Maria Lisboa. Tereza, mesmo sendo uma moça muito nova, cuidou de Maria Helena com muito esmero e passou a guiar os primeiros passos daquela menina inocente. Nos momentos de solidão e receio, Tereza puxava a sua filhinha pelas suas pequeninas mãos e fazia uma oração que aprendera com a sua mãe de cor parda: Com Deus me deito, com Deus me levanto, com a graça de Deus e do Espírito Santo. Nossa Senhora do Pranto, nos cobre com vosso manto. Se bem coberto for, não tenho medo nem pavor das coisas que má for. Essa oração, dizia aquela senhora de lenço na cabeça, que iria lhe proteger, pois fora recomendada por São João Maria. O santo que ela conhecera quando criança, que em sua peregrinação passara por Rio Negro em direção ao Morro de Taió. E, após aquela oração, Maria dormia feito um pequeno anjo. Ainda moça nova, desvendando o mundo, Tereza olhava para aquela menina que dormia e se pegava admirando e pensando nas surpresas que a vida lhe dera.

    Tereza escolheu o nome de Maria em homenagem ao nome da avó, Maria Lisboa. Mulher que as suas feições e costumes caracterizavam muito bem os aspectos étnicos dos caboclos do Contestado, uma região entre Paraná e Santa Catarina, quase esquecida do Sul do Brasil. Mas, a raiz do nome Maria pode significar, senhora soberana; virgindade; amar; a forte; oceano azedo. Quaisquer significados desses estaria de acordo com a narrativa dessa histórica verídica. Porém, a raiz do nome Helena significa raio de sol, nome de uma mulher belíssima que fora raptada pelo príncipe Páris, fato que na mitologia grega deu origem à guerra de Tróia. Coincidência ou não, o significado desse belo nome, está intimamente relacionado com essa verdadeira história; que de fato, aconteceu em alguma paragem do sul brasileiro.

    Depois que Rodolfo retornou de sua aventura em Blumenau, tivera mais muitos filhos, todos saudáveis, mas nem por isso abandonaria aquela garota, que depressa se encontrava fora do alcance de seus olhos, protegida apenas por suas orações de mãe. Porém, o que mais o angustiava naquele momento, era ver o semblante de retaliação, o rompante de Rodolfo.

    Barbaridade

    Naquele mesmo instante que soube do rapto de sua filha, como se estivesse em cama de campanha, num gesto impetuoso de um homem impassível e determinado, Rodolfo salta de seu próprio leito, não dormia com a esposa, veste a sua roupa, enquanto suspeitava da cumplicidade de Tereza:

    — Barbaridade, Tereza! Garanto de você sabia! Se eu os pegar, juro pela minha honra que vou matá-los! ... — Enquanto isso, Tereza se desesperava pelo destino de sua filha. Todo um passado vem à sua cabeça.

    Em toda região, ninguém, nenhum vivente, ousava duvidar que Rodolfo Martins seria capaz de matar o namorado considerado um raptor e a sua própria filha, uma cúmplice. A palavra e a honra possuíam valores imensuráveis na cabeça daquele homem que aprendera a ser severo com o seu pai, avô de Maria Helena, Antônio Martins Filho. Aquele homem estava ferido em seu orgulho de macho.

    Alguns anos atrás, episódio semelhante já acontecera com relação ao namoro de sua irmã mais nova, também de nome Maria, de

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