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O Menino Que Parava Ônibus
O Menino Que Parava Ônibus
O Menino Que Parava Ônibus
E-book80 páginas1 hora

O Menino Que Parava Ônibus

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Sobre este e-book

Em o menino que parava ônibus, temos o retrato poético de Rosalino, um meninote da periferia de uma grande cidade que sonha em ter uma pipa e que acaba descobrindo uma nova diversão. Em outros textos, observamos o cotidiano dos amigos ou quase e os devaneios do homem comum. As histórias nos levam a uma rápida visão de pessoas simples que vivem a rotina do dia a dia com ou sem nenhum esforço. Assim, o livro se apresenta como um retrato de mundo na individualidade circunspecta do ser livre e oprimido pelas sanções da vida.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de fev. de 2021
O Menino Que Parava Ônibus

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    O Menino Que Parava Ônibus - Vítor Marcelo Alves

    A Aliança Perdida

    Toda pessoa passa por transformações ao longo de sua vida e se prepara como pode para as novas etapas que certamente virão.

    A cada nova etapa, o homem ou a mulher, adormece em pensamentos considerando erros, analisando acertos que frequentemente são poucos e, na posição de mártir incompreendido, crucifica-se.

    Querêncio é um destes homens e Adalmantina uma destas mulheres. Casaram-se já maduros e sadios. A lua de mel foi esplêndida, ambos sorriam de amor e de prazer, o que era inconcebível aos tristes olhos que os cercavam. Caminhavam lado a lado, sempre de mãos dadas. Eram felizes, foram felizes. Quase dez anos de sólido casamento e então:

    — Mas do que é que você está falando?

    — Como do quê? Você grita por tudo e qualquer coisa, Querêncio... Você não ouve, não fala, só grita!

    — E você é santa, não é? Não faz nada?

    — Olha...  Eu não aguento mais...

    — Então... Se é assim, se eu te machuco tanto... É melhor cada um seguir o seu caminho!

    — É?!...

    Meses depois, já não se pertenciam mais. Isto é, os corpos, a convivência.

    Uma noite, Querêncio por seu lado, pensava sozinho em uma mesa de bar.

    — Que foi que eu fiz Meu Deus?

    Adalmantina, também perdida em um bar com suas amigas, que não lhe inspiravam confiança, pensava:

    — Meu Deus! O que foi que eu fiz?

    Querêncio, do outro lado da cidade, continuava.

    — É! Ela tinha razão. Eu bebia demais, vivia gritando e xingando. Talvez se eu tivesse um pouco mais de paciência? Hum! E olha só o que eu estou fazendo agora!...

    E Adalmantina:

    — Também... Não era tanto assim. Ele bebia só no fim de semana e nunca gastou mais do que podia. Quem sabe se eu tivesse sido um pouco mais carinhosa. É... a culpa é minha. Eu não soube lhe dar amor.

    Querêncio:

    — Como ela era carinhosa! Sempre dizia que me amava. Abraçava—se a mim por qualquer motivo. E eu a repelia, dizia que queria ver o jornal ou um filme qualquer. Por que fui tão insensível?

    Adalmantina:

    — Ele não era insensível. Beijava-me com ânsia e me amava com um desejo... Só queria alguns minutos de paz e eu grudada nele. Como não percebi isso antes...?

    Querêncio:

    — Se ela soubesse que eu a empurrava só para que ela se chegasse mais e me abraçasse mais forte. Não, não! Sempre fui um bruto. Ela tinha razão, eu nunca pensei nela.

    Adalmantina:

    — Ele só pensava em mim. Sempre dava um jeito de me agradar, mesmo quando brigávamos. Fosse fazendo o jantar, trazendo uma flor roubada de nosso próprio jardim ou até me beijando com aquele bafo de cerveja... Era ruim, mas era o jeito que ele tinha de me pedir desculpas por ter bebido um pouco além. Eu é que sempre exigia mais e mais e...

    Querêncio:

    — Ela nunca me pediu mais do que eu podia dar. E ainda assim eu a acusava. Ah! Quem sou eu para acusar uma alma tão nobre, uma mulher que é puro amor? Eu não sou nada, Meu Deus! Mereço ficar sozinho. Bebum, insensível, ignorante...

    Adalmantina:

    — É... eu realmente tenho que ficar sozinha. Não soube compreendê-lo, não lhe dei carinho. Fui exigente, fui negligente com uma alma nobre, com alguém que tem no peito, amor...

    Querêncio e Adalmantina:

    — Eu sou o culpado!

    — Eu sou a culpada!

    Querêncio pagou a conta e partiu para a casa, triste e amargurado. Adalmantina, que tinha saído para espairecer, entregou sua cota às amigas e saiu sem dar maiores explicações.

    Em caminho, cada um para o seu lado, cabeças baixas a pensar e a lamentar, viram algo que brilhava na calçada. Abaixaram-se ambos para pegar e só então se perceberam e se olharam. Levantaram-se constrangidos.

    — Boa noite!

    — Boa noite!

    Seguiram cada um o seu caminho novamente cruzado por uma fagulha do instante. E no chão, o que brilhava já sem grande importância era uma aliança perdida. Talvez, a deles.

    O menino que parava ônibus

    Rosalino era um meninote de sete a oito anos, que vive num desses bairros da periferia, horas distantes do centro. Andava sempre descalço, com sua bermudinha azul encardida e sem camisa, sempre correndo atrás de uma pipa que caía nas disputas do cerol. Não que ele, apesar da pouca idade, aprovasse tal invento, mas sonhava em ter uma pipa. Pobre como era, só se conseguisse vencer a disputa com os outros garotos para tê-la. Era um menino mirrado e, por mais que se esforçasse a empresa era sempre difícil.

    Um dia, após ter sido empurrado na calçada por um dos valentões caçadores de pipa, entre uma lágrima e outra, viu uma senhora robusta e de guarda-chuvas na mão correndo para o ponto de ônibus. Correndo é exagero, a dona mal se aguentava.  O ônibus vinha em uma velocidade considerável e não havia ninguém no ponto. Rosalino, observando que a mulher se esforçava para apertar o passo e olhava continuadamente para o ônibus, esqueceu sua dor. Ficou de pé e fez sinal

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