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Manual Do Candidato A Pop Star
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E-book292 páginas4 horas

Manual Do Candidato A Pop Star

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Sobre este e-book

Ronaldo Estevam, produtor fonográfico, compositor, músico, intérprete e professor de música, formado em Artes Cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da USP, também cineasta e ator, traz neste livro uma série de dicas para quem gostaria de se enveredar por essa carreira que tanto fascina os jovens. Uma história real, com relatos do autor sobre suas experiências de vida que o levaram a se tornar um profissional da música. Suas inspirações, tropeços, dificuldades e conquistas. Numa linguagem informal, como na série de TV “Todo Mundo Odeia o Chris” (divertida, mas também dramática em muitos momentos), revela a vida do artista, com seus altos e baixos. Um livro essencial, que derruba mitos e mostra a verdade dos bastidores, buscando dessa forma orientar o candidato a pop star nos atalhos para se chegar ao estrelato e à fama. O autor traz para quem lê, um lindo exemplo de dedicação, perseverança, e mostra que o caminho trilhado muitas vezes é o mais importante para formar o verdadeiro artista
IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de nov. de 2021
Manual Do Candidato A Pop Star

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    Manual Do Candidato A Pop Star - Ronaldo Estevam

    Manual

    do Candidato a

    Pop Star

    Ronaldo Estevam

    1

    Copyright - Ronaldo Estevam, 2012

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão do autor.

    Violão e Cia.

    R. Augusto Farina 352, Butantã – 05594-000

    São Paulo – SP - Brasil

    Site: www.facebook.com/violaoecia

    e-mail: violaoecia@globomail.com

    1-Auto ajuda. 2-Biografia. 3-Música. 4-Indústria Cultural.

    2

    Introdução

    Parabéns, você acaba de adquirir o Manual do Candidato a Pop Star!

    Com ele poderá descobrir tudo o que deve ou não deve fazer para se tornar o mais novo astro da música pop nacional e internacional! Uau!!!!!!!!!!!

    O que busca o candidato? Dinheiro? Fama? Ser constantemente assediado por mulheres bonitas ou homens bonitos? Viajar pelo mundo, conhecendo novas culturas, novas pessoas? Ou simplesmente ter seu trabalho reconhecido e deixar algo pra posteridade?

    Toda pessoa que um dia sonhou ser um Pop Star teve algum estímulo, algo que o impulsionou pra isso. Você, candidato leitor, com certeza sabe o que o levou a comprar este livro, e como todo candidato impaciente, quer logo ver as respostas, ir direto no resumo das regrinhas, pula a introdução, quer ver os esquemas e as figuras, e como todo candidato que não lê direito o Manual da Fuvest, acaba sendo surpreendido na hora da prova e nem passa para a segunda fase!!!!!

    Oh, não!!!!! Como não li a parte que mencionava os livros que cairiam na prova de português!!!! – é assim que dizem os candidatos que não leram o manual inteiro.

    Mas, como sou um cara legal e do tipo apressadinho também, vou dar o segredo logo na primeira página. Lá vai: 1-Estude música,

    2-Aprenda a tocar um instrumento e cantar,

    3-Componha canções maravilhosas,

    4-Grave uma demo,

    3

    5-Envie para alguns empresários e gravadoras (torça pra que gostem, senão você é quem terá que arcar com o

    Jabá das rádios e tvs).

    Pronto, faça isso e seja famoso e rico! (Não esqueça de me chamar pro churrascão na piscina da sua nova mansão).

    Bem, mas infelizmente as coisas não são tão simples assim.

    Uma vez, eu e meu amigo Julio Quatrucci, visitamos Luiz Schiavon (tecladista do RPM) em seu estúdio e lhe fizemos a pergunta Qual a fórmula para chegarmos ao topo?

    e ele respondeu que o caminho era tortuoso, que não existe uma fórmula.

    Entenda, caro candidato, que não existem regras, nem fórmulas. O que há, é o Caminho! Por isso terá que ler o livro todo e ter muita, mas muita paciência mesmo! As respostas virão para você a medida que cada página for virada.

    Cada candidato exerga a sua própria resposta, pois para cada um existe um caminho e uma resposta diferente.

    Tenho uma escola de música, e toda vez que um aluno me pergunta alguma coisa sobre como funciona a vida no show business, sempre expliquei usando algum exemplo do que aconteceu na minha vida, na minha trajetória de músico profissional. Resolvi então escrever um livro, esse livro que você agora também possui, contando a minha estória. Hoje quando me perguntam algo, digo Leia meu livro!,rsrsrsrsrs..., assim ficou mais fácil, não preciso ficar contando sempre a mesma estória!

    Brincadeira! Ainda respondo.

    Meu intuito é esse, fazer com que minhas experiências os ajudem a encontrar seu próprio caminho.

    Boa leitura! E sucesso!

    4

    5

    A Infância

    Sou o quinto e último filho da união de Victor Estevam e de Sebastiana Bufoni Vasconcelos Estevam. Meu pai, havia trabalhado como projecionista num cinema em Guaranésia -

    MG, onde conheceu minha mãe. Mais tarde, quando namoravam, ainda na adolescência, ele começou aprender violão, tornando-se músico profissional nos anos 50.

    Era integrante de uma Big Band de nome Alan e seus Big Boys. Dividia seu trabalho entre os shows noturnos e uma fábrica de tecidos durante o dia, onde era mecânico. Vivendo numa pobreza das bravas, assim meu pai trabalhou para estudar e alimentar seus filhos.

    Com os anos 60, e a chegada dos Beatles, a Big Band entrou em baixa. Meu pai tentou adaptar-se aos novos tempos, mas não conseguiu. Até comprou uma nova guitarra e entrou numa banda de IéIéIé, mas acabou abandonando a banda e a guitarra também.

    Continuou cantando Carnaval e fazendo alguns bicos em casas noturnas e prostíbulos (como músico, é claro!).

    Minha mãe não tinha ciúmes, pois sabia que precisava fazer aquilo para complementar a renda.

    Em 68, uma companhia teatral de São Caetano do Sul, esteve em Guaranésia, e meu pai tocou violão na peça, substituindo o titular que não tinha vindo. Nessa ocasião conheceu Antonio Petrin, Milton Andrade e Josmar, que o convidaram a participar da troupe. Meu pai não podia aceitar, a menos que houvesse um emprego para ele em São Paulo.

    Semanas depois, eles haviam lhe arranjado um emprego em São Caetano do Sul, na ZF do Brasil, uma fábrica de auto-peças.

    6

    Mudou-se então para São Caetano com toda a família, e começou em seu novo emprego, no laboratório de análises químicas da empresa.

    Em pé o dia todo e com os olhos num microscópio, não sobrava muita resistência para ele sair na noite tocando, e o motivo que o levou a mudar-se, acabou sendo deixado de lado.

    Mas foi bom, pois meus irmãos mais velhos, logo estariam em idade de prestar vestibular, e morar no ABC facilitaria as coisas para eles. Aproveitou também para dar um tempo pra si mesmo e entrou na Fundação das Artes em São Caetano, onde aperfeiçoou seu violão clássico com o professor Henrique Pinto.

    Minha mãe engravidou. Ela tinha seus 38 anos, e gravidez nessa idade naquela época oferecia alguns riscos. Ela tinha medo e chegou a pensar em aborto. A caminho da clínica, meu pai e minha mãe desistiram. "Vamos ter mais um bebê!

    Este será paulista, nos trará sorte na nova terra!"

    Havia muitos anos que minha mãe tinha umas visões e sonhos com uma criança que ela encontrava na beira de uma estrada, com a roupa suja e rasgada. Nas vésperas do meu nascimento, ela sonhou com a criança, nas mesmas condições.

    Minha mãe caminhou até ela e disse:Venha comigo, vou te levar pra minha casa, trocarei sua roupa, te darei banho e conforto, não sofrerá mais aqui sozinha! Depois disso, ela nunca mais teve este sonho.

    Nasci uns dias depois, na noite de 04 de outubro de 1969. Chovia muito. Minha parteira era D. Francisca, uma linda afro mineira que faleceu em 2004 com 102 anos. O parto foi em casa, com a sala lotada, na expectativa de saber o sexo do bebê. Tenho três irmãos e uma irmã, ela obviamente queria uma menina, e meus irmãos torcendo para ser um garoto.

    Quando ouviu-se o choro, depois das palmadas, D. Francisca 7

    avisou com alegria: É um menino! Meus irmãos pulavam de alegria e minha irmã chorava aos soluços: Eu não vou gostar desse neném! Mais tarde, minha irmã foi muito importante na minha formação intelectual, e sempre fomos muito unidos.

    Havia um professor de música chamado João, que queria muito me batizar, mas meu pai já havia prometido o batismo para meus tios. Não satisfeito, o baixinho me pegou um dia e arrastou toda a família, para me crismar. Tinha certeza que eu seria músico como meu pai, e o mesmo pensava Henrique Pinto, que achava que eu era algum espírito errante que vagava pela Fundação das Artes e tinha ido com a cara do meu pai e da minha mãe, que também é uma excelente cantora.

    Nesse tempo, eu era uma criança muito bonita e os garotos gostavam de sair comigo para passear, pois eu chamava a atenção das meninas, que vinham todas me ver e pegar no colo. Isso era uma deixa para os canalhas aplicarem o xaveco.

    Que maldade! Mas quem mais curtia o assédio era eu! O

    problema é que isso me deixou mal acostumado!

    Minha casa vivia sempre cheia de pessoas ligadas à arte, principalmente atores, músicos e artistas plásticos.

    Ficavam horas lá, num sarau que se repetia semanalmente.

    Cresci nesse meio, ouvindo sempre boas músicas. Não havia drogas nem bebida, meus pais tinham uma formação moral fantástica e passaram isso pra nós, e os artistas que freqüentavam nossa casa, eram da mesma sintonia.

    Minha irmã, Angela, ninava-me no berço ao som de David Bowie, Yes, Aphrodite's Child, The Doors, Pink Floyd, Johnny Rivers e Led Zepelin. Ao invés de dormir, eu me animava e fica muito feliz com as músicas. Eu adorava aquele som!

    Nasci numa época em que as transformações eram muito rápidas e a arte propagava uma renovação de tendências 8

    num ritmo alucinante. Nos anos 70, conviviam o psicodelismo do progressivo, com o hard, o soul e as baladas românticas de Demis Rosseau com Aphrodite's Child e os brasileiros Pholhas além do Rock Folclórico dos Secos e Molhados e da piração dos Mutantes e Rita Lee. Mais tarde, surgiria o movimento Disco, a moda mudava a cada instante, tudo isso numa única década, e essa foi a década que formou meu cérebro.

    9

    Os primeiros instrumentos

    Eu devia ter uns três anos quando estava na janela de minha casa na Rua Silvia, perto da Igreja de São Francisco, quando vi um homem descendo com um saco cheio de violinhas infantis. O homem parou debaixo da janela sorrindo.

    Tirou uma delas do saco e me ofereceu: "Toma, meu bem!

    Mostre pra mamãe!"

    Peguei a viola, super feliz, e comecei tocar. Fiquei um tempão brincando, achando que havia ganhado a viola daquele bondoso homem. Por fim, fiz o que ele havia me pedido e mostrei pra minha mãe: Olha mãe, o que um homem me deu!

    Espantada minha mãe disse: Deu?! Não é possível!. Ela saiu lá fora e encontrou o homem desesperado, tentando olhar através da janela, que era bem alta.

    - Pois não, sr.!

    - Oi, sra.! Eu vendo essas violinhas, e dei essa para seu filho mostrar, caso esteja interessada.

    - Bem, ele adorou, mas quanto custa?

    O preço era alto, e minha mãe não queria comprar, daí o homem tentou tirá-la da minha mão, e eu não deixava. Abri um berreiro e não soltava por nada.

    Minha mãe então disse:

    - O sr. não tem uma mais barata?

    - Tenho essa! Mas não é tão boa quanto a outra.

    Minha mãe olhou pra mim com ternura, e disse:

    - Olha filho, mamãe só tem dinheiro pra comprar essa!

    Eu não queria aquela. Não era tão bonita e não tinha um som muito legal. Mas devido à boa educação que recebi de minha família, senti sinceridade nos olhos da minha mãe, e sabia que aquela era a que ela podia me dar. Aceitei então.

    10

    Devolvi a outra e peguei a nova. Desde cedo tive que aprender a viver dentro de limites, principalmente financeiros, pois tinha consciência de que éramos pobres. Mas dali a alguns minutos, já estava eu todo feliz com a minha violinha tirando um som que só eu entendia.

    Pouco tempo depois, minha mãe caminhava comigo pela Alameda São Caetano, e paramos numa vitrine de um bazar. Havia lá uma gaita. Ela me perguntou: Quer ganhar essa gaita? Eu adorei a idéia e ela me presenteou. Na mesma vitrine havia uma guitarrinha infantil, que me deixou encantado. Ela percebeu meu olhar e disse: Essa fica pra mais tarde, quando estiver maior!

    Minha irmã também costumava me contar estórias, contos de fadas, e isso ajudava a desenvolver minha imaginação. Era uma criança um pouco solitária em meio aos adultos, portanto, criava amigos imaginários. O urso Taborda, um urso de pelúcia, foi um desses grandes amigos. Andava com ele para todos os lados, era alguém a quem podia confiar meus segredos, eu sabia que ele nunca me trairia. Eu tinha uma forma de comportamento diferente das crianças da minha idade. O fato de conviver muito com adultos, e de estar sempre ouvindo

    obras

    da

    literatura

    universal,

    que

    eram

    costumeiramente lidas por meu irmão mais velho Roberto, que cursava na época, Direito no Largo de São Francisco. Também ficava no quintal por horas vendo o céu e tendo lições de astronomia com meu irmão Valdir que cursava Física e Engenharia na USP, enfim, talvez esses fatores tenham contribuído para que eu andasse vestido como um adulto, usando às vezes gravata, e achando certas brincadeiras babacas demais e falando de papos que ninguém da minha idade entendia.

    11

    Acabava, portanto, despertando certa hostilidade contra mim, por parte de outros garotos, principalmente mais velhos.

    Certa vez armaram um cerco forçando que eu brigasse com meu único amigo, um vizinho da mesma idade de cinco anos.

    Parecia uma luta de gladiadores, para o deleite dos palhaços que deviam ter uns quatorze anos. Ou nos batíamos ou apanhávamos deles. Isso me traumatizou. Fiquei chocado com tamanha violência gratuita e não conseguia achar sentido naquele acontecimento. Ainda hoje me pergunto por quê. A mesma pergunta diante de todo e qualquer ato de violência que presencio, mesmo que pela tv, até os dias de hoje. Eu não pude bater nele, não podia fazer algo que no fundo da minha alma era contra a lógica, apenas deixei que ele me batesse para que tudo aquilo acabasse logo e pudéssemos assim saciar o prazer sádico dos nossos expectadores e voltar pra casa. Cheguei em casa chorando muito, e meu irmão Paulo me reprimiu dizendo que eu tinha que ter batido também, que o mundo era assim.

    Ele não entendia que eu estava chorando não porque tinha apanhado, mas sim pela situação, e por ter nesse dia, descoberto que o mundo é cruel, hostil e que a força prevalece sobre os sentimentos.

    Mas havia sempre um lado positivo em ser como eu era. Chamava a atenção das meninas e dos adultos. Nos saraus, agora eu tinha meu número, no qual fazia imitações, contava piadas, e também cantava algumas músicas. Era sempre razão para muita alegria.

    Empolgado, queria logo aprender violão, e o pegava quando meu pai virava as costas. Quando ele via, não gostava, pois dizia que eu era muito novo ainda. Não tinha nem tamanho pra segurar o violão, ou força pra apertar as cordas.

    Acho que se ele não tivesse tomado o violão das minhas mãos 12

    por inúmeras vezes, eu teria começado tocar aos cinco anos de idade.

    Também foi nesse período que me frustrei em algumas áreas. Primeiro nas artes plásticas. Meu irmão Paulo desenhava muito bem, tinha um talento nato para as artes plásticas. Um dia eu apreciava um de seus desenhos, recém feito, e quis dar minha contribuição riscando os olhos da figura principal com uma canetinha roxa. Isso enfureceu meu irmão que me reprimiu duramente. Chorei muito, ele até tentou me consolar dizendo: Até que não ficou mal, podemos transformar esse risco numa venda! Vai parecer que ele tem uma venda nos olhos! Mas isso não adiantou, foi o suficiente para eu perceber que não tinha talento para o desenho e nunca fui um bom desenhista. A segunda coisa engraçada foi novamente um episódio envolvendo meu irmão Paulo, que em matéria de idade, era meu irmão mais próximo, tínhamos oito anos de diferença. Ele havia montado com uns amigos da escola um grupinho de samba, e estavam todos ensaiando no quintal de um vizinho. Enquanto o pagode rolava solto, observei que havia no chão, abandonada num canto, uma caixa de bateria que ninguém estava tocando. Pensei, "Achei meu instrumento!

    Vou tocar esse tambor e fazer parte do grupo!" Pra minha infelicidade, na primeira baquetada furei a pele, que rasgou de fora a fora. Fui mais uma vez reprimido por todos no recinto e fiquei mal à beça. É por isso que bateria foi um dos últimos instrumentos que aprendi tocar e ainda assim, toco bem meia boca, sou um desastre com aquele conjunto de tambores.

    Mais tarde, por volta dos seis anos, ganhei um sax da Hering. Era um brinquedo interessante, empolguei-me e comecei acompanhar as músicas do Elvis. Nessa ocasião minha família havia se mudado para um sobrado na Av. D.

    Pedro em Santo André, em 1976. Em 77, ganhei o meu 13

    primeiro instrumento de verdade, um bandolim que meu tio Wilson tinha achado no lixo do prédio no qual era zelador. O

    instrumento estava perfeito, só tinha uma rachadura, que ele consertou. Mas o meu anseio era mesmo poder tocar violão, o bandolim ainda me parecia um brinquedo. Também em 77, fiquei estarrecido com a morte de Elvis Presley, de quem havia me tornado um fã, e pela primeira vez pensei seriamente na hipótese de ser um dia um cantor profissional como ele.

    Até essa época, minhas referências da música pop eram Roberto Carlos e Elvis, pois o que mais se ouvia na minha casa além deles eram as músicas que meu pai nos impunha, como boleros, tangos, Big Bands, The Platers (aliás, fiquei muito impressionado quando ouvi pela primeira vez Smoke Gets In Your Eyes, achei a música mais linda do mundo), Pat Boone, Sinatra, e clássicos da música erudita em geral. Bem, esses eram os discos que existiam em casa, pois minha irmã ouvia muito rádio e discos que ganhava dos namorados, mas somente na ausência do Sr. Victor. Ou seja, eu ouvia coisas que mais tarde vim saber o que era, pois na época não me importava quem estava no rádio ou na tv, a não ser que fosse Roberto, o Rei, ou Elvis, também Rei!

    Foi quando meu irmão Valdir, dezesseis anos mais velho que eu, quase formado em engenharia na POLI-USP, já trabalhando, chegou em casa com seu maior objeto de desejo, uma coletânea de dois discos duplos dos Beatles, o álbum vermelho e o azul. Nesse dia acabou-se a ditadura musical em minha casa. Ouvi Beatles pela primeira vez e achei aquela a melhor música do mundo. Disse: Isso é música! Finalmente havia encontrado um som com o qual me identificara plenamente.

    14

    Meu pai dizia que era uma barulheira infernal, e que eles eram os Quatro Cavaleiros do Apocalipse! Não achei isso, pois me dava muito prazer ouvir.

    15

    O Florescimento da Imaginação

    Desde muito pequeno, sempre vi a vida de um modo muito romântico. Nos anos 70, o romantismo era uma moda.

    Romeu e Julieta de Zeffirelli, Love Story, enfim, filmes que influenciaram toda uma geração, além das músicas, entre elas I Started a Joke de Bee Gees, ajudavam a manter esse clima de paz e amor.

    Antes de dormir, costumava imaginar estórias, nas quais era o protagonista. Nelas, eu tinha uma namorada, uma menina loira de cabelos lisos, muito semelhante à Sandra, que namorei já adulto. O engraçado é que ela não era uma criança como eu, na minha imaginação ela era adulta.

    Apesar de todo esse romantismo, sempre fui avesso ao casamento. Quando me diziam que um dia ficaria adulto e me casaria, eu dizia não, não quero me casar nunca. Um dia estava criando uma pecinha com meu irmão Paulo e minha prima Cristina. Na estória, eu era um soldado, que enfrentava vários perigos no deserto, inclusive um gênio do mal, recém saído de uma garrafa. No final da batalha, chegava numa igreja, e no altar estava Bala-Soft, uma menina que na época fazia um comercial de tv dessa bala. Todos diziam que era minha namorada, brincando comigo. Nunca gostei muito dessa fantasia, pois minha namorada era a loirinha adulta dos meus sonhos. Meu irmão, pra me sacanear, lógico, colocou quem

    no altar de nossa estória? Bala-Soft. Ela estava vestida de noiva, pronta pra se casar comigo. Nossa simulação teatral de uma aventura, muito tinha a ver com um jogo de RPG. Paulo lançava os desafios e eu encenava minha reação a eles. Pois bem, lá estava eu, diante do altar, o padre já em posição, com minha noiva à espera de um sim, destino fatídico para o 16

    soldado, que tinha de escolher entre a morte na guerra ou a prisão eterna do casamento. Diante de tal impasse, preferi a morte, detonando em mim mesmo as granadas do meu cinturão. Calma, não fiz isso dentro da igreja, detonando junto o padre, a pobre menina e os convidados, senão poderia ter me alistado na Al Qaeda como Homem-Bomba. Saí, fui até o pátio vazio e ali detonei as granadas. Que final mais besta para a estória. Meu irmão e minha prima odiaram, mas nada puderam fazer, afinal a decisão no jogo era minha.

    Na casa em que morávamos na R. Silvia em São Caetano do Sul, tinha um quintal grande, cheio de árvores frutíferas, que se estendia até a rua de cima, a Alameda São Caetano. Minha mãe criava galinhas nesse quintal, e ali costumávamos ficar por muitas horas sob a sombra das árvores.

    Até que um dia, a proprietária resolveu construir uma casa sobre esse terreno. Foi muito triste pra mim, ver as árvores sendo derrubadas, e a tristeza de minha mãe em ter que se desfazer das galinhas que ela cuidava como animais de estimação. O concreto prevaleceu sobre a vida, e aquela casa ficou triste e escura. Diante disso, nos mudamos pra Av. D.

    Pedro II em Santo André. Um sobrado com um belo quintal com árvores frutíferas, entre elas uma goiabeira na qual eu vivia subindo.

    Tinha como vizinhos D. Beatriz e Seu Dorival, pais de um casal de filhos mais ou menos da minha idade, Eduardo e Edna. Fomos amigos por muito tempo. Edna era loirinha de olhos verdes, eu tinha 6 e ela 8 anos. Acho que foi a primeira menina real que eu gostei. Os adultos brincavam que um dia a gente acabaria namorando, mas, sempre fomos apenas amiguinhos, mesmo depois de crescidos. Na adolescência, cheguei a namorar uma amiga dela, e não ela. Engraçado.

    17

    A Escola

    Em 77 ingressei na primeira série. Ir pra escola sempre foi um grande desejo. Fizeram minha matrícula na EEPG "28

    de Julho", na R. Oriente em São Caetano do Sul. Minha professora, D. Ilda, colocou-me sentado ao lado de uma menina chamada Marian. Eu achava ela linda.

    Minha irmã também se casou nesse ano com seu marido Luís que, aliás, também é músico, toca sax e clarinete.

    Na época tocava numa banda, mas deixou a vida profissional depois que se casou, pois achava que banda e família não davam certo. Foi um caso engraçado, pois ele só foi bem aceito pela família, pois tocava e cantava. O casamento aconteceu em setembro na igreja de N. S. Aparecida, também na R. Oriente.

    Foi numa manhã de sábado de 1978 que ouvi alguém na minha sala tocando violão, e não era meu pai nem meu irmão Paulo. Levantei-me da cama, e surpreso vi que Edna, minha vizinha, estava com um violão novinho tocando uma musiquinha de dois acordes. Aquilo pra mim foi o fim,

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