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Elos - Rituais Das Sombras, Livro 03
Elos - Rituais Das Sombras, Livro 03
Elos - Rituais Das Sombras, Livro 03
E-book372 páginas5 horas

Elos - Rituais Das Sombras, Livro 03

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Sobre este e-book

Após o despertar completo de Samzara o mundo se encontra em uma situação não muito agradável, Kaio precisa descobrir o que fazer agora que está separado dos amigos, precisa entender o que está acontecendo ao seu redor e, principalmente, precisa reunir forças pra impedir que toda sua existência seja destruída por um poder esmagador. Entre conflitos, sentimentos, ganhos e perdas, Kaio e seus amigos vão precisar reunir toda a coragem que possuem para garantir que haja um futuro para onde eles possam almejar existirem, entre os céus e a terra deverá haver um elo que os ligue e os mantenha a salvo, e que devolva ao mundo a sua verdadeira natureza.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de mar. de 2022
Elos - Rituais Das Sombras, Livro 03

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    Elos - Rituais Das Sombras, Livro 03 - Maicon Lopes

    Maicon Lopes

    Rituais das

    Sombras

    Livro 03 – ELOS

    SUMÁRIO

    I ~ UMA ENTRADA TRIUNFAL PELO BANHEIRO ~ 006

    II ~ MAIS UMA VEZ NA PISCINA ~ 014

    III ~ ENCONTROS MATERNOS E OBRIGAÇÕES MAIORES ~ 022

    IV ~ SENTIR ALÉM DO DESTINO ~ 032

    V ~ BONS TUTORES, BONS RESULTADOS ~ 039

    VI ~ CONHECENDO ALÉM DO QUE SE VÊ ~ 047

    VII ~ ÚLTIMO RECURSO ~ 055

    VIII ~ ROMPENDO OS PORTÕES ~ 064

    IX ~ REUNIÃO DE DESAFORTUNADOS ~ 072

    X ~ QUE SE ABRAM O DESTINO~ 080

    XI ~ UTOPIAS IMPERFEITAS ~ 088

    XII ~ ESPERANÇA DE GERAÇÕES ~ 096

    XIII ~ TÃO PERTO E TÃO DISTANTE ~ 104

    XIV ~ NOS PASSOS DE UMA ESCOLHA ~ 111

    XV ~ AQUELA QUE RASGA MUNDOS ~ 121

    XVI ~ ALÉM DOS PENSAMENTOS ~ 131

    XVII ~ EMOÇÕES INABALÁVEIS ~ 140

    XVIII ~ ALGUÉM QUE VAI SERGUIR ADIANTE ~ 149

    XIX ~ ATOS DE CONFIANÇA ~ 157

    XX ~ DEVERES DA SONHADORA ~ 164

    XXI ~ SEUS DESENHOS, NOSSA CANÇÃO ~ 173

    XXII ~ DESTINO ALÉM DO CONTROLE FAMILIAR ~ 183

    XXIII ~ PASSOS, PASSAGENS E PESARES ~ 193

    XXIV ~ ESCOLHAS E ENCRUZILHADAS ~ 201

    XXV ~ NÃO BRINQUE COM CRIANÇAS MÁGICAS ~ 211

    XXVI ~ UMA ÚLTIMA PALAVRA ~ 219

    XXVII ~ A MENTE É A MAIOR DAS ARMAS ~ 230

    XXVIII ~ LAÇOS ~ 240

    XXIX ~ PRESENTE E FUTURO ~ 250

    XXX ~ BAILE DE MÁSCARAS ~ 259

    XXXI ~ SENSAÇÕES ~ 266

    XXXII ~ SACRIFÍCIOS ~ 277

    XXXIII ~ RETRIBUIÇÃO ~ 287

    XXXIV ~ O FUTURO ESTÁ EM PEDRA ~ 296

    XXXV ~ UM OUTRO CAMINHO ~ 308

    XXXVI ~ A ADAGA QUE FERE O DESTINO ~ 319

    XXXVII ~ DOCES RECORDAÇÕES ~ 327

    XXXVIII ~ IRMANDADE ~ 337

    XLIX ~ O QUE O FUTURO RESERVA ~ 346

    XL ~ ONDE A MAGIA ACONTECE – EPÍLOGO ~ 357

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    01 – Uma Entrada

    Triunfal Pelo Banheiro

    Não me lembro de muita coisa, parecia que minha cabeça tinha sofrido uma lavagem cerebral, literalmente me sentindo como um carro no lava-jato. Não tinha recordações do motivo de estar ali e nem como eu havia chegado, mas tinha um nome rondando meus pensamentos, parecia que as memórias iam se formando pouco a pouco, então só segui o fluxo e chamei por ele.

    – Kaio? – Falei enquanto levantava de onde quer que estivesse antes que fosse interrompido pelo choque em algo acima de mim.

    – Aí? Onde é que eu...?

    – Alex? É você? – Ouvi sua voz vindo de algum lugar próximo.

    – Sim... bom, acho que a cabeça não é mais minha, mas do galo que acabei de criar, não sei o porquê, mas vim parar debaixo de uma cama, cadê você?

    Assim que saí daquele lugar, um tanto quanto inesperado de se estar, percebi que havíamos voltado para o quarto de Kaio, o que até que poderia ser considerado conveniente, não iria reclamar disso. Olhei ao redor, Kaio não estava por ali, olhei na direção do banheiro, chamei novamente por telepatia.

    Kaio?

    – Saio em um instante! – Ele gritou e confirmei que estava mesmo lá.

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    – Você apareceu no banheiro? Tô indo aí.

    – NÃO! – A voz dele foi um tanto quanto alta demais. – Não vem, eu já saio, preciso de um banho.

    – Que foi? Por acaso caiu na privada, foi? – Silêncio, ele não respondeu. – VOCÊ CAIU?

    – ELA TAVA LIMPA, OK!? MAS ME SINTO SUJO!

    Eu não queria ter rido, sério, mas foi mais forte do que eu, acabei caindo na risada, o bom que me deu tempo de olhar ao redor, não parecia que nada estava fora do lugar, pouco a pouco minha memória parecia recobrar os fragmentos que faltavam, estávamos em algo como um torneio ou competição no outro Abrigo, mas ainda faltava alguma informação.

    – Posso ler seus pensamentos daqui, também estou meio confuso, parece que esqueci tudo que aconteceu, e você quis sim ter rido de mim por cair na privada!

    – Alguém está realmente aprendendo a usar tudo que tem a sua disposição.

    Não falamos mais nada, apenas esperei que ele saísse.

    Fiquei olhando pra fora pela janela, tudo estava até que normal, mesmo assim tinha a sensação que alguma coisa estava fora do lugar, fora de ordem ou mesmo a mais por ali, não conseguia pensar direito, sentia como se houvesse alguma perturbação na gravidade, o que era uma completa novidade pra mim, nunca tinha pensado que meus poderes poderiam realmente sentir as mudanças que ocorriam na terra, não sei se me sentia realmente a vontade dessa nova situação ou se me preocupava ainda mais por

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    não conseguir lembrar logo o que tinha acontecido, por que não me lembro?

    Kaio parecia prestes a sair quando me deparei com um estranho brilho vindo de sua cômoda.

    – Kaio?

    – Já acabei!

    – Acho melhor você ter acabado mesmo, tem alguma coisa brilhando na sua gaveta.

    Ele fez silêncio, o brilho começou a ficar maior, foi então que seu grito veio novamente do banheiro e quase pareceu derrubar a porta.

    – MAS QUE MERDA, ISSO É A POÇÃO DA LÍLIAN!?

    Nunca vi ninguém tirar uma gaveta de sua cômoda, pegar algo de lá e jogar pela janela na velocidade que Kaio fez, bom, pelo menos ele sabia onde estava exatamente, porque não demorou nem 2 segundos pra que uma explosão avermelhada espalhasse pétalas de rosas pela vizinhança, felizmente a única coisa atingida pela explosão foi uma pobre árvore que... não era mais uma árvore.

    – Que raios de momento mais errado dessa coisa explodir! – Kaio tinha uma toalha na cabeça, os cabelos pingando, uma camisa nas mãos e as calças, o olhei de cima a baixo.

    – Vai terminar de se trocar ou vai continuar me agraciando com a vista?

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    Ele ficou vermelho e voltou pro banheiro no mesmo passo, sorri, sensação de trabalho cumprido, mas isso me lembrou uma coisa, Lílian, onde ela estava? E o restante do pessoal? As coisas começavam a se juntar. Pouco a pouco as informações foram se formando e fazendo sentido, ainda estava confuso e sentia como se meus pensamentos estivessem brigando pra ocupar espaço dentro de um liquidificador, que irritante.

    – Deme! – Falei quase que no impulso, meu corpo todo se arrepiou. – Deme pode ajudar!

    – O quê?

    Memórias, informações e tudo o mais começou a inundar minha mente, era como se eu tivesse destravado alguma coisa, quase como se meus pensamentos tivessem um cadeado e eu, sem querer, tivesse girado a chave, levei minha mão a cabeça e as várias informações começaram a fluir, meus joelhos bateram no chão na mesma velocidade que Kaio se aproximou de mim, senti suas mãos sobre meu corpo, mas não conseguia pensar direito se estava realmente do lado dele ou viajando pelos meus pensamentos, foi então que comecei a recordar o que havia acontecido.

    Não foi só a competição, não apenas a competição, estávamos sobre ataque e em algum momento do conflito pessoas haviam se separado, Ravena havia dito que iria sair de Fernweh, Ícaro tinha ido atrás dela, mas voltou sem ela, havia também os demônios, Calisten contando parte de uma antiga história e um antigo conflito com Erdos, Dantos apareceu e começamos a enfrentá-lo, e depois... depois...

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    – Tem algo errado, tem algo muito errado aqui! – Me ergui, quase não dando tempo de Kaio sair do caminho, não foi intencional, mas precisava daquilo, corri pra fora de casa na esperança de que Kaio viesse logo atrás, como o fez, e foi nesse momento que aquela sensação começou a fazer sentido.

    – Mas que droga...? – Kaio soltou, pode-se dizer que também leu meus pensamentos, pois não haveria outra definição melhor para explicar o que estava acontecendo.

    Para os padrões normais da humanidade, tudo parecia igual, às árvores, a grama, a terra, o céu, se você não tivesse o mínimo de controle da magia em seu corpo ou mesmo se não fosse uma criatura mágica, você sequer notaria a diferença, mas aí é que tá, tudo estava estranho, ali fora, prestando melhor atenção, dava pra sentir a estranha pressão no ar, era como se a magia transbordasse por todo o lugar, como se cada partícula do ar fosse feita de magia, como se cada planta, o próprio céu e a própria terra fossem puramente magia, e isso não era tudo, a coloração, as sensações, os sons – ou a falta dele – tudo causava um estranhamento incômodo, era como se a cada segundo algo mudasse de cor ou ressoasse em nossos corpos, não me admira se alguém estivesse vendo o céu cor de rosa e a terra d e cor amarela.

    – Alex, me diz que eu bati com a cabeça bem forte na privada e isso não tá acontecendo, por favor.

    – Eu bem que queria, mas não dá.

    Tinha algo ainda pior, se você olhasse bem ao redor daria pra notar, toda e qualquer criatura que não possuía tanto poder mágico, mesmo as criaturas comuns do mundo humano que não

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    tivessem uma parcela concentrada de energia em si mesmos estava fadada a se tornar uma estátua de pedra, e isso se estendia por todo lugar, dava pra ver em algumas ruas pássaros ou pessoas petrificadas, carros, até mesmo algumas árvores ou vegetação haviam se petrificado, aquilo me causava enjoo, era como se o mundo estivesse obrigando aos seres sem magia desaparecerem, Kaio pareceu se incomodar tanto quanto eu.

    – Elas estão como no conto de Ló, elas são quase como...

    – Estátuas de sal! – Alguém logo atrás de nós respondeu.

    Senti a presença de pessoas se aproximando e já me virei em posição de combate, não que minha vontade fosse lutar naquele momento, mas foi a primeira reação que tive, acabei encontrando braços erguidos em sinal defensivo, baixei a guarda e reconheci as pessoas que vinham, a voz que falou foi de Shina, me lembrava claramente dela, principalmente de seu olhar saudoso pra mim quando terminamos nossa competição, sua expressão ainda era analítica, a expressão de alguém que demonstrava imponência e ao mesmo tempo cautela com tudo que faria. Logo atrás dela vinham também o garoto Nicolas e Irina, em contrapartida com Shina, os demais não estavam tão confiantes em nossa situação, não que minha posição fosse tão diferente assim.

    – Isso parece tão estranho. – Nicolas mais parecia falar pra si do que pra nós. – Sinto meu poder muito maior do que ele deveria ser, do que deveria estar, isso não me agrada.

    – Você tem razão. – Irina olhava ao redor, me senti suar por um momento. – Sinto como se pudesse atear fogo em um oceano, é

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    como se a essência mágica estivesse transbordando ao nosso redor, e isso nunca aconteceu antes, ou pelo menos enquanto me conheço por feiticeira.

    – Infelizmente isso parece que tem um preço muito caro, as criaturas que não possuem magia ou um controle em sua essência estão sendo consumidas, se isso continuar, toda criatura viva pode acabar morrendo, o mundo humano como conhecemos pode acabar sendo destruído, temos que fazer algo a respeito.

    Olhei pra Shina, ela claramente tinha a imponência de uma líder, mas parecia aguardar nossa decisão. Olhei pra Kaio que estava tão perdido e absorto a tudo quanto deveria, dei um tapinha no seu ombro pra que voltasse a realidade, o que ajudou.

    – Vamos pro Abrigo. – Ele soltou sem pensar duas vezes. –

    Podemos encontrar ajuda por lá primeiro, ou talvez montemos um lugar de apoio, essa deve ser uma decisão que nosso grupo tomaria.

    – Espero que você se lembre que da última vez ninguém resolveu ir pro Abrigo. – Alfinetei, a turminha de Kaio, e minha também, nem sempre tomava as decisões mais lógicas.

    – Também estou contando com isso, mas se nós viemos parar na minha casa e ainda nos encontramos com... – Kaio moveu a mão no ar na direção dos outros.

    – Shina.

    – Nicolas.

    – Irina.

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    – Isso, com vocês, desculpa a memória ruim.

    – Poderia ter lido minha mente, eu memorizei seus nomes.

    Que seja Alex. Se viemos parar por aqui, talvez alguém tenha parando por lá também, além de que, pode servir como ponto de referência, as chances são maiores.

    – Concordo com a ideia, uma ótima dedução para alguém que não parece ser estrategista. –Shina soltou, fiquei com vontade de rir.

    – E ele não é!

    – Alex, eu juro que quero bater em você!

    – Que seja, melhor irmos logo, estou sentindo uma concentração de emoções negativas vindo em nossa direção, e eu não estou afim de encarar o que quer que tenha tudo isso de ódio.

    Irina falou e concordamos, seguimos em direção ao Abrigo, olhei novamente ao redor, ainda era meio aterrorizante perceber aquela concentração de poder e caminhar por ela, mas precisávamos seguir, o que quer que tivéssemos que enfrentar dessa vez poderia representar o fim de tudo, e isso era algo que não poderíamos permitir, ainda queria um futuro, e esse futuro eu não iria abrir mão por nada.

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    02 – Mais Uma

    Vez Na Piscina

    Seria possível alguém ser completamente azarado nesta vida? Depende.

    Vamos estabelecer os pontos. Primeiro, tivemos um ano de merda com situações de merda e que no final acabou até que bem, isso na medida do possível. Segundo, tivemos a cara de pau de entrarmos em uma competição amigável que sabíamos que ia dar merda, e deu. E agora, bem, vamos dizer que morrer afogado não seja o pior dos castigos, isso se eu realmente pudesse morrer afogado por livre e espontânea vontade, tá mais pra morrer esmagado.

    Tudo que me lembro era da sensação de formigamento percorrer meu corpo antes de Samzara erguer todo seu feitiço sobre nós, minha mente tinha a sensação de ter passado vários dias, ao mesmo tempo que meu corpo sentia que só haviam passado meros minutos, mas então ali estava eu, despencando diretamente na piscina do Abrigo, eu teria me mantido seco cercando meu corpo com meus poderes e ficando suspenso sobre a água, mas algo inesperado aconteceu logo em seguida, o peso de algo caindo sobre mim tirou minha concentração, o que só me restou, claro, o banho a contra gosto.

    – Mas que droga está acontecendo? – A primeira voz irritante que ouvi e reconheci ao erguer minha cabeça pra fora da piscina foi a

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    de Rubens, isso só significava uma coisa, perderia a pouca paciência que me restava.

    – Se eu soubesse com certeza você não estaria aqui! – Respondi erguendo meu corpo com meu poder pra fora dali, ao sair da piscina pude notar outras 3 pessoas, me movi pra ajudar a tirar da água 2 delas.

    – Obrigada. – Uma delas respondeu enquanto a colocava de volta sobre o chão, seu olhar era cauteloso, eu a reconhecia, mas não lembrava o nome, a outra eu conseguia lembrar muito bem pela nossa competição, era Alana.

    – Olha só, e não é que a maioria dos competidores de força estão reunidos? Quais as chances dessa probabilidade ocorrer? – Ela lançou o olhar pra piscina, meus olhos a seguiram e eu percebi esse infortúnio, Guilherme era a outra pessoa que estava ali. – Eu ouvi dizer que a Wendy e eu não nos molhamos depois de cair na piscina.

    Como era de se esperar, seu poder de modificar a realidade ainda era a maior das insanidades ali, me contentei em puxar da água os outros dois, não que estivesse muito afim de fazer aquilo.

    – Por que você não tirou logo todo mundo junto da água em rottweiler? – Guilherme me encarava com a expressão de um cachorro raivoso, o que era irônico com seu insulto contra mim.

    – Por acaso logo você está me chamando de cachorro? Projeto de Pinscher!

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    Rubens não economizou na gargalhada, foi o tempo de um dos braços de Guilherme crescerem além do que devia, ergui uma muralha de energia, se ele queria brigar eu também brigaria, não sei o porquê, mas não conseguia ficar tranquilo com aquele garoto.

    – Adoro confusão tanto quanto vocês, mas estamos sem tempo pra isso! – Rubens distorceu nossos poderes por tempo suficiente para que eles deixassem de ter efeito, não queria admitir verbalmente, mas ele tinha razão.

    – Agora que os marmanjos pararam com a rinha de galo temos algo mais importante pra discutir. Primeiro: onde estamos?

    Segundo: o que aconteceu depois que aquele demônio ou sei lá o que nos atacou? E terceiro e mais importante: o que tá acontecendo aqui? Tem tanta mana ao redor que eu tô com dor de dente.

    Precisei que Alana me dissesse isso pra prestar atenção, realmente tinha algo errado, se estávamos em Fernweh não era pra estar aquele silêncio tão assustador, e mesmo que não estivéssemos lá, o som dos pássaros, do vento, dos animais, parecia que todos haviam fugido dali.

    – Não é só a sensação de mais mana, sinto que meu poder está mais forte, a magia da própria natureza está maior, e isso pode acabar interferindo nas criaturas, tudo precisa estar em equilíbrio, e isso não está acontecendo.

    – Calma Wendy, também sinto a mesma coisa. Ícaro é teu nome né, parece que cê sabe onde estamos, o que por si só já responde uma pergunta, mas e o restante?

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    – Por acaso eu sou algum especialista? Sei que estamos no meu Abrigo, o restante... sei tanto quanto você!

    – Inútil, como será que a Dani foi gostar logo de você? – Rubens soltou seu comentário que eu estava esperando que soltasse.

    – Não sei, tem vários motivos que sou melhor que você, quer que eu liste?

    – Ora seu...!

    Eu... ouvi... dizer...

    Por um momento, senti que a vida estava prestes a sair do meu corpo, e aquela sensação eu só tinha quando atingido por Dani, isso foi suficiente pra me fazer parar no mesmo lugar. Até mesmo Rubens que estava prestes a me atacar e Guilherme que estava atrás só observando, também pararam.

    – Olha, tem tanto poder ao nosso redor que causei pressão só de pensar no que iria dizer? Acho bom vocês segurarem essas calças de vocês e pararem de brincar, do contrário, eu termino a frase!

    – Alana, não acha que está pegando muito pesado com os meninos?

    – Que nada Wendy, se meu irmão estivesse aqui até ele me daria moral, e olha que ele normalmente não me dá. Vamos, se estamos no seu Abrigo, Ícaro, você vai na frente, e parem de ficar de picuinha, precisamos resolver o que quer que tenha acontecido aqui, briguem depois.

    – Dou o braço a torcer dessa vez, você tem razão, além do mais, se tem tanta mana ao redor isso não é bom pra mim também.

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    – Como assim? – Wendy perguntou, mas acho que ela obteve a resposta assim que olhou nos meus olhos, ela viu através de mim e concordou, ninguém precisaria de alguém que tem como poder a própria mana perdendo o controle dela, ainda mais como todo esse aumento.

    Seguimos para a área central, Alana e Wendy vinham logo atrás conversando enquanto Guilherme e Rubens pareciam também terem se dado bem, ótimo, ter aqueles dois contra mim seria agora o menor dos meus problemas. Enquanto caminhávamos uma certa pressão começava a emanar pelo lugar, era uma sensação estranha, como se alguma coisa tivesse sido arrancada a força e no lugar existisse apenas a essência morta, não sei se essa era realmente a sensação certa, mas a visão que tive a seguir com certeza era a confirmação do que sentia.

    – O que é aquilo? – Guilherme falou já correndo em direção do que apontava, ali ficava o jardim de Lílian, mas antes dele haviam espaços e plantações de outras pessoas também, mas dava pra notar a diferença clara.

    Enquanto o jardim de Lílian estava intacto, vibrando com a essência de seu próprio poder a grande maioria das outras vegetações estavam aparentemente petrificadas em um tom de branco acinzentado, a situação não poderia estar melhor.

    – É como se tudo que não tivesse magia estivesse sendo transformado em mármore. – Alana falou, não sei se foi intencional, mas por um momento seu nervosismo emanou, o chão sobre seus pés se transformou em um pequeno mosaico de

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    mármore, muito que bem feito por sinal. – Desculpa, não sabia que isso ia acontecer.

    – Garotinha, fique bem longe de mim, estamos combinados? –

    Apesar do comentário, Rubens sabia que se os poderes de todos estavam maiores, provavelmente os seus também estariam, então ele poderia perturbar praticamente tudo, revirei meus olhos.

    Wendy fez o mesmo que Guilherme e seguiu até o jardim, na direção de uma das árvores petrificadas. Ela parecia curiosa a respeito da anomalia, não sei se também era só minha curiosidade falando alto, mas se meus poderes estavam mais fortes eu conseguiria fazer algo ali, me contive por um momento antes que Guilherme cometesse um erro fatal.

    – Eu poderia adorar presenciar uma cena como essa, mas talvez fosse um desperdício, então vou dizer só uma vez: se você tiver amor a qualquer mínima parte do seu corpo eu sugiro que saia do jardim, a Orquídea de Lílian deve estar faminta por uma carne masculina.

    – Como é? – O som de raízes se contorcendo como serpentes foi o suficiente pra fazer Guilherme recuar e desistir de qualquer loucura. – Já saquei, já saquei!

    Enquanto Wendy emitia sua energia na árvore petrificada eu voltei ao que estava planejando, emitir minha energia o máximo que pudesse pra conseguir sentir alguém mais, se a mana estava intensa por todo lugar era presumível que eu conseguiria sentir alguém a uma boa distância, nunca tinha feito isso em larga escala, mas resolvi tentar. Fechei meus olhos e me cobri com meu poder, dobrando as pernas em posição de lótus e flutuando onde

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    estava, deixei meus sentidos se intensificarem, meu corpo seria o canal, se alguém estivesse próximo eu deveria conseguir sentir, os outros ficaram em silêncio, entendendo o que estava fazendo.

    Mais forte... mais longe... controle... – Alana começou a murmurar baixinho, talvez pra me ajudar no estranho plano.

    Os murmúrios dela entraram em ressonância com meu poder, eu conseguia sentir minha aura varrendo os arredores do Fernweh, ninguém, não havia mais ninguém por ali, o que era estranho, mais longe, mais forte, o bosque do Abrigo, energias monstruosas, tinham alguns demônios ali, talvez esse fosse o motivo de Fernweh estar vazia. Mais controle, mais longe, a área deserta, a entrada dos bairros, as casas, dava pra sentir um pouco de energia em lugares aleatórios, nada mais, não era suficiente, um pouco mais longe.

    – Ei, rottweiler, é melhor parar! – A voz de Guilherme estava bem perto de mim, tentei não me desconcentrar.

    Mais controle... não ceda ainda. – As palavras de Alana pareceram cortar por um momento, seja o que estivesse fazendo, estava exigindo dela também.

    – Eu vou equilibrar o excesso de poder de vocês, mas também acho melhor não passarem dos limites! – Deu pra sentir a energia de Rubens mantendo o controle ao nosso redor.

    Ainda não era suficiente, eu tinha que chegar mais longe, só precisava encontrar alguém, se encontrasse Deme seria perfeito, diminuir os alvos de sua procura ajudaria ela a focar melhor. Mais longe, a cidade, ali havia alguma movimentação,

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    mas era caótica demais, confuso, não iria conseguir focar em ninguém, Dani, cadê você?

    – Ícaro, para já! – A voz que ouvi agora foi de Wendy. – Seu corpo ainda não está pronto pra usar tanto poder em um único instante, nem você Alana!

    Só mais um pouco! – Alana e eu soltamos juntos, acho que por um momento sintonizamos na mesma energia. – Só um pouco mais longe!

    Senti meu corpo ceder, não lembro se bati no chão ou não, mas quando abri os olhos Guilherme estava do meu lado me ajudando a levantar, Rubens ajudava Alana que tinha sangue escorrendo pelo nariz, levei meus dedos ao meu rosto, que surpresa, eu também, meus olhos ardiam e meu corpo parecia estar sendo perfurado por várias agulhas, mas fora isso, tava tudo bem, Wendy usava seus poderes pra amenizar as dores.

    – Vocês são sempre imprudentes assim ou isso foi algo que surgiu agora? – Não respondemos, mas todo mundo deu risada, pelo menos estávamos bem. – Descobri uma coisa, ainda há vida dentro das estátuas de sal, mas está bem fraca, como se estivessem hibernando, podem resistir por um tempo, mas não sei por quanto, é melhor que consigamos reverter isso logo.

    – Mas como reverter isso, essa é a questão. – Guilherme me ajudou a levantar, seu olhar foi da preocupação pro desprezo em segundos. – Serviu de alguma coisa essa brincadeira idiota?

    – Serviu sim, encontrei alguém, e acho que estão vindo pra cá, agora é só esperar...

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    03 – E ncontros

    Ma ternos E Obrigações

    – Senhora, os grandes portões da área leste estão cedendo, o que faremos?

    – Avise ao terceiro grupo que comece a erguer runas para fortificar as entradas.

    – Grande senhora, a ala do Conselho encontra-se sem guardas, os líderes exigem que alguém os defenda.

    – Mande os líderes irem para o raio que o parta, estamos tentando proteger todo o lugar, não adiantaria focar nossa atenção no quartinho particular deles.

    – Senhora, nós precisamos...

    – Ah, dá pra vocês tentarem pensar por si mesmos só por 30

    segundos? Estou tentando me concentrar aqui! – Devo ter destruído uma pilastra assim que esbravejei, que seja, já estava difícil tentar conseguir captar alguma onda psíquica e ainda tinha aquilo, todo mundo chamando minha mãe sem parar!

    – Deme, esqueça de procurar seus amigos por hora, nossa situação exige ação, e seu poder é um dos que melhor se encaixa na linha de frente, vá para onde lhe designei, agora!

    – Agora não, mãe, eu preciso encontrar meus amigos, eu preciso informar a eles sobre...

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    – Demetria... – Vincent chegou atrás de mim interrompendo minha fala, se já não tivéssemos nos entendido eu teria dado um soco nele. – Precisamos de ajuda, Gabriel pediu que eu viesse te chamar.

    – O que eu falei com você? – A voz e Minerva ecoou quase com sarcasmo demais, tenho certeza que foi ela quem pronunciou em alto

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