Causos Que A Vida Conta
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Causos Que A Vida Conta - Lindberg Garcia
ÍNDICE
Capítulo / Página
Dedicatória / Agradecimento – 4
Um pensamento – 5
Conhecendo o Autor – 6
Apresentação – 9
Sumário – 11
A Fuga da Fuga – 18
O Pau de Fogo – 31
A Pipa – 61
O Baile – 68
O Ritmista – 75
O Terno – 83
A Tragédia – 96
O Que Urubu Come – 106
O Guarda-chuvas – 120
O Tiro da Soca-Soca – 140
A Caçada de Paca – 154
O Laço Forte – 165
A Moça da Revista – 178
O Pai Nosso – 190
Só Freud Explica – 200
A Surpresinha – 213
Ave de Arribação – 225
O Jornal do Dia – 234
Guia Astrológico – 2251
O Sexo dos Bebês – 257
Crime e Castigo – 261
Para seus olhos verem – 291
O livro – 291
Dedicatória
Dedico à minha amada esposa Maria José, e aos queridos filhos Rodolfo e Leandro, que me incentivaram a escrever o livro Causos Que A Vida Conta
, uma coletânea de fatos pitorescos, alguns jocosos, outros pungentes e dramáticos, acontecidos na bela e acolhedora cidade de Araxá das Minas Gerais.
O Autor
Agradecimentos
Meus agradecimentos ao artista Fernando Pereira, que tão bem soube captar a imagem idealizada para ilustrar a capa de Causos Que A Vida Conta
.
O autor
"Durante a nossa vida:
Conhecemos pessoas que vêm e que ficam,
Outras que vêm e passam.
Existem aquelas que,
Vêm, ficam e depois de algum tempo se vão.
Mas existem aquelas que vêm e se se vão comadres
com uma enorme vontade de ficar".
Charles Chaplin
Conhecendo O Autor
O autor, Lindberg Garcia, nasceu em uma fazenda denominada Santa Maria, no Distrito do mesmo nome, do Município de Conquista no Estado de Minas Gerais, em 15 de fevereiro do ano de 1942. Entretanto consta de sua Certidão de Nascimento, como nascido no dia 15 de abril daquele mesmo ano, talvez por erro do Tabelião, nunca se saberá. O pai, um admirador ardoroso dos feitos da aviação, deu-lhe o nome de Lindberg – assim mesmo sem o h
do original – em homenagem ao piloto americano Charles Lindbergh, que em 1927, realizou o primeiro voo solitário, e sem escala, voando dos Estados Unidos da América até a um aeroporto nos arredores de Paris. O sobrenome Garcia, o mesmo de seu pai, veio do avô paterno, José Leandro Garcia um imigrante espanhol.
Viveu parte da infância no meio rural, onde permaneceu até os sete anos de idade, vindo sua família a radicar-se em Araxá, uma conhecida cidade hidro balneária do Estado de Minas Gerais. Ali viveu o restante de sua meninice e grande parte de sua juventude, período em que concluiu o ensino fundamental. Em 1972 graduou-se em Ciências Econômicas pelo Instituto Universitário Moura Lacerda, em Ribeirão Preto/SP. Em 1995 concluiu o curso de pós-graduação em Administração de Transportes, pela Faculdade de Ciências Gerenciais/UNA/BH.
O Autor teve uma rica experiência profissional voltada à comunicação, sendo uma delas a de radialista em uma emissora na cidade de Araxá, onde desempenhou além da função de locutor, a de redator de crônicas da cidade, rádio repórter, animador de programas de auditório, comentarista de esporte, dentre outras. Após sua graduação universitária, por um período de pouco menos de três anos, exerceu o magistério atuando como professor de matemática nos principais estabelecimentos de ensino daquela bela cidade.
Em 1974 em virtude de ter sido nomeado funcionário público pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais, veio a radicar-se em Belo Horizonte. Naquela autarquia passou por vários cargos, de Assessor de Economia, a Diretor Setorial. Foi Presidente do Conselho de Transporte Coletivo Intermunicipal e Metropolitano de Passageiros em quatro mandatos alternados, vindo a aposentar-se como funcionário público em fevereiro de 2015. Inicia-se nas letras com o livro, O Anjo Down, a história do seu filho portador da trissomia do cromossomo 21.
Casado a quarenta e dois anos com Maria José, forma a família com os filhos Rodolfo, o primogênito, e o caçula Leandro que dá título ao livro, O Anjo Down, publicado pela editora Clube de Autores
.
Apresentação
O cenário onde transcorreram a maioria dos fatos narrados neste livro, é uma bela cidade do interior de Minas Gerais conhecida por suas águas medicinais. A história de Araxá está ligada aos índios Arachás, assim mesmo com ch
, de onde deriva o nome Araxá, com x
, que em tupi-guarani significa, lugar onde primeiro se avista o sol, e poeticamente, em tradução livre, o lugar onde o sol nasce primeiro e se põe por último.
Nos anos dourados de 1960, Araxá tinha pouco mais de 28 mil habitantes, chegando ao fim da década, em 1970 com cerca de 35 mil habitantes. Aprazível, de uma calma prazenteira, gostosa de se viver. O tempo inzoneiro passava tranquilo, sossegado, como se não tivesse compromisso com o próprio tempo. Entretanto, naquele cenário bucólico, vida e destino se entrecruzavam em histórias pungentes, dramáticas, doídas, outras curiosas, algumas cômicas, é que me levaram a relatá-las em forma de contos, daí o título do livro, Causos Que A Vida Conta
. Ademais, cabe ressaltar que não foram ignoradas histórias que ocorreram em cenários longe daquela bela cidade, e nem por menos interessantes e dignas de serem relatadas.
Entretanto, foram preservados os nomes dos envolvidos nas histórias aqui narradas, o que não diminuí a curiosidade dos fatos que lhes deram origem. Vamos às histórias, ou causos como dizem os mineirim da gema. Boa leitura.
Sumário
A Fugada Fuga – Um noivo toma a decisão de romper com a noiva no dia de seu casamento. A fuga empreendida para livrar-se do compromisso matrimonial. Os caprichos do destino para um final inusitado. Acaso do acaso, ou uma mentira contada com ares de verdade, ou uma verdade com ares de mentira? Quem há de saber?
O Pau de Fogo – O que faria aquela moça da roça andar com um pau de fogo dizendo para quem quisesse ouvir, mato sim, sem dó nem piedade. Que drama carregaria em sua alma de mulher? Que dor profunda matou o sorriso daquela moça? De nome Julieta, a moça feia que veio da roça, que conheceu o moço bonito que veio do nada, de nome Romeu. Seria mais um drama de morte?
A Pipa – O que faria um alfaiate da alta-costura não poder usar uma roupa de seu próprio talhe e confecção? Por que o terno amarfanhado e desalinhado em um evento da alta sociedade? Um final surpreendente, explicável todavia.
O Baile – O acordeonista cujo repertório era composto de uma só música. Os pares dançantes depois de ouvirem por uma hora a execução de um sucesso da época, Angústia
, se sentiam todos angustiados. A tentativa frustrada para que outro acordeonista presente na brincadeira dançante substituísse o acordeonista de uma música só. Fim do baile da Angústia.
O Ritmista – As aventuras de um ritmista do pandeiro nas noites de Araxá. Um soco de consequências futuras. A fuga do herói do pandeiro chafurdando-se num lamaçal de um chiqueiro de porcos.
O Terno – O pandeirista continua suas aventuras não tão musicais. A surra que levou da moça que defendeu o namorado insultado pelo folclórico pandeirista. O prejuízo de quem não teve nada a ver com a briga.
A Tragédia – A história de um pai que assassinou o próprio filho. Arrependimento e remorso, a pena mais dura que as grades da prisão. Que fim teria levado aquele homem que dizia ter matado o amor de meus amores?
O Que Urubu Come – Um cozinheiro improvisado e a encomenda da feijoada. A brincadeira de mau gosto dos colegas de serviço, acrescentando um pertence estranho ao condimento. A reação do cozinheiro ao dar com aquele pertence em seu prato.
O Guarda-chuvas – O cozinheiro se arvora em restaurador de guarda-chuvas e sombrinhas. Dizia ter sete profissões e oito necessidades. O entrevero com um colega insatisfeito com o resultado da reforma de um guarda-chuvas.
O Tiro da Soca-soca – Novamente o homem das sete profissões e oito necessidades é vítima de uma brincadeira de mau gosto, que por pouco não resultou em tragédia.
A Caçada de Paca – Os mesmos amigos das brincadeiras de mau gosto, vão a uma caçada de paca. Os cuidados para não afugentar a presa e o malogro da caçada, pelo mais improvável dos motivos.
O Laço Forte – Um seleiro que não fazia nada que fugisse aos padrões da sua profissão. Meticuloso, organizado, detalhista ao extremo, era o que podia chamar de sistemático. Uma encomenda de um laço por um freguês que se sentiu ofendido ao verificar que a encomenda trazia o mesmo defeito da amostra.
A Moça da Revista – Uma lição de finesse e elegância dada por uma elegante passageira de um ônibus de como livrar-se de um companheiro inconveniente de viagem.
O Pai Nosso – A esperteza do vigário na negociação de um cavalo de raça. Uma proposta ardilosa para que o vigário se apropriasse do animal. A lição dada pelo matuto ladino, ao vigário espertalhão. A frustração de quem quer tudo perde.
Só Freud Explica – Um caso curioso de infidelidade conjugal que só poderia ser explicado por Sigmund Freud, ou não?
A Surpresinha – Um habitual comprador de bilhetes de loteria em envelopes lacrados, chamados surpresinha, um dia não resiste ao impulso e abre o envelope antes do sorteio. Não gosta do número do bilhete e vai até a lotérica e pede que lhe troquem o bilhete, por outra surpresinha. A sorte é uma companheira fiel de quem nela acredita.
Ave de Arribação – Que drama carregava aquela mulher que tentou afogar-se na enxurrada? Olhos verdes faiscantes daquela ave de arribação, onde será que foi buscar novo ninho? Bateu asas e se foi, pra onde, ninguém sabe.
O Jornal do Dia – O sonho de Maria Odete, a Detinha, era morar na cidade grande. Trazida para a Capital Detinha, assumiu as funções de doméstica na residência da família. A boa vontade em se acertar no emprego, ia além de suas obrigações, e por vezes até cometia gafes que entraram para o folclore da família.
Guia Astrológico – Um fiel seguidor dos ditames dos astros, não saia de casa sem ler o seu guia astrológico do dia. Admirador do famoso astrólogo, procurou a redação do jornal com o objetivo de conhecer o astromante. O embaralhamento das casas astrológicas enviadas para publicação. Uma realidade inconveniente, uma decepção frustrante.
O Sexo dos Bebês – O curioso método de investigação de um médico para prever o sexo dos bebês, somente auscultando a barriga da mãe. A curiosa infalibilidade dos acertos descoberta após a morte do médico.
Crime e Castigo – Um amigo do alheio que não conseguiu aproveitar o produto do seu furto. Um Delegado de Polícia que resolveu o caso mais inusitado que apareceu em sua Delegacia.
Para Seus Olhos Verem – A desconfiança é como a erva daninha, uma vez semeada, medra viçosa por mais inóspito que seja o terreno em que caia a semente. O casal perfeito conseguiria livrar-se da erva daninha da dúvida semeada por uma brincadeira de mau gosto dos amigos? O amor adoecido nos ciúmes encontraria a cura? Uma história de final surpreendente.
A Fuga da Fuga
Araxá sempre foi rica em causos bizarros, alguns histriônicos, outros divertidos, cômicos, que bem poderiam fazer parte do folclore da cidade, e que por vezes fazem. Relembro-os prazerosamente de alguns deles, que mais me parecem uma comédia-pastelão de tão cômicos aconteceram.
Havia na cidade um Senhor que apreciava falar de si mesmo, contar suas aventuras e desditas. Não podia aproximar-se de uma rodinha de amigos e lá vinha ele se enfiar na conversa com cara de quem não quer nada, mas provocando ser solicitado a contar uma das suas.
Um egocêntrico incorrigível. Todos conheciam o seu repertório de causos que eram repetidos a exaustão. Nenhuma novidade, mas dada a graça com que eram contados pelo próprio autor, todos riam e se divertiam com a maneira debochada da narrativa. Não me recordo seu nome, sei que tinha uma certa semelhança de algum nome russo, por isso o chamarei Boris. Era alto, corpulento, tez morena, cabelos crisalhos, um tanto encaracolados, mostrava a idade beirando os cinquenta anos. Conversador, bonachão, o centro das atenções em qualquer roda que chegasse. Era a um só tempo o herói, ou o bandido do causo que lhe sucedera, ou que testemunhara, sempre mantendo-se no centro da narrativa.
Certa ocasião, em um churrasco que oferecera em comemoração ao seu aniversário de seu casamento, formou-se uma rodinha de amigos sob uma frondosa mangueira no quintal da casa do anfitrião. Ali estavam todos numa cervejada, apreciando a carne assada de primeira qualidade, com o amigo Boris se desdobrando em servir aos convidados. Um dos amigos estranhou que até aquele momento nada da presença na rodinha do contador de causos. Foi quando alguém comentou:
– Pode deixar, ele está muito atarefado, mas agorinha mesmo ele não resiste e virá contar das suas, esperem e ouvirão mais de seu repertório inesgotável, acreditem.
Mas nada, sua ausência na rodinha era uma novidade, nunca acontecera aquilo, quando um dos amigos teve uma ideia para atraí-lo.
– Ouçam, vou contar uma piada que ouvi ontem, muito engraçada e quando ele ouvir nossas risadas ele virá no cheiro da pólvora que nem cachorro perdigueiro, vocês vão ver só.
Colocou o plano em prática e não deu outra. Quando ouviu as risadas gostosas dos amigos reunidos debaixo da mangueira veio que nem uma bala, desculpando-se com os amigos.
– Olhem, não reparem a minha ausência no papo, pois estou meio atarefado com os convidados, mas daqui a pouco está vindo um garçom para ajudar na recepção e virei ter com vocês.
– Viu como a ideia da piada foi certeira? Garanto de que nos próximos cinco minutos ele estará aqui com suas histórias. O Bóris muita vez gosta de fazer suspense.
Previsão acertada, lá vem o Boris todo sorridente para com a turma de amigos. Vinha acompanhado da esposa e da filha caçula, e que foram apresentadas cerimoniosamente;
– Estas são o meu tesouro, minha esposa e nossa filhinha do coração.
E logo querendo saber da última, foi logo perguntando.
– Qual o caso que vocês estão achando tanta graça, preciso saber, deve ser interessante, o que é?
– Apenas uma piada, para passar o tempo até você vir ter conosco. Estamos curiosos para saber se lhe aconteceu alguma nova aventura que ainda não conhecemos.
Surpreendentemente o Bóris parecia esquivar-se de contar alguma das suas.
– Não, já contei tudo, ou quase tudo.
Respondeu fazendo um sinal, apontando para a esposa, para que aguardassem que ela saísse do circuito. Mas a esposa e a filha permaneciam na rodinha na maior animação, chegando mesmo a tomarem parte nas conversas dos amigos. Criou-se um certo suspense, a esposa, e a filha do Boris não se ausentavam da roda, e todos curiosos para saberem da sua nova aventura. Até que enfim chega uma convidada da intimidade da casa que mereceu a atenção das duas, que se levantaram, pediram licença, pois recepcionariam a madrinha da filha. Mal saíram, em uníssono os amigos da rodinha crivaram o Boris de perguntas.
– Conte-nos esse novo mistério. Porque sua esposa e filha não poderiam ouvir a história?
– Qual motivo da precaução, algum segredo seu?
– Vocês vão ver o por que da minha reserva em frente de minha esposa.
Disse fazendo um certo ar de mistério. Serviu-se de um copo de cerveja, bebeu com gosto a geladinha, estalou a língua, e continuou.
– Meu motivo é sério, jamais contei essa história, guardei-a por mais de dezoito anos, cuja data é coincidente ao aniversário de nosso casamento. Nunca toquei nesse assunto, mais pela minha mulher, a quem muito respeito.
– Vamos Boris, conte logo, está nos matando de curiosidade. Que mistério é esse guardado a sete chaves? Impossível logo você que não é de guardar segredos para nós, guardá-lo por tantos anos?
O Bóris tinha atingido o seu objetivo, despertara a curiosidade dos amigos. Serve-se de mais um copo de cerveja, e segue saboreando, mais o interesse dos amigos pela sua nova história, do que a cerva gelada que lhe escorre gostosa garganta abaixo.
– Vou contar, é uma história incrível, mas verdadeira que aconteceu quando eu e minha esposa ainda éramos noivos, com data do casamento marcada.