Coruja anuncia poemas que me voaram
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Sobre este e-book
Com frequência associadas à sabedoria e ao mistério, mas também ao poder feminino e à intuição, as corujas tornaram-se interlocutoras desejadas, esperadas por Renata, como se cada encontro carregasse em si um significado próprio — e como se, com seus grandes olhos, elas estivessem sempre a observar a autora. O tempo e a escrita a transformaram, e logo ela alçou voo tal como uma ave, leve para enfrentar um processo de luto.
Coruja anuncia poemas que me voaram é, ao fim e ao cabo, esse voo livre, esse pio escondido na mata: introspecção, desenvolvimento e construção. A degustação de um planar ao sabor dos ventos.
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Coruja anuncia poemas que me voaram - Renata Facco de Bortoli
PREFÁCIO
Coruja anuncia poemas que me voaram é mais que um conjunto de poemas dispostos em livro. Trata-se de palavras sonoras, em forma de melodias adornadas de ritmo e movimento, carregadas de significados vívidos, capazes de nos fazer imergir nas histórias contadas por Renata Facco de Bortoli.
Dra. Renata, como também é conhecida, é uma médica psiquiatra, professora universitária, bailarina e, acima de tudo, uma pessoa cuja grande sensibilidade é facilmente identificada nos textos que resultaram neste livro, dividido em quatro partes: antes
, durante
, e depois
do voo
.
Ao contrário do que pode parecer, os poemas não são marcados por uma temporalidade convencional, mas pelo tempo/estado da arte, ou seja, pelo tempo do autor, do leitor, atrelado ao contexto da leitura.
A autora consegue relatar fatos corriqueiros — que, na maioria das vezes, passam despercebidos — com tantas minudências que nos transporta para uma experiência, diria eu, multissensorial. Suas sedutoras palavras, fruto de um olhar minimalista e conceitual, nos transformam em personagens ativos das histórias por ela narradas, a ponto de nos fazer enxergar as cores, sentir os perfumes, as temperaturas, experimentar as texturas e os sabores do que está registrado nestas páginas.
Apesar de os poemas transitarem com liberdade entre os quatro momentos do livro, eles possuem sutis diferenças, suficientes para aproximá-los de seus respectivos nomes, uma característica que torna a leitura ainda mais instigante.
Convido você a perceber, com sua imanente subjetividade, o significado e a beleza de cada poema e da obra como um todo, construídos com a pura sensibilidade de quem escreve com a alma.
[ Prof.a Dr.a Tereza Raquel Alcântara-Silva ]
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Música e docente do curso de graduação em Musicoterapia na Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás (UFG)
ANTES
Rasguei meu primeiro poema
mas não esqueci sua última frase
Queria voltar andando para casa
Reencontrar o terraço destemido
quando a morte não existia
Eis que, num brilhante despertar,
resolvi comprar o tal All Star
Coruja anuncia!
[ Isto e um pouco mais ]
Cair num sonho
Entrar naquela nuvem e descer
Sentir-se o mais próximo de Deus possível
Estar no lugar mais alto em que já estive
Não acreditar que você está ali
Quase nada do que se vê se reconhece
Tudo é novo,
completamente surreal,
como jamais imaginado
Não crer na coragem de ser capaz de fazer aquilo,
se emocionar numa paz tão estranha, porque o tamanho do medo que eu deveria estar sentindo não justificava aquele congelamento
Ou seria aquilo o ápice do medo? Quando nem o coração dispara, e você apenas respira!
O que é um silêncio eterno?
Não neve
Um vácuo parecido com uma bolha no ar
Não avião
Um mergulho
no mar
Suspenso
Imenso
Branco
O mais maravilhoso que eu já ouvi!
[ À minha amada ]
O que há de mais sagrado
fica guardado em segredo
Ornamentado pelo antúrio salmão-rosado,
miniorquídeas
e ramos verdes
Neve de glaçúcar
sobre a rosa salmão do bolo de aniversário
tratado como pão de ló
Gostoso como creme de pâtisserie
com coco, nozes e morangos silvestres
Verão em pleno inverno
Pérolas aramadas em flor
para abraçar o guardanapo
Brindando com vinho tinto
o amor.
[ Um homem simples ]
Porque a vida é mesmo muito fugaz
E o sol já se pôs
Mas os raios que aqueceram o coração
continuam a brilhar dentro de mim
Sessenta e cinco noites…
O raio corta a imagem
formando conforme a imaginação
As cores crepusculares se misturam
como as águas e a terra
E nós queimando
De camisa rosa e olhar longínquo
de quem crê
Ele saboreia o mate amargo
E carinhosamente degustamos o belo dos dias.
[ A luz da manhã ]
Veja como a treliça já faz sombra!
Talvez eu tenha um pouco de medo do escuro
Mas temos muita coragem de expor nossas peles brancas
ao nascimento do sol
O chão da cozinha preparava para o mergulho
E o papel de parede, para a contemplação dos jardins
E o branco?
Loira
Morena
Ruivas
Café para ela
Com leite para mim
Intimidade
Coisa bem boa
Aprendi com ela a silenciar.
[ Quando a vejo ]
Brilho nos olhos
Sorriso de orelha a orelha
Para ouvir
Sentir
Balançar
Tocar o couro
Aconchegar na pele quente
Compartilhar nossas relíquias (e nos transformar)
Chegamos com um cinza-lavanda nas unhas
Saímos com essa mesma tonalidade no peito
Eu me recobri com lã de ovelha
Ela, com um crucifixo e esculturas gregas