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Por Trás da Estante: Histórias da Meia-Noite, de Machado de Assis
Por Trás da Estante: Histórias da Meia-Noite, de Machado de Assis
Por Trás da Estante: Histórias da Meia-Noite, de Machado de Assis
E-book163 páginas2 horas

Por Trás da Estante: Histórias da Meia-Noite, de Machado de Assis

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Sobre este e-book

Em Por trás da estante: Histórias da meia-noite, de Machado de Assis, Vizette Priscila Seidel amplia as constelações do conhecimento sobre a escrita machadiana. Numa análise cuidadosa dos contos de Histórias da meia-noite (1873), a autora revela a potência nas sutilezas dos textos do primeiro Machado de Assis, corroborando para a tese de que a genialidade e o engenho desse autor se mostravam claros desde os seus primeiros momentos.
O motor das reflexões aqui apresentadas é o olhar para as subversões com o romantismo presente nesses textos originalmente publicados em periódicos para mulheres. A todo tempo, a autora mostra como os contos confundem as expectativas do olhar romântico, transformando-o em um pano de fundo, este sim importantíssimo para nos revelar as farsas e os interesses que dominam relações, em geral amorosas, de personagens tão comuns.
Inserindo-se no conjunto de escritos que dissecam o primeiro Machado a partir de seu provável projeto estético antirromântico, este livro retoma a segunda coletânea de contos de Machado de Assis e a desdobra em seus detalhes e contexto, mostrando a maestria com que o autor fluminense lidava com seu tempo, valorizando o suporte do texto, as intertextualidades ou, até mesmo, as irrupções críticas, tanto sociais quanto literárias.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de ago. de 2020
ISBN9786555237306
Por Trás da Estante: Histórias da Meia-Noite, de Machado de Assis

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    Pré-visualização do livro

    Por Trás da Estante - Vizette Priscila Seidel

    INTRODUÇÃO

    Dentro e fora da valise

    Este livro começa a se desenhar na fase final da minha graduação em Letras com o trabalho "Marcas francesas nos Contos fluminenses, de Machado de Assis", sob a orientação da Dr.ª Daniela Mantarro Callipo, na Faculdade de Ciências e Letras de Assis (Unesp/Assis). Continuando a estudar os contos após o aperfeiçoamento do tema e a escolha do corpus, tornou-se visível que havia uma linha de relações e significados no jogo entre os contos selecionados para compor as coletâneas de Machado. Decidimos, então, desenvolver uma pesquisa sobre qual seria o projeto literário do autor fluminense para sua segunda coletânea de contos, Histórias da meia-noite (1873), composta por seis textos, sob a orientação da Dr.ª Lúcia Granja, no Ibilce (Unesp/São José do Rio Preto). Em consequência, foi preciso que nos perguntássemos sobre os possíveis motivos da exclusão de 15 contos que, assim como os selecionados, haviam sido publicados, no mesmo período, no Jornal das famílias.

    Destarte, este livro aborda a respeito dos primeiros contos machadianos no que concerne à construção desses textos e a configuração, pela escolha, do projeto literário machadiano, assim como de uma possível relação entre a formação dessa coletânea e o ideal de literatura brasileira que o escritor e crítico Machado de Assis parecia ter em mente naquele momento.

    Nesta pesquisa, analisamos os contos A parasita Azul, As bodas de Luís Duarte, Ernesto de Tal, Aurora sem dia, O relógio de ouro e Ponto de vista, os quais foram agrupados no livro Histórias da meia-noite (1873), assim como aqueles que não foram tratados pelo autor em vida – alguns dos quais, inseridos na nova edição Aguilar, Raimundo Magalhães Jr. havia reunido –, tais como Capitão Mendonça, Aires e Vergueiros, Mariana, Almas Agradecidas, Caminho de Damasco, Rui de Leão, Quem não quer ser lobo, Uma Loureira, Uma águia sem asas, Qual dos dois?, Quem conta um conto, Tempo de crise, Decadência de dois grandes homens, Um homem superior e Nem uma nem outra.

    Para desenvolver uma reflexão, partimos das críticas de Massa (1971) e de Azevedo (1990), os quais abordam a existência de um possível projeto estético literário antirromântico em Machado de Assis. Todos os contos, principalmente os seis que foram inseridos na coletânea, foram lidos dentro de seu conhecimento do periódico, o Jornal das Famílias, ou seja, comparamos os textos em seu suporte primeiro e analisamos, com o objetivo de recuperar informações que o diálogo entre o texto machadiano e seu entorno nos jornais nos poderia fornecer, utilizando a metodologia e os instrumentos que Granja (2009) propõe para a análise da relação entre o escrito machadiano e os outros textos do veículo, se houve alguma mudança para a passagem desses contos para o livro. Segundo a pesquisadora, está claro que a circulação das formas textuais se fazia constantemente no ‘hipertexto’ do periódico cotidiano. Pelo menos, há no jornal uma literariedade ambígua, por meio do qual as transferências entre escrita literária (aí compreendida a ficcional) e jornalística são grandes evidências. (GRANJA, 2009, p. 112). Este livro conta, portanto, com a leitura do jornal editado por Garnier, em sua forma original microfilmada, disponível para pesquisa na Biblioteca Nacional, a qual tive acesso por meio das imagens adquiridas pelo Projeto Temático Fapesp A circulação transatlântica dos impressos: a globalização da cultura (11/07342-9), as quais também puderam ser consultadas no site da Hemeroteca Digital Brasileira¹. Além disso, consultei os contratos e recibos do editor francês que fizeram parte do corpus Projeto Fapesp Caminhos do Romance (02/08710-2).

    Consideramos também como fundamental a leitura da fortuna crítica machadiana e dos métodos da história literária. Assim, seguimos a reflexão presente em A juventude de Machado de Assis, de Jean Michel Massa (1971); Machado de Assis: ficção e história, de John Gledson (2003); A máscara e a fenda, de Alfredo Bosi (2007); Ao vencedor as batatas (2000) e Um mestre na periferia do capitalismo (2000), de Roberto Schwarz; A trajetória de Machado de Assis: do Jornal das Famílias aos contos e histórias em livro, de Sílvia Maria Azevedo (1990); Leitores de Machado de Assis: o romance machadiano e público de literatura no século 19, de Hélio Seixas Guimarães (2004); Machado de Assis, escritor em formação (à roda dos jornais), de Lúcia Granja (2001), entre outros trabalhos sobre o autor fluminense.

    Tentamos relacionar os estudos machadianos àqueles sobre o editor Garnier, a fim de averiguar a participação do editor na composição da obra. Paralelamente, realizamos leituras sobre a história geral do livro e a do livro no Brasil, durante o séc. XIX. Para tanto, utilizamos: O Livro no Brasil, de Laurence Hallewell (1985); o livro Leitura, história, história da leitura, de Marcia Abreu (2000), junto a outras obras que a autora organizou; e os artigos: Rio-Paris: primórdios da publicação da Literatura Brasileira chez Garnier, de Lúcia Granja (2013); Batispte-Louis Garnier: o homem e o empresário, de Alexandra Santos Pinheiro (2011); e Machado de Assis e Garnier: o escritor e o editor no processo de consolidação do mercado editorial, de Rutzkaya Queiroz dos Reis (2011).

    Para melhor exemplificação e desenvolvimento dos objetivos propostos, divido o trabalho em três capítulos. No primeiro, comentamos o surgimento do projeto literário romântico no Brasil e, a partir disso, o que seria o projeto literário machadiano, principalmente com a leitura de Rosenfeld (1978), Gilberto Pinheiro Passos (1996a), Hélio Seixas Guimarães (2004), Daniela Mantarro Callipo (2004) e Márcio Scheel (2010). Dentro da valise, no segundo capítulo, apresentamos a análise do livro Histórias da meia-noite (1873), de Machado de Assis, para entender melhor a seleção dos seis contos que o integram. Utilizamos, também, um artigo de Cilaine Alves Cunha (2008) para explicar a ironia romântica em Machado de Assis e o livro Ironia em perspectiva polifônica, de Beth Brait (2008), para melhor entender a ironia presente nos contos, característica tão cara ao escritor. Fora da valise, no último capítulo, efetuamos as análises dos 15 contos que não foram publicados no livro. Durante essas análises, mantemos um diálogo com a participação do editor Louis-Baptiste Garnier nessa seleção a partir dos indícios textuais, documentais e, conforme aponta o próprio Machado de Assis, na Advertência da coletânea de 1873, juntamente aos documentos de contratos que, como podemos ver a seguir, tivemos acesso².

    Figura 1 – Contrato entre Machado de Assis e B.L. Garnier³

    Fonte: material recolhido pelo Projeto Temático Fapesp Caminhos do Romance

    Para a pesquisa, utilizamos também: Machado de Assis: obra completa, publicado no ano do centenário de sua morte (2008) pela Editora Aguilar; a edição, publicada em 2007, de Histórias da meia-noite organizada por Hélio Seixas Guimarães; a primeira edição de Histórias da meia noite (1873), disponível no site brasiliana⁴; e todas as coletâneas de contos recuperados por Magalhães Jr.

    Vejamos, então, os contos.

    CAPÍTULO 1

    Machado de Assis e seu tempo

    No Brasil oitocentista romântico, havia uma pressão aos escritores para que escrevessem de uma maneira que exaltasse a brasilidade, ou seja, que enaltecessem a fauna e flora brasileiras, o que seria uma maneira de se distanciar da presença portuguesa. Dessa forma, Machado de Assis lembra o fato de que, nas obras brasileiras, não era necessário abordar apenas a natureza exótica que, no Brasil, existia, pois, assim, os escritos não se reduziriam, em demasiado, à cor local. De tal modo, os autores, como será abordado mais adiante, podiam fazer uma literatura brasileira além desse exotismo.

    O autor fluminense deu início ao seu projeto literário desde cedo. Aos 19 anos, escreveu seu primeiro ensaio de crítica literária, O passado, o presente e futuro da literatura brasileira, publicado em 1858. Nele, Assis traz reflexões sobre a relação entre política e literatura, a relação da literatura brasileira com a estrangeira, entre outros temas do período de formação da literatura e crítica brasileiras. Na década de 1860, quando começou a publicar no Jornal das Famílias, um periódico conservador e voltado às mulheres, o autor deu início ao que pode ser o seu projeto estético literário antirromântico ao utilizar características do Romantismo para subvertê-las e, ao mesmo tempo, apresentar outras formas brasileiras de se fazer literatura sem abordar apenas a cor local. Como resultado disso, em 1870, houve sua primeira coletânea, Contos fluminenses, e, em 1873, Histórias da meia-noite.

    O possível projeto literário machadiano dos anos de 1870 a 1873 dá-se ao entendermos como Machado de Assis releu os conceitos românticos e, possivelmente, os subverteu em sua época. Pensamos que, se existe um projeto estético antirromântico machadiano, este está menos visível em Contos Fluminenses (1870) do que em Histórias da meia-noite (1873), e, por isso, deter-nos-emos aos contos do segundo livro durante as análises ainda que dialoguemos com o predecessor.

    Tentaremos, também, compreender um pouco o surgimento do Romantismo na Europa, assim como a maneira pela qual os preceitos românticos desenvolveram-se na colônia. Segundo Scheel (2010, p.

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