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Cidades E Destinos
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E-book641 páginas2 horas

Cidades E Destinos

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Sobre este e-book

As cidades são como as pessoas, possuem suas próprias personalidades. Algumas se revelam ao primeiro olhar enquanto outras se escondem. Os viajantes tentam descobrir seus segredos e algumas mulheres encontraram uma nova chance na vida através do amor. Esse livro conta histórias de mulheres que conheceram e amaram outras mulheres em cidades espalhadas pelo mundo. Viaje por Cidades como Veneza, Cambridge, Barcelona, Viena, Sevilha e Florença e descubra como essas mulheres mudaram os seus Destinos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de mai. de 2020
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    Pré-visualização do livro

    Cidades E Destinos - Bertha Solares

    BERTHA SOLARES

    CIDADES

    E

    DESTINOS

    1

    As histórias deste livro foram escritas na

    cidade de São Paulo entre os anos 2001 e

    2007. Surgiram separadas, mas acabaram

    ficando juntas e dando origem a esse livro.

    Agradeço a Leila Maria Linhares que teve a

    paciência de fazer a revisão e corrigir os

    erros de gramática.

    2

    Para todas as mulheres que amam

    mulheres.

    3

    VENEZA: PONTO DE PARTIDA.

    As cidades são como as pessoas,

    possuem

    suas

    próprias

    personalidades.

    Algumas se revelam ao primeiro olhar

    enquanto outras se escondem. Veneza

    precisa ser descoberta. Envolvidas por

    histórias de amor, as pessoas viajam para lá

    há séculos tentando vivenciar um romance.

    Dessa forma é muito difícil saber se La

    Sereníssima é romântica mesmo ou se é a

    idéia que se faz dela é que a transformou no

    berço de aventuras amorosas. Os provençais

    do século XII que inventaram o amor

    romântico, não poderiam supor que uma

    cidade italiana personificasse a essência

    única desse tipo de amor. Até Casanova se

    arriscou em aventuras por seus canais.

    Verdade ou mentira?

    O fato é que existem histórias que acontecem

    nessa milenar cidade do Leão e dos Doges,

    que não poderiam ter acontecido em outro

    lugar. Eu fazia parte do time dos céticos e não

    4

    acreditava

    nessas

    bobagens

    como

    romantismo, linhas da mão, escrito nas

    estrelas ou destino. Como uma profissional da

    notícia aprendi a escrever o que vejo e não o

    que imagino.

    Acabei indo para Veneza a trabalho. Um

    amigo jornalista contatou-me para fazer um

    free-lance durante o carnaval. Willhem esteve

    comigo na cobertura da guerra na Bósnia. Ele

    é um holandês alto, loiro e magro. Um amor

    de pessoa e um profissional de primeira. Nós

    dois não somos muito chegados aos nossos

    sexos opostos, nos entendemos muito bem e

    ficamos amigos.

    O

    trabalho

    era

    para

    uma

    produtora

    independente de Bruxelas. Eles queriam

    material

    para

    um

    filme

    com

    temática

    homoerótica que se passaria em Veneza

    durante o Carnevale. Precisavam de uma

    jornalista que fosse até lá e recolhesse

    algumas histórias vividas por lésbicas. Tinham

    contratado o Willhem para fazer o mesmo com

    os gays, só que a cidade escolhida para ele

    tinha sido Paris.

    Minha primeira reação foi recusar a proposta.

    Eu estava começando a escrever um livro-

    reportagem sobre as conseqüências das

    guerras na vida das crianças. Recolhi todo o

    material

    disponível

    sobre

    os

    conflitos

    contemporâneos. Tinha horas e horas de

    entrevistas com especialistas no assunto:

    5

    psicólogos,

    sociólogos,

    historiadores

    e

    educadores. Não pretendia sair de Lisboa. Eu

    estava hospedada na casa de umas amigas

    portuguesas que conheci na época da guerra

    em Angola. Aldina e Olga eram mulheres

    generosas e tinham me oferecido um quarto

    confortável que ficava no sótão da casa. Lá eu

    tinha espaço, privacidade e tranqüilidade para

    escrever meu livro.

    Willhem insistiu dizendo que eu era a pessoa

    perfeita para fazer o trabalho e me convenceu

    quando falou o valor que eles me pagariam

    pelo material . Era dinheiro suficiente para eu

    passar mais uns seis meses na Europa. Tudo

    isso junto , mais o bichinho da aventura me

    mordendo, acabei aceitando e parti com

    destino à Veneza dois dias antes de começar

    o Carnaval.

    Quando cheguei tive dificuldade para achar

    um hotel. Descobri que Veneza é uma cidade

    cara, perfeita para se passar um dia, passear

    por suas ruas, navegar por seus canais e à

    noite ir embora. Para quem tem a ousadia de

    querer usufruir um pouco mais de suas

    belezas é bom saber que desembolsará muito

    dinheiro. Fiz assim minha primeira descoberta.

    Essa cidade não é para todos. A maioria dos

    hotéis estava lotada por causa do carnaval.

    Depois de andar por horas carregando uma

    bagagem de mão, um Laptop e uma pequena

    mochila nas costas, tive a impressão de estar

    rodando como uma barata tonta. Resolvi parar

    6

    na Central de Informação Turística – CIT, da

    Stazione Venezia-Santa Lucia. Uma moça

    gentil e interessante prontamente me atendeu

    e sugeriu que eu me hospedasse em um hotel

    que ficava há algumas quadras da estação.

    Segui todas as indicações dadas por ela, mas

    não encontrei a tal travessa. Em Veneza

    achar uma placa com o nome da rua é tarefa

    para um detetive. Acredito que até Sherlock

    encontrasse dificuldade. Parei para descansar

    e por sorte reparei que estava ao lado do

    endereço que procurava. Resolvi arriscar e

    entrar naquela pequena rua que mais parecia

    um beco. Para minha surpresa o beco se

    transformou uns oito metros à frente, numa

    rua larga e bem simpática.

    Consegui um quarto no Albergo Dolomiti,

    pequeno e sem chuveiro, mas limpo e

    agradável. Até hoje, mesmo morando há anos

    na Europa, ainda não me acostumei com a

    falta de banheiros nos quartos dos hotéis.

    Minha mãe tinha verdadeira obsessão por

    banhos. Quando eu era criança e brincava na

    rua, era só chegar em casa que ela me

    mandava tomar banho. Viciei. Hoje em dia me

    limito a tomar apenas dois, um ao acordar e

    outro antes de dormir. De qualquer forma

    mesmo tendo que descer ao banheiro no

    segundo andar, eu me hospedei no hotel.

    Era bem localizado e o melhor de tudo, tinha

    um preço razoável.

    7

    Fazia muito frio em Veneza e o rapaz da

    portaria comentou que podia nevar nas

    próximas horas. Eu não acreditei, mas quando

    acordei no dia seguinte e olhei pela janela , o

    dia estava totalmente fechado e nevava muito.

    Como andar debaixo de neve era uma coisa

    que estava longe dos meus planos, tomei café

    no hotel e resolvi trabalhar um pouco no meu

    livro reportagem. Passei a manhã inteira

    digitando anotações até meu estômago avisar

    que teria que sair de qualquer jeito.

    Antes de andar sem rumo pedi informações

    no hotel sobre onde almoçar nas cercanias. O

    recepcionista me indicou um restaurante

    chinês na mesma rua. Pela cara que eu fiz ele

    percebeu que não era aquele o tipo de comida

    que eu procurava. Por isso esclareceu que o

    dono era chinês, mas a comida italiana.

    Resolvi arriscar esse non-sense. Realmente

    de chinês mesmo o lugar só tinha o nome e os

    donos que estavam no balcão.

    Estava comendo um excelente Spaguetti alle

    vongole quando o celular tocou. Era o Willhem

    querendo saber se as coisas estavam

    correndo bem e se eu já tinha conseguido

    alguma entrevista. Respondi que já havia me

    instalado, mas que estava nevando muito e

    que eu não tinha a menor idéia de como nem

    por onde começar. Ele disse que eu era

    criativa e que encontraria uma saída. Lembrou

    que tínhamos um prazo e mandando um beijo,

    desligou.

    8

    Durante o almoço pensava que tinha me

    metido numa fria, mais gelada que aquela

    neve toda que caia na rua . Não sabia ainda o

    que fazer para conseguir que as turistas que

    estavam em Veneza se dispusessem a contar

    suas histórias de amor.

    Voltei para o hotel na Calle Priuli no

    Cannaregio, sentei em frente ao laptop e

    comecei

    a

    responder

    e-mails.

    Depois

    naveguei aleatoriamente tentando encontrar

    uma forma de como convencer algumas

    mulheres a revelar suas intimidades e falar

    dos seus amores. A tecnologia é maravilhosa,

    mas as máquinas não pensam e por mais que

    eu tentasse o computador não encontrava

    uma solução para as minhas dúvidas.

    Chateada, larguei tudo e fui para debaixo das

    cobertas. Sem sono comecei a passar a

    limpo a minha vida e não gostei do que

    constatei. Fui contratada para escrever

    histórias de amor baseadas em relatos reais,

    mas o que eu mesma entendia de amor?

    Amor, amor de verdade eu nunca tinha

    sentido. Na minha profissão é difícil se

    envolver. Ninguém quer viver com uma

    correspondente internacional que de uma

    hora para outra pode ser mandada para

    qualquer lugar do mundo .Sempre acreditei

    que esse negócio de amor era uma grande

    bobagem. Foi inventado na Idade Média pelos

    homens que na realidade queriam apenas

    transar com as mulheres sem casar.

    9

    Inventaram técnicas, palavras, frases e

    expressões, tudo isso para convencer as

    donzelas e as senhoras casadas a se

    entregarem ao amor sexual. Tudo em nome

    do amor. Sexo em troca do amor.

    Para falar a verdade, eu não tinha uma

    posição clara sobre esse assunto. Lembrava

    que existia outro lado que deveria ser

    analisado. Quando estive no Egito por ocasião

    da assinatura de um acordo que parecia ser

    definitivo, entre árabes e judeus, tive a

    oportunidade de visitar o museu do Cairo. Lá

    eu vi inscrições em hieróglifos datadas do

    século XII a.C. e muitas delas eram poemas

    de amor. Na Grécia antiga Safo escrevia

    poemas para suas amadas. Fico sem saber o

    que concluir. Por esses dados deveríamos

    dizer que o Amor sempre existiu na vida dos

    Homens.

    Enrolada no edredom levantei e fui até a

    janela olhar o tempo . Continuava nevando.

    Afinal, o que eu tinha a ver com tudo aquilo?

    Além de não entender de amor estava agora

    num beco sem saída. Não sabia que caminho

    seguir e não podia retornar. A neve caindo

    devagarzinho branqueava a rua e os telhados.

    Eu olhava aquela cena bucólica quando decidi

    agir. Com lápis e papel na mão, sentei na

    cama e anotei item por item do que precisava

    fazer.

    10

    Primeiro: bolar um meio de encontrar

    mulheres dispostas a contar sua história.

    Mesmo porque não podia sair na rua de

    gravador em punho, parar qualquer uma e

    simplesmente perguntar: você tem uma

    história de amor lesbiano interessante para

    contar? Seria maluquice. Tinha mais um

    detalhe, as histórias deveriam ter sido vividas

    por turistas que se encontravam em Veneza

    para o Carnaval. Agulha no palheiro.

    Segundo:

    como

    encontrar

    agulha

    no

    palheiro? Separando a palha da agulha. Indo

    a lugares freqüentados por homossexuais.

    Onde encontrar esses lugares? Internet. Mas

    nem todas as lésbicas freqüentam lugares

    exclusivos. Então tive uma idéia maluca.

    Decidi afixar cartazes nos lugares mais

    freqüentados por turistas e pedir que as

    mulheres que tivessem histórias de amor

    interessantes, me procurassem.

    No dia seguinte fiz o cartaz. O texto precisava

    ser chamativo e instigante. Tudo pronto me

    informei com o recepcionista do hotel e ele

    indicou uma loja perto da Piazza San Marco

    onde poderia tirar cópias. Foi nesse dia que

    comecei a aventura por Veneza. Pelos

    mistérios de Veneza.

    Enquanto

    andava

    pelas

    ruas

    geladas,

    observava a movimentação dos turistas.

    Ninguém parecia se importar com o frio ou

    com a neve, pois era carnaval e todos

    11

    estavam contentes. Alguns atores contratados

    pelas lojas que vendiam e fabricavam

    máscaras, passeavam fantasiados pelos

    lugares mais freqüentados expondo-as. Um

    espetáculo bonito de se ver. Achei a loja com

    dificuldade e mandei fazer as cópias .

    Comprei um grande pote de cola branca, um

    pincel e saí para colocar a segunda parte da

    minha idéia em prática. Comecei colando os

    cartazes nos postes, mesmo não sabendo se

    havia alguma lei que proibisse tal prática,

    arrisquei. Com a lista dos principais pontos

    turísticos na mão, lembrei que o melhor local

    para afixar um cartaz seria o Centro de

    Informação Turística (CIT) perto da estação.

    Aquele, onde pedi informação quando cheguei

    na cidade.

    No CIT tinha um quadro de avisos com vários

    recados e bilhetes escritos em diversas as

    línguas. Escolhi um lugar menos poluído

    visualmente e colei o meu cartaz escrito em

    três línguas: inglês, italiano e espanhol. Uma

    das funcionárias reparou no que eu fazia e se

    aproximou para ler:

    "Equipe de cinema belga procura para

    roteiro histórias de amor lesbianas. Se

    você, turista, viveu uma bela história

    conte para nós! As interessadas podem

    entrar em contato por e-mail ou pelo

    telefone abaixo. Entre no romantismo

    12

    do Carnevale Venezia, tire

    sua ‘maschere’! Reparta com o

    mundo suas emoções!"

    Terminada a leitura, a funcionária que tinha

    me atendido no dia em que cheguei me olhou

    de um jeito malicioso e convidativo. Como eu

    estava

    compenetrada

    na

    atividade

    de

    afixadora de cartazes não dei bola e saí rumo

    ao trabalho.

    Aprendi a andar pela cidade e no fim do dia já

    estava familiarizada com os labirínticos

    caminhos de Veneza. Essa cidade nasceu

    numa laguna formada por pequenas porções

    de terra que ao longo dos séculos foram se

    ligando através da construção de inúmeras

    pontes. Veneza não foi construída para

    pedestres e sim para a navegação. Os canais

    é que são as ruas. O principal é o Grande

    Canal que serpenteia a cidade como um S.

    Existem

    incontáveis

    canais

    pequenos

    percorridos por barcos de todas as espécies e

    tamanhos e o meio de locomoção popular é o

    vaporetto.

    No final da tarde tinha afixado e distribuído o

    lote de 500 panfletos. Cheguei ao hotel

    satisfeita com o resultado, pois estivera em

    todos os pontos de maior afluência de turistas,

    13

    principalmente a região da Ponte Rialto e a

    Piazza San Marco.

    Passados dois dias achei que minha brilhante

    idéia era fantasiosa. Tentava disfarçar a

    preocupação de como escrever as histórias

    encomendadas. Até então não havia recebido

    nenhum e-mail ou telefonema. Estava tão

    frustrada com a falta de retorno do cartaz que

    resolvi naquela manhã fria de sábado, andar

    um pouco. Acabei, como todo mundo,

    entrando num Café na Piazza de San Marco.

    Enquanto tomava um capuccino eu pensava

    que se as coisas continuassem do jeito que

    estavam teria que buscar outra solução.

    Decidi que o melhor seria entrar em contato

    com uma associação de lésbicas italianas e

    pedir que me ajudassem. Enquanto pagava a

    conta o celular tocou.

    Atendi. Uma voz feminina falando um inglês

    britânico queria informações sobre o panfleto.

    Respondi a todas as perguntas e marquei um

    encontro às quinze horas no mesmo Café

    onde eu estava. Feliz da vida por ter

    conseguido a primeira entrevista, voltei para o

    hotel para pegar o gravador e as fitas.

    Cheguei ao Café antes do horário e pedi uma

    mesa na parte de dentro. Quinze minutos

    depois duas senhoras idosas se aproximaram

    e uma delas me perguntou em inglês se eu

    era a jornalista. Diante da afirmativa elas se

    14

    sentaram. Quando nos apresentamos fiquei

    surpresa ao saber que Teresa era brasileira.

    Antes

    de

    contarem

    a

    sua

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