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Caixa Preta
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E-book131 páginas1 hora

Caixa Preta

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Sobre este e-book

Invejo quem atravesse todas as madrugadas bem dormindo para, logo em PRETA seguida, compadecer-me dessas pessoas. É que o alongado tempo da vigília, enquanto rouba o bom sono, oferece algo de peculiar lucidez, de inesperada loucura. Não sei se são os fantasmas, ou o silêncio, ou o abandono. Será o sereno? Mas desconfio serem os notívagos e os mal dormidos bons porta-vozes dos tantos caminhos do pensamento. Por isso, descobrir que Patrícia Franz atravessa longas horas cozendo e descosturando pensamentos explicou muita coisa. Como ela mesmo diz, "o relógio que cortava o ponto das minhas felicidades era o mesmo que pagava hora extra aos meus problemas". Dona de uma prosa muito particular, intensa e livre, a autora casa-se muito bem com a crônica e, sem-vergonha, namora com a poesia em linhas esparsas e troca bilhetes secretos com o humor. O produto desses múltiplos amores está cuidadosamente distribuído aqui, em seu primeiro livro autoral. Nas páginas de Caixa Preta, Patrícia propõe um jogo de espelhos para se mostrar ao mesmo tempo em que nos ilude – um desafio constante para leitores em busca de revelações de si próprios. Usa a literatura como um "acerto de contas", como em "A literatura te salvará", crônica-balanço de sua costura de palavras. Apresenta- se "autossuficiente" enquanto professa uma lacuna que nem toda leitura preencherá. Ainda bem!, digo logo. Interessante ela ter escolhido a crônica Caixa Preta para ser, também, o nome do livro. Esse emblemático objeto da aviação costuma ser resgatado para dar explicações sobre o ocorrido quando pouco restou inteiro. Contudo, a "caixa-preta" do texto mais promete acidentes do que soluciona mistérios. Evoca "Ovelhas Negras", de Caio Fernando Abreu, e anuncia outra caixa, a de Pandora, para quem resolve bulir em seu interior. Diz Patrícia: "Tampo a caixa, ainda relutante. Trôpega. Lembro-me, apesar das doses, das essências e das visões, que sua cor contém sigilos que não me pertencem". Mas não tampa, não.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento28 de mar. de 2016
ISBN9788583382980
Caixa Preta

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    Caixa Preta - Patrícia Franz

    © Patrícia Franz 2016

    Produção editorial: Vanessa Pedroso

    Capa: Kauer Ideia e Imagem

    Ilustração: Josabeth Roso

    Revisão: 3GB Consulting

    Editoração: Cristiano Marques

    www.buqui.com.br

    www.editorabuqui.com.br

    CIP-Brasil, Catalogação na fonte

    Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

    Vem pegar

    minha febre!

    Te contagia

    da urgência

    que é meu fim.

    Sente o calor

    da minha pele

    abstinente...

    Vem arder

    em mim!

    Prefácio

    VEM ARDER EM MIM

    O convite da escritora está no seu poema Febre. Para isso, Patrícia Franz oferece as labaredas ardentes de uma literatura visceral e absorvente. A fogueira está acesa!

    Não pensemos, contudo, que foi um trabalho fácil compor esta coletânea de crônicas e poesias. Como sabemos todos, o mundo literário é uma armadilha. Primeiro é preciso olhar. Depois, ver. Daí vem o meditar sobre, e todo o conhecimento de mundo para se pôr em cima e temperar. Só então, escrever. Um breve resumo sobre esta arte tão incompreendida. E nem vou falar sobre razão e sensibilidade, conceitos sem os quais estética e estilo não se criam. Há uma forte dose de habilidades inatas nisso tudo, mas também não se desconte o trabalho e toda a carga dos séculos de escrituras e anos de leitura sobre as costas de quem começa. Não, Patrícia Franz não desconhece a História de seu ofício e não sucumbiu em sua areia movediça.

    E estamos aqui, frente a frente com seu primeiro livro solo: Caixa Preta! Seu primeiro barco movido unicamente por suas velas e seus remos. Não pensemos que o mar revolto do mundo literário lhe seja fácil. Não é. É um universo novo. Os leitores, a crítica, a permanência no tempo. Tudo que move um escritor e sua saga de recontar o mundo em que vive. Abrir esta Caixa Preta desvelará segredos e surpresas. Falará de nós, de nossa alma oculta, nos baterá no rosto, nos dirá por que caímos, o porquê dos nossos desastres. E é só um livro de estreia. Contudo, Patrícia Franz tem o timão seguro em suas mãos que mantêm o leme firme, o objetivo claro: quer ser um retrato de seu tempo e de seu mundo. Nada menos. Os ventos? Que venham os ventos!, é o que se ouve nas entrelinhas e nos subtextos. Ela quer tempestades!

    Patrícia Franz viaja pelos mais diversos temas. Amor, cidade, tempo, mar, poesia. Uma autora ciente de que tudo é matéria, tudo é tema a ser pensado, reordenado, redirecionado pelo mundo das palavras. Ela sabe que são as palavras que colocam em xeque nossa existência, que contrapõem o mundo posto com o porvir. Uma autora que não quer a paz entre o sedimentado pela sociedade e a mudança pela qual essa mesma sociedade clama surdamente.

    Porta-voz sensível de nossas angústias, sabe dizer com sentir, sabe falar com doer, sabe comunicar ao leitor que suas desavenças com o mundo são dele também. Dona de um potencial lírico invejável, de uma linguagem sedutora e única, Patrícia Franz faz de suas crônicas e de seus poemas um gesto de amor à vida. Seus textos agem, fazendo com que o leitor tenha atitude, ou seja, se emocione e pense.

    Crônicas como O mar me levará e Quando amei Macabéa e poemas como Saudade e Gotas respaldam seu mundo, lhe dão consistência intelectual e maturidade sentimental e nos fazem, a nós, seus leitores, dignos do que estamos lendo.

    Voltando ao convite da escritora, eu já o aceitei há muito tempo. Sugiro que o leitor o aceite também. Abra a Caixa-preta e arda!

    Pedro Stiehl

    Sumário

    CAIXA PRETA

    A CIDADE DOS ARTISTAS

    ÁGUA LÁ FORA

    ANTES TARDE DO QUE NUNCA

    AS LUZES DA TUA CASA

    ACERTO DE CONTAS

    AS ROSEIRAS PERMANECEM

    AUTOSSUFICIENTE

    BRINCADEIRA

    CARTA AO FUTURO

    CHEGA DE SAUDADE

    CAIO OUTRA VEZ

    CILADA DO DESTINO

    SUPORTE A MALA (parte 1)

    SUPORTE A MALA (parte 2)

    DA ILHA EM MIM

    DANÇA COMIGO?

    DESCULPAS

    DO COMEÇO

    DONA DE MIM

    EFEITOS CRÔNICOS

    EM OFF

    ENCONTRO DESAMOROSO

    EXPLOSÃO

    CONTANDO AS HORAS

    ESTÓRIA DE PÁSCOA

    COM SAL, POR FAVOR

    TEMPESTADE EM COPO D’ÁGUA

    ESMOLAS

    FOME

    ESTRELAS: CABIDES DE SONHOS

    EU NUNCA ME APRESSEI EM TE AMAR

    CLICHÊ, EU?

    EU, DESPIDA DE MÁSCARAS

    FIOS DE ESPERANÇA

    GANHEI VOCÊ

    INEVITÁVEL

    JANELAS

    LADO A, LADO B

    GASTANDO SOLA DO SAPATO

    LOUCA DE MIM

    PAR OU ÍMPAR

    MINHA LOUCURA

    O AMOR SE FEZ

    O DIA EM QUE FALTOU CHÃO

    O MAR ME LEVARÁ

    MATA-ME!

    O QUE FAZ UM ESCRITOR?

    PLANO B

    OBITUÁRIO

    PROGRAMADA PRA SER FELIZ

    QUAL A TUA JANELA?

    QUANDO AMEI MACABÉA

    QUANDO TU NÃO VENS

    SEIS HORAS

    REDE

    QUEM VÊ DE FORA

    SE ESSA RUA, AINDA, FOSSE MINHA

    SE O TEMPO ANDASSE PARA TRÁS

    SEU AMOR EM SETE DIAS

    TARJA LÔCA

    VAI PASSAR

    VELHA É A VOVOZINHA

    VAGA

    FAZER AMOR?

    ENCONTRO

    SONHANDO COM O VENTO

    A LITERATURA TE SALVARÁ

    CAIXA PRETA

    A caixa grande e negra me espreitava sobre a mesa. Ao lado dela, repousava um bilhete, ou melhor, um convite: abra se tiver coragem! Eu, nascida da curiosidade, criada no desplante e maturada na impaciência, abri. Com toda a indiscrição, ousadia e avidez que me são características.

    Logo de cara, Caio Fernando, Ovelhas Negras. Um livro, feito propósito, pra me agradar. Pra amansar. Quem sabe eu, domesticada, me torne presa mais fácil a qualquer armadilha obscura. Escondido naquele embuste do Caio, o Kama Sutra. Reeditado, revigorado e revisitado. As várias anotações deixavam claro: usado e abusado.

    Em seguida, uma pequena dose de uma bebida verde; uma insinuação que umedecia os meus lábios. Eis que uma fada parecia soprar conselhos etílicos no meu ouvido. Pensando bem, era um elfo! Lembrando bem, era um beijo!

    Encontro chaves, de vários tipos. Bem sei aonde me levariam. Destrancavam os quartos, as salas e as masmorras. Outras, meras ferramentas, utilizadas no ajuste de determinados botões e nas incansáveis tentativas de encontrar os encaixes perfeitos.

    Há um frasco, também, contendo a essência dos sentidos. Estranho como, de imediato, esse contato embaralha minha visão. Há um gosto impregnado nas minhas carnes. Um perfume ocupando os espaços da minha boca. E eu me sinto faminta...

    Não sei, ao certo, quem me invade. Talvez uma nova dose me salvasse dessa perturbação física, desse alvoroço. Já não era fada, nem elfo. Era uma ninfa, eu me vendo no espelho, inumana nos meus recantos mais ocultos. Dissolvida em doses, me perdendo nos recônditos da

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