O Monte Santo Do Senhor
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O Monte Santo Do Senhor - Thiago A. F. Da Costa
O MONTE
SANTO DO
SENHOR
Capa: Profeta Isaías, Ouro Preto – MG, 2009
Thiago A. F. da Costa
O Monte Santo do Senhor
ÍNDICE
Cap. I – AS SETE TRIBOS DO MONTE
3
Cap. II – A PROFECIA DE ISAÍAS
9
Cap. III – PRESTE JOÃO E SEU LEGADO: GUERRA
12
Cap. IV – O MONTE SANTO DO SENHOR DOMINADO PELO IMPÉRIO CORÁSMIO
16
Cap. V – A MALDIÇÃO DE ALŚAMARKAND
18
Cap. VI – FRONTE DE GUERRA
23
Cap. VII – A BATALHA DO PÂNTANO
31
Cap. VIII – NAS MINAS DE ALMÕES
35
Cap. IX – O MUNDO INFERIOR
41
Cap. X – O FIM DA MALDIÇÃO
45
Cap. XI – GILGAMESH E O SONO DOS SETE PÃES
50
Cap. XII – OPERAÇÃO VERNA
55
Cap. XIII – O RESGATE DE INANNA
64
Cap. XIV – TOGAN E AS TRÊS VIRTUDES PROFÉTICAS
71
Cap. XV – O CASAMENTO DE NERGAL ACABA NA CIDADE DE DILMUN
77
Cap. XVI – O COLOSSO
85
Cap. XVII – OITO PRAGAS PARA GILGAMESH
89
Cap. XVIII – A RAPOSA DE MIKHAIL
92
Cap. XIX – RENÚNCIA AO TRONO GARANTIDO
96
Cap. XX – O BOI, O LEÃO E O MENSAGEIRO DA DISCÓRDIA 98
Cap. XXI – A LENDA DA ESPADA SUBAQUÁTICA
100
Cap. XXII – A GUERRA DA REVANCHE
103
Cap. XXIII – DUAS FRENTES DE BATALHA
111
Cap. XXIV – AS CONQUISTAS DA ALIANÇA CRISTÃ
116
Cap. XXV – A PERSEGUIÇÃO
123
Cap. XXVI – ENLIL ACHA ANDREW, O REI
131
Cap. XXVII – A LUTA NA JUSANTE DO AMU DARYA
137
Cap. XXVIII – UMA CARTA ZAHAV E OUTRA SAMAH
144
Cap. XXIX – A BATALHA DE PLUVY
149
Cap. XXX – O DESPERTAR DO GUERREIRO DESFALECIDO
154
Cap. XXXI – O REENCONTRO DOS QUATRO GRANDES
158
Cap. XXXII – SABOTAGENS EM TERRAS ALHEIAS
162
Cap. XXXIII – TOGAN REVELA SUA MAIOR PROMESSA
173
Cap. XXXIV – A GRANDE PARTILHA DO MONTE
175
Cap. XXXV – A PAZ DE ISAÍAS
180
Cap. XXXVI – UMA FEITICEIRA PARA SALVAR A FILHA DE ENLIL
184
Cap. XXXVII – O PESCADOR DE ALMAS
191
Cap. XXXVIII – O ENCONTRO DO CRIADOR COM A RAINHA DO INFERNO
195
Cap. XXXIX – DECIFRA-ME
199
Cap. XL – A COALIZÃO E O SACO DE MAGIA
204
Cap. XLI – TERRA DOS CONDENADOS
208
Cap. XLII – SETE GOVERNANTES DEPOSTOS
212
Cap. XLIII – TRAHISON!
, DIZEM OS CHING-MIONG
217
Cap. XLIV – O GOVERNO QUASE DIVINO
222
Cap. XLV – A ÚLTIMA CHANCE
228
Cap. XLVI – O LEVIATÃ E O JULGAMENTO DAS ALMAS
232
Anexo I – DECODIFICAÇÃO DOS ALFABETOS
242
Anexo II – MAPA DA REGIÃO DO MONTE SANTO DO SENHOR
249
2
O Monte Santo do Senhor
CAPÍTULO I
AS SETE TRIBOS DO MONTE
ano é 1235. Ao redor do Monte Santo do Senhor
vivem sete etnias conhecidas por toda Eurásia como os povos imaculados. Nunca nenhuma outra
Ocomunidade, senão as sete tribos do monte, fixou morada naquela região. Os povos nativos dali apenas recebem breves visitas estrangeiras, muitas vezes para fins comerciais.
Na base defronte à face norte do monte vivem os Weimaraner, povo de pele e olhos mais claros. Falam o Wei, língua baseada no alfabeto latino e que possui vinte letras: A, C, E, F, H, I, J, K, M, N, O, R, S, T, U, V, W, X, Y e Z.
A cidade capital do povo Weimaraner é Verna, conglomerado urbano com cinquenta mil habitantes e que funciona como centro de excelência cultural para toda a região do monte. Lá se localiza a Escola de Cultura de Verna, berço dos maiores pensadores e magos. Na entrada da cidade pode-se observar um grande muro com o escrito:
Azi-sejak ¨x Verna. Azaewzn nkikn zuomzixizjoz zi mzyza¨z-ak jk azmyk akn iznomzn.
Isso quer dizer Bem-vindo à Verna. Somos extremamente felizes em recebê-lo no berço dos mestres.
Além da cidade de Verna, o povo Weimaraner possui um vasto território que compreendem campos e altas escarpas, que só não são maiores que o Monte Santo do Senhor. Cultivam, ainda, tubérculos e flores para consumo de toda região. Os Weimaraner seguem a religião cristã.
3
O Monte Santo do Senhor
Na base sudeste do monte mora o povo Maranhães. São pessoas de cabelos escuros, pele alva e mais altas que as outras das demais etnias. Os Maranhães vivem na terra das águas. Mais de seiscentos cursos d´água cortam essas terras e proporcionam aos habitantes a possibilidade de cultivar diversos tipos de hortaliças. Também encontram-se neste lugar as minas de Almões. É um complexo de sete minas das quais eram extraídas ouro e prata. Foram fechadas após a morte de quinhentos mineiros por causa de um gás venenoso que brotou das profundezas da terra. O lugar foi amaldiçoado pelos Maranhães e a sua principal entrada, o Portão do Carvoeiro, permanece fechada há anos.
Apesar disso os moradores garantem que existem milhares de outras entradas que dão acesso às minas.
A capital de Maranhães é o vilarejo de Joel, com dez mil habitantes. O povo fala o Maranhês, composto pelas letras A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, L, M, N, O, P, R, S, T, U, V e X. Na entrada de Joel há a seguinte mensagem, gravada com pedras num barranco:
Sonos velises con a sua emdrata en mosas huniltes deras.
Isso quer dizer Somos felizes com a sua entrada em nossas humildes terras.
Os Maranhães também são cristãos.
Ao sul do monte habitam os Unkes, povo de estatura mais baixa e pele bronzeada. São donos do maior e mais antigo complexo arquitetônico da região do monte. É a cidade de Al Śamarkand. O povo tem forte influência da cultura de Moiammed (designação Unke para Maomé), assim como a maioria dos povos que habita as regiões longínquas do além-monte. Por isso os Unkes são a porta de entrada cultural e comercial da região. Há quem diga que são conspiradores e inimigos dos outros povos do monte, porém só os Unkes mantêm relações boas com os povos distantes. Também pudera! Suas terras estendem-se por entre os montes Usbekes, chegando até o 4
O Monte Santo do Senhor
IImalaia (Himalaia na língua Unke). Em Unkes estão os maiores conquistadores e o maior exército da região. Falam que foi fundado por Gengis Kian (Gêngis Khan para os Unkes), que passou por lá em anos anteriores. Os Unkes vivem basicamente da fundição de metais e da agricultura da subsistência. A atividade militar é presente em todo território Unke, tanto que todos os jovens, homens ou mulheres, ao completarem treze anos são obrigados a prestarem serviços militares em algum dos milhares de quartéis espalhados pelo território. Os maiores deles encontram-se nos arredores de AlŚamarkand.
Os Unkes são o único povo dos sete que seguem a religião Muçulmana. É chamada pelos Unkes de Muslan. Seus templos religiosos são denominados de Meskitas. A maior delas situa-se no marco-zero de AlŚamarkand e compreende um complexo de construções capaz de reunir até dez mil pessoas em seu interior, acomodadas confortavelmente. É a chamada Meskita de Muauiia, em homenagem a um califa do século VII. O complexo começou a ser construído na época de Alesandre (designação Unke para Alexandre, O Grande), por volta de 315 a.C. e foi terminado mais de cem anos depois. Já foi um templo dedicado às divindades gregas, já foi um palácio do Império Romano e já foi Igreja Cristã. Por volta do ano 1000 d.C. os Unkes transformaram a construção em Meskita.
O alfabeto Unke é formado pelas letras A, B, C, D, E, F, G, I, J, K, L, M, N, O, P, R, S, T e U. Na principal entrada de Al Śamarkand pode-se observar a seguinte mensagem no portão de pedra:
AlŚamarkand sedece-o don inepta *gemidifafe. Osfen, fitdirmipa e iiesascuia tao ot rimaset gupfanepbait fe potta todiefafe.
Isso quer dizer: AlŚamarkand recebe-o com imensa felicidade. Ordem, disciplina e hierarquia são os pilares fundamentais de nossa sociedade.
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O Monte Santo do Senhor
Na base oriental do monte vivem os Samahs, povo de origem árabe, mas que não são muçulmanos. São ateus. O
território dos Samahs é o menor da região do monte, porém abriga mais de cinquenta mil pessoas. Este povo vive basicamente do comércio, visto que o pequeno espaço físico limita bastante a atividade agrícola. Os Samahs têm o mesmo tom de pele que os Unkes, porém são mais altos e tem olhos mais claros.
A capital de Samah é a vila de Larabiah. Na entrada há a inscrição nos pés de uma estátua de mármore:
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Isso quer dizer: Entre em Larabiah e encontre desde a felicidade até o ódio para comprar a preços mínimos, como nunca antes vistos em lugar algum do monte.
Na base Ocidental do monte moram os Mikhails, povo anão e mais engraçado de toda região do monte. Moram em aldeias e fazem festas constantemente, regadas a muita bebida alcoólica. Poucos se encorajam em brigar com um Mikhail, pois não sairá ileso após a fúria do anão.
O território é formado por grandes planícies verdes, porém áridas no inverno. É o único lugar da região onde são criados rebanhos bovinos, caprinos, ovinos e suínos juntos e em grande quantidade. A capital é a cidade de Luckow, urbanizada à altura do seu povo. É conhecida como Ville des enfants
pelos 6
O Monte Santo do Senhor
comerciantes mais longínquos vindos dos quatro cantos da Terra.
Os Mikhails falam o Mika. Está escrito na entrada de Luckow, acima do portal, o seguinte dizer:
"ßÆŁ-ŴIĽÞŎ A ĹŨÇŒŎǺ, ŘÆIĽŎ ÞŎS AĽŎÆS, ĹŨĚAŘ
ŁAIS ĦÆSŦIŴŎ ÞA ŦÆŘŘA. ŴÆĽ ĤA, ŅÆĚŨÆ SŨA ßÆßIÞA Æ ĦÆSŦÆÝÆ ÇŎĽŎSÇŎ. ŲÆAĤ!"
O significado desse pensamento é: Bem-vindo a Luckow, reino dos anões, lugar mais festivo da Terra. Venha, pegue sua bebida e festeje conosco. Yeah!
Os Mikhails são cristãos.
Na base noroeste do monte vivem os Ching-Miong. É um povo de origem chinesa, de religião budista e extremamente pacífico. Os Ching-Miong foram um povo nômade até o ano 1000 d.C., quando se estabeleceram na base do monte. Saíram da China por volta de 950 d.C., durante as dinastias Song, Liao, Xia e Jim, que governavam juntas a China. Então vagaram por cinquenta anos pela Terra. Atravessaram as terras do posterior Império Russo e chegaram à Europa Ocidental, até a França. Lá trabalharam como servos aos nobres reis que estabeleciam as Cruzadas até a Terra Santa. Os Ching-Miong aprenderam a falar francês e engrossaram as tropas responsáveis por libertar Jerusalém. Sem ter condições para voltar à Europa, o povo Ching-Miong vagou pelo Oriente Médio até chegar à região do Monte Santo do Senhor, onde finalmente encontrou sítio para estabelecer-se. Esse povo preservou, apesar das dificuldades, as suas características físicas orientais e um pouco dos seus costumes. Apesar disso, perderam a habilidade de falar o mandarim e atualmente só pronunciam o francês com distorções.
O território Ching-Miong é pequeno, pouco acidentado e rico em pastagens. Lá são criados grandes rebanhos suínos. A capital é o vilarejo de Ville Miong. No portão de entrada da vila se observa a seguinte mensagem:
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O Monte Santo do Senhor
Biienvenuue aau Ville Miong, viille dee la paixx.
Isso quer dizer: Bem-vindo à Ville Miong, cidade da paz.
Finalmente, na base sudoeste do monte, vivem os Zahav, povo de origem judaica, que ainda mantém essa religião, e que fugiu da opressão romana na Palestina há centenas de anos. É a menor população da região do monte, com quarenta mil pessoas, porém não é a menos exuberante. Bem no centro da capital, Shel, encontra-se uma suntuosa sinagoga com uma cúpula revestida internamente por ouro puro. Dizem os Zahav que tal construção só foi possível por causa do incessante comércio de especiarias criado por eles. Viajantes desse povo cruzam a Ásia, a África e a Europa em busca do que há de mais interessante para se vender na região do monte. Porém os Zahav dependem muito dos seus concorrentes comerciais, os Samahs, para adquirirem gêneros alimentícios básicos, visto que os Zahav são péssimos agricultores e deploráveis pecuaristas.
O que desfavorece esse povo, mesmo, é o solo em que vivem. A maior parte do seu território é coberto por um pântano escuro e mal-cheiroso, habitados pelas mais diversas espécies de animais peçonhentos.
Os Zahav falam o Za, língua derivada do hebraico e do grego primitivos, porém muito diferente destes. O que é bem parecido com as escritas antigas são as letras do Za. Lembram muito os escritos gregos e hebraicos, porém bem misturados num alfabeto único, que só os Zahav e os poliglotas de outras nações conseguem escrever. Na entrada de Shel pode-se observar:
"
Ξ ζ ד ו Σ ד
ח
ד ם Ξ
כ Ω Σ
ך ד
מ Σ Ξ Σ
י ד
ם Η ד ζ,
ד מ Σ Σ Ξ
ג Ω ם Φ Ξ
Η
Ξ נ
י Ω Σ Ξ ג Ξ
ד ג
ד ג Π ם
ך Ξ
Σ ו ד Ξ
ג Ω
י Ω ך מ ד
ם Ξ מ ך Ω
ג Ω
ך ם ד Η Ω Σ "
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O Monte Santo do Senhor
:Isso significa "Alegre seja por entrar em Shel, terra dos Zahav, morada de Deus na região do Monte Santo do Senhor."
CAPÍTULO II
A PROFECIA DE ISAÍAS
Disse o profeta Isaías (Capítulo 11, na Bíblia):
"E repousará sobre ele (o monte) o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor.
Morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará; e o bezerro, e o leão novo e o animal cevado viverão juntos; e um menino pequeno os conduzirá.
A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; e o leão comerá palha como o boi.
A criança de peito brincará sobre a toca da víbora, e a desmamada meterá a sua mão na cova da áspide. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte; porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar."
E bem falou o profeta quanto ao Santo Monte. E todos os povos do monte têm pleno conhecimento dessa profecia. Sejam cristãos, muçulmanos, ateus ou judeus, não importa. Todos sabem e contam para seus descendentes esse provérbio.
O Monte Santo do Senhor, apesar de ser citado nessa profecia como morada de homens e animais, é inabitado acima de sua base. Os sete povos que vivem ao redor deste relevo enxergam, de suas terras, apenas um monte coberto por uma vegetação árida e densa. Enxergam isso, mas sentem que lá não há somente plantas, sentem que há um mistério. Muitos falam que 9
O Monte Santo do Senhor
no monte vivem criaturas malignas e espíritos inquietos. Outros dizem que é habitado por seres celestiais, alados e cheios da graça de Deus. Outros, ainda, afirmam que isso tudo não passa de alucinação, uma bobagem popular.
Cada povo tem teoria para o nome desse acidente geográfico. Os Weimaraner atribuem a nomeação a Noé, o personagem das santas escrituras que construiu uma arca, a mando de Deus, que abrigasse ele, sua família e pares de todas as espécies da terra, ficando todos protegidos do dilúvio sobre os infiéis. Noé, após atracar a arca no alto do Monte Ararat, na Anatólia, teria avistado no Oriente outro monte alto, nomeando-o de Monte Santo do Senhor.
Os Maranhães relatam que o nome deriva do próprio profeta Isaías, que cita o monte em sua profecia. Segundo esse povo, o profeta recebeu em sua casa alguns integrantes moradores da base do monte. Eles foram à Palestina e pediam a bênção de Isaías para que os espíritos ruins se afastassem de sua aldeia.
Segundo eles, ainda, essas assombrações eram oriundas do alto do monte. Isaías então abençoou os visitantes e batizou o monte de onde vieram de Monte Santo do Senhor. O profeta também mandou que pregassem uma placa na base do monte com o nome designado. O povo Maranhães ainda guarda o artefato de pedra que, segundo eles, é a placa que o profeta Isaías mandou confeccionar. A peça está guardada no interior de uma igreja no centro do vilarejo de Joel.
Os Unkes acreditam que o nome do monte é devido à Moiammed (designação Unke para Maomé). O profeta teria avistado o monte no oriente, enquanto palestrava à multidão, apontando-o e dizendo que aquele era o Monte Santo do Senhor, lugar sagrado para onde as almas dos fiéis vão após a morte.
Alguns que ouviram isso deixaram suas terras e foram viver na base do monte. Os Unkes alegam serem descendentes desses viajantes.
Os Samahs, por serem ateus, acham que o nome do monte não tem nada a ver com Deus ou qualquer outra manifestação 10
O Monte Santo do Senhor
religiosa de seu povo. Dizem que o nome foi dado por cruzados europeus que erraram o caminho para a Terra Santa. Quando se devam conta que não estavam na Palestina, destino pretendido, os cruzados começavam a rezar incessantemente aos pés do monte que foi denominado, então, de Monte Santo do Senhor. O povo Samah ainda guarda restos mortais de homens que, segundo eles, são dos cruzados que morreram ao pé do monte. Utilizam esses restos como moeda de troca para grandes compras comerciais, pois na Europa se paga bem por qualquer pedaço de osso que tenha uma história para contar.
Os anões Mikhail também têm sua versão. Contam que, há muito tempo atrás, um velho escandinavo chamado Nikolaas saiu pela Europa distribuindo presente às crianças. Nikolaas era patrocinado por nobres da época para que tivesse condições de fazer tal distribuição. Com o tempo esse patrocínio cessou, visto o desinteresse dos nobres de dar dinheiro ao velhinho bem intencionado. Então Nikolaas ficou louco de tanta raiva e passou a percorrer a Europa com outros planos: saquear das casas tudo aquilo que havia doado às crianças e, com toda mercadoria, fugir para o Oriente e enriquecer com o comércio. Para isso o velhinho fantasiou-se de bobo da corte e chegou às cidades com o seguinte discurso: venho como emissário do rei para confiscar tudo aquilo que suas crianças ganharam de tal Nikolaas. Esses objetos são perigosos a vós. Dêem-me.
Assim o velho conseguiu montar uma pequena cavalaria e partir para o Oriente. Quando a cavalaria estava passando pela região do monte, carregada de bugigangas, foi cercada pela cavalaria de Enrico Dandolo, general veneziano que descobriu a farsa. Nikolaas disse: Vós não tens coragem para me matar justo aqui, defronte ao Monte Santo do Senhor!
E
imediatamente o velho foi decapitado, assim como todos os homens de sua pequena cavalaria. Os cavalos foram levados para Veneza e, com as bugigangas, foi feita uma grande fogueira para incinerar os corpos.
O povo Ching-Miong acredita que o nome provém de Buda. Esse teve um sonho que lhe mostrava um alto monte no 11
O Monte Santo do Senhor
ocidente da China, habitado por criaturas celestiais e com alma luminescente. O lugar imaginado era tão belo que Buda chamou-o de Monte do Criador. Os Ching-Miong, com o tempo, foram influenciados pelos outros povos da região e também passaram a chamar de Monte Santo do Senhor.
Os Zahav atribuem o nome o monte ao profeta Isaías.
Segundo eles a famosa profecia relata a visão tida por Isaías do Monte Santo do Senhor. Deus revelou ao profeta todos os detalhes sobre o monte, desde o seu nome até as criaturas que nele vivem. Apesar de todos os povos do monte conhecerem tal profecia, somente os Zahav relatam que essa nomeou o principal relevo da região.
CAPÍTULO III
PRESTE JOÃO E SEU LEGADO: GUERRA
eu nome verdadeiro era Toghrul Khan. Há algumas décadas atrás ele governava um grande
reino que se estendia desde a região do monte até Sas margens orientais do grande Mar Cáspio e
formado também pela Abissínia.
Toghrul Khan foi um soberano cristão nestoriano do
Oriente. Seguia uma doutrina cristã nascida no século V.
Acreditava que Jesus Cristos compreendia duas pessoas distintas: humana e divina. O rei seguiu à risca os ensinamentos de Antióquia, surgidos nos séculos III, IV e V, propostos por Nestório, um monge de Alexandria que também foi bispo em Constantinopla.
Preste João foi o nome dado ao rei pelos europeus, que viam na figura de Toghrul Khan um aliado cristão na luta contra o avanço muçulmano. Nessa época a Europa estava ameaçada pela invasão muçulmana, principalmente à Península Ibérica.
12
O Monte Santo do Senhor
Homem corajoso e piedoso, ainda é muito lembrado pelos Ching-Miong como Lee prêtree
. Descendente de Baltasar, O
Rei Mago, Preste João governava um reino maravilhoso, repleto por jardins floridos e pomares carregados com frutas da época.
Mesmo sendo dividido entre dois continentes, o reino mantinha uma uniformidade paisagística e cultural impressionante. Não importava se era nas montanhas da Abissínia ou nas planícies desérticas da beira do Cáspio. O reino de Preste João era em todo agradabilíssimo. Havia ainda sob seu comando um exército poderoso conhecido mundialmente como Os Cabeças de Cão. Era uma tropa extremamente militarizada e cujos homens utilizavam adornos nas cabeças que, à longa vista, lembravam muito o semblante de um cão.
Um dia Preste João recebeu a visita de um mensageiro francês. O homem veio ao reino, adentrou desesperadamente ao pátio do palácio do rei e, em seguida, caiu morto. Carregava um pergaminho embaixo do braço. Um sentinela Cabeça de Cão apanhou o escrito e levou-o