Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

O Segundo Filho
O Segundo Filho
O Segundo Filho
E-book568 páginas7 horas

O Segundo Filho

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Em um mundo mergulhado em misteriosos massacres, um homem sem nome e memória descobrirá que conhecer sua própria história não mudará somente ele, mas também o mundo inteiro!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento25 de nov. de 2022
O Segundo Filho

Relacionado a O Segundo Filho

Ebooks relacionados

Ficção Geral para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de O Segundo Filho

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    O Segundo Filho - Joaquim Lourenço

    Esse livro é dedicado a

    meu PAI, com quem aprendi a honra e o saber

    meu IRMÃO, com quem aprendi o valor da amizade e do altruísmo

    minha IRMÃ e meu SOBRINHO, com quem aprendi o valor da inocência

    minha ESPOSA, com quem aprendi o amor e a dedicação

    E principalmente

    a minha MÃE, que possuía todas essas qualidades,

    e que mesmo não estando mais entre nós, ainda continua

    me iluminando e guiando meus passos

    O SEGUNDO FILHO

    ATO UM - O MUNDO EM EXPURGO

    Uma obra de Joaquim Lourenço

    SUMÁRIO

    O EXPURGO …………………………….……. 13

    O DEMÔNIO DO BRASIL ……………...……. 75

    O PROFETA DO FIM …………...……….……. 140

    O PRIORADO ………………………………… 201

    O ESTRIPADOR DE GLASGOW ……………. 266

    OS OCULTOS …………………………...……. 335

    AQUELE QUE O CONHECEU …………….... 412

    NOACH ……………………………………….. 483

    O ANIVERSÁRIO ……………………………. 562

    KUSHINAGAR ……………………………..... 662

    Esta obra é uma ficção que tem como única intenção o entretenimento, qualquer interpretação que venha a fugir disso está errada.

    PRÓLOGO

    Um olhar familiar a todo pai surge em meio a Avenida Paulista, é o olhar de desejo de uma criança em direção a um brinquedo da vitrine de uma loja. A vítima é um homem com por volta de quarenta anos, calvo e de altura média, ele aproveitara seu desejado dia de folga para levar sua filha a um passeio arriscado ao seu bolso, afinal, um passeio na avenida mais importante do Brasil em meio a tantas lojas com itens incrivelmente caros na vitrine é um erro estratégico para qualquer pai, e agora ele pagará caro por esse erro, caro mesmo, a boneca com pônei e outros acessórios está demasiadamente mais caro do que o passeio com lanche e sorvete que o pai tinha planejado, mas agora é tarde, sua pequena filha de sete anos, que diferente dele tem belos cabelos longos, já está conquistada completamente pela boneca.

    Não demora muito para o homem se dar por vencido aos elogios que a garotinha faz ao brinquedo, ela não necessariamente pede para comprá-lo, mas seus olhos brilhando de alegria já foram suficientes para ele decidir gastar um pouco a mais da conta. A fila para pagar é interminável, mas ouvir a menina tagarelando sobre o brinquedo que vai ganhar acaba divertindo o pai, que acompanha atentamente tudo que ela fala sobre a boneca, o pônei e todas as outras bugigangas inclusas. Passa-se de vinte a trinta minutos até finalmente pagarem pelo brinquedo, o pai a adverte que ela só vai poder tirá-lo da embalagem quando eles chegarem em casa, a menina concorda enquanto sai aos saltos da loja.

    Por estar próximo do natal, a cidade está absurdamente cheia, sem mencionar o calor beirando ao insuportável que faz nessa época do ano, com isso em mente, o pai atravessa a avenida com a filha em direção a um carrinho móvel de sorvete, logo em seguida, diz para ela escolher um sabor. A menina eufórica, está em dúvida entre tantos suculentos sabores, enquanto isso, seu pai se distrai separando o dinheiro para pagar o sorveteiro. A menina chama o pai, e ele por um momento, pelo fato de estar manuseando a carteira, não dá atenção, mas então a frase seguinte da garotinha faz o pai notá-la, ela diz com voz de choro:

    -Pai, o moço está cuspindo sangue…

    O vendedor de sorvete cai se contorcendo na frente deles, pelos seus olhos vazam sangue, assim como de sua boca. A cena faz com que a menina grite, o pai instintivamente se ajoelha e a abraça tampando seus olhos. Enquanto segura sua filha, ele olha para frente e se depara com algo horripilante, dezenas de pessoas entrando no mesmo estado do sorveteiro. O pai já em pânico, teme pela filha, o fazendo dizer:

    -Deus… não, por favor…

    Nesse momento, ele tira a mão do rosto da garotinha, e se depara com uma quantidade enorme de sangue entre seus dedos, sua filha estava prestes a ter a mesma morte terrível das pessoas a sua volta. O pai grita desesperadamente pela menina, mas em vão, com ela já morta em seus braços, ele percebe que também está perdendo sangue pela boca e olhos. O pai olha novamente para frente, e vê que todos na avenida já estão mortos em meio a muito sangue. No profundo silêncio, ele abraça sua garotinha com suas últimas forças, enquanto seu fim chega.

    CAPÍTULO 1 – O EXPURGO

    PARTE 1

    Ódio… Dor… Solidão… Um mundo de sentimentos recai sobre as costas de um homem sem nome, passando por seu peito como um gigantesco monstro desgovernado, até chegar em suas mãos.

    Suas mãos aliás, são as primeiras coisas que ele vê, ele as encara procurando algum significado como se fossem uma pintura, prontamente ele nota que sua mão direita é deformada com cicatrizes negras percorrendo todo seu braço. Ele trava uma guerra para conseguir enxergar, mas é vencido e sua visão acaba ficando turva, logo em seguida, a sensação de um maremoto recai sobre sua cabeça, ele desmaia…

    Horas se passam, e finalmente seus olhos se abrem, a sensação em sua cabeça é que seu cérebro foi golpeado por séculos, após um curto tempo imóvel, ele arrisca uma tímida linha de raciocínio, e mantendo a calma ele finalmente consegue. O raciocínio que lhe surgi é que o sol está incomodado sua visão, ele se apega a esse pensamento para permanecer firme e conseguir dominar a desconhecida situação que está diante dele. Seu próximo passo é tentar se mover, ele então consegue levantar sua mão à altura de seu rosto tampando a luz do sol que o incomodava. Com a situação sendo dominada, aos poucos ele vai mexendo levemente as pernas até conseguir finalmente forçar sua coluna, conseguindo assim ficar sentado. Ele tira sua mão direita do rosto e olha em volta, e o que vê é água, muito suja por sinal, e somente ao ver a água, que ele percebe que está todo molhado e que sente muito frio. O frio acaba de uma forma estranha confortando sua mente, como se fosse uma prova de que está vivo.

    Logo sua mente vai assimilando melhor a realidade e sua visão evolui igualmente, com isso ele vê que está à beira de um canal de esgoto, seu corpo provavelmente havia sido levado pela força da água até ali, ele estava com a metade do corpo para fora da água na parte superior do canal, o suficiente pra ele conseguir ficar sentado molhando somente suas pernas. O Homem finalmente levanta-se, fazendo uma grande quantidade de água cair de suas roupas encharcadas, seu corpo está pesado e ele se move com dificuldade até uma pequena escada que dá saída do canal em direção a calçada da rua. Enquanto anda, ele nota que está vestindo um par de tênis brancos, calça jeans e uma camiseta cinza, e logo lhe vem em mente que nem sobre aquela roupa ele está lembrado, e antes de colocar o pé no primeiro degrau da pequena escada ele para.

    Levando uma mão a cabeça, ele começa a refletir, e nada vêm a sua mente, em sua cabeça tudo está vazio, seu coração aperta de preocupação sobre isso, e seus olhos por um tempo olham o nada, passam-se alguns segundos até que seu foco distraído pelos seus pensamentos se volte novamente a pequena escada, ele então se convence que antes de mais nada, precisa sair dali, as respostas podem esperar. O homem sobe a escada lentamente, e ao chegar na calçada, ele olha a sua volta como se fosse um astronauta na lua, o estranho sem nome observa as placas de rua, as casas, os pequenos prédios, os carros, as pessoas e tudo o resto, dominado por uma estranha e aparentemente interminável sensação de déjà vu.

    Ao olhar o nome de uma placa de rua, é atingido por uma pergunta pertinente ao seu alarmante estado, uma pergunta que ele fala de forma contida, com uma voz fraca, relutante e rouca:

    -Qual… qual o meu… nome?

    O estranho sem nome, aparentemente não possui um nome mesmo, isso faz sua pulsação subir e o enche de medo, um preparativo de desespero bate à porta de seu cérebro, mas ele se mantém firme, e fechando com força a mão direita, ele encontra sua calma novamente. Após diminuir a força concentrada em sua mão, ele a abre, e a olha, notando novamente as estranhas cicatrizes que parecem riscos pretos, cicatrizes essas, que não cobrem somente sua mão, mas sim seu braço inteiro. Ele fica por vários segundos olhando as cicatrizes, repetidas vezes, e como tudo até agora, nenhuma resposta lhe vem em mente. Isso o encoraja, ele está decidido a sair dali, e procurar saber o que houve.

    Mesmo com o corpo fraco, ele inicia sua caminhada para algum lugar que não seja ali, logo sua presença é notada pelas pessoas que andam a sua volta, afinal, ele acabará de sair de um canal com água de esgoto, seu cheiro era notado a distância, e sua aparência não era a das melhores. Por um momento, ele pensa em pedir ajuda a qualquer um por ali, mas as pessoas desviando o caminho dele, o convencem que não é uma boa ideia.

    Em um tortuoso caminho sem rumo e sem saber quem é, seu cérebro é martelado com diversas perguntas, o desespero bate a sua porta novamente, e o homem sem nome não está vendo motivos suficientes pra não deixa-lo entrar, mas ao olhar a sua mão esquerda, ele nota algo que seu terrível estado não tinha o deixado perceber antes. Se trata de uma aliança dourada, ele supostamente é casado, isso o conforta de forma mínima, e novamente com voz rouca e fraca, ele diz para si mesmo:

    -Talvez… tenha alguém… talvez tenha alguém me procurando.

    Outro pensamento o acaba confortando também, o fato de saber que sua mente não está tão confusa ao ponto de não saber o que era uma rua, um carro, um casamento, ou um hospital. E exatamente ao pensar em hospital, ele forja seu plano pra sair dessa situação. Ele planeja caminhar a qualquer hospital e pedir por socorro, como é casado, alguém deve estar procurando-o. Logo ele pensa também que deve ter sido vítima de um acidente ou crime. Um turbilhão de pensamentos do que pode ter acontecido acabam o acalmando, e com um plano formado, ele começa a andar em rumo a um hospital.

    Enquanto anda, ele pensa em uma coisa que lhe da raiva por não ter pensado antes, a ideia de mexer nos próprios bolsos. Basta pegar sua carteira com sua identidade, e seus problemas estariam reduzidos pela metade. Esperançoso, ele coloca as mãos em todos os bolsos a procura do tão desejado documento, e somente após mexer neles repetidas vezes, se convence que infelizmente estão vazios. O fato o desanima por um instante, mas então lhe vem à cabeça que o que houve foi um assalto, e novamente ele fala para si mesmo, mas dessa vez com a voz um pouco mais forte:

    -Foi isso… devem ter me roubado… devem ter me jogado no canal e bati a cabeça...

    Ele tenta lembrar do suposto assalto, mas nada novamente vem à mente, porém, em seu atual estado, vê que talvez essa história seja a que mais faça sentido. O homem então pergunta a si mesmo:

    -Mas… se me roubaram, por que não levaram a aliança?

    E logo se responde:

    -Não deve ter dado tempo de levarem… foi isso…

    O homem que continuava sem nome, continuava a colocar em prática seu plano de ser atendido em algum hospital, quando de repente, viu o poste de luz a sua frente girar, assim como toda a rua, ele estava prestes a desmaiar novamente. Desesperado, ainda tenta dar alguns passos, mas vencido, ele acaba desmaiando ali mesmo.

    CAPÍTULO 1 – O EXPURGO

    PARTE 2

    Olhos desesperados são mergulhados em sangue, gritos de horror vão se silenciando a cada morte consumada, uma pessoa assiste ao massacre rindo, as mortes das crianças em meio aos adultos, parece diverti-lo mais. Dezenas de pessoas estão sufocando no próprio sangue expelido pela boca, e no meio dos cadáveres, uma mãe luta bravamente segurando seu bebê que não tem mais de um ano, o sádico homem toma o bebê da mãe que já está fraca demais pra reagir, ele olha o bebê morrer segurando a pobre criança pelo pescoço, a cena faz o sádico monstro não se conter mais em tímidos risos, e ele se entrega a uma risada frenética, se deliciando com o horrendo cenário a sua volta. O braço que tem cicatrizes negras como petróleo, solta o bebê após ver que o mesmo não possui mais vida, nesse momento uma enorme luz surge, e um barulho estrondoso despedaça todo esse cenário.

    O homem sem nome acorda, tudo aparentemente não passará de um pesadelo, sua cabeça dói muito e seus olhos lutam pra se abrir. De forma lenta, ele que estava desmaiado de bruços no chão, se movimenta até ficar sentado. Ele fica olhando pra frente cerrando um pouco os olhos em virtude de sua vista que só lhe mostra um grande borrão, o processo dura uns trinta segundos até ele perceber que sua visão está voltando. Ele leva a mão direita a cabeça, e apoiando com a mão esquerda no muro ao seu lado ele levanta-se lentamente.

    Ele olha para sua mão esquerda apoiada no muro, e logo nota que sua aliança não está mais ali, isso o desperta do estágio sonolento que estava, o fazendo reclamar alto:

    -Porra… Porra… sério isso? Me roubaram a aliança?

    E continua:

    -Merda… merda…

    E ao olhar pra baixo:

    -Merda? Até os meus tênis, estavam encharcados, sujos e fedendo… filhos da puta!

    O revoltado homem sem nome, e agora também sem tênis, percebe o início de uma pequena garoa e diz:

    -Claro… sim, falta uma chuva… claro que sim… uma chuva!

    O homem começa a andar descalço em meio a garoa, ele acabou de descobrir algo sobre si mesmo, que possui um sarcasmo afiado, mas evidente que a descoberta passa despercebida em meio aos turbilhões de pensamentos da sua mente no momento. Ele começa a andar mais rápido tomado pela raiva, e pensando na situação, refleti que ninguém o ajudou no chão porque com certeza todos que passaram por ele pensaram se tratar de algum bêbado desmaiado, cena não tão incomum de se ver por ai, e mais uma vez fala sozinho:

    -Claro, ninguém me viu no chão pra me ajudar, mas alguns malandros viram minha aliança...

    O ácido homem continua com as reclamações:

    -O pior que nem deu tempo de ver o nome da pessoa da aliança que supostamente seria minha esposa…

    E ao pensar em esposa, o seu pesadelo lhe vem à mente, isso o faz parar por um momento, e ele diz a si mesmo:

    -Aquilo…

    Ele se silencia por quase um minuto perdendo toda a raiva que sentia, ficando somente com um vazio interno, e então quebra o silêncio dizendo:

    -Aquilo… foi um pesadelo ou uma lembrança? Era… era o meu braço… era o meu braço segurando aquele bebê…

    Lágrimas começam a escorrer no rosto do perturbado homem, que chorando fala em voz baixa:

    -Deus… eu sou um louco? O que é tudo isso?… eu não aguento mais…

    A garoa vira uma chuva, bem forte por sinal, e o homem desprovido agora de nenhuma esperança, e esquecendo totalmente de seu plano de procurar um hospital, só pensa em sair da chuva, ele anda rápido até ver um viaduto. Prontamente ele se abriga embaixo do viaduto, o frio provocado pelo vento da chuva está insuportável. Ele se encosta em uma das pilastras do viaduto e se encolhe levando seus joelhos a altura do peito enquanto segura as pernas com os braços. Nesse momento sua mente já o está enlouquecendo, e ele murmura:

    -A aliança… talvez nem fosse minha, eu peguei de alguém… eu devo ser um louco… ou será que era mesmo minha?

    A chuva engrossa cada vez mais, quando de repente um pequeno som de alumínio surgi rasgando o chão, o homem sem nome, lentamente olha pra frente procurando saber do que se trata, e se depara com um prato de alumínio descartável no chão, ele levanta mais o rosto e vê uma senhora negra de por volta dos cinquenta e cinco anos, ela sorri e lhe pergunta se ele está com fome. Nesse momento o homem percebe que realmente está com muita fome, a senhora estende um garfo de plástico a ele, que sem cerimônias, já com o prato em mãos, começa a comer o quente prato com arroz, feijão, frango e farofa. Sua fome é tamanha que antes mesmo de raciocinar o que estava comendo, ele termina a refeição. Ao levantar o rosto, vê que existem diversos moradores de rua embaixo do viaduto, e junto da senhora existem outras pessoas distribuindo comida.

    Ele levanta-se com dificuldade e vai em direção a gentil senhora que lhe ofertou a comida, com as mãos tremendo, ele entrega o prato a ela, e com a voz fraca agradece. Ela olha pra ele e diz que não precisa agradecer, e após olhar como ele treme diz:

    -Olha pra você… está tremendo, descalço e pegou chuva… nós temos algumas roupas também, vamos ver se tem algo do seu tamanho.

    Ele meio sem jeito, pergunta quem são eles, ela prontamente diz que eles são da Serafim, um grupo de caridade que auxilia pessoas em situação de rua, fornecendo comida e roupas. Ele fica em silêncio por alguns segundos, pensando que no fim ele era só um morador de rua sem memória, e não uma vítima de acidente ou crime como pensará antes.

    Por um momento ele trava diante da tão desejada ajuda que tanto esperou, está quase convencido que é só um louco, porém, uma parte dele nega isso, e com uma pequena fagulha de esperança acendendo novamente em seus pensamentos, ele pergunta:

    -Vocês podem me ajudar?!

    CAPÍTULO 1 – O EXPURGO

    PARTE 3

    O abalado homem insiste em seu pedido de ajuda a senhora que pertence a um grupo de caridade, e de forma confusa, ele diz:

    -… eu acho que me assaltaram… eu acordei em um canal… não lembro de nada… eu… roubaram minha aliança…

    A senhora observa o estranho homem falar, e quando as frases dele começaram a ficar desconexas demais, ela o interrompe dizendo:

    -Bom, nós só passamos a madrugada entregando comida e roupas com aquela Kombi…

    A mulher aponta a uma Kombi branca antiga que estava estacionada próxima a eles, e logo em seguida continua a falar:

    -… não sei se podemos ajudar com algo mais, mas o que nós podemos fazer e te dar uma carona a uma delegacia…

    A mulher nota o braço dele e completa:

    -… ou a algum hospital público… esse ferimento no seu braço está bastante feio. Mas primeiro vamos ver se temos algumas roupas de doação ali na Kombi, você pegou muita chuva e está tremendo.

    O Homem agradece a ajuda, e se passando por volta de vinte minutos, ele já está trajando um casaco e uma calça de moletom, doados gentilmente pelo grupo. Dentro da Kombi, ele relaxa por um instante, degustando da roupa seca, e enquanto observava a chuva pela janela do veículo, acabou adormecendo, seu corpo não aguentará mais tanta fadiga. Um sono pesado o abraça, e junto dele diversas imagens desconexas. Em sua mente surge o vulto de um grupo de pessoas, elas estão celebrando algo, parecem estar se divertindo, misturado a isso, ele vê uma mulher a sua frente, ela está de costas e tudo o que é possível ver são seus cabelos pretos na altura do ombro, ele tenta estender seu braço até ela, a mulher então movimenta o corpo, aparentando o desejo de olhar pra trás, porém nesse instante, uma luz gigantesca o cega. Sua mente o leva a uma espécie de cafeteria, ele aparentemente está tomando café, ele toma de forma elegante a bebida em uma xícara aparentemente cara. Ele dá um último gole e coloca a xícara no pires, o som da xícara encostando no pires parece repercutir como uma grande explosão em sua cabeça, ele então levanta da cadeira, e ao andar, percebe que está desviando de dezenas de cadáveres espalhados pelo chão, ele dá uma tímida risada, uma risada visivelmente carregada de ódio e desdém. Nesse momento uma enorme luz o cobre, e ele acaba acordando do seu pesado sono, ele olha em volta, e percebe que ainda está na Kombi, porém, ela já está em movimento. Ao olhar para o lado, nota que um casal de voluntários está sentado ao seu lado, eles sorriem e gentilmente oferecem uma bala a ele, o homem sem nome agradece e aceita. Enquanto observa a bala, um sentimento de que as coisas estão melhorando recai sobre ele.

    A senhora que havia falado com ele inicialmente está sentada no banco a frente dele, junto com outros voluntários, ela olha pra trás e diz que vai ficar tudo bem, e completa dizendo que existe um pronto socorro ali próximo que poderá atendê-lo. O homem com um tímido sorriso, faz um sinal positivo com a cabeça e agradece. Já com a bala sem a embalagem em mãos, ele faz o movimento de colocá-la na boca, nesse momento, surge uma sensação como se seu estômago estivesse sendo revirado por dentro, causando uma dor terrível, ele então grita, assustando a todos. O casal que estava ao seu lado tenta ajudá-lo, mas uma dor mais terrível surge na cabeça do homem, fazendo-o convulsionar, logo em seguida, tudo se apaga em sua mente.

    Uma quantidade indeterminada de tempo passa, e após um enorme silêncio em meio as trevas, uma voz surge em seu cérebro, é uma voz estranha, profunda, falando em um idioma até então desconhecido por ele:

    -… Vinra fi inctu rantu kortun lonqr'an...

    Após o fim da frase, uma explosão ocorre em sua mente, e ele acorda vomitando e tremendo muito. Essa voz o assustará muito mais que as terríveis visões de antes, sua mente parece um redemoinho, e com muita dificuldade, ele tenta se acalmar, a primeira coisa que ele vê é seu próprio vômito, enojado, ele se afasta, saindo da posição de bruços que estava até ficar sentado. Sua mente para de girar, ele então tenta começar a formular raciocínios, e prontamente nota que já amanheceu, logo em seguida, com a voz fraca ele diz:

    -… onde… onde estão todos?

    O confuso homem se levanta, e logo percebi que está em uma rua desconhecida, perdido novamente, e sem sinal algum da kombi ou dos voluntários da organização voluntária. Isso o deixa perturbado, mais do que antes, em desespero ele chora, enquanto diz:

    -… o que é tudo isso?… não aguento mais…

    Ele leva suas mãos à cabeça, e senta no chão novamente, pra ele, tudo isso foi um atestado de loucura, não restava mais dúvida alguma. Até mesmo, tímidos pensamentos suicidas começam a rondar sua mente, manipulando sua consciência a ver a morte como única solução para frear tudo aquilo que estava recaindo sobre ele. Lutando para se acalmar, o homem reprimi suas ideias suicidas, e começa a pensar no que deveria fazer a partir daquele momento, ele então começa a falar sozinho em voz baixa:

    -Aquelas pessoas… o que houve com elas? Será que imaginei tudo? Deve ter sido isso… outra visão, mas…

    Após um tempo de perplexo silêncio, o homem continua:

    -Foi tão real… não pareceu um sonho como as outras visões… e… o que foi aquela voz?… eu não sei mais o que é real e sonho…

    O perturbado homem agora não tinha mais planos, nem esperança, porém ainda pensava em permanecer vivo, mesmo que ainda tivesse dúvidas dos motivos em querer tal vida. Ele anda sem rumo até ver um posto de gasolina, com sua boca parecendo um deserto, ele decidi pedir ao frentista um pouco de água, o frentista diz que ele pode beber da mangueira se quiser, o homem aceita, e após matar sua sede, pergunta:

    -Ei… eu… eu moro… eu moro na rua… sabe se tem algum lugar por aqui que dê pra comer algo? Não tenho dinheiro…

    O frentista de forma fria, responde:

    -Só pedindo comida por aí parceiro, você querer comer sem dinheiro fica difícil…

    O homem sem nome, faz um desanimado sinal de positivo com a cabeça, enquanto fica em silêncio. O frentista, acostumado a lidar com os moradores de rua que passam por ali, ao perceber a expressão do homem, resolve perguntar:

    -Você tá estragado cara?… usa o que?

    O homem sem nome, responde:

    -Não sou drogado… só queria comer algo mesmo… de verdade.

    O frentista que a princípio parecia inflexível, se solidarizando pela situação, puxa duas notas de dois reais do bolso, e dá ao homem dizendo:

    -Eu acho que tem um abrigo público uns seis quarteirões mais à frente…

    O frentista aponta para uma rua ao lado do posto, e completa:

    -Geralmente os caras que ficam por aqui pedindo comida, não ficam lá porque dentro do abrigo não pode usar droga, se esse não for teu lance mesmo, tenta ir lá… tem que ir bem cedo pra conseguir vaga, aproveita esse dinheiro aí, e come alguma coisa no caminho…

    O homem sem nome agradece, porém o frentista não dá muita atenção a gentilezas e se despede de forma fria. Com o objetivo de achar o tal abrigo, o homem começa a andar pela rua indicada pelo frentista, ele ainda não possuía um plano concreto para nada, mas sabia que precisava começar de algum lugar.

    CAPÍTULO 1 – O EXPURGO

    PARTE 4

    O homem sem nome já portando dois pães comprados em uma padaria, continua seu caminho rumo ao abrigo. Ele demora por volta de trinta minutos para chegar ao local indicado, por sorte, uma fila sinalizava onde o abrigo estava, e olhando para a tal fila, o homem diz a si mesmo:

    -Nem perguntei pro frentista que horas que eles começam a receber as pessoas, ele só falou que tinha quer vir cedo…

    O homem olhando para o céu, completa:

    -… por sorte, parece ser umas seis ou sete horas da manhã… eles devem receber as pessoas as sete horas…

    Ele anda rápido em direção ao último lugar da fila, ele não sabe se sua posição nela será suficiente para conseguir uma vaga, mas a única coisa que lhe resta, é esperar que sim. Na fila, os outros moradores de rua conversam entre si, fazendo o homem sem nome perceber que é tímido, pois é péssimo em iniciar qualquer tipo de conversa com os outros, isso lhe faz pensar no pitoresco fato de ainda saber poucas coisas sobre si mesmo, inclusive questões banais como o próprio comportamento, sua reflexão em ser péssimo criador de conversa se estende por volta de trinta minutos, e só é interrompida pela abertura do abrigo. Todos começam a andar rápido, e o homem, entretido com os próprios pensamentos, não havia percebido que uma fila enorme havia crescido atrás dele, criando um território fértil para puladores de fila. Uma confusão organizada se inicia, e os primeiros da fila começam a ser recebidos, infelizmente, no décimo homem a frente dele, é anunciado que as vagas estão preenchidas. O homem sem nome observa a fila se dissipar em meio a protestos e reclamações, ficando por fim, somente ele na rua. Ele então vai até a frente do abrigo e se senta no chão, decidindo esperar ali até o próximo dia, onde seria o primeiro da fila.

    Após alguns minutos, ele decide comer o segundo pão que havia comprado, porém, não demora muito para a fome voltar a atormentá-lo, e o dia que parece durar séculos também não ajuda, mas mesmo em meio a tudo isso, pela primeira vez desde que despertou, o homem sem nome está centrado, ele quer realmente entrar no abrigo, quer tomar um banho, comer uma refeição e colocar os pensamentos no lugar, nem que seja por um único dia. Depois de intermináveis horas, finalmente anoitece, mas ele decide passar a noite em claro, não somente pela sua segurança por estar exposto na rua, mas também por medo dos próprios sonhos, ele definitivamente não quer ver novamente as imagens horríveis que o andam cercando até então.

    Amanhece, e ele conseguiu não dormir durante a noite inteira, ficando assim, com o primeiro lugar da fila. Atrás dele, já se nota uma pequena fila, que em meia hora aumenta até ficar gigante. O abrigo enfim abre, e eles são recebidos pelos agentes comunitários que estipulam duas filas, uma para quem tem documentos, e outra para quem não tem. Prontamente o homem sem nome vai para a fila da direita, que é a de quem não tem documentos, nela um agente diz a ele:

    -Preciso do seu nome, e se possível algum número de documento que você se recorde!

    O homem sem nome logo se entrega ao pessimismo, achando que não conseguira ser acolhido no abrigo, afinal, nem mesmo de um nome ele lembrava, com isso, após um breve silêncio, ele diz:

    -Me… me desculpe, não lembro de nenhum documento, mas…

    Raciocinando rápido, ele completa:

    -… meu nome é… Serafim…

    O homem fica achando estúpido a ideia de ter falado isso, porém, o nome do grupo de caridade que o ajudou na noite retrasada foi a única coisa que lhe veio à mente. O agente comunitário indaga:

    -Serafim do que?

    O homem responde:

    -… Serafim… Serafim Silva…

    O agente acha estranho, mas aceita o nome, enquanto o homem que agora tinha um nome inventado se alivia, ele está prestes a ser aceito no abrigo. Após preencher os dados em uma folha presa a uma prancheta, o agente diz:

    -Você pode ficar aqui por uma semana contando a partir do dia de hoje, no fundo…

    O agente aponta em direção ao fim de um enorme salão cheio de camas, e completa:

    -… tem o refeitório a direita e o banheiro a esquerda, você pode ir lá tomar banho e depois tomar café, depois disso vem falar com algum de nós pra te levar na enfermaria pra ver esse seu ferimento no braço.

    Serafim fica agradecido, e começa a andar na direção apontada pelo agente, e enquanto andava, o agente acaba o chamando novamente, para informar:

    -Quase esqueci, se for do seu interesse podemos tentar regularizar essa questão dos seus documentos depois também…

    O homem com nome inventado agradece, e parte em rumo ao tão sonhado banho. No banheiro ele nota que tem roupas e calçados de caridade em um cesto, ele prontamente separa uma camiseta e um tênis que encontra, e logo depois parte pro banho. Ao se ver no espelho do banheiro comunitário sem camisa, ele nota que a cicatriz de seu braço vai até o peito, pegando também uma parte da costela, cobrindo assim quase que a parte direita inteira de seu corpo. Ele fica olhando a cicatriz, quando de repente algo vem a sua mente, aquela era a primeira vez que ele via o próprio rosto. Pragmático, ele fica se observando, ele é um homem de altura média, branco, mas com a pele um pouco queimada de sol, típica de um morador do litoral, possuindo também cabelos pretos surrados, olhos castanhos escuros e aparentando ter por volta de trinta a trinta e cinco anos. Ele passa mais alguns segundos se olhando, porém, logo se lembra do tão esperado banho, para o qual ele parte de forma afobada. Após o banho, já no refeitório, ele come o café da manhã junto aos outros moradores de rua. Ele devora o suco com pão e manteiga em segundos, e logo se pergunta na possibilidade de poder repetir mais uma vez a refeição, entretanto, seu raciocínio acaba sendo interrompido por um forte tapa que recebe na nuca, prontamente ele olha pra trás para revidar, porém recua ao se deparar com um senhor de idade avançada e de comportamento alterado, o homem que aparenta ter mais de setenta anos diz sem parar:

    -Ele está bravo!… está bravo com todos nós!… é o ajuste de contas… nem os justos serão poupados… ele está bravo!

    O homem com nome inventado sem saber o que fazer, se afasta um pouco do senhor de idade, nesse momento um rapaz põe a mão no ombro do idoso homem, e diz:

    -Venha, Seu Gerônimo… o senhor tem que tomar seu café, ele entendeu o senhor…

    Com ressalvas o velhinho se afasta, sendo abordado logo em seguida por um dos agentes. O homem que havia colocado a mão do ombro dele também é um morador de rua, ele é negro, com o cabelo ralo, altura média e aparentando ter por volta de quarenta anos. Logo ele se apresenta ao homem de nome inventado, estendendo a mão e dizendo:

    -Oi cara… meu nome é Rodrigo, não leve o Gerônimo a mal, você sabe que essa coisa de expurgo mexeu com todo mundo…

    O homem com nome inventado indaga:

    -Expurgo?

    Rodrigo responde:

    -Sim, o Gerônimo é meio paranoico com o expurgo, ele foi recebido aqui, mas por estar nesse estado vai ser transferido pra um Asilo, só está esperando vaga…

    Serafim então diz:

    -Claro… sem problemas… ele não fez por mal, mas… o que diabos é o expurgo?

    CAPÍTULO 1 – O EXPURGO

    PARTE 5

    Rodrigo está espantando, ele se pergunta como pode alguém não saber do expurgo, com um raciocínio rápido, ele responde com uma outra pergunta:

    -Mano, você deu um tapa antes de vir pra cá?

    O homem de nome inventado indaga:

    -Tapa?

    Serafim leva por volta de dez segundos pra notar o que Rodrigo quis dizer, e então responde:

    -Não cara, não sou drogado, é que…

    Ele pensa em dizer tudo o que havia passado nos últimos dias, mas desiste, dizendo em um tom de voz desanimado:

    -Deixa pra lá…

    Rodrigo olha o ferimento do braço de Serafim e diz:

    -Todo mundo aqui tem uma história complicada… quando cheguei aqui também estava confuso… se eu fosse você, ia lá na enfermaria ver esse braço, depois a gente troca uma ideia…

    Serafim agradece e segue o conselho de Rodrigo, se direcionando a enfermaria que fica em um corredor após o refeitório. O atendimento é feito por uma senhora de cabelos curtos e grisalhos, com por volta de sessenta anos. Após uma série de perguntas e exames simples que duram por volta de quinze minutos, ela pergunta:

    -Você tem certeza que não lembra aonde conseguiu essas manchas no braço?

    Serafim a indaga:

    -Manchas? Não são ferimentos?

    Ela então explica:

    -Por mais que se pareçam ferimentos, não o são! Na realidade… eu nunca vi algo assim… eu colhi algumas amostras de sangue para ver se isso é alguma infecção, se é contagiosa, enfim… você vai ter que ficar em uma ala separada dos outros acolhidos… e também preciso que você me diga tudo o que sabe sobre isso no seu braço…

    O homem com os riscos estranhos no braço, responde:

    -Tudo bem, fico separado, mas… senhora, eu realmente não lembro de nada, não só das manchas ... mas de tudo…

    A médica o olha por poucos segundos e fala:

    -Certo, vou avisar os agentes pra te levarem pro dormitório separado, descanse um pouco… por volta do meio-dia o psicólogo do abrigo chega, vou explicar seu caso a ele, e ver se ele pode fazer algo…

    Serafim agradece, em seguida, sai da enfermaria e fica aguardando o agente que é chamado pela médica para direcioná-lo ao quarto de quarentena. Se passam quinze minutos até finalmente ele ser levado ao pequeno quarto, que possui apenas uma pequena cama, um chuveiro e um vaso sanitário. Com Serafim já dentro do quarto, a porta é fechada, porta essa que possui uma pequena portinhola em baixo para passar a comida e uma abertura vedada a acrílico na altura do rosto para comunicação. O homem com nome inventado diz para si mesmo em tom de brincadeira:

    -Isso aqui é uma jaula…

    Olhando a sua volta, ele coloca as duas mãos na cintura, dá uma respiração forte e diz:

    -Bom, talvez aqui eu consiga colocar meus pensamentos em ordem…

    Ele então deita-se na pequena cama encostada na parede direita do quarto, e logo dormi. Em pouco tempo, ele já está em meio a um pesado sono, e sonha que está andando em meio a uma multidão, mas tudo está cinza, e as pessoas não tem rosto, sendo somente vultos, no meio de todas as pessoas, tem um vulto totalmente preto, ao olhar pra esse vulto, ele ouve uma voz dizer:

    -Kortun Lonq'ran… 

    Logo após isso ele ouve enormes batidas em sua cabeça, a princípio parecem batidas absurdamente altas, mas logo vão ficando mais baixas, até que ele desperta, e nota que alguém está batendo na porta, e o chamando:

    -Senhor Serafim? Tudo bem aí?

    Ainda meio grogue pelo sono, Serafim responde:

    -Si... sim, tudo bem, desculpe… eu estava dormindo…

    A pessoa do outro lado da porta diz que não tem problema, e se apresenta como o psicólogo do abrigo, Serafim se espanta por já ser meio-dia, ele está com a sensação de ter dormido somente alguns minutos. O psicólogo pergunta se ele gostaria de conversar, e Serafim aceita prontamente. O psicólogo passa pela portinhola um copo de café e fala que Serafim pode começar a falar o que quiser, o homem com nome inventado pega o café, e após um silêncio começa a falar:

    -Obrigado pelo café… bom, eu… não sei por onde começar… não porque tenha muita coisa, mas porque é confuso mesmo…

    O psicólogo que tem a voz aparentemente de uma pessoa com por volta de cinquenta anos, diz que Serafim pode começar por onde achar mais fácil, O homem com nome inventado então continua:

    -Certo… a alguns dias eu acordei em um canal de esgoto sem lembrar de nada, nesse tempo todo eu tenho sofrido pesadelos estranhos… alguns terríveis… e por algumas

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1