Covil Das Lobas
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Covil Das Lobas - S S.
Elas nos lisonjeiam e nos acalmam, nos beijam gentilmente, não pressionam os lábios com força como se fossem seus inimigos, mas suave e abertamente como se fossem um pardal. Elas cantam, nos consolam e nos deixam alegres, e imediatamente banimos toda a nossa preocupação
.
Ateneu
Covil Das Lobas
Escuta-se o forte som do mar, um porto antigo de tamanho médio com uma fraca iluminação amarelada, quatro homens vestidos de preto (todos com o mesmo cabelo) estão reunidos, mas em silêncio, dois deles estão na casa dos quarenta anos: um mais novo com vinte, e o outro, chegando aos setenta.
- Não temas: a sua vez chegou, como a nossa um dia chegará, assim como aconteceu com nossos pais. Diz o homem de quarenta anos, em voz alta, se dirigindo ao mais velho.
O velho, com olhar morto, mas não desesperado, começa lentamente a despir as suas roupas de baixo para cima revelando aos poucos o corpo flácido. Já completamente nu, ele entrega a sua roupa para o mais novo dos homens. Todos eles sorriem docemente para o velho, que se vira em direção ao oceano, se destaca na escuridão um grande contorno preto. Ele dirige devagar enquanto a brisa forte do mar bate em seu rosto. Próximo ao contorno fica mais nítido, os três mastros e a proa perfeitamente desenhada em linhas limpas, o velho se junta a sombra, os homens vão até as cordas que prendem a embarcação no porto e com um machado começam a cortá-la com golpes ritmados. Livre das amarras, a sombra se junta a mais profunda escuridão carregada pelo vento e pelas ondas.
Primeira Parte
Dia 13 de outubro de 1938, multidões se esbarram umas nas outras, enquanto vem e vão pelo movimentado porto da Nova Inglaterra. Mulheres e crianças chorando, marujos bêbados e capitães indo e chegando. O barulho homogêneo de burburinho. Todos falando cada um com seu diferente sotaque mais igual quando escutados juntos. Em meio à multidão está um jovem muito bem vestido, com dezessete anos, relativamente alto, com cabelos loiros, olhos claros e de físico esbelto. É a sua primeira vez em um grande porto, mas não se sente nem um pouco desconfortável nesse ambiente agitado. Andando pela multidão, ele vai em direção aos grandes mastros. Na borda do cais há várias embarcações atracadas, caça focas, pesqueiros, exportadores e baleeiros.
Desde de criança foi apaixonado pela vida marítima e, quando mais velho, conheceu o livro de memórias de Jimmy Óleo " a vida do marujo" , escrito pelo explorador e caçador de baleias Jonathan Marks. A famosa frase do Jimmy não se faz um marujo, se nasce um, está no sangue
e ele sabia que estava no dele.
Seu pai o alertou para não seguir essa carreira dizendo - é perigoso e pouco lucrativo, a caça de baleias está acabada
, mas... estava no seu sangue.
Na frente de um moderno baleeiro com arpão automático, ele grita para um marujo que está dentro da embarcação.
- Estão contratando, senhor?
E o marujo faz um sinal de negativo com a cabeça e grita:
- Tenta o último da fileira, filho.
Continua andando pelo longo porto até o fim dele, avista várias outras embarcações, a maioria delas modernas. Ao chegar no último da fila, vê uma grande embarcação:
Com cerca de 104 pés de comprimento, quase 28 de largura com aproximadamente 16 de profundidade, pesava 360 toneladas com um convés principal de dois lados e 3 mastros, sendo o central o maior seguido pelo da proa, e com o último deles sendo o menor, os mastros eram ocupados pelos homens que carregavam a importante missão em um navio de caça: avistar as baleias. A proa elevada com a figura de uma sereia de cabelos longos e seios fartos davam ao baleeiro um toque refinado, feito em uma época em que nenhum detalhe era deixado de lado. Com toda certeza devia ter sido construído décadas atrás na era de ouro da caça a baleias dos verdadeiros marujos, dos piratas terríveis e dos grandes capitães, como Jimmy Óleo.
Estava diante de uma obra de arte. Sem dúvida nenhuma, estava ali algo
maior, superior, um clássico monstruoso construído para caçar monstros e dominar os mares. Era a prova da superioridade do homem.
À frente da embarcação em terra, está em uma minúscula mesa de madeira, um homem gordo de meia idade com um livro grande aberto que cobre a mesa inteira, a apenas um homem a sua frente na fila, que logo após ele chegar, se afasta com olhar satisfeito.
- Estão contratando? Pergunta o jovem para o homem gordo
Em tom monótono olhando somente para o livro,
responde: - Tem experiência?
- Em estudo, sim. Ele responde.
Anota com os olhos pregados no livro e diz: teoria é diferente de prática. Voltando os olhos para o jovem, completa:
- Vai ser mão verde, irá receber 1,175 dos lucros, dois anos de viagem a trabalho pesado por causa da tripulação reduzida, completa: não estamos mais na era de ouro do baleísmo.
Primeiro lembrou de seu pai e depois, se baleísmo está correto. Em seguida, é interrompido pelo gordo, virando o livro para ele e apontando com a caneta de pena para um espaço em branco, o jovem já com braço esticado, o gordo diz:
- Tem certeza? Só poderá mudar de opinião daqui a dois anos. Não vem achando que é um mar de rosas. Dinheiro rápido e fácil como era antes.
Ele pega a caneta e com firmeza, assina Michael, com a rubrica de que tem muito orgulho. Estava no seu sangue.
- Certo, idade e nome, diz o contratante e apontando com a caneta para trás por cima do ombro, acrescenta - Essa monstrinha aí é a Margot. Esteja aqui antes do sol se pôr.
Michael, mãos verdes, 17 anos, meio alto, loiro e esbelto com olhos claros.
Na mesma mesa, 37 minutos antes, chegaram 2 homens. Benjamin, um grumet esmirrado de 13 anos; Hermam, 33 anos, negro, alto, carpinteiro. 24 minutos depois, William, cozinheiro, de 40 anos, porte médio, sem o polegar
direito da mão,
1 horas depois, Napoleão Lemer ou homem do corte, 38 anos, experiente, calvo, com sobrancelhas grossas grisalhas.
2 horas e meia depois, Allan, 21 anos, ferreiro, baixo, enérgico, com cabelos negros longos passando do ombro.
Ao chegar no navio, após caminhar pelo porto escuro no horário combinado, percebeu duas coisas: a mesa com o gordo não estava mais lá e, Margot, assim como algumas mulheres, parecia mais linda ainda, ganhando um charme único ao cair da noite. Ao subir as escadas no topo da rampa que ligava o porto ao baleeiro, estava o gordo que o contratou apoiado de braços cruzados
- Você veio, disse animado. Chamava-se Montanha. Muito alto, muito gordo e muito largo, uma gigante barba cheia, pálpebras inchadas com sobrancelhas grossas, cabelos lisos ralos, três rugas grandes no meio da testa que pareciam simular as ondas repetitivas do mar que tanto devia ter visto. Era o homem do timão.
Michael sorri, abaixa a cabeça, e deslizando as mãos pelo corrimão de madeira, bate com a bota no piso do convés entrando pela primeira vez em Margot. Vários pares de olhos da marujada se voltam para ele, depois seguem as suas conversas. Um homem com os dentes à mostra no rosto e cabelos negros longos passa apressado por ele, bate em seu peito de forma cordial e diz: bem vindo, marujo, ao zoológico!
À vista, muito bem vestido, o capitão do navio R.R Júnior, trinta anos, alto, moreno com olhos escuros, cabelos lisos pretos sempre bem penteados para trás, a barba feita com o rosto que às vezes parecia não ter pelo, com um cheiro de rosas que ficava no ar segundos após ele passar, se destacava uma luva de couro preta apertada que usava apenas na mão direita, no alto terminando os preparativos para a partida, lembra de ter lido um artigo sobre ele e sua família no jornal marítimo Nó que comprou no porto.
O capitão R.R Júnior era um homem que vinha de uma família com histórico de baleeiros. Seu avô Benito Ronald tinha entrado no ramo da baleação no começo da era de ouro, comprando ações em diversos navios, depois construindo o seu próprio, Hemmet Prata. Mas foi somente com o seu pai, o capitão R.R, que os negócios deslancharam chegando a uma frota de 29 navios baleeiros, entre eles o Cronos, um dos mais famosos e lucrativos navios da história da baleação. Seu pai fez grande fortuna e, após a sua morte, seus bens ficaram para o seu único filho homem R.R Júnior, Muito
bem instruído, mas sem nenhuma experiência no mar sendo da terceira geração de baleiros, parecia condenado a ganhar a vida da mesma forma. O navio já estava se distanciando da margem rumando à glória. Ele fecha um dos olhos e faz um sinal de sim
com o polegar, posicionando o dedo. Lateralmente é possível cobrir toda a cidade, todo o porto, todos os problemas.