Zumbi: a saga de uma raça
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Sobre este e-book
Álvaro Ricardo de Mello Gouveia Veiga
É autodidata. Formado pela Universidade da Cidade de São Paulo – UNICID: português e inglês. Professor atuante há 50 anos. Gramático: português e latim. Escritor com dezenove livros publicados. Membro da academia de Letras de Jequié; da Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias, com sede em Brasília; da Academia de Cultura da Bahia, Salvador (BA). Artista plástico. Músico.
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Zumbi - Álvaro Ricardo de Mello Gouveia Veiga
Capítulo 1
Uboro
Naquela tarde, um navio negreiro está ancorado em uma praia na costa ocidental africana.
A tripulação desce dois escaleres, que, em seguida, são carregados. Compõem-lhe a carga, além das mais diversas quinquilharias, fumo e aguardente, produtos de larga aceitação entre os nativos.
O Capitão Nunes dá as ordens em voz alta. Não precisa impor a sua autoridade. Sua fama é conhecida. De estatura elevada, com uma cicatriz no rosto, ganha em alguma briga, e voz de barítono, olhos profundos e maliciosos, não precisa falar duas vezes para ser obedecido.
– Vamos, vamos, seus preguiçosos, não temos o dia todo!
Os marinheiros estão mal-humorados: tinham chegado há pouco tempo. Esperavam permanecer neste último posto, por vários dias, dormir com as mucamas, empanturrar-se de carne e aguardente, abusar da hospitalidade do chefe da tribo, seu conhecido há algum tempo; mas tudo indica que a estadia será curta, pois existe pressa de conduzir a próxima leva de africanos para o Brasil, com destino a Recife. Os usineiros pagam muito bem pelos escravos visto precisar, cada vez mais, de mão de obra para os canaviais que se estendem por toda a costa nordestina.
Ao largo da praia, uma pequena multidão se aglomera. Os dentes brancos contrastam com a tez escura, num sorriso largo. As mercadorias tão esperadas estavam chegando. Um menino corre em desabalada carreira para avisar ao chefe; mas ele já vinha em uma liteira aberta toda ornamentada de folhas, cujos varais eram conduzidos por quatro fortes guerreiros.
As pequenas embarcações começam a abordar na praia.
– Saúdo o grande chefe Orukó.
Com um pequeno aceno, o africano responde à saudação.
– Esperava capitão há muitas luas. Que aconteceu?
– Nesta época do ano, há muito calor sem viração nem ventos. É uma calmaria de doer na alma, principalmente com os mantimentos acabando e a água no fim. Esta então, quando falta, é um caos total. Já vi muito homem valente amedrontar-se, chorar igual a uma criança, gente enlouquecer bebendo água do mar. Além disso, há mais de uma semana que estou percorrendo os pontos de embarque.
– Aproxime-se, vamos à aldeia. Há mais de cinquenta, entre homens e mulheres, à sua espera, a maior parte de tribos vizinhas, que escravizamos. Completei com vinte dos meus homens, gente rebelde que precisa ser castigada. Todos de boa constituição, prontos para o trabalho, capazes de suportar a viagem. Tenho, também, uma surpresa: uma escrava que vale quanto pesa. Raptamos de uma tribo inimiga. É de sangue nobre, uma princesa conforme pude apurar. É conhecida por Aqualtune. Tudo isso sem falar da beleza e das ancas largas de boa parideira.
Um navio negreiro, dependendo da envergadura, tinha capacidade para aproximadamente quatrocentos negros, e, no litoral do Continente Africano já existiam diversos entrepostos para a guarda de escravos. O Capitão, entretanto, visando a maior lucro, preferia se prevalecer de largo conhecimento com os nativos, a fim de efetuar a apanha aqui e ali em troca de produtos de pequena monta. Quando visitava aquela tribo, já possuía cerca de cento e oitenta indivíduos entre homens, mulheres e crianças em um porão de cerca de oitenta metros quadrados.
– Salve capitão! Que o traz por estas bandas?
– Salve Uboro; ainda está vivo seu negro desgraçado?!
– Pensei que Nanã 1 já tivesse levado o capitão.
– Fui dormir com ela numa noite de Lua cheia; mas ela não aguentou o meu fogo e fugiu...
– Cuidado, capitão, não blasfeme contra os deuses, eles são vingativos!
– Bobagem, este amuleto – e mostrou um dente de urso encastoado numa minúscula coroa de ouro, presa a uma grossa corrente – protege-me de qualquer coisa ruim.
– Vamos, vamos, – interrompe o chefe, que não esconde a sua avidez de tomar o primeiro gole de cachaça.
– Preferia ver logo a mercadoria, – interrompe o capitão, aborrecido.
– Tudo no seu devido tempo – acrescenta Orukó, fazendo pouco caso da impaciência de Nunes. E, em seguida, a um sinal seu, vários indígenas sentam em círculo. A primeira caixa de bebida é aberta e distribuída, enquanto se ouve o som contagiante de atabaques e djambés, espécie de tambor africano. A dança inicia, enquanto as índias começam a servir bolos feitos à base de milho e mandioca, além de diversos guisados e grelhados.
O tempo voa célere. O capitão não consegue esconder a sua impaciência.
Uboro aproxima-se de Nunes:
– Noto que quer ver logo a mercadoria. Eu sei a razão por que Orukó está protelando: quer que o capitão beba bastante a fim barganhar na venda.
– Não é bonito ficar falando mal de seu chefe!
– Seu lugar deveria ter sido meu por direito, pois sou o primogênito. Meu irmão é um bêbado, pouco interessado no destino da tribo. Essa história de escravizar gente nossa, que ele chama de gente rebelde, é pura invenção. São pessoas que lhe cobram uma divisão mais justa das terras cultiváveis, dos animais abatidos nas caçadas e outras coisas mais. Acredite, Capitão, não sou nenhum intrigante...
– Não sou juiz, seus problemas