O Inferno De Luzia
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O Inferno De Luzia - Rodrigo Araújo De Melo
O Inferno de Luzia
Rodrigo A. Melo
Direitos autorais © 2022 Rodrigo A. Melo
Todos os direitos reservados
Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é coincidência e não é intencional por parte do autor.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em um sistema de recuperação, ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão expressa por escrito do autor.
Impresso no Brasil.
Edição: Rodrigo A. Melo
Revisão: Lays Costa
Capa e Diagramação: Rodrigo A. Melo
Ilustração da Capa: Roberto Silva
Ilustração dos Capítulos: Roberto Silva
Ilustração da Contracapa: Jair Cruz
O INFERNO DE LUZIA
A. Melo, Rodrigo
1ª Edição
Fevereiro de 2022
Dedico este livro com carinho a Hilda gomes, Cicero Araújo, Hugo Araújo, Roberto Silva, Jair Cruz, Severino Barbalho, Kethleen Michele, Bruna Beatriz, Lays Costa, Ana Paula, Amanda Sousa, Edson José, Alexsandro Izack, Rafael Gomes e Ceça pelo apoio de sempre.
O querer voraz me fez perecer
A vida que pulsa ainda me devora
Cai a tarde e torna a anoitecer
O sangue quente jorra sem demora
Memórias se dissipam lentamente
Em desalento de aflição por ora
As trevas perturbam a minha mente
Eles me observam o tempo inteiro
No entanto, não enxergo um pé de gente
Índice
Página do título
Direitos autorais
Dedicatória
Capítulo I - Naquela Manhã Chuvosa
Capítulo II - Ilumina Meus Olhos
Capítulo III - O Cair da Noite
Capítulo IV - Um Mapa Gasto Pelo Tempo
Capítulo V - A Luz da Esperança
Capítulo VI - Memórias Adormecidas
Capítulo VII - Os Pássaros a Cantar
Capítulo VIII - Pôr do Sol
Sobre o autor
Capítulo I - Naquela Manhã Chuvosa
Oinferno no qual tenho caminhado desde o meu despertar me tem feito prisioneira da culpa. Tem sido habitado desespero. Ventos gélidos sopravam aos meus ouvidos e me faziam perceber que tudo estava perdido. Vim ao mundo no ano de 1549, no Engenho Camará, e pude acompanhar uma boa parte daquela época turbulenta em que a escuridão alimentava o poder, o ódio e a soberba, subjugando os menos favorecidos.
Nasci em uma família abastada que louvava os valores sociais da época, mas faltava o amor, carinho e compreensão. Meu pai era um homem brilhante e cativava a amizade de pessoas influentes da sua época, soube aproveitar as oportunidades que surgiram, construindo, assim, a sua fortuna. Recebeu uma sesmaria com a condição de erigir um engenho. Em cinco anos, estava em pleno exercício.
Na prática, não se tratava de um engenho em si, mas uma pequena plantação de cana que era moída em outro engenho - propriedade do seu donatário. Recordo-me, com dificuldade, que o meu pai teve a sua plantação inteiramente queimada pelos ameríndios, tornando impossível a condição fundamental para a posse das terras. Com muito esforço, foi autorizada uma nova cessão de terras, porém já não era a mesma coisa de quando eu nasci.
Tive uma família numerosa, mas não pude conviver com todos os onze irmãos, apenas sete. Como os rumores poderiam nos causar grandes problemas com o Tribunal, tratávamos de esconder muito bem as nossas crenças e buscávamos não apresentar desvios de conduta para não chamar atenção; apesar de tudo, tivemos uma infância tranquila. Eu era a única que não lidava muito bem com aquelas regras tolas, excedentes às comuns.
Na época, minha pele reluzente contrastava com o meu cabelo rubro, era de uma beleza ímpar e alvo de elogios abrasantes, pelos quais constantemente eu me deixava levar, o que ocasionou, ao longo dos anos, falhas de caráter da minha parte; foi o ápice da minha destruição.
Usufruí de tal ensejo e do meu poder de sedução para enganar e tripudiar da dor alheia, desconsiderando a mais remota possibilidade de ser ludibriada pelas pessoas à minha volta. A sensação de ser blindada por meu status social me mantinha em êxtase. Transferi o meu caos interno a outras pessoas e, quando me dei conta, estava entregue aos meus piores instintos.
A transição inesperada para os mundos inferiores trouxera contradições às minhas crenças. Neles, o caos reinava, porém de forma racional: cada setor obedecia a um superior responsável, e este, por sua vez, obedecia às regras das hierarquias de comando. Os inúmeros setores eram proporcionais ao nível de gravidade dos erros cometidos na Terra.
Não se tratava de um ambiente necessariamente quente, muito pelo contrário: o frio desolador era mais comum. O fogo por vezes me parecia real, e por vezes exercia apenas o papel figurativo. As comoções em torno do arrependimento estavam entre as torturas mais cruéis.
Tudo aconteceu na manhã de uma quarta-feira chuvosa - não me recordo o ano em questão. Havia me anulado na tentativa de evitar maiores atritos durante a convivência com meus pais, contudo a situação se tornou insuportável: as cobranças excessivas e a incompreensão me fizeram refletir sobre a necessidade de construir uma nova vida longe dos meus, e ao lado de um homem estrangeiro.
Pouco o conhecia, é verdade, mas só o seu amor me bastava. Estava cega e – mais tarde descobriria - tomei uma das piores decisões. Navegamos mar adentro até chegar num povoado distante, nos arredores da província de Pernambuco, mais precisamente na Ilha de Santo Aleixo, na certeza de que a minha vida mudaria por completo.
Dentre todos os homens que se aproximaram, Édan foi o único que me cativou de imediato, talvez pela sua beleza física, talvez pela sua aparente doçura, talvez pela sua inteligência.
Nos conhecemos nas aulas de piano, através de minha professora particular – sua mãe - que o trouxera como assistente, e, embora pouco se soubesse de sua história, aos poucos ele conquistou o coração da minha família.
Apesar da profunda afeição de minha mãe por ela, as relações foram cortadas após nossa partida a Pernambuco, já que existia a proteção maternal dela para com o filho.
Eu estava completamente encantada por aquele rapaz e tinha certeza de que meus pais se equivocaram ao dar ouvidos aos boatos que surgiram, certamente tecidos por pessoas invejosas