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Vermelho Brasil
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E-book101 páginas1 hora

Vermelho Brasil

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Sobre este e-book

“Vermelho Brasil”, de autoria de Milton Borges, trata-se de uma novela literária, gênero cada vez mais raro entre nós, e que se define como obra em prosa intermediária entre o conto e romance. Alguns escritores rotulam suas novelas como romances, receosos de que possam ser confundidas com o lixo cultural da maioria das novelas televisivas. No caso, o texto tem todas as características do gênero e como tal deve ser tratado. Além disso, é uma história criativa, repleta de suspense e surpresas, e está bem escrita, inclusive na fixação do panorama local durante uma das terríveis secas nordestinas. O personagem central é bem construído, coerente nos seus atos e verossímil na linha de pensamento. É um homem desiludido da vida desde cedo e que age de maneira algo conformista, às vezes indiferente, como se tudo lhe parecesse de uma chatice atroz. Enredado numa sucessão de múltiplos incidentes, o personagem caminha de forma inevitável para o desespero. O leitor, preso ao texto, não consegue afastar-se dele ao virar a última página. Enéas Athanázio – escritor, promotor de justiça e professor universitário aposentado.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de mar. de 2024
Vermelho Brasil

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    Pré-visualização do livro

    Vermelho Brasil - Milton Borges

    Brasil

    Vermelho

    Milton Borges

    Direitos autorais © 2024 Milton Borges

    Capa e diagramação

    Antonio Soares (@a.f.soaress)

    Imagens de capa

    Gerada com IA, via Bing (Editada)

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    Catalogação na Fonte

    _________________________________________________________

    B732v

    Borges, Milton.

    Vermelho Brasil / Milton Borges. – 1. ed. – Teresina:

    Publicação independente, 2024.  

    ISBN 978-65-00-96439-4

    1. Literatura Brasileira – Novela 2. Literatura Piauiense –

    Novela I. Título

    CDD – B869.303

    _________________________________________________________

    Ficha Catalográfica: Bibliotecária Larissa Andrade CRB – 3/1179  

    Todos os direitos reservados. De acordo com a Lei nº. 9.610, de 19/02/1998, nenhuma parte deste livro pode ser fotocopiada, gravada, reproduzida ou armazenada num sistema de recuperação de informação ou transmitida sob qualquer forma, por meio eletrônico ou mecânico, sem prévio consentimento do autor.

    Se a natureza não é contra nós, também não é por nós.

    Herman Melville

    O caminho certo passa sobre uma corda esticada pouco acima do chão. Parece antes destinado a fazer com que as pessoas tropecem do que levá-las a um bom fim.

    Franz Kafka

    Sumário

    Prólogo

    I

    II

    III

    IV

    V

    VI

    VII

    IIX

    IX

    X

    XI

    Epílogo

    Sobre o autor

    Posfácio

    O Desiludido

    Conheça também

    Prólogo

    A PORTA DA FRENTE é aberta, um rapaz avulta ao alpendre, uma carabina atravessada à bandoleira aos ombros. Lança um olhar ao horizonte, às matas cerradas a poucos metros do velho casarão. Não dá para divisar com segurança sua expressão, o ponto onde estou resguardado obriga-me a achatar o corpo de lado, o que termina por comprometer meu campo visual a uma simples nesga de clareza. Não tenho certeza, mas parece que ele está preocupado.

    Será se desconfia da tocaia à casa-grande? Penso vir agindo com cautela, porém nunca se sabe. Em seu ofício, um segurança é treinado para estar sempre alerta às eventualidades traiçoeiras. Principalmente quando se trabalha para um patrão cujos métodos se descartam de todo e qualquer escrúpulo na consumação de seus propósitos. Usando a traição como lugar-comum. O que, consequentemente, dá vazão de se esperar a traição a qualquer momento por alguém presumidamente mais esperto.

    Afinal nunca conseguimos, por mais que se seja cuidadoso, nos livrar completamente de algumas leis da natureza – e por que não da vida? –, como aquela da ação e reação.

    Uma codorniz pia nas proximidades. O rapaz varre a orla da mata com o olhar atento, fazendo com que eu me comprima ainda mais por trás do tronco da árvore para não ser descoberto, um antigo juazeiro, o qual no passado gozava o privilégio de ter o solo sob sua copa limpo da interferência competitiva do matagal, que o sufocava no momento. Apontando desleixo, a árvore, além de propiciar efeito decorativo ao cenário, fornecia uma sombra salutar, acolhendo o pessoal que mercadejava com a casa, resguardando-os da quase constante soalheira irradiada impiedosamente na região.

    Na verdade, até o momento só tenho encontrado descaso e sinal de abandono na propriedade, que um dia gozou fama de ser a mais próspera daquelas paragens. Como se o proprietário houvesse perdido o interesse por suas terras, ou se visse em maus lençóis com bancos credores. Letras de hipoteca não honradas.

    Como tantos outros fazendeiros e agropecuaristas da região, que de proprietários passaram a apenas administradores, se tanto, das fazendas que já foram deles, por não poderem pagar os empréstimos contraídos com os bancos em momentos de aperto, ou em função da necessidade de implantação nos negócios de uma ideia mirabolante, que não vingou. 

    Sei desses reveses dolorosos no campo com conhecimento de causa. Afinal, engrosso um grupo de falidos que vagam daqui para acolá, iludidos numa nova oportunidade que jamais virá. Um hoje amargurado. Um amanhã sem brilho.

    A diferença com outros derrotados é que carrego a amargura e a frustração como elementos indissociáveis – e o pior, completamente consciente –, na minha pessoa. Não haverá redenção na minha vida. E nem será possível. Estou velho, o corpo dando mostra cada vez mais frequente de mau funcionamento.

    Não há mais nada que desperte meu interesse na vida. Nem mesmo a atitude com que pretendo encerrar meus dias. Mesmo assim estou disposto a ir até o fim. Levei muito tempo imaginando esse momento. Tempo até demais. Amadurecendo essa ideia até vê-la apodrecida. Até perder todo o prazer que ela poderia me proporcionar. Um prazer cruel, ainda assim necessário. Mas jamais como um ato tolo de sadismo. Nada disso. Minha atitude representa muito mais, como um despejo de frustração. Ou por que não a assumir apenas como um ato tardio de justiça?

    Não tenho dúvida de que minha vida começou a se extinguir aqui. Nessa fazenda, hoje inexplicavelmente decadente. Pois quando parti daqui, o dinheiro da venda da boiado recheado com o complemento de meu logro, nada mais deu certo em minha vida.

    Estou aqui não para reparar um erro do passado, não há conserto. Por que me iludir inutilmente? Mas para encerrar a trajetória de quem inspirou minha derrocada. Ainda que em sua fria ganância não tenha imaginado o alcance do mal plantado. Mesmo assim, não quero terminar minha existência sem retribuir o sobejo do meu desprezo.

    Nada vai me impedir de consumar a vingança. Nada. Não importa o quanto o vilão se ache aparatado de seguranças. Não importa quantos capangas tenha que mandar para o quinto dos infernos com ele. Não são vidas que merecem consideração, apenas obstáculos entre meu desejo insano de tentar limpar com sangue uma honra que não vale mais nada, e o homem que a tornou nula.

    O rapaz enfia a mão no bolso, extrai um maço de cigarros e um isqueiro. Acende um cigarro sob a concha da mão e se põe a fumar displicentemente, soprando anéis de fumaça na tarde ensolarada, sem imaginar o destino que talvez esteja reservado a ele. Sua morte não é um assunto que me cause a mínima preocupação. Basta que insista um exercer sua atividade profissional com sincera consciência de dever.

    Não tenho nenhum plano de ataque preconcebido. Não estudei previamente o campo e nem as possibilidades defensivas do inimigo, ou o estado como o encontraria. Minha decisão foi tomada de supetão, ao pressentir não ter muito tempo de vida. O coração dá mostras de fraqueza. Não tenho o mínimo interesse em me submeter a tratamento. Já vivi o suficiente minha cota de amargura.

    Retiro o .38 da cintura, abro o tambor e o giro conferindo as câmaras recheadas. Não sou propriamente um atirador recomendável, mas estou

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