A Primeira-dama E O Filho Do Presidente
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A Primeira-dama E O Filho Do Presidente - Cleber L. Portela
A PRIMEIRA-DAMA E O FILHO DO PRESIDENTE
CLEBER L. PORTELA
2024 COPYRIGHT BRASIL TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO AUTOR
ROMANCE
CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO(CIP)
FICHA CATALOGRÁFICA FEITA PELO AUTOR
A773B PORTELA, CLEBER LOURENÇO.
A PRIMEIRA-DAMA E O FILHO DO PRESIDENTE/ CLEBER. L. PORTELA
ISBN: 9798882534812
1.FICÇÃO. ROMANCE. FICÇÃO ROMANCE NACIONAL
1. TÍTULO. II. AUTOR
CDD: BC 79-3
CDU: 34-277
SUMÁRIO
PARTE I
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO V
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO IX
CAPÍTULO X
CAPÍTULO XI
CAPÍTULO XII
PARTE II
CAPÍTULO XIII
CAPÍTULO XIV
CAPÍTULO XV
CAPÍTULO XVI
CAPÍTULO XVII
SUMÁRIO
CAPÍTULO XVIII
CAPÍTULO XIX
CAPÍTULO XX
CAPÍTULO XXI
CAPÍTULO XXII
CAPÍTULO XXIII
CAPÍTULO XXIV
CAPÍTULO XXV
CAPÍTULO XXVI
CAPÍTULO XXVII
CAPÍTULO XXVIII
CAPÍTULO XXIX
CAPÍTULO XXX
PARTE 3
CAPÍTULO XXXI
CAPÍTULO XXXII
PARTE 4
CAPÍTULO XXXIII
CAPÍTULO XXXIV
CAPÍTULO XXXV
CAPÍTULO XXXVI
SUMÁRIO
CAPÍTULO XXXVI
CAPÍTULO XXXVIII
CAPÍTULO XXXIX
CAPÍTULO XL
CAPÍTULO XLI
CAPÍTULO XLII
CAPÍTULO XLIII
CAPÍTULO XLIV
CAPÍTULO XLV
CAPÍTULO XLVI
CAPÍTULO XLVII
CAPÍTULO XLVIII
PARTE FINAL
CAPÍTULO XLIX
CAPÍTULO L
CAPÍTULO LI
CAPÍTULO LII
CAPÍTULO LIII
CAPÍTULO LIV
CAPÍTULO LV
CAÍTULO LVI
SUMÁRIO
CAPÍTULO LVII
CAPÍTULOLVIII
CAPÍTULO LIX
CAPÍTULO LX
CAPÍTULO LXI
CAPÍTULO LXII
CAPÍTULO LXIII
CAPÍTULO LXIV
CAPÍTULO LXV
CAPÍTULO LXVI
CAPÍTULO LXVII
CAPÍTULO LXVIII
CAPÍTULO LXIX
DEDICATÓRIA:
CORTARAM MEUS BRAÇOS, CORTARAM MINHAS MÃOS, CORTARAM MINHAS PERNAS! NUM DIA DE VERÃO! NÃO SE ESQUEÇA TEMOS SORTE, E AGORA É AQUI! O BRASIL É O PÁIS DO FUTURO! EM TODA E QUALQUER SITUAÇÃO, EU QUERO TUDO PRA CIMA!
(LEGIÃO URBANA, RENATO RUSSO)
PARA EDNA E PAULA
I. A PRIMEIRA-DAMA
PARTE I
A casa estava visivelmente cheia. Todos na expectativa da grande celebração. O cenário era o plenário do congresso nacional, os personagens principais o presidente eleito e o atual presidente que então lhe passaria a faixa simbolizando a troca do principal representante público da nação. Deputados, senadores e outras figuras públicas de todo o planeta até ali estritamente ligados as duas personalidades, ansiavam pelo momento oficial da posse. Pontualmente o processo de posse foi oficializado e as pessoas presentes e outras milhões possibilitadas pela magia da televisão e meios de comunicação, também puderam assistir. Estavam agora quase todos aliados e prontos para uma nova batalha, para uma nova ordem de oscilações entre promessas e realizações que posteriormente deveriam ser colocadas em prática.
Numa prática incansável sempre proferida por estes, que se julgavam os responsáveis por uma política de transformações. Rui Carlos sentia fluir em suas veias uma nova vida. O ponto máximo de uma luta árdua pelo poder; que poucos se davam ao luxo sequer de aspirar. Uma recompensa por todo um trabalho que levará horas e horas diárias, meses e anos de um objetivo imortal. Agora estava ali, ele e a esposa, seus aliados que tanto haviam lutado para que chegasse ao poder. Só sentia falta do filho, mesmo erguendo a cabeça de um lado para outro em busca de sua presença, ele era visivelmente obrigado a dividir tal preocupação com os cumprimentos efusivos dos convidados numa fila quase sem fim. Após uma hora e 15 minutos de congratulações e burocráticas questões de praxe a serem tomadas, ele se viu por um instante um pouco mais à vontade. Foi permitida uma pequena entrevista coletiva, que o presidente se viu no direito de agradecer e ditar seu plano de governo junto à nação:
----- Prezados amigos, cavalheiros, damas aqui presentes, povo brasileiro! Sinto me falha as cordas vocais para genericamente dizer a todos o quanto me enobrece e deixa enaltecido tal acontecimento. Poderia lisonjeiramente falar por horas e horas aqui de pura satisfação. Para tentar passar a todos, de uma forma maravilhosa o que estou sentindo. Orgulho, honra e principalmente amor por estar servindo de uma forma mais ativa a pátria que tanto amo! Pátria mor de todas as pátrias, que corre sangue de cidadãos que não desistem de acreditar, de lutarem por um futuro melhor e em conjunto por nossos futuros! Quando se afloram dúvidas sobre insegurança econômica, recessão e corrupções desenfreadas, minhas promessas não serão lançadas a esmo. Nenhuma só palavra destinada a ordem, justiça e progresso serão subjugadas ou manipuladas no meu plano de governo. Lutaremos pela justiça social, por vidas mais dignas...
II. CLEBER L. PORTELA
PARTE I
Marcos estava confortavelmente sentado em umas das poltronas dos numerosos quartos da mansão dos Martins
. A televisão era alvo de um pacto pouco provável entre ele e as atitudes do pai. As imagens de uma abstrata coroação, de um abstrato mundo em que ele genealogicamente se via ligado.
A verdade era que ele ainda não havia compreendido por que tinha faltado repentinamente a tal compromisso. Talvez porque nunca havia aceitado que pessoas fossem enganadas claramente, e se enganassem ao ponto de acreditar em algumas mudanças. Desligou a televisão e voltou tranquilamente para a poltrona onde estava sentado. Naquele momento sua cabeça girava numa órbita confusa em busca de um elo perdido. De quando era uma criança frágil e obrigado a esperar o pai por longos e tediosos dias. Um homem sempre ocupado profissionalmente, sempre dando espaço e desculpas esfarrapadas a pequena família composta por ele e a mãe.
A mãe se fora repentinamente, sem ao menos assessorá-lo em suas dúvidas e medos infantis. Agora restava ele e o pai, eles e uma enorme barreira que os impediam de serem felizes. Se lembrava de como fora duro mesmo ter descoberto precocemente como a verdade era uma linha paralela em conjunto com a confabulação e a falsidade. De como acreditara que as leis poderiam ser usadas a favor dos mais justos, dos mais necessitados, e não dos mais poderosos. Foi duro e difícil para Marcos perceber que tudo não passava e nunca havia passado de ilusões. Ilusões transformadas brutalmente em dolorosas realidades. A conclusão de que tudo se ligava a uma sórdida conspiração. Uma travação de poder entre dominados e dominadores. Andou até a cabeceira da cama, lá estavam seus cigarros, um vício que o sustentava metaforicamente na sua batalha contra a solidão.
Alguém bateu na porta do quarto, Marcos olhou para o relógio e percebeu que ainda era um pouco cedo para as costumeiras visitas. --- Entre, a porta está apenas encostada. ---- Com licença senhor Marcos, a senhorita Lídia está na biblioteca a sua espera. ---- Sim, diga-lhe que já estou descendo, respondeu tentando deduzir o que a amiga queria dele naquele momento. Desceu lentamente as escadas, que davam acesso direto a biblioteca. Ao adentrar, percebeu a amiga apossando-se distraidamente de uma de suas coleções, enquanto o aguardava. ---- Eu não acredito! Surpreendeu se Lídia ao vê-lo ali, claramente em sua frente. ---- Qual o motivo de tanta surpresa? Retrucou Marcos, sem nenhuma intenção de deboche. ---- Quando o seu pai me informou lá do plenário, eu pensei que fosse um engano ou coisa parecida, por que você não está lá do seu lado? ---- E por que deveria estar? Continuou percebendo o rumo desagradável pela qual caminhava o diálogo. ---- Não seja infantil Marcos, como se sentiria se a pessoa mais importante da sua vida faltasse ao grande compromisso da sua carreira? Marcos se moveu até uma cadeira que se encontrava no meio da biblioteca, todo aquele atrito criado o irritava: ---- Não vamos fazer tempestade em um copo de água, se eu bem conheço meu pai, haverá outras conquistas e você sabe bem que há tempos não temos um relacionamento amigável. Lídia se aproximou até onde ele estava sentado, era uma garota esperta e bastante objetiva em suas questões, mas sabia que o mau gênio e a teimosia de Marcos a impedia de lidar com tal objetividade. ---- Será que você não percebe que tal inflexibilidade de sua parte não o levara a nada? Que culpa tem o seu pai, se você sempre foi contra este jeito benéfico que ele possui de lutar pelo direito de cada cidadão comum.
Marcos sorriu entre meios dentes, uma certa ironia condecorava seu semblante. ---- Você se sairia uma boa representante pública. Lídia deu as costas para ele num sinal de protesto. Era uma respeitada amiga dos Martins
, sua ligação com a família era cultivada desde tempos remotos, já ligado ao fato de seu pai ser um antigo amigo de trabalho de Rui Carlos. Enquanto Lídia permanecia ali inerte, Marcos ainda na mesma poltrona viajava em seus pensamentos, neles, ele via o presidente atual (seu pai) agora com honras de chefe de estado. O cargo mais importante de uma nação, é parece que ele tinha conseguido.
Uma vida inteira dedicada para uma aspiração, ele enxergava tal conquista como a de um garoto mimado que de tanto espernear finalmente conseguira realizar seu desejo. A diferença era que o garoto talvez não precisasse dar algo em troca do seu desejo realizado. Agora quanto ao pai... As alianças, barganhas, troca de favores... Será que Lídia tinha razão em dizer que ele estava sendo inflexível? Talvez não existisse nenhum mal em ter um pai presidente. Muito pelo contrário, quem não gostaria de dispor de tal privilégio? Porém a questão não era ter um pai presidente, era os meios para Marcos que não justificavam os fins. A corrida pelo poder, querer atingi-lo a qualquer preço. Isso não o agradava. Voltou a refletir sobre as dúvidas, novamente se sentiu indeciso. Inseguro por querer culpar seu pai, por questões que não eram mantidas apenas por ele, que eram utilizadas por toda uma sociedade, por uma corja de leões devorando uns aos outros. Suas reflexões faziam com que ele despertasse de suas obrigações de filho da alta sociedade, da flâmula que crescia tempestuosamente em si, ao ponto de desafiar a todos. Mesmo até as grandes corporações que faziam do seu destino, uma história diferente das demais.
III. CLEBER L. PORTELA
PARTE I
O presidente parecia ter desmoronado sobre uma confortável acomodação na sua sala. Estava claramente abatido e cansado, com o intenso trabalho de discursos e apresentações no seu primeiro dia de posse. Ana Carolina (a primeira-dama), já havia se retirado para seus aposentos. Havia sido de fato um dia cansativo para ambos. --- Ainda estão lá fora? Perguntou a um empregado, enquanto este lhe trazia água morna para os pés. ---- Sim senhor, respondeu curtamente enquanto posicionava a bacia entre o local desejado. ---- Malditos! Será que não se cansam de tantas informações, parecem urubus no meio da carniça. Infundiu os pés na água, o corpo estremeceu de alívio. Um alívio de um dia todo, de toda uma campanha que só agora ele sentia surtir seus efeitos práticos. Uma longa batalha vencida, porém a guerra mal havia começado, agora eram quatro anos de mandato. Lembrou-se da formação de seu ministério, das indicações quase todas já comprometidas com seus aliados.
---- Com licença Sr., interrompeu seus pensamentos o mordomo, é o vice-presidente na linha. Rui atendeu o telefone, iniciou-se uma conversa: ---- Como vão indo as coisas amigo? --- Bem, respondeu Rui, apesar de todas as aglomerações do dia, nada como uma boa cerimônia para começar um bom mandato. ---- As perspectivas para amanhã? Interpelou o vice. ---- Nós conversamos sobre elas amanhã no palácio da alvorada. Trocaram mais algumas frases. Rui estava precisando de um bom descanso, desligou o telefone se comprometendo a ir para cama; teria ao amanhecer uma longa jornada pela frente. Subiu calmamente as escadas que conduziam ao seu quarto. Para sua surpresa, Ana Carolina o aguardava: ---- Pensei que já estivesse dormindo? Ela se levantou calmamente de onde estava. ---- Eu só o queria dar os parabéns, disse com uma certa timidez, o dia foi tão agitado enfim você foi tão disputado, que eu não tive tempo. Rui serviu-se de uma dose de uísque ofereceu-lhe outra. Acima de tudo estava compassivo no seu grande dia de posse, poderia até suportar Ana por alguns instantes. ---- E quanto a você? Como se sentiu no seu primeiro dia como a primeira-dama de um país? ---- Meia tímida, as badalações, as focalizações para um melhor ângulo, eu nunca em toda a minha vida me vi tão disputada como no dia de hoje. Sorriram laconicamente. Rui esboçou o corpo um pouco pesado, sentindo os primeiros efeitos do sono. Ana tentou uma aproximação, era uma mulher fisicamente atraente, um rosto suave e calmo. ---- Acho que já fizemos muito por hoje, tenho um dia cansativo amanhã, espero que compreenda. ---- Claro, se recompôs a primeira-dama, percebendo então qual era o seu principal papel. Desejou-lhe boa noite e foi para seus aposentos. Quartos separados, vidas ligadas por um objetivo comum.
IV. A PRIMEIRA-DAMA
PARTE I
Na manhã seguinte a sua posse, o presidente embarcou definitivamente para sua nova casa em Brasília. De lá só sairia depois de quatro anos, após cumprir seu mandato. Marcos depois de muita insistência por parte do pai, finalmente se decidiu a acompanhar ele e a nova esposa até o embarque. O pai também havia pedido anteriormente que ele definitivamente se mudasse para o palácio do planalto.
Porém Marcos a princípio alegou precisar de um tempo para colocar algumas coisas em ordem. A verdade era que ele já havia se decidido a não compactuar com tudo aquilo. Teve medo de falar para o pai, mas sua decisão já estava tomada. O que ele precisava era dar um novo rumo a sua vida, escolher sozinho seu próprio caminho, andar com as próprias pernas. Não lhe agradava saber que o mesmo dinheiro que o sustentava, talvez viesse de um imposto indevido de um assalariado, de um pai que as vezes deixava de colocar comida na sua mesa, só para cumprir direitinho com suas obrigações de cidadão. A verdade era que Marcos nunca conseguiu aceitar a política como profissão. Para ele era apenas pretexto, uma maneira manipulada de impor ao povo coisas que eles já estavam cansados de saber.
Claro que ele não queria pensar como um comunista, sabia que era pura utopia, mas naquele momento tinha muitas dúvidas. A única coisa que ele tinha certeza, era que precisava mesmo dar um jeito em sua vida. Ao chegar em casa ficou vislumbrado com a imensidão de cômodos da mansão, era difícil acreditar que tudo aquilo agora era só para si. Lídia ao perceber sua chegada se aproximou sorridente: ---- Eu fiquei sabendo que você foi acompanhar o seu pai até o embarque, muito bom! ---- Pura cortesia, respondeu Marcos como se está lhe falasse sobre um estranho. ---- E quando pretende se juntar ao seu pai? Marcos parou para pensar na pergunta da amiga, quando? ---- Talvez eu não vá, respondeu com certa tranquilidade. ---- Como não vai? Seu lugar é ao lado dele, se esqueceu que são uma família? ---- Ele já constituiu uma nova família, disse ao se referir a nova esposa do pai. ---- Não seja ingênuo! Você sabe muito bem o quanto é fundamental a sua presença lá.
---- Ainda mais agora que ele está iniciando um novo mandato, se trata de uma nova etapa profissional. Marcos sorriu em tom de ironia, era óbvio que vindo da filha do melhor amigo do seu pai, ele não poderia esperar outra resposta. Pensou, talvez Lídia tivesse razão, além do que morar com seu pai não significaria que ele apoiaria suas decisões. Levou uma das mãos a cabeça em sinal de ansiedade, precisava pensar melhor sobre o assunto. Se livrar um pouco daquela pressão que o invadia. Precisava respirar ar puro, ver pessoas reais no mundo em que vivia e não se sentia parte integrante. Voltou-se para Lídia: ---- Depois nós conversamos sobre isso. Por favor diga ao motorista para reservar um carro, vou à toalete e já volto. ---- Vai sair? Indagou a amiga. ---- Preciso pensar um pouco, sair além dessas janelas, estou cansado de me sentir prisioneiro. ---- Então vou com você também, quantos seguranças acha necessário. Marcos a olhou com um olhar fulminante. ---- Está bom, só nós dois, o carro é blindado. Enquanto Marcos ia ao banheiro, está se aproveitou para uma breve ligação ao palácio da alvorada, cada passo seu era denunciado milimetricamente, como num pacto entre o poder e a vontade de querer sucumbi-lo.
V. CLEBER L. PORTELA
PARTE I
Ana Carolina chegou cansada da sua primeira reunião social. Uma rotina de boas ligações para uma futura indicação. Assim dizia-lhe ter que agir Rui Carlos, com ambição, os olhos além do que poderia enxergar. Assim havia sido a vida do presidente até chegar ao topo. Porém possuíam maneiras diferentes de pensar. Subiu as escadas que davam para seus aposentos. Ao tirar a parte superior do vestido, o retrato da mãe recostado a cabeceira da cama reviveu sua memória. Algo turvo entre boas e difíceis lembranças.
A trajetória da sua vida cursada minunciosamente para um bom marido, para um futuro seguro, mesmo que se sentisse insegura. A sua mãe não viveu o suficiente para presenciar a sua vitória. Para receber o seu dote de boa domesticadora, de mãe capaz. E quanto a ela, o que havia recebido de tudo aquilo? Um casamento de aparências, um relacionamento matrimonial falso, seguido de insubordinação a um homem, que só tinha em vista seus interesses pessoais. Talvez milhares de mulheres dessem a vida para se encontrar numa situação como a sua. Liberdade financeira, um ótimo círculo social a sua volta, festas e badalações na high Society
.
Mas até que ponto estás fantasias sociais poderiam comprar os seus sonhos? De um homem para dividir seus problemas, quando juntos na cama, de uma participação verdadeira de mulher junto as questões do casamento. Ana não queria só aquela vida paramentada e articulada por uma cúpula de aparências e atitudes positivadas por uma sociedade machista. Vivendo apenas o papel da mulher para servir ao seu homem. Estava certo de que tudo não passava de um simples começo, que ainda era cedo para tirar conclusões precipitadas para uma união que segundo princípios divinos deveria ser duradoura. Mas sabia também que pouca coisa poderia mudar, na sua trajetória de mulher de uma figura pública. Era este o preço pago por uma vida sem limites e de supra afinidade com o poder. Falsidade, insatisfação, a privação dos direitos daquilo que a própria natureza lhe oferecia em termos de corpo, de amor.
Não iria culpar a mãe por ter lhe jogado a felicidade pela janela, como um objeto que durante a queda vai vendo as coisas acontecerem e não tem forças para alterar a sua ordem. Não iria culpar a si mesma por durante toda uma vida ter acreditado que poderia ser feliz, por fechar os olhos para o perceptível, visto que o imaginário sempre foi mais fácil de alcançar. Agora estava ali, estática, compenetrada em dúvidas e imagens que somente o tempo iria responder. Voltou-se para o mundo real: As sete um chá de recepção em homenagem ao novo posto. Uma agenda repleta de compromissos, a continuação daquilo que lhe fora reservado.
VI. A PRIMEIRA-DAMA
PARTE I
Ao voltar do passeio. Marcos sentiu-se visivelmente melhor. É claro que o dilema continuava, ir ou não ir para o palácio do planalto morar com o pai? Lídia no passeio tentava lhe fazer a cabeça. Falou sobre a importância política de sua viagem a Brasília. Importância política? Será que os problemas do mundo se resumiam a convenções? Refletiu. Aquilo lhe fazia lembrar dos colégios religiosos que frequentava quando criança, das aulas apologéticas na qual sempre o padre frisava a importância dogmática de Deus.
Será que no fundo ele queria dizer a mesma coisa? Devemos saber sobre religião porque também de certa forma ela faz parte da nossa história, eu dou aulas de história, mas também acredito nos princípios divinos. Sim! O padre havia lhe dito aquilo, após uma pergunta sua em que acreditar. Agora indiretamente Lídia tocava num assunto parecido. Ela responderá da seguinte maneira para Marcos: ---- Você não precisa ir só porque ama ou deixa de amar seu pai, o importante é que ele pode dar-lhe tudo, e com o tempo você retribui isso com amor. Será que deveria ser assim mesmo uma relação entre pai e filho?
Se o fosse então ele deveria o amar mais ainda porque o pai tinha posses para lhe dar o que quisesse. A grande questão do dilema, era que definitivamente Marcos e o pai não pensavam da mesma forma. Seu pai nunca iria conseguir enxergar as coisas com os olhos de um salvador. Sentimentos a parte, ideais convictos, a água e o óleo nunca se infundiriam, nunca chegariam a um acordo. Ele em busca de um mundo melhor, em prol de uma redução das desigualdades sociais, de mais assistencialismo aos precisados. O pai era um homem vivenciado e sem nobreza, nem muito menos com espírito juvenil.
No fundo ambos sabiam que nada mudaria, que sempre haveria está divergência ideológica. Rui apostava no seu mandato, naquilo que poderia usufruir dele e sem medo de utilizar todas as manobras. Marcos se julgava um idiota com sentimentos patrióticos e inseguro apesar de tudo que lhe cercava. Agora naquele exato momento ele sabia que precisava romper. Como o filho do criador, sua missão era resgatar a si mesmo. Da sociedade hipócrita que vivia, das mentiras e dos interesses pessoais das pessoas que o cercavam. Ele seria apenas ele mesmo, numa conduta de luta, de novas descobertas, de novos caminhos. Porém caminhos esses que fossem traçados com as próprias pernas, sem o apoio de muletas que mais tarde o faria enxergar que não passava de um dependente. De um dependente alimentado pelo poder daqueles que só amavam o poder. Se perguntou o que ainda estava fazendo ali, se discordava da forma filosófica como vivia. A resposta era simples e direta, o medo da vida lá fora. Dos obstáculos que a mesma oferecia a aqueles que ainda a encaram como um bicho de sete cabeças. Como sempre o medo, aquele que cegava a razão, que impunha aos inseguros caminhos únicos e paralelos de uma só saída. Porém já era importante seu avanço, continuou a pensar Marcos, tinha dado um grande passo ao reconhecer suas fraquezas. O segundo passo e de vital importância era se livrar de tais opressões e conduzir soluções.
Sim agora ele estava definitivamente a enxergar o que seria uma nova vida. Lembrou que tinha acesso a uma pequena economia guardada em uma conta que sempre recebia das mesadas do pai. Poderia alugar um pequeno apartamento e depois arrumar um emprego, qualquer lugar que pudesse começar uma nova fase de uma nova vida. Era só isso que desejava naquele momento, viver como uma pessoa normal, pagar suas contas, ter sua tão sonhada liberdade. Sair daquela redoma de vidro que o sufocava, será que era pedir demais? Olhou para o teto tentando imaginar