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Jardineiras Da Terra Do Imaginário
Jardineiras Da Terra Do Imaginário
Jardineiras Da Terra Do Imaginário
E-book999 páginas14 horas

Jardineiras Da Terra Do Imaginário

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Sobre este e-book

O futuro não está definido. Nós podemos mudar os rumos dos acontecimentos. Nina está na aldeia verde, junto a seu marido Diaderano. Os espectros se preparam para invadir a aldeia e as províncias vizinhas. Os aldeões se preparam para a guerra, mas um grave segredo está para ser revelado. Os mundos livres não são o que parece. Nina se ver diante de um enorme jogo de intriga. Agora ela e seus amigos terão de lutar enquanto buscam pela verdade.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de fev. de 2024
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    Jardineiras Da Terra Do Imaginário - David Nascimento Ramos

    Jardineiras da terra do

    imaginário.

    Um novo caminho para o

    amanhã.

    Fase 1.

    Iniciação

    1

    A garota despenca após uma forte sucção astral. Sem firmeza nos pés e em todo seu corpo, ela é jogada de um lado para o outro, seu grito trava na garganta. Ninguém a escuta. Apenas uma voz masculinizada de demônio ecoa em sua mente. Uma lembrança passada: _____ Isso mesmo guardiã.

    A deusa deste lugar não te deu poder algum, são suas lembranças retornando, você não depende da glória de Afrodite para poder lutar com a força de um titã. Você já é uma. Você é neta de Ares. Só não sabe ainda. Mate este corpo e nós pularemos para o seu.

    Toda esta inconstante queda, trata-se do portal de manasses, que futuramente ela descobrirá ser sua obra. Na queda suas lembranças se misturam a uma profunda angustia e solidão. Os vampiros que a atacou anteriormente, no jardim secreto, ainda assombram seus pensamentos, assim como o demônio que possuiu a filha de Eva. No entanto, pouco a pouco, estas sensações malignas vão ficando para trás, na medida em que a queda termina. A moça cai sem ter onde se segurar, sacudindo braços e pernas. Lembra-se vagamente da sala de eletrocussão e dos médicos que a monitoravam através de uma parede de vidro. Lembra-se também do dia de sol e do banho de mangueira que toma no gramado do jardim de sua antiga casa em nova York. Na ocasião, ela, seu marido, sua filha de 9 e seu filho de 8 aninhos se divertem como nunca numa guerra de água. A nave espacial esferada, que viaja no tempo, estão com eles. A mulher abraça seu filho enquanto seu marido a abraça, igualmente abraçado com a menininha de cabelos negros e pele branca. Juntos os 4

    sorriem. No auto da casa, um discreto arco-íris se forma no contato da água com o dia quente. A lembrança alegre ganha um aspecto melancólico e se mistura a dura lembrança da sala de eletrocussão. A garota finalmente consegue gritar: _____DAVID, ME AJUDA!

    Alguns segundos parecem horas. Mas a queda teve um fim. A moça aparece caída de bruços sobre uma terra seca, quente e salgada. Felizmente sem graves escoriações. No entanto, se sente dolorida.

    Leva alguns instantes para que ela recupere sua consciência. Abre seus olhos e se levanta com muita dificuldade. O peso de seu corpo é equivalente ao peso de um planeta. Mas é pura sensação, que passa com o pesar da realidade. A moça ainda está zonza. Com muita dificuldade abre seus olhos.

    Olha atônita para os quatro cantos escuros. Percebe inúmeras fissuras, cachoeiras de fogo ardente escorrendo dela e muitos fincos no altíssimo teto. Imagina que está dentro de uma caverna de coriza.

    Não vê nenhuma saída. Se assusta com o rio de fogo que a cerca. Percebe que está no meio de uma enorme porção de terra rodeada por um rio de lavas. O cheiro de enxofre, o calor desconfortante e o pouco oxigênio a faz ter dores de cabeça. Ela não tem para onde ir. É natural ceder ao desespero.

    Porém, uma voz masculinizada lhe vem à cabeça. Uma voz firme, mas terna parece nascer de dentro de seu cérebro. A jovem a escuta como se houvesse alguém a sua frente. Ela diz o seguinte: _____ jardineira. Jardineira das recordações. Acorde. Acorde para a vida.

    _____mas que dor de cabeça. Até parece que estou escutando coisas. – Resmungou a jovem caindo de joelhos com as mãos nos ouvidos.

    _____ jardineira. Jardineira. Levante-se, o seu trabalho ainda não terminou. – A voz volta a lhe incomodar. Agora a jovem tem certeza que alguém tenta fazer contato.

    _____ QUEM É VOCÊ? – Ela questiona não gostando do tom de mando da voz, e muito menos do rio de lavas que cerca a pequena ilha, na qual ela está.

    _____ eu sou o senhor das almas penadas. O soberano deste lugar. Eu sou o deus do submundo. – A voz a respondeu.

    _____submundo? Não. Isso quer dizer que... – resmungou analisando o ambiente, que nunca pensou que estaria.

    2

    _____ ISSO MESMO. Este é um dos quatro infernos. Aqui é meus domínios. Aqui é o tártaro. E eu sou Hades. – A voz a respondeu sem vacilar.

    _____Hades? – A garota questionou confusa.

    _____Hades. – A voz confirmou. Desta vez mais amena.

    _____ isso não pode ser... se você é Hades, isso quer dizer que eu morri? – Tristonha, a garota concluiu apressadamente. Depois se levantou do chão.

    _____ não. Claro que não. Ainda há sangue circulando em suas veias. Você não morreu. Você veio para cá por acidente. Esta é uma de suas habilidades, jardineira. – Negou a voz de Hades.

    _____PARE DE ME CHAMAR DE JARDINEIRA! – A garota ficou estressada diante daquele ambiente calorento.

    _____ mas é o que você é! Você é uma delas! Uma poderosa estrela dentre as milhares que existem no universo. Você é uma delas, uma jardineira. Uma das mais poderosa. A jardineira que pode atravessar para além da realidade. A jardineira das recordações. E seu jardim é um dos mais bonitos.

    Neta de Ares, é quem você é. – Hades a respondeu de maneira debochada.

    _____ você está louco. Está me confundindo com outra pessoa, só pode ser. Eu sou humana da terra. Meu nome é... – Tentou explicar, mas...

    _____ NÃO, NÃO ESTOU! – Hades a interrompeu.

    _____ o que? – A jovem resmungou.

    _____ eu sei quem são vocês. Cada uma de vocês. Eu conheço seu avô. Ares, deus da guerra: o primogênito de Zeus. Ele se rebelou contra o próprio pai e todos os deuses, mas foi traído, vencido e banido. No fim Ares se mostrou um grande fracasso. – A voz insistiu expressando levemente sua opinião sobre o deus da guerra.

    _____ eu não sou neta deste tal Ares. Eu sou humana. Eu estava no jardim secreto junto a minhas amigas quando fomos atacadas por vampiros, inclusive... inclusive... inclusive a própria dona do lugar também foi infectada, sabe... possuída por um demônio e tentou nos matar, daí... – a moça tentou explicar rapidamente, para assim escapar do mal-entendido, mas sua voz estava cada vez mais seca.

    _____ daí você liberou um poderoso portal místico, que não sabe explicar de onde veio. Um portal que quase destruiu você, a possuída e todo aquele ambiente. Digo, você, Florença e o jardim secreto, para ser mais claro. Acha mesmo que os olhos no mundo negro não veem o que se passa no mundo material? Bom, para seu conforto, Florença escapou no último segundo, graças ao mestre dourado, mas você não. Ele escolheu salvá-la, e não você. – Explicou Hades toda a situação.

    Uma lama voadora, escura, carregada de maldade, desejo e energia veio das longínquas paredes.

    Ela rodeou a jovem exploradora buscando uma brecha para entrar em si. Trata-se de uma escuriose muito peculiar existente apenas no mundo espiritual. A jovem se assustou, mas um estranho campo invisível, parecido com uma bolha a protegia dos ataques do mal. Ela não sabe explicar da onde a proteção vinha. Seguidamente, barcos de madeira surgiam sobre o rio de lavas. Navegavam lentamente sobre ele, sem se aproximar da ilha. A garota ficou impressionada como eles não afundavam em chamas. Também, uma grossa nevoa radioativa cobria a região sul. Mas, após ela se dissipar, a jovem pôde perceber outra extensa porção de terra. A atenção da jovem estava dividida entre a lama voadora, os grandes navios e a praia do outro lado do rio de fogo. Principalmente na praia.

    3

    _____ você conhece Florença? – Questionou a garota encucada, tentando ganhar tempo.

    _____ conheço mais do que você imagina, jardineira. – Respondeu a voz.

    _____ meu Deus, o que foi que eu fiz? David, Nina, meus amigos... eles... – a garota novamente caiu em prantos com as mãos no rosto. Recordava aos poucos do episódio do jardim secreto. Perdia as esperanças de concertar as coisas.

    _____ tudo isso já aconteceu a muitos meses atrás... – Hades cronometrou.

    _____ QUER DIZER QUE EU ESTOU AQUI HÁ MESES? – A garota recobrou seu juízo se levantando do chão. Estarrecida e encucada.

    _____ o tempo passa de maneira diferente no mundo dos mortos, criança. – Desta vez, a voz de Hades parecia surgir de todos os lugares. E não apenas da mente da garota ilhada.

    _____ ISSO NÃO ME INTERESSA. HADES, DEIXE-ME SAIR DESTA PRISÃO. – Gritou a moça se sentindo coagida.

    _____ mas você não está presa aqui. – Hades a confundiu.

    _____ eu estou no meio de uma ilha rodeada de fogo. – A garota o lembrou.

    _____ então é só imaginar uma ponte que a leve para o outro lado. – Sugeriu Hades.

    _____ como? – A moça ficou confusa.

    _____ acreditando. – Respondeu Hades.

    A moça não teve outra alternativa. Já estava no fundo do poço. Então cedeu a proposta. Imaginou uma ponte que liga a ilha até a outra porção de terra. Uma ponte meia lua de corrimões prateados e brilhantes surgiu. Igualzinha a aquelas dos contos de fada. Uma grande passarela sem cobertura, que começa na ilha e terminava no outro continente. A jovem de vestido azul claro, não sabia se era seguro atravessar. Pensou ser mais uma armadilha do deus do submundo. Imaginou que a ponte sumiria quando ela estivesse bem no meio dela. Imaginou que cairia do rio de lavas ardentes.

    Atravessá-la seria um risco inimaginável. Porém, ela não tinha escolha. Avançou de passo a passo.

    Atravessou a ponte. Lenta e cautelosamente. Finalmente chegou ao outro lado. A lama escura e voadora a seguiu. Mas não conseguiam atravessar o poderoso campo de força que a rodeava. A jovem se sentiu mais segura de si. Sua confiança aumentou. Porém, as investidas de Hades voltou a lhe perturbar o juízo.

    _____ jardineira, jardineira...

    _____ como alguém comum pode...? – A moça olhou para as próprias mãos nuas e ...

    Percebeu ser capaz de mover tudo ali: as fendas, as fissuras, o rio de lavas, os barcos de madeira que navegam sobre ele e as criaturas bizarras que se escondiam nos estreitos dos estreitos de cada parede. Olhou para as construções em ruinas a sua frente. Sentia-se capaz de movê-las, destruí-las ou refazê-las como bem quisesse.

    _____pode fazer o que você faz? – Completou Hades. Depois prosseguiu: _____ eu já lhe disse.

    Você não é uma humana comum, aprendiza de Miagara (também conhecida como Megara) você é um titã. Tão forte quanto eu. Tão forte quanto as jardineiras que estão no topo das jardineiras mais poderosas.

    4

    _____ ah, é mesmo? Que droga, quem são estas jardineiras? – Questionou a garota tentando entender enquanto olhava para todos os lados. A sua frente havia uma cidade em ruina. Certamente buscava encontrar uma saída.

    _____ elas são seres meio divinos, meio humanos, e algumas meio deformidades-abomináveis-horripilantes. Mas a maioria são amazonas guerreiras ou seres angelicais. Algumas como você são titãs a serviço de alguém. Mas a verdade é que as jardineiras são os seres mais atraentes de todos os tempos. Ninguém, nem mesmo um deus como eu poderia resistir ao encanto delas. – Respondeu Hades expressando um pouco sua opinião na última frase. A garota suspeitou que o deus do submundo já se envolveu amorosamente com alguma delas.

    _____ bom, isso não me interessa. Quero voltar a Descrevessia e rever meus amigos. Quero saber se eles estão bem. – Desejou a garota. Olhava para todos os lados, mas não encontrava uma saída.

    _____ muita coisa mudou desde que você desapareceu, jardineira. Não é tão simples assim. –

    Hades a desanimou.

    _____ ISSO TAMBÉM NÃO ME INTERESSA! HADES, EU ORDENO QUE ME LIBERTE DESTE ABISMO! –

    Ordenou ao deus do submundo.

    _____não sejas afobada, minha criança, você está em meus domínios. Aqui quem manda sou eu. –

    Hades a lembrou. Desta vez, sua voz falou tão forte na mente da garota, que a fez sentir uma agulhada terrível direto no cérebro.

    _____aiiiiii. – A garota quase gritou de dor. Ela caiu de joelhos, com as mãos nos ouvidos, mas não abaixou a guarda.

    Seus olhos lagrimejaram, levemente escureceram. A moça não desanimou. Levantou-se do chão resistindo as investidas mentais do mestre das trevas. Esta conversa telepática já estava mais que na hora de acabar, no entanto Hades queria algo dela. Não deixaria esta oportunidade passar despercebida. A jardineira já suspeitava disso, desde o princípio.

    _____ se eu sou esta super titã que afirma, então posso acabar com este lugar com apenas um desejo. E com você também. Se fosse mais esperto teria medo de mim. – Ameaçou.

    _____ é verdade. Meu poder quase se iguala ao seu. Se lutássemos, certamente ambos nos desgastaríamos numa dura luta de sangue e dor. E ninguém sairia vencedor. Mas tenho outra alternativa. – Concordou Hades ainda em simples comunicação mental.

    _____o que quer de mim? – Questionou a jovem indo direto ao ponto.

    _____ nada demais. Primeiro te mando de volta para a terra do imaginário. Para algum dos reinos aliados desta época atual. Escolha qualquer um que quiser. Farei isso com a máxima rapidez e segurança que o mundo sombrio pode oferecer. Acredite em mim. Isso é melhor do que você ficar vagando sozinha por estas terras inférteis e cruéis, buscando uma saída que nunca achará. Mas eu te mostro a saída, em troca de um pequeno favor. – Começou Hades a falar diretamente na mente da jovem.

    _____ que seria? – A moça ficou curiosa e apressada.

    _____ pois bem, vamos aos negócios. – A voz não perdeu tempo.

    _____ negócios? – Estranhou.

    5

    _____ Ares, deus da guerra, seu avô, roubou de mim um pertence muito valioso. Uma das 4

    relíquias mais cobiçadas do olimpo. Você já ouviu falar das lendárias caixas de Hera? – Questionou Hades.

    A garota negou com um aceno de cabeça. Não fazia a menor ideia do que a voz falava. Duvidava até que realmente fosse a voz do poderoso deus do submundo, que insistia em não se revelar fisicamente. Hades prosseguiu: _____ então, eu possuía duas delas. Eu possuía a caixa do fogo e a caixa da terra. Mas a caixa do fogo sumiu misteriosamente. Depois a caixa da terra foi roubada por Ares.

    _____ como sabe que foi Ares que roubou de você? – Questionou a garota cruzando os braços.

    Difícil seria acreditar nesta história toda.

    _____ah, esta é uma pergunta muito interessante. Mas basta você saber que tenho fontes confiáveis em todos os mundos físicos. A caixa do fogo já está perdida, mas a caixa da terra não.

    Recuperado a caixa da terra, a da água e a do ar, aí finalmente poderei recuperar a caixa do fogo das mãos daquela que tem mais luz do que qualquer anjo no céu. – Planejou Hades pensando na bailarina de luz branca.

    _____ quem está com a caixa dos fogos? – Questionou a garota tentando digerir a história.

    _____ não me diga que não sabe? Você a conhece muito bem desde que ela nasceu. Mas ela não vem ao caso agora, preciso muito de sua ajuda para saber o que se passa no palácio do deus da guerra. Você tem sangue real. Eles te reconhecerão como família. Poderá facilmente entrar. Assim que avistar a caixa da terra. Pegue-a e traga-a para mim. Quero ela antes que meu irmão Zeus a descubra. – Explicou Hades ansioso.

    _____ espere um pouco, por favor. Eu vim para o submundo e você fala de eu ser neta de Ares e ser uma jardineira, fala de palácios, de caixas místicas. É muita coisa para mim digerir. – Pausou.

    _____ é natural ficar confusa, mas não se preocupe em entender o quadro por inteiro agora. Só preciso saber se temos um acordo. – Insistiu Hades.

    _____ lógico que não! Você é um deus mau. Só quer estas tais caixas de Hera por pura ganância e poder. No fim, é só isso que importa: o poder. – Negou a garota de vestido azul claro não querendo dizer um SIM apressado e sofrer sérias consequências depois.

    _____ está enganada minha jovem, eu não sou tão mal assim. Caso não saiba, no passado, eu e meus dois irmãos matamos nosso próprio pai, Chronos. Ele sim era mal e não deixava a criação acontecer. Devorava seus próprios filhos. Mas nós o silenciamos no abismo mais profundo. Fizemos um grande bem a todo o cosmo. Depois disso, na partilha dos mundos, Zeus levou a melhor reinando sobre o céu do olimpo. Já Posseidon ficou com todos os oceanos e rios. Atena se apossou da terra e tudo que me restou foi este abismo nojento. Quando seu avô atacou todos os deuses, eu fui o mais prejudicado. Não tinha nada com que me defender. Quero as caixas para saber o que Hera sabe.

    Quero as caixas para poder ficar de olho o olimpo e poder me defender de um futuro ataque dos outros deuses. Só isso. – Narrou Hades expondo seu lado da história.

    _____ é o que todos os canalhas dizem. Mas isso é uma briga de família que não quero fazer parte.

    – Negou a jovem, desta vez dividida entre sim ou não.

    _____ eu entendo, minha criança. Não é fácil trair seu avô. Aquele que nunca deu a mínima para você. Ares não merece a sua lealdade. Você sabe disso. – Jogou Hades com os sentimentos da garota de vestido azul.

    6

    _____ eu só quero poder rever David, Nina e meus amigos. Eles são muito importantes para mim. –

    Concordou a jovem convencida de que não deve nada a deus algum. Principalmente a um avô que nunca procurou saber nada sobre a própria neta.

    _____ ótimo! Que bom que temos um acordo. No devido tempo mandarei um mensageiro até você para te instruir desta importante tarefa. Espero que se lembre, jardineira das recordações. –

    Comprometeu Hades fazendo a nuvem de lama flutuante desaparecer.

    _____ não se preocupe. Eu não sou de arregar. – Disse a jardineira.

    _____ é bom mesmo, pois se me trair você voltará para cá pelo resto da eternidade. – Ameaçou Hades.

    _____sei. – Consentiu a jovem afoita por sair logo daquele inferno.

    _____ assim espero. – Prolongou Hades.

    _____ Hades, pelo seu bem, espero nunca mais voltarmos a nos ver, senão eu é que torcerei seu pescoço. Eu juro que vai se arrepender de me ter por aqui. – Desta vez foi a jovem que ameaçou.

    _____ então como espera me entregar a caixa da terra? – Questionou Hades furioso fazendo o lamaçal voltar a surgir ao redor da jovem.

    _____ você disse ter um mensageiro. Te mando através dele. Agora cumpra o que prometeu.

    Mostre-me a saída. Ou será que a palavra de um deus grego vale menos que a de um humano? –

    Provocou assumindo o controle da negociação.

    Um buraco de fogo se abriu numa das gigantescas montanhas daquela caverna de coriza. Na entrada dele uma pequena luz revelou uma passagem circular para outra dimensão. A garota caminhou até ela sendo seguida pelo lamaçal voador. Pequenos diabinhos notaram a presença da guardiã intrusa. Criaturas macabras, pequeninas, magras, estranhas, dentuças, carnívoras, muito feias caminhando como símios. Saindo de todas as fissuras, dos tetos, das paredes, do chão e até de dentro do rio de lavas ardentes. Centenas delas, milhares. Correram na direção da guardiã.

    Obviamente planejavam lhe devorar sua carne. Uma delas chegou muito perto e pulou sobre a garota, mas foi broqueada pelo campo de força que a protege. A jardineira não perdeu tempo com eles. Atravessou a luz. Foi sugada pelo turbilhão de fogo rumo a outra realidade. Para cima e avante.

    Pensava apenas em David, Nina e Mega. Voltava para o mundo físico no momento mais decisivo do início de uma guerra entre a luz e as trevas.

    Desta vez seu coração estava cheio de esperança. Não estava certa se faria o que o deus das trevas lhe pediu. Não queria nem acreditar em tudo que ouviu no inferno. Sobre Ares ser seu avô, sobre as caixas de Hera, sobre as tais jardineiras, sobre tudo. Queria apenas escapar deste terrível pesadelo de fogo e calor. A garota esbelta só pensava em se refrescar. A água está mais adiante. Em Descrevessia há inúmeras piscinas, chafariz, riachos e cachoeiras. O sábio das coisas futuras afirma que quando alguém volta do inferno, este alguém volta mais forte do que antes. A exploradora se sentia assim: avivada, uma super-heroína pulando do abismo com os punhos cerrados e apontados para a frente, pronta para salvar o dia. Do inferno a realidade carnal e perecível. A jardineira das recordações volta para a terra do imaginário.

    Capítulo 1

    18 anos antes da era atual.

    7

    É primavera. O vale sagrado vibra de alegria. Um extenso jardim de roseiras vermelhas cobrem grandes espaços de terra; começa da beira do monte e termina nas margens do rio das lamentações.

    É um ambiente jovem, de céu azul anil com nuvens gordinhas, e que nasceu pelo poder angelical da dona daquela propriedade, há algumas semanas. Uma garota está em seu centro. A dona daquelas terras. Ela é uma garota Descrevessiana. Possui um olhar juvenil, porem centrado, decidido e malicioso. Usa vestes típicas de sua terra, roupas brancas de uma bailarina, vestido branco e fino com saiote, sapatinhos e meia calça. O solo crespo abaixo de seus pés não a incomoda, pois, sua luz branca, ao redor de seu corpo, afasta qualquer incômodo e lhe dar mais conforto por onde pisa.

    Possui em sua mão direita uma vara branca com ponta fina. Um presente de um professor-cavaleiro.

    Feita do caule da árvore de tangerina, aquela varinha era uma das mais poderosas de sua época.

    Muito rara. Só existiam outras seis iguais a ela. Tinha uns 25 a 30 centímetros de largura, inflexível, porem poderosa. Com aquela arma, a jovem poderia manipular magia. Tanto a sua quanto a de seu adversário. Seu olhar é fixo no outro canto do jardim. Ela espera a chegada de alguém muito importante. Está ansiosa e também alarmada.

    O vento sacode as flores, a relva e a superfície das águas do rio fazendo balançar seus cabelos cacheados e curtos, os quais caem na altura de seus ombros. A tímida luz branca ao redor desta iniciada, começa a ficar mais acesa, ocupando cada vez mais espaço. Seu poder pressente a aproximação do mal. Minusculamente cresce ao redor de sua portadora destemida. Ele a adverte para ela fugir ou atacar a aparição com todas as suas forças. A moça de semblante alegre o ignora.

    Mas agora é tarde demais. As sombras finalmente chegaram.

    Do outro lado do vale, outro jovem aparece. Ele é alto e magro. Surge por detrás de uma casinha de sapê, a qual dá acesso a outra dimensão. Ele é muito calado. Caminha devagar, porem com passos decididos. Uma pequena nuvem escura, muito escura, o segue discretamente, encobrindo as rosas, a casinha e ele próprio. O vale de roseiras, todo ele, é hostil ao jovem recém-formado do mundo sombrio. O vento primaveril evolui para fortes trombadas de ar. O ambiente ficou muito desconfortável. A luz branca de Mona ao redor da bailarina quer duelar contra ele, assim como a energia escura dele também reage a toda esta rejeição. Raízes das árvores mais próximas se movem abaixo da terra criando cordões para o laçar e o enforcar até a morte. Tudo que antes dormia sossegado, ganha vida e o ameaça atacar. É como se o vale inteiro lhe desse constantes avisos para se retirar. O jovem já está acostumado com tanto desprezo. Já sabia o que lhe esperava, pois foi avisado pela dona daquele espaço. Se fosse atacado, certamente haveria uma dura luta do ambiente florido contra o visitante das trevas. A garota portadora da luz branca pressentiu o confronto e interferiu para o eliminar antes de começar. Estendeu sua varinha branca de tangerina ao céu.

    Moveu-a de um lado a outro. Disse algumas palavras apaziguadoras. Ordenou que um caminho se abrisse de uma extrema ponta a outra. Isso aconteceu. O amor da vida dela pôde se aproximar sem medo de represália.

    Como num passe de mágica, a plantação se afastou. Agora finalmente o jovem se aproximou com sua pesada aura carregada de energia escura. Ele ruma na direção daquela bambina bailarina, de decote atraente e vestido apertado. Deseja e muito tocá-la, abraçá-la, beijá-la, e ficar com ela o máximo de tempo possível. Estava carente por seu amor. E tal carência é sua maior fraqueza. O

    jovem usa vestes vermelhas de camponês. Que o diferencia socialmente de sua amada. Ele fica frente a frente com ela, mas quando tenta uma investida amorosa, ela aponta a varinha branca para ele e o impede:

    _____ Rabana, filho de Beth-Odete. Vai com calma. Temos a vida inteira pela frente.

    _____ eu não. Você prometeu! – Cobrou dela.

    8

    _____prometi e vou cumprir. Você é meu guardião pessoal. Mas também é o amor da minha vida.

    Quer prova maior? Eu abdiquei de todos os meus direitos de nascença. Todos os direitos recebidos em cartório pelo reino de Esteimância, o que não é nada pouco. Tudo por amor. Tudo pra ficar com você. – Recapitulou seus últimos atos.

    O jovem ficou constrangido, pra não dizer humilhado. A garota fechou o semblante. Moveu sua varinha ao céu novamente. Sua magia branca, transparente, quase invisível, entrou em ação. As rosas vermelhas ficaram brancas. Tão brancas quanto suas vestes reais. Alguns insetos voaram pela redondeza, reverenciando a jovem e repudiando o visitante. Novamente raízes de árvores moviam abaixo do casal, mas desta vez por permissão da branquinha. Elas apareciam de todos os lados, trançavam umas com as outras dando formas a um suporte. Logo outros e mais outros suportes. No fim, as criações artesanais se uniram dando forma a um banco no meio do jardim. Perfumado.

    Ornamentado de ramalhetes. Um banco de três lugares. Semelhante a um banco de praça. Agora só lhe faltava o assento com estofado. A garota moveu sua varinha e fez o estofado aparecer. O jovem ficou impressionado pela capacidade criativa daquela figura falsa-magra que ele gostava demais. A feiticeira o convidou. Assentou-se numa ponta enquanto o jovem se assentou na outra. Os dois ficaram frente a frente e poderiam conversar mais confortável. Muito havia de ser decidido depois da traição que esta garota belíssima cometeu contra o reino branco. Cometeu e não se arrependeu.

    Os dois pareciam duas crianças, tinham idades entre 16 e 18 anos. Mais sabiam exatamente o que faziam. A jovem tinha expressão mais alegre. O rapaz uma expressão mais triste, fechada, sofrida e séria. Havia também marcas de queimaduras em seu rosto. A garota as acariciava sentindo muita pena. Deixou escapar: _____ nunca mais terá que sofrer nas mãos daquele seu mestre desalmado.

    _____ Emma, por favor, não. – O jovem segurou firme a mãozinha dela. Detestava quando sentiam pena dele.

    _____ não, o que? – A moça recuou.

    _____ não faça isso. Tudo que passei foi bom para me fortalecer. Meu mestre fez o que fez para me ajudar a aumentar meus poderes.

    _____ isso não justifica roubar sua infância e lhe dar um treinamento tão cruel e desumano. Samoro é um monstro. Mas você não precisa mais se preocupar. Nem com ele e nem com a escuriose. Nova vida a partir de agora, bebê. Apenas eu e você. Todo o resto ficou para trás. – A jovem o acalentou.

    _____ a escuriose. Este poder é muito sombrio e quer me levar a qualquer custo. Ele vem crescendo dentro de mim a cada dia. Me envenena. Você entende? Eu não tenho muito tempo. – Rabana ergueu o punho direito ao céu. Um fogo negro com choques vermelhos o cobriu por completo. Era detestável, indomável. Um parasita em busca de novos hospedeiros.

    _____ eu entendo, meu amor. Somos jovens demais para lidar com isso agora. Mas vamos ganhar prática. – Comentou com desdém.

    _____ não entende não. Eu preciso me livrar disso. Eu tenho que ir embora para bem longe de você antes... antes que ele te machuque. – Reclamou Rabana sendo realista sobre as propriedades da escuriose.

    _____ É isso que está te incomodando? – A feiticeira fez cara de incrédula, menosprezando a energia escura.

    Emma é a garota destemida. Não via a escuriose como o mal do século. Estendeu sua mão direita para a frente e a invocou. A mesma chama negra tomou conta de seu braço. Emma brincava com ela 9

    movendo suas faíscas de um lado e do outro. Sem medo algum. Assentada naquele banco branco, ela aproximou seu corpo do camponês. Sua mão em puro fogo negro ficou frente a frente com o fogo negro de Rabana. Ambas trocavam faíscas. Emma parecia uma garota arteira com cara de quem aprontava alguma travessura. Rabana a estranhou. Estranhou este jeito desinibido, que tanto o atraiu. _____ eu também posso controlar a chama negra. Ela é bem pervertida. Desperta na gente uma tara tão grande. É bem diferente das outras chamas. Mas confesso que é dolorosa de se manter ativa por tempo demais. Não sei não, viu. Não acho que seja este bicho papão que todos pregam.

    Confesso que acho ela uma gracinha. – Comentou com o olhar arqueado.

    ______ é melhor não brincar com ela, Emma. – Rabana ficou receoso. Nisso, fez a chama de seu braço desaparecer.

    _____ah, que bobagem. – Emma birrou. Também fez a chama negra desaparecer de seu punho.

    _____ descobrir recentemente que sou a prometida de Miguel Arcanjo. Tenho as mesmas propriedades que um serafim. Isso quer dizer que estou no mesmo nível que os deuses gregos. Ou até mais alto que eles. Este poder parasita não pode comigo. É um monte de nada. – Gabou-se arrogantemente de sua essência divina.

    _____ isso é verdade? Você é a prometida? – Questionou Rabana desconfiado.

    _____ sou sim. O próprio Miguel revelou isso a mim. Posso controlar todos os elementos de vida e todas as chamas de luz. Por isso te disse para não se preocupar. Posso te livrar das trevas a hora que quiser. Mas só farei isso depois que fugirmos para bem longe deste lugar de gente ignorante. Confie em mim, meu amor. Já está tudo preparado. – Confirmou Emma planejando seu futuro ao lado do camponês.

    _____ eu não sei, não. Você confia demais. Está noivada do mauricinho Diaderano. Sabe que se romper este compromisso, Diadera e Descrevessia vão te caçar como um animal. – Analisou Rabana a situação atual de sua musa inspiradora.

    _____ tou nem aí. Sheyrrã é um garoto patético. Nunca vou amar alguém assim, tão...- desdenhou Emma com cara de nojo, evitou dizer o que pensava. Tirou o corpo fora. Viu a situação de outra maneira: _____ além do mais, este casamento foi armado pela minha família e a dele. Não tenho nada com isso.

    _____ quando souber de nós dois, o Diaderano não vai gostar nada, nada. Sheyrrã sempre foi acostumado a ter tudo que sempre quis. – Rabana deixou escapar. Não tinha medo de Sheyrrã. Só não queria entrar em conflito com ele e piorar tudo.

    _____ dane-se o que ele gosta ou deixou de gostar. – Emma desprezou Sheyrrã. Aproximou seus lábios dos lábios de Rabana e completou: _____ Quem eu amo está bem aqui na minha frente.

    Rabana encostou sua testa na testa de Emma, acariciou seu rosto, tinha muita vontade de beijá-la, mas uma dúvida corroía seu coração. _____ como pretende me curar? Pedindo ajuda a Miguel?

    Emma perdeu o clima romântico, afastou contrariada, mas aproveitou para menciona outro detalhe: _____ é claro que não. E nem preciso chegar a este ponto humilhante. Eu tenho meu dote. –

    Neste momento, a princesa juntou as mãos fazendo gestos esféricos. Sua magia transparente, ficou mais branca que a neve, depois tomou a forma dourada. Uma esfera de luz dourada apareceu por entre elas. O fogo dourado transportador se manifestou. O poder dourado interagia benevolente com a chama branca, e hostilizava a escuriose. Daquela luz surgiu um objeto musical. Feito de um material, muito parecido e reluzente como o latão. Uma flauta dourada pouco flexível. Transversal de 10

    pouco mais de 30 centímetros de largura. Quase do tamanho da varinha de tangerina. Com um anjinho desenhado, do tipo esculpido, em sua ponta. Emma estava encantada com o presente que recebeu. Seus olhos brilhavam quando ela falava. _____ veja isso, meu amor. Com esta flauta poderemos ficar juntos pra sempre.

    _____ onde conseguiu isso, Emma? – Perguntou Rabana se afastando para o canto do banco.

    Sentia-se desconfortável pela presença do objeto.

    _____ veio do céu. Este é um presente de Miguel pra mim. É um dos sete símbolos de poder dourado, que existem na terra do imaginário. Eu a conseguir a algumas semanas. Você acredita que Cristal tentou roubá-la de mim? – Respondeu Emma mencionando a ladra.

    _____ Cristal? – Descreu Rabana.

    _____ Pois é, a filha de Flayga do reino gelado. Ela mesma. Mas aquela idiota teve o que merecia.

    Ela tentou tocar uma canção de congelamento contra os mundos livres e acabou morta. A flauta a queimou até os ossos. Foi um fogo dourado bem terrível. Do jeito que Dorah gosta. – Respondeu Emma demonstrando aprovação pelo ocorrido.

    _____ como você sabe? – Rabana ficou impressionado. Nem ele que estava possuído pelas trevas tinha tanto desprezo pelos outros quanto aquela garota de aspecto juvenil.

    _____ por que eu posso sentir a flauta. Ela fala comigo em pensamentos. Quer dizer, Dorah fala comigo através dela. É isso. – Respondeu Emma de malgrado.

    _____pelo que meu mestre me contou, esta mulher chamada Cristal é uma das irmãs jardineiras do mundo gelado. Não é possível que ela tenha morrido por esta... coisinha aí. – Argumentou Rabana descrente. Olhava para o dote nas mãos de Emma, também o ambicionava ganancioso e obsessivo.

    Apesar de o desdenhar.

    _____ mas foi exatamente isso que aconteceu. Gabriela está de testemunha. Sabe a Gabriela da ilha das fadas? Ela mesma. Então... ela viu tudo. Esta flauta aqui é mais poderosa do que imaginávamos.

    Ela tira a vida dos pecadores desordeiros, mas também gera vida, pode renascer os mortos e trazer libertação. Inclusive do pior dos males, a escuriose. – Explicou Emma motivada.

    _____ É uma ferramenta que muitos matariam pra ter. – observou Rabana.

    _____ exato! Por isso eu te disse para não se preocupar. Com ela do nosso lado posso te salvar das trevas e juntos finalmente viveremos o nosso amor. – Os olhos da feiticeira branca brilhavam obcecados pela flauta, pela liberdade e por seu amor camponês.

    O vento soprou do Oeste para o Leste sacudindo os cabelos encaracolados da feiticeira branca. O

    ambiente estava favorável ao namoro. Rabana a fitava entrando no clima dos planos da branquinha.

    Os dois estavam assentados um de frente para o outro, num clima de casal que se encontra num jardim de primavera. O cheiro natural e a beleza superficial da bailarina o envolveu. Alguns instantes de silêncio entre os dois foi o suficiente para que seus corpos falassem mais que as palavras. Mesmo a chama branca de Mona sendo repulsiva a escuriose, os dois estavam profundamente atraídos, um pelo outro. Rabana se aproximou de sua amada num corpo a corpo com ela. Seus lábios cortados se aproximaram dos lábios doces, molhados perfeitos e medianos da bailarina. Emma o beijou na boca completando a aproximação. Rabana se sentiu estranho. Sentia sendo uma fera feroz seduzindo a mocinha indefesa. Mas apreciou aquele contato íntimo. E como apreciou. Faíscas de energia branca saiam de suas bocas queimando os dois. Incomodava, mas o beijo ainda era muito bom. Carnal e doce como o pecado. Rabana queria mais. Avançou. Mas a garota segurou em seus braços o detendo 11

    quando o apressadinho tentou tocar em sua cintura. A bailarina estava decidida a viver aquele amor completamente, mas, no momento, permitia apenas preliminares. O desejo no camponês só fez aumentar, assim como na princesinha fogosa.

    A flauta dourada estava entre os dois; no colo da garota branquinha. Assim como Mona, o fogo dourado de Dorah e dos arcanjos também eram contrários ao visitante. O objeto sagrado o repudiava. Excitado e distraído com o sabor da bambina, o camponês esbarrou de leve naquele instrumento singular. Instantaneamente sentiu um forte choque queimar seu cotovelo. Voltou a razão. Afastou-se da garota não mais querendo apalpar aquele quadril maravilhoso. Emma também voltou a seu juízo perfeito. Contrariada. Indignada pelo fim do momento romântico. Rabana estava assustado. Enfezado por ser tão indesejado.

    _____ não Emma, não sei se o nosso amor é possível. – Rabana recuou fechando a cara.

    _____ que droga em! Eu não acredito que vai amarelar agora, depois de tudo que eu fiz por nós dois. – Emma cruzou os braços contrariada. Temia ter cometido um grave erro.

    _____ você não entende, não é? A escuriose é horrível. Não só me infectou, mas também... criou uma segunda personalidade em mim. Algo muito perverso. Mais forte do que eu e.… extremamente manipuladora. Você sabe disso. Eu sou um monstro. – Reclamou farto do peso que carrega desde criança.

    _____ ah, é isso? – Questionou menosprezando o problema. _____ isso é tão fácil de resolver.

    Ainda não entendo por que você age assim. Eu já disse. Eu sou a prometida e tenho a flauta dos anjos. Posso te curar dos horrores que seu maldito mestre cometeu contra você a hora em que eu quiser. – Completou.

    _____ não Emma, você não pode salvá-lo. Nunca poderá. – Outra voz surgia por detrás da casinha de sapê. Um fogo azul agressivo se acendeu ao redor dela cobrindo-a pelas costas. Outro intruso.

    _____ até por que, se pararmos pra pensar, você está tão infectada quanto ele. – Completou.

    _____ príncipe de Diadera. Pelo jeito você encontrou a passagem secreta até o centro de meu jardim. Não é tão bobo como pensei. – Comentou Emma sarcástica, sorridente e despreocupada, reconhecendo o autor das chamas azuis.

    Poderosas, imponentes e grandes asas de ave cobriam por detrás da casinha. O fogo azul tomou a forma delas. Mas apesar do tamanho, tal manifestação tinha mais função de intimidar do que lutar.

    Um jovem passou pelas chamas, saindo de trás da casinha feiosa, finalmente se revelando. Com cabelos anelados e caídos aos ombros, tão azul quanto seus olhos e suas roupas, ele carregava uma espada de estilo templária nas mãos. A imagem da ave azul de sua terra natal fogueava a seu derredor. Igual a um guarda-costas mal-humorado e vigilante que nunca dorme. O vale de roseiras também era hostil ao recém-chegado, mas torcia por ele e contra o camponês de vestes vermelhas.

    Emma ficou entre os dois. Cruzou os braços se levantando do banco branco. Rabana fez o mesmo.

    Enquanto recebia outro visitante, a magia branca desfez o banco de praça, suporte por suporte, articulação por articulação. Não era mais necessário. Trinta segundos de silêncio entre os dois recaiu.

    O jovem azul estava irado. Não mais disfarçava suas frustações e decepções para com sua noiva. Mas estava ali por apenas um propósito: buscar o que lhe pertence e cortar o mal pela raiz.

    _____ você não percebeu. Você acha que está no controle, mas a cada dia que se passa você caminha para a escuridão. Não sabe com quem está se metendo. – Meteu uma bronca na feiticeira branca.

    12

    _____ ah é? E com o que eu estou me metendo, com a escuriose? – Ela o provocou com desdém.

    _____ ele é servo de Samoro. Samoro de esfinge do mundo sombrio, o chefe da guarnição dos piores assassinos que já conhecemos. E este morto de fome aí, um dia será um deles. Um assassino.

    Matará muitas iguais a você. – Explicou Sheyrrã fazendo o fogo azul de Diadera intensificar de acordo com seu estado de espírito, que já era tenso.

    _____ Sheyrrã, você me dá pena. É isso que veio me dizer? – Questionou Emma torcendo os lábios.

    _____ ele está te manipulando, sua idiota. Ele tem o poder do inferno. Pelo seu bem, livre-se dele. –

    Insistiu Sheyrrã inutilmente.

    _____ errou de novo, Diaderano. Eu é que estou no controle desta mente apaixonada. Eu sou a prometida. EU TENHO A FRAUTA DOURADA. – Afirmou levantando o tom de voz na última frase.

    Neste instante sua aura branca aumentou causando uma forte ventania entre ela e o monarca do reino azul.

    _____ É eu percebi. Foi por isso que me deixou? Por um pé rapado morto de fome? – Questionou Sheyrrã friamente; cada vez mais descontrolado. Apontou a ponta da espada templária na direção do camponês.

    _____ não Sheyrrã. Eu te deixei por que você não é homem para mim. Você não passa de um moleque. Tem muito ouro, prata e pedras preciosas, além é claro de servos, não, quer dizer, escravos a sua disposição, mas você não tem o que uma mulher como eu precisa... – explicou Emma completamente debochada e ofensiva.

    _____ e o que é? – Questionou Sheyrrã se sentindo humilhado, porem, por orgulho, queria saber a resposta cretina de sua prometida em casamento.

    _____ imprevisibilidade... – fez uma pausa com alguns passos para os lados. _____como eu posso explicar, uma boa pegada. Você é certinho demais. Mimado. Muito chato e previsível. Sempre na mesma. Igual a seu pai. – Olhou para aqueles lindos olhos azuis marejados.

    Sheyrrã disfarçava o choro, mas não por muito tempo. Ninguém nunca havia falado com ele daquele jeito. Com um pouco mais de 17 anos, com o peso do trono de Diadera nas costas, o monarca percebeu, pela primeira vez na vida, o que é levar um passa-fora da garota que tanto queria. Diferentemente de suas conterrâneas, e tantas outras garotas, que morriam de amor por si, lançando-se a seus pés, Emma foi na contramão. Estava aí uma fera feminina que não seria domada por seus encantos. O que ele sentia não conseguia explicar: uma mistura de dor, raiva, frustação com decepção e uma dose de alívio pelo namoro que não vingou.

    _____ e acha que este cretino tem tudo isso? – Questionou avivando o fogo azul a seu redor, o qual queimava as rosas mais próximas rivalizando cada vez mais com a escuriose em Rabana.

    _____sim, acho sim senhor. – Emma se encostou nos ombros de Rabana, o qual sentiu seu ego inflar. _____ acho que ele é muito mais homem que você. – Emma apoiou as mãos no ombro esquerdo de Rabana, olhando-o nos olhos e fortalecendo a imagem de união entre os dois.

    _____ Emma, você não presta. Não vale nem a bosta que caga. – Ofendeu-a gratuitamente. Abriu um leve sorriso de derrota num instante em que as lágrimas escorreram em seu rosto. _____ é pensar que eu estava disposto a compartilhar com você todo meu reino. Eu insultei e magoei outras pretendentes minhas, por você. Eu fui um idiota.

    13

    _____ fez por que quis. Azar o seu. – Emma deu de ombros com as sobrancelhas concentradas e os lábios torcidos. Não se importava.

    _____é verdade, fiz por que quis. Você é linda Emma. Linda por fora e podre por dentro. Eu tenho pena de seu destino ao lado deste... maltrapilho. – Sheyrrã fechou o punho esquerdo. Faíscas de eletricidade combativa se misturavam com seu fogo azul poderoso.

    _____ não estou nem aí pra sua opinião. E já estou farta de sua presença inconveniente. Esta propriedade é minha por direito! Se manda daqui riquinho sem graça. – Ordenou a dona com desdém apontando o caminho de volta; para além da casinha de sapê, da ponte meia lua e do rio das lamentações.

    _____ eu vou sim. E vou pra nunca mais voltar, mas sabe Emma. É contra a lei uma Descrevessiana se unir a um camponês do mundo sombrio em matrimônio. A punição para uma infração gravíssima como esta é a morte. – Sheyrrã apelou para o lado legislativo dos mundos livres.

    _____SÓ SE FOR A SUA! – Reagiu Rabana dando um passo à frente mirando o riquinho egoísta de Diadera. Os dois tinham sede de sangue um no outro. Mas Emma broqueou Rabana com um sinal de mão.

    Sheyrrã ficou indignado. Esperava que este comportamento cruel de Emma fosse apenas uma farsa, por ela estar na condição de refém. Torcia e muito para ser isso. Entretanto sua intuição lhe dizia que não. Emma realmente falava sério. Estava agindo assim por livre e espontânea vontade. Ninguém a forçava a nada.

    _____ oh pelos céus Emma, ele é um servo da escuridão. O mestre dele já matou muitos iguais a você e a mim. Você tem noção do que está fazendo? Se você me deixasse por outro do mesmo círculo social que o nosso, DO NOSSO MUNDO, eu ficaria puto, mas entenderia. Mas não por ele. ELE

    NÃO! – Esbravejou apontando para o camponês.

    _____ isso não é mais da sua conta. Ela já me escolheu. Ela é minha. – Rabana abraçou Emma pelas costas abaixo daquele lindo céu azul anil de nuvens gordinhas.

    _____ você ouviu. Eu sou todinha dele. – Reagiu Emma remexendo o quadril para esfregar sua poupança na virilha do camponês. Tal ato deixou muito claro para o Diaderano, sua inevitável derrota no jogo do amor.

    _____ MALDITA SEJA PROMETIDA! – Sheyrrã a amaldiçoou. Depois deu as costas saindo daquele lugar florido e perfumado pisando de qualquer jeito das rosas vermelhas e as esmagando.

    _____ maldito sejam os Diaderanos assassinos e miseráveis também querido. – Emma zombou dele aconchegada nos braços de seu amor.

    Para provocar mais ainda, Emma deu um beijo de língua em seu amado. Quente, caloroso e apaixonado. A escuriose vibrou de satisfação pela dor emocional que o Diaderano sentia. Enquanto caminhava rumo a saída do vale, o azulado ouviu um urro de prazer, vindo das trevas, e não gostou nada. Cerrou o punho, apertou a espada nas mãos, rangeu os dentes e parou por um instante.

    Impulsivamente fez o que não devia. Virou-se na direção dos pombinhos apaixonados e os atacou.

    Seu fogo azul cresceu ao redor de si acompanhado de um dragão voador que ziguezagueava pelo ar.

    O monarca estava pronto para a batalha; correu veloz e furioso na direção dos dois infelizes. Lançou sua espada ao ar e a moveu com sua telepatia na intenção de retalhar o camponês. Uma energia mágica, flamejante e destruidora tomou toda a arma. Desde o cabo até a ponta da lâmina. Foi tudo muito rápido e impensado. Rabana também tinha reflexos apurados. Jogou Emma para os lados a 14

    protegendo. Desviou-se dos cortes da lâmina, mas teve seu braço direito decepado na altura dos ombros. Desta vez foi ele quem urrou de dor enquanto Sheyrrã vibrava de satisfação. A espada voltou certeira na direção de sua cabeça, mas o camponês a deteve com a mão esquerda, completamente nua. Segurando em sua lâmina. Apertou com tanta força que sua mão sangrou.

    Sheyrrã o atacou, mas Rabana jogou a espada para o lado e lhe destrambelhou um forte chute na barriga. O monarca recuou para trás cambalhotando descontroladamente. Terminou por cair próximo as margens do rio das lamentações. De boca na lama, que cobria toda a margem fresca do rio.

    O ambiente ensolarado fechou. Emma se levantou do chão. Irada. Revoltada. Temperamental.

    Desta vez seus olhos relampejavam energia branca. Não perdoou. Levantou suas mãos aos céus fazendo trovões cair sobre a cabeça do Diaderano. O fogo azul o protegeu criando um extenso campo de força, mas os trovões tinham a força dos arcanjos. Bastou algumas cargas e o campo de força se rompeu quebrando em mil pedaços. Emma moveu seus dedos e fez trovões maiores ainda recair sobre o príncipe azul. Não houve tempo para um movimento de escapatória. Sheyrrã levou um baita choque. Quase desmaiou, caiu, mas conseguiu se levantar. Com as vestes rasgadas e o corpo queimado. Apesar de tudo, Emma só o atacou com 30% de todo seu poder. Não tinha intensão de matar. Apenas punir. Desta vez, vingou o retalhamento que seu amado sofreu. O braço decepado de Rabana estava no chão. A plantação o devoraria, mas Emma o recolocou no lugar afastando as raízes, que se atreviam a se aproximar. A escuriose o juntou novamente. Pele carne, nervos e ossos. Rabana estava curado. Novamente ligado a seu membro. Pronto, o braço estava novinho em folha para a decepção do perdedor. A espada de energia flamejante voltou para as mãos do Diaderano, que não aceitaria perder aquela batalha, que ele julgava ser o bem contra o mal. Estava em seu sangue nunca desistir.

    Os olhos de Sheyrrã faiscaram energia azul. Sua adrenalina ativou algo a mais no ar. Rabana caiu de joelhos sentindo muita dor. Uma fera assassina queria explodir de dentro de sua carne. Uma segunda personalidade maligna o tomava por completo.

    _____ MALDITO DIADERANO. VIU O QUE VOCÊ FEZ? – Gritou Emma com um semblante demoníaco para com o príncipe monarca. Por outro lado, tentava acalmar seu amor. Tarde demais, a máscara de couro de cobra apareceu naquele rosto queimado pelas trevas.

    Rabana passava por uma transformação, devido as condições estressantes daquele ambiente. Ficou pálido como a neve. Suas vestes vermelhas ficaram negras, suas botas comuns brindaram, assim como um capacete de cavaleiro apareceu em sua cabeça e uma capa em suas costas. Um peitoral de liga reluzente e flexível o cobriu. Asas negras de querubim se abriram em suas costas, por cima da capa. Uma espada maligna, duas vezes maior que a de seu rival, apareceu em suas mãos. Seu corpo cresceu, seus bíceps endureceram, seus músculos corporais, do abdome e das pernas estavam duas vezes mais fortes. A energia escura que o rodeia destruiria tudo a seu caminho. Emma temia ter perdido o controle sobre seu amado. Sheyrrã o olhava com espanto. Aquela criatura a sua frente era um espectro, e dos mais perigosos já existentes. A obra prima de Samoro. Um soldado quase perfeito, genético e magicamente alterado com um feroz instinto assassino. Um Dom Juan sedutor, que levaria Emma direto ao mais profundo do tártaro. Sheyrrã estava apavorado, mas também emocionado. E no fundo sabia que não tinha forças suficiente para deter aquela aberração.

    Principalmente depois de receber a descarga elétrica proporcionada por Emma. A situação piorou drasticamente. Os olhos azuis do monarca perceberam a verdadeira face do mal. Pressentiu ter despertado um gigante adormecido. Pagaria um preço terrível por isso. Porém, Emma pagaria um preço muito maior. O monarca já imaginava que aquele cavaleiro, servo do dragão negro, a levaria 15

    de corpo e alma para o inferno. Isso não poderia acontecer. Sheyrrã não via outra alternativa, a não ser liquidar com a fonte daquele problema.

    Decidido, levantou-se do chão, ajeitou sua espada flamejante em sua mão. O filho de Mol agiria igual a seu pai. Nunca demonstraria medo diante do adversário. A segunda personalidade de Rabana o olhou com estranhamento. Surpreso estava pelo príncipe querer lutar. Emma estava dividida. Com o coração acelerado. No fundo, não queria que nenhum dos dois se machucassem mais ainda.

    Porém, precisaria de tempo e privacidade para acalmar os ânimos de seu amado camponês. _____

    querido, Rabana, por favor, deixa pra lá. – A branquinha tentou se aproximar de Rabana, mas a escuriose tomou conta dele e lhe deu um choque. Em breve tomaria todo aquele lugar, destruiria o jardim em fogo eterno e corromperia a prometida por completo.

    _____ EU NÃO SOU RABANA! EU SOU KASLOSSOS. – Gritou se libertando.

    Rabana abriu seus braços e suas asas intentando ocupar o máximo de espaço possível. Sheyrrã não temeu. Correu na direção dele, com a espada em suas mãos, mas não para o atacar. Rápido como uma bala, quase que na velocidade de dobra. Chegou ao centro do jardim e cravou a espada templária ali mesmo. Enterrou sua lâmina energizada o máximo que conseguiu naquele solo fértil.

    Emma sentiu uma pontada terrível em seu coração. Deixou sua varinha mágica cair de suas mãos.

    Aquele jardim possui conexões cardíacas com sua proprietária. Assim, o que ele sofria, sua dona também sofria. O monarca intencionava destruir aquele lugar para assim atingir Emma. Desta maneira, as trevas não teriam um ser superior para se apropriar. Era isso que Sheyrrã se convencia, porem a verdade era outra. Os motivos eram outros. Ciúme. Despeito. Insegurança. Machismo.

    Sheyrrã tentou matar Emma para que ela não ficasse com Rabana. Toda a ação foi muito rápida.

    Emma caiu de joelhos no chão sentindo uma ferida de morte. O Diaderano estava certo que a mataria, mas estava enganado. Tudo que conseguiu foi feri-la e libertar dela uma parte significativa.

    Ao contrário do que o príncipe azul pensava, sua espada templária não era a verdadeira espada do Arcanjo Miguel, há muito perdida, mas uma réplica perfeitamente idêntica e de poder inferior.

    Nunca conseguiria matar a prometida com uma arma assim. No ato, Sheyrrã levou outro baita choque que o desmemoriou. Desta vez suas pernas e todo seu corpo ficaram moles. Por alguns instantes, não conseguiu soltar o cabo da espada. Perdeu a fala e o folego.

    O golpe certeiro também atingiu Rabana e sua escuriose. O camponês voltou à tona abrindo uma fresta no mundo espiritual. O rio das lamentações se abriu em dois fazendo conexão entre a realidade material e o inferno. Correntes e grilhões, vindos direto da morada do maligno, o prendeu dos pés à cabeça. O camponês foi acorrentado, suas asas negras foram cortadas. Definitivamente foi arrastado para o tártaro, de corpo e alma, onde foi preso junto aos antigos Titãs que desafiaram os deuses na era mitológica. Depois disso, as águas se fecharam bruscamente. Emma deu um grito de dor, mas nada pôde fazer, pois esta era à vontade, tanto de Rabana, quanto do mundo espiritual.

    Uma energia luminosa e apaziguadora a envolveu. A feiticeira branca foi transportada para outra dimensão junto a sua flauta dourada e a sua vara de caule de tangerina. Levada de corpo e alma para o reino do quarto céu, onde permanecerá pelos próximos 18 anos se recuperando do golpe que Sheyrrã lhe deu. Durante sua viajem, sentiu parte de sua essência se desprender de si.

    Emma não poderia aceitar mais essa perda. Não aceitaria que parte de sua essência voltasse inutilmente ao reino dos céus ou se perdesse no vácuo do cosmo. Emma era teimosa, queria poder voltar um dia. Queria caminhar novamente pelas ruas de Descrevessia. Não como uma mera princesa, mas como uma digna e exaltada rainha. Enquanto viajava involuntariamente naquela redoma de luz, fez algo a respeito. Levou sua flauta a boca e tocou uma bela canção de renascimento. Foram cinco minutos de som de flauta. Seu cântico de lamentação e tristeza pôde ser 16

    ouvido em quase todos os reinos livres, e também nos reinos escravos. Muitos pensaram que ela havia morrido. Ela própria pensou que morreria. Mas apenas fez uma breve e cansativa viajem de um ambiente a outro. Seu plano funcionou. Graças a sua bela canção de renascimento, as fênix aliadas, as entidades, os deuses e os anjos aprovaram seu desejo. Sua flauta de desejos também aprovou seu desejo pessoal.

    Assim, sua segunda essência se reencarnou no mundo humano. Na forma de uma bebê que quando crescer viajará até a terra do imaginário em busca de descobrir quem é e da onde veio. Tal garota será um instrumento de retorno da verdadeira prometida. Esta garota é Nina. Nina Esteimã. Naquele dia terrível Emma vislumbrou um possível futuro em que via Nina já adulta caminhando e dançando alegremente sobre um vale de extensas roseiras vermelhas. Também a via em outras situações.

    Linda, destemida, voando num univegazus, liderando a resistência dos mundos livres contra Milogana e seus exércitos de demônios. Emma se alegrou. O chamado de retorno foi um sucesso.

    Com o tempo todos se convenceriam que a bailarina branca morreu. Fábulas, contos e histórias seriam escritas assim, o próprio Sheyrrã pensou ter matado a herdeira de Miguel. Emma decidiu manter segredo sobre sua vida. Isolou-se no reino do quarto céu esperando o momento certo para poder voltar. A tentativa frustrada de Sheyrrã em destruir a prometida Emma, apenas liberou uma segunda personalidade, no caso Nina Esteimã.

    Quanto a Sheyrrã. Depois do que aconteceu, o vale sagrado lançou tentáculos sobre ele e o jogou no rio das lamentações. O intruso foi expulso. Levado pela correnteza das águas. Desmaiou e quase se afogou. Caiu por várias cascatas, porem protegido pelo fogo azul de sua fênix guardiã. Foi achado boiando pelo povo de uma humilde província há quilômetros e quilômetros do vale de roseiras.

    Perdido, sem a espada templária e sem memória do que aconteceu. Felizmente tal povo era amigo de Diadera. O líder local cuidou do rapaz e contatou o povo azul. Seu pai Mol o achará dias depois e o levará para o reino azul onde permanecerá repousando. Nesta época, sua irmã Prismency ainda era uma criança de pouco mais de sete anos de idade. Sheyrrã não se lembrará muito daquele dia nublado, que mais se assemelha a uma noite pavorosa. Terá apenas sonhos com uma terrível sombra que leva Kaslossos para o abismo junto com a prometida. Só saberá mais detalhes do ocorrido 18

    anos depois quando retornar a aquele belo vale e retirar a espada de lá. Mas enquanto isso, viverá como um patife desgarrado de sua pátria. Fazendo pequenos favores mercenários para um e outro, até o dia em que conhecerá Nina Esteimã. Daí em diante sua vida mudará para sempre.

    Capítulo 2

    É dia na aldeia verde. Nina acorda assustada. Praticamente dá um salto da cama. Ultimamente seu sono anda bem desregulado. Sua cabeça doía. Seu corpo estava extremamente estimulado por um tipo de chá que vinha ingerindo recentemente, recomendação de Flomestre. Nina estava muito agitada, mas não apenas pelo chá. Acabara de sair de um terrível pesadelo. Por alguns instantes, ficou assentada na cama do alojamento, onde repousava. Pensava em sua vida. Seus olhos estavam marejados. Seus cabelos negros e volumosos estavam soltos ao vento. Como sempre pela manhã.

    Olhou assustada para os lados, buscando com os olhos seus pertences. Ufa, seu banquinho e seu diário estavam bem ali; ao lado da cama. Rapidamente apanhou o livrinho para escrever o que sentia, mas as palavras não saiam. Enfezada, o guardou abaixo do travesseiro. Pensava no sonho que teve, e nos personagens reais que nele apareceram: em Emma, Rabana, Sheyrrã e o vale de rosas vermelhas. Finalmente compreendeu tudo. Descobriu que não era a verdadeira prometida. Nunca foi. Nem passou perto de ser. Era apenas um tropeço, um erro, uma parte da essência da feiticeira branca.

    17

    É horrível descobrir que não é tão especial como todos acreditam. A exploradora estava em choque.

    Sua voz pouco saia. Agora entendeu por que não conseguiu vencer Emma no campo astral; na última vez que se encontraram. A garota não conseguia evitar. Sentia muita pena pelo passa-fora que Sheyrrã levou, e culpada por ter encerrado seu casamento com ele. Agora, nem mais o culpava tanto pelo o que ele fez no vale de roseiras ao cravar a espada templária lá. Afinal, para Nina, seu coeficiente Emma é louca, psicótica, arrogante, nariz em pé, desequilibrada, desumana e muito prepotente. Não sabe dar um toco em alguém sem humilhar. Além de viver uma vida extremante perigosa e desnecessária ao lado do camponês Rabana. - Não dá pra acreditar que alguém como aquela sujeitinha seja a eleita do reino dos céus. – Era o que a exploradora pensava. Nina era muito diferente de Emma. Isso ficou bem claro agora. De repente começou a odiá-la, principalmente depois dela ter lhe impedido de ir ao jardim secreto salvar Florença. - O que aquela branquinha metida a besta está querendo, em? – Pensava Nina, mas uma resposta clara não lhe vinha à mente.

    Uma coisa boa aconteceu nisso tudo. O vale de roseiras não mais pertencia a Emma. Sua conexão cardíaca com aquele ambiente desapareceu no ato do Diaderano. E mais uma vez, 18 anos depois, quando o príncipe volta ao mesmo ambiente e retira a espada, este distanciamento apenas aumentou. Quando Nina se torna uma portadora da Chama Eterna, esta conexão cardíaca entre ela e aquele roseiral acabou de vez. O vale foi abandonado por Emma, mas não por Soniana, que

    Está gostando da amostra?
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