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Sete histórias perdidas – Uma década futura
Sete histórias perdidas – Uma década futura
Sete histórias perdidas – Uma década futura
E-book508 páginas5 horas

Sete histórias perdidas – Uma década futura

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Sobre este e-book

Uma década projetada no futuro da Terra transforma-se numa forma de imaginar o que será de nós, dividido entre um sentido de vontade e pensamentos de liberdade, entre permanecer fiel a uma tradição herdada ou ansiar por inovação extrema numa eterna antítese entre dúvidas e títulos.
O futuro, tão incerto e desconhecido, materializa-se a cada momento e é construído com tijolos individuais personalizados.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento11 de abr. de 2024
ISBN9798224048748
Sete histórias perdidas – Uma década futura
Autor

Simone Malacrida

Simone Malacrida (1977) Ha lavorato nel settore della ricerca (ottica e nanotecnologie) e, in seguito, in quello industriale-impiantistico, in particolare nel Power, nell'Oil&Gas e nelle infrastrutture. E' interessato a problematiche finanziarie ed energetiche. Ha pubblicato un primo ciclo di 21 libri principali (10 divulgativi e didattici e 11 romanzi) + 91 manuali didattici derivati. Un secondo ciclo, sempre di 21 libri, è in corso di elaborazione e sviluppo.

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    Sete histórias perdidas – Uma década futura - Simone Malacrida

    SIMONE MALACRIDA

    Sete histórias perdidas – Uma década futura

    Simone Malacrida (1977)

    Engenheiro e escritor, trabalhou em investigação, finanças, política energética e instalações industriais.

    ÍNDICE ANALÍTICO

    LIBERTADE

    I

    II

    III

    VAI

    IV

    V

    VI

    TRADIÇÃO

    VII

    VIII

    IX

    INOVAÇÃO

    X

    XI

    XII

    SEGURANÇA

    XIII

    XIV

    XV

    DÚVIDA

    XVI

    XVII

    XVIII

    TERRA

    XIX

    XX

    XXI

    NOTA DO AUTOR:

    Os protagonistas principais são fruto da pura imaginação do autor e não correspondem a indivíduos reais, assim como suas ações não aconteceram de fato. Nem é preciso dizer que, para esses personagens, qualquer referência a pessoas ou coisas é mera coincidência.

    Além disso, por se situarem no futuro em relação a quando foram concebidos, as histórias e referências são completamente inventadas, sem qualquer ligação real.

    Uma década projetada no futuro da Terra transforma-se numa forma de imaginar o que será de nós, dividido entre um sentido de vontade e pensamentos de liberdade, entre permanecer fiel a uma tradição herdada ou ansiar por inovação extrema numa eterna antítese entre dúvidas e títulos.

    O futuro, tão incerto e desconhecido, materializa-se a cada momento e é construído com tijolos individuais personalizados.

    "But if you ask for a rise

    It's no surprise that they're giving none away"

    LIBERDADE

    "It is the evening of the day

    I sit and watch the children play

    Smiling faces I can see

    But not for me

    I sit and watch

    As tears go by"

    I

    Boston, janeiro de 2036

    ––––––––

    "I was swimming around in a circle

    I wasn't always in view.

    You said ? We might get into red flag danger

    And I am alone when I'm not with you?"

    ––––––––

    Uma comunicação repentina desorganizou a agenda de George.

    Dizia-se que o escritório de arquitetura onde trabalhava havia recebido a encomenda de uma restauração completa, em estilo original, dos principais edifícios que constituíam duas das principais universidades da cidade, Harvard e Boston University, onde o próprio George se formou, mais de dez anos antes, em Arquitetura e Belas Artes.

    Com um gesto rápido, guardou a luva sensorial com a qual se movia dentro da maquete virtual tridimensional de um edifício em conclusão.

    O gerente do escritório acabava de enviar uma mensagem instantânea visível na tela de todas as plataformas às quais colegas e funcionários se conectavam diariamente.

    Uma forma de compartilhar atualizações e progresso do projeto ao vivo.

    Ele olhou para Mick, parado do outro lado da sala.

    É verdade?

    George realmente não acreditava nos rumores que circulavam constantemente.

    Normalmente, menos da metade revelou-se verdadeira ou válida.

    Ele estava acostumado a não acreditar a priori no que vinha de cima.

    Só assim conseguiu evitar ser dominado pela Deriva, como se definiu a era dos últimos doze anos nos Estados Unidos da América.

    Vem sem nenhum adjetivo.

    Usado em sentido negativo para aqueles que se opuseram ao poder dominante e em sentido positivo para aqueles que ficaram do lado dele.

    Pela primeira vez, todos estavam de acordo, como só em algumas ocasiões foi possível fazer.

    A execução do hino nacional, as Olimpíadas, o Dia de Ação de Graças e o Super Bowl.

    Além disso, os Estados Unidos tornaram-se o próprio símbolo da divisão interna.

    Sem meias medidas, como sempre foi a sua maneira de fazer as coisas.

    Mick assentiu.

    Sempre positivo, em todas as situações.

    Com um topete puxado para o lado que lembrava vagamente a moda da época de Elvis, enquanto George usava o cabelo quase totalmente raspado, como se fosse se alistar a qualquer momento.

    Vamos.

    Com um impulso dos rins, ele se empurrou e arrastou o colega junto.

    A sala de anúncios ficava exatamente no meio do escritório, um piso todo em vidro muito iluminado que dava para uma vista deslumbrante da cidade.

    Na rodada, como se você estivesse dentro de uma esfera mágica.

    Dava para vislumbrar todas as inúmeras cores de Boston, desde o branco glacial do inverno, agora quase sempre misturado com o acinzentado, até o esplêndido verde da primavera ou do Dia de São Patrício.

    Sem nenhuma ordem específica, todos os presentes no escritório apareceram, enquanto os demais se conectaram virtualmente, fornecendo um avatar holográfico de si mesmos ou projetando diretamente seus movimentos e aparências escaneadas pela câmera integrada ao dispositivo de conexão.

    Assim, mesmo que alguém estivesse em casa, num canteiro de obras ou em qualquer outro lugar, seria como se o ambiente do escritório pudesse se expandir para fora de forma indefinida.

    Alguns sociólogos catalogaram tal concepção como o fim do conceito de privacidade e proteção da vida privada no que diz respeito aos compromissos de trabalho, mas ela foi silenciada.

    Não houve mais tempo para insinuar dúvidas.

    Em particular, aqueles que são contraproducentes e, portanto, odiados pelas classes política e industrial.

    Em total conformidade com a legislação vigente, o escritório implementou uma filosofia de contratação direcionada, garantindo cotas percentuais para cada etnia e cada gênero.

    A maioria teve que ir para a etnia branca de origem europeia e o mesmo se pode dizer da componente masculina.

    Foi uma das leis mais contestadas mas que, após intermináveis batalhas jurídicas envolvendo o Supremo Tribunal, pôs fim à ditadura das minorias, pelo menos era esse o slogan presidencial.

    Um dos pilares da Derivada foi dado justamente por disposições semelhantes que limitaram gradativamente os direitos das minorias asiáticas, afro-americanas, hispânicas e depois de toda a galáxia que, outrora, se chamava LGBTQIA+, sigla que foi praticamente abandonada para muitos anos.

    Na verdade, a ironia e a batalha eclodiram precisamente em torno dessa sigla, sublinhando a proliferação contínua de novas categorias.

    George, apesar de não concordar com nada disso, não estava interessado nos efeitos em sua vida.

    Limitou-se a estudar, trabalhar e pagar impostos, buscando ganhos cada vez maiores para aumentar seu padrão de vida.

    Já, aos trinta e seis anos, não ser casado e não ter filhos era visto como um ataque à moralidade nacional.

    Além disso, ele não se esforçou.

    Teve o cuidado de não frequentar círculos políticos ou ideológicos ou de ser ativista.

    Não idolatrava ninguém e não tomava partido de ninguém e, mesmo que tivesse ideias, não as teria expressado.

    Uma massa indistinta de pessoas que só pensava em viver, sobreviver e ganhar dinheiro, deixando a batalha pela conquista do poder a algumas minorias.

    De qualquer forma, são todos iguais... foi o protesto máximo possível naquela missa em que George se sentiu muito confortável.

    Exatamente o oposto de seus pais, Jerome e Justine, o primeiro com ancestrais britânicos e o segundo com raízes irlandesas.

    Os dois, que tinham bem mais de sessenta anos e se aproximavam dos setenta, sempre foram apoiantes dos republicanos, em particular do expoente que dominou os últimos vinte anos do partido, nomeadamente Donald Trump, o único eleito três vezes desde Franklin Delano Roosevelt, embora não consecutivas.

    Por causa do golpe de Estado, caso contrário teriam sido quatro vezes, sublinharam repetidamente os seus pais, que regressaram há poucos dias do aniversário da chamada marcha pela liberdade, comemoração que teve detido durante seis anos em Washington, no dia 6 de janeiro, para recordar o que a família Trump e o Partido Republicano definiram como a primeira tentativa do povo de recuperar o que por direito lhe pertencia.

    Eu queria anunciar que...

    O chefe do departamento não era um homem de muitas palavras.

    Ele não conseguia falar bem e tinha graves dificuldades de comunicação.

    "Bem... você já sabe.

    É tudo verdade."

    No final, o boato provou ser verdade.

    Alguma garganta profunda no andar superior, aquela reservada aos administradores, deve ter vazado tudo para algum lugar neutro.

    Um bar, um café, um restaurante, um quarto de hotel.

    Algo não escrito, dado que as comunicações electrónicas poderiam ser interceptadas e utilizadas contra os trabalhadores.

    Havia inúmeras combinações possíveis e ninguém teria se esforçado para descobrir a toupeira.

    Não interessava a ninguém, nem mesmo aos altos escalões que, portanto, sabiam da existência de um canal não oficial que poderiam explorar para vazar de vez em quando o que interessava.

    Mick olhou para George.

    Seu colega, um ano mais novo, parecia viver num mundo próprio.

    Do ponto de vista técnico, era incomparável, mas faltava aquela malícia tipicamente gerencial.

    Provavelmente não seria um problema para futuras promoções.

    Ao contrário de Mick, George teria sabido da notícia com o clássico distanciamento.

    Ele estava lá para trabalhar e qualquer trabalho teria sido bom.

    Ele não estava interessado em implicações lógicas e teorias da conspiração.

    A reunião foi encerrada após apenas dez minutos.

    Nada a comentar de ninguém.

    Compartilhar era um valor alardeado e não posto em prática.

    Mick parou para trocar algumas piadas com outros colegas.

    Teríamos conversado sobre quando os projetos entrariam em operação e quem os coordenaria.

    Vou conseguir um emprego em design, eles me devem um favor.

    Outro introduziu outros elementos de discussão.

    "Se nomearem o Robert como coordenador geral do canteiro de obras, irei até o canteiro.

    Muito melhor aqui perto do que em algum lugar no Centro-Oeste!

    George já estava em seu posto.

    Ele havia decidido completar a exploração virtual que a reunião havia interrompido.

    Naquele dia ele não poderia ficar muito tempo no escritório, mas teria que passar na casa dos pais.

    Ele ainda não os tinha visto desde que voltaram de Washington.

    A casa deles estava localizada no bairro de Beacon Hill e era uma construção clássica de tijolos vermelhos.

    O mais tradicional que você pode imaginar para a cidade mais anglo-saxônica e irlandesa dos Estados Unidos.

    Por outro lado, George morava no centro da cidade, no distrito financeiro, a poucos passos do escritório.

    Portanto poderia ser confortável durante a semana, dado o ritmo de trabalho incessante.

    Em média, ele passava dez horas por dia no escritório, com picos de doze quando se aproximava a entrega de um documento ou o prazo de um projeto.

    Imerso no trabalho, ele nem percebeu a chegada de Mick, que balançou a cabeça diante da falta de previsão de George.

    Ele provavelmente era uma daquelas pessoas que só notaria a mudança quando o jogo terminasse.

    Sem movimentos antecipados e sem planejamento.

    Ele encolheu os ombros e continuou com suas tarefas.

    Catapultado para fora do escritório, George se viu envolvido no trânsito da cidade.

    Algo opressivo e emocionante.

    A quantidade de automóveis não diminuiu em nada e, de muitas partes do mundo, os Estados Unidos foram apontados pelo fracasso geral na luta contra as emissões que alteram o clima.

    Na verdade, os anos de presidência da família Trump desmantelaram tal tese peça por peça, chegando ao ponto de a definir como uma farsa colossal e tentando manipular a informação para mascarar as grandes mudanças que tinham ocorrido em quase todo o lado.

    Ondas de calor e secas nos estados do centro e do sul, seguidas de furacões terríveis.

    O fato de nem sempre acontecerem e de a memória humana ser falaciosa apoiou as teses presidenciais.

    Uma projeção virtual nas paredes dos arranha-céus do centro da cidade trouxe George de volta ao noticiário.

    Representava uma mulher de meia-idade, evidentemente maquiada e retocada para não dar ideia de seu cartório.

    Foi a Presidente dos Estados Unidos, a primeira mulher eleita quatro anos antes, Lara Yunaska Trump, uma das filhas do ex-presidente Donald.

    Eleita em 2032, aos cinquenta e um anos, candidatava-se agora a um segundo mandato, dando como certa a nomeação do Partido Republicano, hoje dominado há mais de vinte anos pela família em questão.

    Ela administrou as campanhas presidenciais do pai e sempre foi uma excelente produtora de televisão.

    Grande comunicadora e especialista na gestão política dos meios de comunicação, consolidou-se com um misto de inovação e tradição.

    Na esteira da família, mas também como prima donna.

    Apesar disso, aprovou medidas restritivas das liberdades das mulheres, como a proibição geral do aborto, o incentivo às mulheres para ficarem em casa para cuidar dos filhos e a limitação da sua presença no local de trabalho, bem como a mudança total de linguagem em uso.

    O pai já tinha aberto o caminho, limpando certas terminologias e destruindo a relutância, típica dos democratas, em aceitar o politicamente incorreto.

    Internacionalmente, destacou-se pelo maior afastamento da América em questões importantes.

    Menos dinheiro para a NATO, menos tropas no Médio Oriente.

    Tudo está centrado na América, procurando a melhor forma de fazer crescer a economia e as carteiras dos cidadãos, mesmo desafiando leis e regulamentos, que foram modificados propositadamente.

    Assim, o mercado accionista atingiu novos máximos, triplicando os anteriores e criando uma riqueza financeira desproporcional, à custa da dívida federal que se tornou a maior do mundo, em termos absolutos e percentuais.

    Agora a Presidente poderia explorar uma grande onda emocional, dado que o seu pai, que tinha sido celebrado pelo Partido Republicano como o maior estadista depois de George Washington, tinha morrido há apenas nove meses.

    O slogan era cativante.

    A Deriva ataca novamente.

    Tudo o que foi feito foi reivindicado como o próprio símbolo da política da maioria, entendida a nível político e social.

    Jorge sorriu.

    Em última análise, foi uma mistificação, mas não mais do que a publicidade e a Internet faziam diariamente.

    Ele teve que se apressar, caso contrário teria alcançado seus pais na escuridão total.

    Estava frio.

    Intenso e pungente, apesar da falta de neve.

    Jerome e Justine falaram de tempos passados, quando havia metros de manto branco, enquanto o filho, de memória, só se lembrava de alguns anos excepcionais de sua primeira infância.

    Depois, ano após ano, chovia cada vez menos e, quando chovia bastante, já ninguém estava habituado.

    O painel de seu carro, estritamente LED, enviava uma série de informações em tempo real sobre o estado do trânsito e sobre as mensagens recebidas dos aplicativos do telefone de George, que haviam desabilitado quase todas as funções dos acessórios.

    Não queria ser interrompido muitas vezes durante a condução, mesmo que agora existissem programas de piloto automático assistido que intervinham em caso de falha na travagem com um obstáculo próximo ou no estacionamento de forma totalmente autónoma.

    Não era um modelo avançado com tudo disponível tecnologicamente.

    George só precisava de um gostinho de todos esses confortos.

    Ele deu uma olhada na cidade, já envolta pelas luzes da noite.

    Ele não saberia viver em outro lugar.

    E não tanto pelos laços afetivos, que na realidade ele não tinha, mas pela atmosfera que respirávamos.

    Uma mistura de clima e tradições, espaços e planeamento urbano.

    Ele achou outras cidades nos Estados Unidos com características muito diferentes daquela em que cresceu.

    Ou muito hispânico ou muito espaçoso ou muito caótico.

    Nada que lembre a Europa e as origens de quatro séculos atrás.

    Ele chegou cerca de dez minutos depois do planejado.

    Ele foi recebido da mesma forma de sempre.

    Formal do pai.

    Jerome Hill era um daqueles americanos antiquados que defendiam os valores do passado, mesmo que não entendesse o que isso significava.

    Se os seus antepassados de um século antes, os mesmos que pensavam ser os portadores dos verdadeiros valores americanos, certamente o tivessem visto, certamente o teriam ignorado.

    Ninguém, em 1936, imaginaria que o mundo passaria por tal evolução e Jerônimo seria expulso daquele círculo de conservadores.

    A mãe, porém, mostrou maior abertura, em parte devido à sua educação católica.

    Justine O'Neal não manteve muito das suas origens de Dublin, nem a sua fala, nem o seu sotaque, nem os seus traços faciais, dado que, durante gerações, a parte irlandesa se misturou com outros tipos de imigração europeia.

    Italiano, grego, inglês.

    O cabelo ruivo era apenas uma lembrança de antigas fotos de família.

    George perguntou como tinha sido a visita a Washington.

    Não que ele não tivesse vislumbrado os compartilhamentos nas redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas em seu celular, mas achou que a descrição presencial era diferente e mais completa.

    Poder ver de frente a pessoa que fala com você, sem nenhum filtro artificial, deu nuances diferentes às palavras.

    Seu pai não vacilou.

    Ele descreveu os preparativos e a atmosfera detalhadamente.

    "Foi a primeira vez sem Donald.

    Foi evocativo.

    A mãe acrescentou a nota do discurso da filha, presidente em exercício.

    "Movendo e tocando.

    Vamos vencer novamente."

    Ambos não tinham dúvidas de que a escolha deveria ser óbvia e nem sequer estavam preocupados com o que o Partido Democrata iria implementar .

    Fora isso, eles se saíram bem em comparação com a média de seus pares.

    Até agora, nenhum seguro médico teve de intervir para cobrir os custos de internamentos hospitalares ou estadias prolongadas.

    As verificações periódicas também apresentaram resultados encorajadores, de pessoas com saúde perfeita.

    George despediu-se, sem mencionar nenhum novo trabalho.

    Ele preferiu não compartilhar com ninguém as vicissitudes dos escritórios e canteiros de obras.

    O que aconteceu nesses lugares permaneceu lá.

    Já parecia noite, não fossem as luzes artificiais.

    Menos de meia hora se passou desde a visita à casa dos pais, tanto tempo durou o confronto.

    E já era muito comparado à média.

    Havia famílias morando em dois litorais opostos, mantendo contato apenas por meio da tecnologia, mesmo nos períodos de férias.

    Outros que, no entanto, nunca se viram ou ligaram.

    O sentimento de proximidade e convivência comunitária dos primeiros emigrantes desapareceu e deu lugar à maior característica do país: o individualismo.

    Tudo era apoiado por uma massa de interesses económicos e políticos, mantendo a maioria das pessoas no escuro, que não tinham de se fazer muitas perguntas, mas obedecer apenas a um comando preciso.

    Consumir, de preferência, algo produzido e desenhado na terra natal.

    George não tinha nada para fazer naquela noite, exceto ir à academia para uma sessão de musculação e corrida na esteira.

    De alguma forma, ele queria neutralizar tanto a chegada do fatídico limiar dos quarenta anos com sua carga de fadiga quanto a visão geral do homem sentado em uma poltrona bebendo cerveja enquanto assiste beisebol ou futebol americano.

    Além disso, ele experimentou alguma companhia feminina na academia.

    Joanna foi a mulher com quem teve um relacionamento que durou quase um ano.

    Assim que se separou, ela quis se divertir sem muitas preocupações.

    George se saiu bem até decidir se mudar para Miami, para o calor da Flórida, sem suportar os invernos rigorosos de Massachusetts, mas enfrentando possíveis problemas na temporada de furacões.

    Desde então, eles não tiveram mais notícias um do outro.

    Uma forma como qualquer outra de acabar com relacionamentos efêmeros baseados em nada.

    Os outros foram apenas entretenimento temporário.

    Pouco para realmente lembrar, além de algumas bebedeiras e algumas performances sexuais.

    Corra esta noite e depois faça pesos...

    O personal trainer virtual tinha um propósito principalmente motivacional e foi introduzido em quase todas as academias por meio de programas de inteligência artificial.

    Podem ser criados modelos pré-definidos ou com aprendizado constante para aumentar a interação com o público.

    George preferiu não deixar que as pessoas soubessem muito sobre si mesmo e escolheu a abordagem clássica e tradicional, que também custava menos, com uma assinatura mensal cerca de vinte dólares mais barata.

    A esteira iniciou com o programa selecionado.

    Passeio suave e sem solavancos.

    Sem subida ou aceleração.

    Ritmo e vitalidade, isso era necessário.

    A pulseira no pulso, usada no início do treino e que ficava guardada dentro de uma caixa especial na recepção completa com um número codificado, teria transmitido os dados biométricos em tempo real.

    Monitor de frequência cardíaca e batimentos cardíacos que foram projetados na tela da máquina, juntamente com a previsão das calorias consumidas e da proporção de ácido láctico produzido, cujo limite nunca deveria ter ultrapassado 70%.

    George costumava começar devagar.

    Ele era uma daquelas pessoas que precisava de uma progressão lenta e constante, tendo grande resistência, mas pouco sprint.

    Depois de cinco minutos, ele acelerou e olhou para cima.

    Ele notou uma mulher de costas viradas, parecia ser alguns anos mais nova que ele, com um rabo de cavalo amarrado para trás.

    Suave e brilhante, refletindo uma faixa dourada.

    Físico seco.

    Ele tinha certeza de que tinha barriga tanquinho.

    Ele estava acelerando em um ritmo frenético, mas suas pernas ainda giravam bem.

    Uma mistura de admiração e atração, de curiosidade e desejo de puxar conversa tomou conta de George.

    Ele ficaria de olho nela, parando seu treinamento em uníssono, arriscando exagerar e não acompanhar.

    Talvez tivesse valido a pena.

    Nas poucas vezes em que ela virou a cabeça alguns graus, ele pareceu entender que ela não tinha maquiagem e tinha traços delicados.

    Nada de mandíbulas fortes ou operações cirúrgicas, coisas que estavam na moda mesmo entre os mais jovens.

    A imagem externa, especialmente de uma mulher, teve que ser assimilada tanto quanto possível àquela proporcionada pelas aplicações na nuvem, a nuvem abrangente que herdou a tradição da mídia e das redes sociais, onde cada frame foi corrigido e visto por mentes artificiais superiores escondidas sabe-se lá onde.

    Isso influenciou muito os costumes e hábitos de todos, bem como o próprio padrão de marketing e vendas e, acima de tudo, das notícias e da política.

    A essa altura, filmes e noticiários, discursos públicos e convenções apareciam nas telas de uma forma completamente diferente do que realmente eram, ao vivo.

    Num caso, o filtro foi dado pelo olho humano, no outro, por aquilo que uma máquina fez o olho humano perceber.

    Sutilezas à primeira vista, mas essenciais para turvar as águas.

    As agências internacionais, quase sempre não citadas nos Estados Unidos ou utilizadas para combater a Deriva, sublinharam que nove em cada dez conteúdos eram falsos ou falsificados.

    Ninguém conseguia discernir tudo o que era real ou realmente aconteceu a partir do que foi produzido, e cada pessoa caiu na armadilha diversas vezes.

    Em tudo isto, a Presidente Lara Trump chafurdou como um peixe num aquário, dada a sua propensão natural para a comunicação e o enorme pessoal à sua disposição.

    Finalmente a mulher parou de treinar e George fez o mesmo.

    Ele encontrou o rosto dela.

    Foi exatamente como imaginado.

    Dois olhos negros sem qualquer sinal de retoque.

    Lábios finos que revelavam dentes regulares.

    Músculos tensos dos braços e mãos finas.

    A parte superior do tronco era muito magra e fina, sinal de ótimo treino e alimentação cuidadosa, enquanto as pernas eram típicas de quem corria regularmente.

    A academia provavelmente era apenas uma atividade de inverno, à espera do verão, quando tudo aconteceria ao ar livre, entre o verde dos parques e arredores.

    A mulher sorriu para ele.

    George certamente não era estranho à atenção feminina.

    Boa aparência e bem cuidado.

    Ele esboçou uma saudação tímida.

    OI.

    Limpando a testa, a mulher parou.

    Você vem aqui frequentemente? Nada mal...

    Na verdade, George se perguntou por que não a tinha visto antes.

    Talvez em horários ou dias diferentes.

    Ele assentiu.

    Eu sou Sara...

    O sotaque não parecia vir daquela região.

    Talvez da área de Washington.

    Jorge.

    O silêncio caiu entre eles, sinal de certo constrangimento.

    O que eles poderiam ter dito para ir além da primeira troca?

    Como você aborda pessoas que você não conhece?

    O menor erro teria decretado o fim do relacionamento, antes mesmo de começar.

    E então temos que mergulhar.

    Arriscar.

    É por isso que a maioria prefere discutir isto e aquilo, sobre coisas fúteis e banais.

    Minimizar o perigo e descobrir aos poucos uma parte de si, em busca do outro.

    Ao fazê-lo, os próximos passos já estão, em parte, resolvidos e a fasquia pode ser elevada, mantendo ao mesmo tempo o nível de risco dentro do limiar aceitável.

    Isto é o que a maioria das pessoas, a massa indistinta do mundo, teria posto em prática.

    Mas não era isso que estava acontecendo em uma academia comum numa Boston congelada em meados de janeiro.

    No ar e no ambiente climatizado e abafado, com música e luzes moduladas à perfeição, uma perturbação mínima havia entrado, uma sugestão de mundos diferentes que se projetava na mente de todos.

    Num mundo independente, a recombinação de átomos e cheiros, sensações e estímulos gerou uma série de impulsos elétricos decodificados pelo cérebro e enviados para a parte dedicada à linguagem.

    A partir daí teríamos pesquisado na biblioteca de termos e teria surgido o comando para as cordas vocais.

    Som produzido ao fazê-los vibrar e modificar a pressão do ar, que, ao atingir os tímpanos, teria gerado o mecanismo de escuta.

    Toda essa magia concentrada em menos de um segundo.

    Mais do que inteligência artificial e velocidade de processamento.

    Ainda não havia nada no mundo que superasse a inventividade da mente humana, a sua complexidade, a sua forma de extrair do nada uma série de comportamentos.

    Nem mesmo que milhares de supercomputadores quânticos tivessem se alinhado, a miríade de possibilidades que se apresentavam diante de George e Sarah não poderia ser imaginada.

    O primeiro teria querido quebrar as barreiras, o segundo teria querido saber tudo sobre aqueles lugares.

    Você não é daqui?

    Pergunta interrogativa do homem, mas na verdade uma declaração falsa.

    Sarah admitiu que era de Washington.

    Jorge sorriu.

    Resumindo, eles trocaram algumas piadas.

    Você não vai jantar?

    Perto dali havia um desses lugares despretensiosos, um restaurante que produzia a típica culinária americana tirada sabe-se lá de onde.

    Eles se pegaram falando sobre suas vidas.

    Arquiteto e jornalista.

    Estudos universitários.

    Ambos de ascendência meio irlandesa, George por parte de mãe e Sarah por parte de pai, com a marca registrada de um sobrenome evocativo como Connor .

    Idades comparáveis, não perguntadas, mas adivinhadas.

    Sarah talvez dois anos mais nova.

    O que ele estava fazendo em Boston?

    Por que ele estava lá ?

    Como ela acabou em uma academia?

    Por que ele estava jantando com alguém que não conhecia até algumas horas antes?

    Todas as perguntas sem resposta.

    A única coisa certa para George era que a noite transcorreu bem, sem problemas ou percalços.

    Divertido, mas sem um nível de cumplicidade que levasse a uma noite de sexo.

    Um compromisso como este convinha a ambos.

    Algo não escrito, mas concordado com a palavra.

    George sentiu que tinha que pagar, mas Sarah queria fazer isso do próprio bolso.

    De qualquer forma, ficarei na cidade mais um pouco. Uma semana.

    Haveria outros lançamentos conjuntos?

    Era hora de tirar conclusões e entender como tudo iria evoluir.

    Troca de identidades virtuais na nuvem?

    Era uma prática normal para quem acabava de se conhecer, prática que substituiu a troca de números de telefone.

    A identidade virtual na nuvem identificava cada pessoa individualmente e, com base na solicitação recebida, uma série de informações precisas podiam ser compartilhadas entre os contatos.

    Seu número de telefone, atualizações de status, perfis de mídia social, endereço de e-mail , álbuns de fotos ou vídeos, interesses, viagens ou muito mais pessoais.

    Era uma forma de garantir a privacidade, dizia-se, sem perguntar quem protegeria os indivíduos da interferência das empresas que administravam a nuvem.

    Empresas que então traçavam o perfil das pessoas, vendendo os pacotes para determinados licitantes, entre os quais se destacavam principalmente as indústrias e a política.

    George fez o movimento.

    Ele contou a ela seu identificador de nuvem.

    Sarah pareceu gostar disso.

    Resumindo, tudo foi notificado em seus dispositivos.

    "Antes de decepcioná-lo, estou aqui em Boston por um motivo principal.

    Para a campanha..."

    Jorge não entendeu.

    De que campanha ele estava falando?

    Boston era uma cidade!

    A campanha presidencial.

    Sarah, entendendo o mal-entendido, teve que reiterar ainda mais.

    Era um jornalista quem prepararia a campanha de um dos candidatos.

    E para quem?

    Agora a curiosidade de George foi cativada.

    Certamente não a favor da Deriva.

    Sarah não estava, portanto, do lado da presidente Lara Trump e do Partido Republicano.

    George sabia pouco sobre política e menos ainda sobre quem eram os vários candidatos nas primárias.

    Além disso, não recebeu notícias do Partido Democrata.

    E para qual candidato você está preparando a campanha?

    Sarah, com orgulho e muita determinação, respondeu prontamente:

    Para Agatha Durban, governadora de Idaho.

    George não sabia muito sobre ela, apenas que ela foi a primeira mulher a ser eleita governadora de Idaho, entre outras coisas pondo fim ao domínio incontestado dos republicanos.

    Sarah destacou alguns pontos-chave.

    "Ela é uma mulher, é jovem, sabe como derrotar os republicanos e quer devolver os direitos às pessoas.

    Esta é uma luta pela liberdade.

    Nosso e de todos."

    Uma luz se acendeu nos olhos de Sarah.

    Algo que George nunca tinha visto antes

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