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Esperança
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E-book137 páginas2 horas

Esperança

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Sobre este e-book

Viver é uma dádiva imensurável que nos coloca à prova ao longo do caminho, cobrando força e determinação para conquistarmos o porto seguro e desfrutarmos das maravilhas do magnífico universo que recebemos. Esperança e Fortuna são pessoas como tantos de nós e são fortes como a terra que lhes deu origem. Eles se conheceram longe de suas regiões, onde ficaram retidos devido ao poderio das chuvas e à determinação do Tocantins. O relacionamento que nasceu desse encontro os levou a superar a presença do passado que os incomodava e trouxe a reconciliação com seus temores, traumas e remorsos. Mais do que um encontro, foi a união de um casal que se descobriu e que se completou no parceiro, vencendo as barreiras que os marcaram ao longo da jornada, até alcançarem a felicidade não imaginada para suas vidas. Mas os revezes criados pela maldade humana interceptaram seus caminhos quando colhiam os frutos gerados pelo amor e pela solidariedade entre os dois.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de abr. de 2024
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    Esperança - Carlos Matos

    A todos os pequeninos que tiveram a inocência e a doçura maculadas, ofereço solidariedade e almejo que a eles cheguem o amor dos homens e o brilho de todas as estrelas do universo.

    Esperança

    Carlos Matos, 2024

    Mais vale despertar feridas avivando amores mortos que não ter amores a prantear.

    Ofereço a

    Naza, minha musa e inspiração

    Anita, luz de minha vida

    Dedico a meus heróis

    Tina, Tati, Nina, Joca, Uia, Isinha e Dudu

    Em agradecimento a meus irmãos e a todos que me estimularam dar realidade a ideias, especialmente Marcelo, Tonhão e meu amigo-irmão Deco

    Em gratidão aos professores que alargaram minha mente e me descortinaram mundos e a todos os mestres que oferecem novos horizontes

    Em reconhecimento aos verdadeiros amigos, que comigo sorriram ou que me afagaram ao longo do caminho e que me apontaram o norte

    Em memória de

    Múcio, Tonga, Nilminha, Chico, Cicero, Tadeu e Fernando

    Índice

    Dia 16 do Décimo ´Segundo Mês página 9

    Dia 16 do Primeiro Mês  página 25

    Dia 15 do Segundo Mês  página 31

    Dia 19 do Terceiro Mês  página 53

    Dia 17 do Quarto Mês  página 59

    Dia 21 do Quinto Mês  página 65

    Dia 18 do Sexto Mês   página 75

    Dia 16 do Sétimo Mês  página 93

    Dia 20 do Oitavo Mês  página 105

    Dia 18 do Nono Mês   página 115

    Dia 15 do Décimo Mês  página 127

    Dia 19 do Décimo Primeiro Mês página 137

    Dia 17 do Décimo Segundo Mês página 141

    Dia 18 do Décimo Segundo Mês página 145

    Dia 19 do Décimo Segundo Mês página 159

    Dia 23 do Décimo Segundo Mês página 173

    Esta é uma obra de ficção e qualquer semelhança com nomes, pessoas, ou acontecimentos é mera coincidência.

    Dia 16 do Décimo Segundo Mês

    A escuridão da noite não lhe incomodava, mas houve tempo em que a escuridão da mente o atormentava, a culpa que endurecia seu coração o encurralava e o jogava numa noite mais densa, mais pesada. O sentimento de que não fizera o suficiente ou de que o fizera errado o esmagava desde adulto jovem, não importava quão bem-sucedido estivera frente a desafios de monta ou mesmo em atividades corriqueiras. Mas, agora, depois das últimas viagens ao Norte, isso parecia distante e não embotava seus sonhos de uma nova vida. Quanto tinha a louvar a Esperança por essa mudança do panorama em seu interior!  Estavam os dois, Vagalume e ele, de retorno das terras de Rachid, aonde foram para receber um valor elevado, tencionavam voltar cedo, com o sol da tarde acariciando seus corpos, mas o turco se mostrou mais eloquente e mais afável e os envolveu até avançar a penumbra da despedida do dia. Pensou quebrar o silêncio entre os dois e entabular conversa com o companheiro, como a convidá-lo para encerrar o capítulo de despedida de seus temores e de seus fantasmas. Desistiu logo das palavras. Falar-lhe do tema que sempre estivera presente em sua consciência sobrecarregaria o amigo e a verdadeira amizade não o faz. Ademais, ele sabia ouvi-lo sob a ausência das palavras e já estaria ciente das confissões de Rodolpho. Afogou sua ansiedade, guardou-a. Sentiu o som macio dos passos de Vagalume, deixou-se levar, abraçou imaginariamente o amigo e transmitiu-lhe calor.  Levou o pensamento a porto seguro e deixou-se alegrar com a lembrança antiga do pai, homem simples, porém habilidoso no falar e no viver, dado a cultivar amizades onde pisasse.  Aprendeu com ele a fazer estilingue e a pescar. Desenvolveu com ele o gosto pela música e pela leitura. Aprendeu a amar o próximo. Assomou-lhe a figura da mãe no arquivo da mente, ainda a podia contemplar em imagem de corpo inteiro ou o rosto de beleza rude e tristonha. Heroína anônima, comandante incansável das batalhas a ela confiadas ou daquelas a que buscava por espontâneo sempre que isso representasse acréscimo ao conforto ou segurança da prole. Distanciados agora, mãe e filho, não poderia abraçá-la com o fervor que deveria ter acontecido em vida. O retorno àquele mundo aliviou ainda mais seu coração, afrouxou a tensão dos músculos e dos nervos e levou suas energias a esvanecerem por um instante. Mas, saiu logo do entorpecimento empertigando o corpo e aguçando a mente, culpando-se de abandonar Vagalume ao silêncio e à monotonia de caminhar sozinho, retornou-lhe a ideia de dialogar com o amigo, mas não ousou quebrar o encanto do momento: aquela comunhão além das palavras ou mesmo do olhar, como ocorria desde muito entre ambos. Lembrou-se da infância de Vagalume, a perda da mãe antes dos primeiros passos, receber os sopros de vida de estranhos, sugar da mamadeira as energias e a esperança em prejuízo da teta aconchegante do peito materno. Viu Vagalume crescer em dimensão corporal e ganhar sentimentos, especialmente esse apego a ele, incondicional, a qualquer tempo. Conversavam muito, nem sempre as palavras ou sussurros preenchiam os sentimentos, mas um afeto, um carinho, selava o que as vozes não conseguiam exprimir. A lembrança das brincadeiras no grande jardim em frente à casa de roça, Vagalume iniciando a adolescência, os dois correndo e atropelando-se mutuamente, o fazia mais jovem, trazia o fugidio tempo da lembrança para o momento atual. Recordava-se com certo orgulho do passado. Construíra muito ao longo do percurso, beneficiara tantos com pontes que lhes permitiram vencer obstáculos, iluminou alunos com seu brilho moral, trouxe esperança a outros. Mas havia marcas e nuvens negras: voltar a elas, agora, reabria cicatrizes que revirava sem dor, como faz o expectador em frente à tela dos grandes mestres. Em passado recente, no entanto, buscar essas lembranças lhe abria feridas profundamente dolorosas como ocorre à costureira ao cerzir os farrapos da farda do filho após as perdas de guerra. Perguntou-se se Vagalume teria pensamentos iguais. Teve apenas um lampejo de dúvida: o companheiro não vivera a crueldade que o fustigara ao longo do tempo. Em Vagalume a perda imperceptível da mãe não lhe afetou desenvolver o caráter doce e honrado, a fidelidade incondicional a seu mundo estreito e restrito. Perder alguém querido antes de o querer parecia não lhe dizer tanto, mas, impossível precisar, nunca lhes veio à tona discorrer sobre isso. De parte dele para não assombrar no espírito de Vagalume imagens que podem ferir quando tiradas do sono; de parte de Vagalume porque era uma dor disforme, não precisamente por perder a genitora antes de a ter como mãe, mas por não ter tido a oportunidade de a ela dedicar honra e lealdade. Assemelhou Vagalume à primeira namorada, comparação descabida se vista de fora, mas pertinente quando avivada em seu interior: na infância tenra consumiam-se em brincadeiras, o silêncio dela casava-se com a timidez dele e inibia seu comportamento agitado e a sede de liberar energia e o colocava silente e observador, adivinhando nela os próximos movimentos e oferecendo seu apoio em antecipação. Comunicavam-se bem assim. Também ela, como Vagalume, perdera a mãe antes que o tempo lhe proporcionasse amá-la com os sentimentos: ficou na menina o amor do contato físico, o gozo generoso do leite morno, da teta macia - o que não tocou a Vagalume. Ficou nela o avivamento desse amor graças às palavras enaltecedoras do pai, que não deixava de evocar as virtudes da mãe e de a ter sempre no pensamento, mas era um amor fugidio, sem um rosto a quem grudá-lo. Pensou que mais tarde, passada a escuridão da noite, devesse vencer-se e conversar com o companheiro sobre isso. Mais vale despertar feridas avivando amores mortos que não ter amores a lembrar.

    Vagalume seguia cauteloso conduzindo o companheiro, olhar fixo à frente, pressuroso de ser surpreendido pelos obstáculos da jornada, como se fosse possível descortinar algo naquela ausência de luz. Mas, não estaria acostumado àquilo? Não é o correr da vida um ciclo interminável de vitórias sobre o desconhecido ainda que algumas delas se apresentem como derrotas aos nossos olhos ou aos de quem nos combate? Quando alcançou a idade de entender sentimentos deixou-se momentaneamente vencer pela sensação de derrota ao perceber a alegria de seus pares pequenos recebendo o carinho de suas mães. Mas não era em verdade uma grande vitória sua ter crescido e ascendido a seu posto sem a mãe a fazer-lhe o caminho? Não foi uma vitória sua encantar a estranhos a ponto de ser carinhosamente absorvido por eles? Não era uma vitória sua ter o privilégio de caminhar com esse parceiro na escuridão, conduzindo-o a porto seguro sem que ele, desconhecedor das surpresas do caminho, manifestasse apreensão ou desespero? Vagalume o fazia consciente, pesava-lhe na mente um grande sentimento de gratidão ao parceiro em oposição ao que, da mãe, poderíamos dizer que gostaria de tê-la amado: mas restava dela tão somente uma imagem apagada que lhe chegava pelo espelho de outras mães. Olhou de relance para os dois lados, quase não movendo a cabeça, tão somente revirando os olhos. Olhou com mais afinco para cima torcendo o pescoço. Nada era razoavelmente visível: para os lados um negrume mais acentuado à medida que tentava jogar o olhar ao longe; para cima a mesma pintura de tintas negras pinceladas pelo artista sobre a tela de fundo escuro. O que mudava um pouco era uma brisa mais amena vindo ao encontro dos dois.

    Vagalume! Não era seu nome próprio. Roberto! Ganhara o apelido ainda jovem graças a sua habilidade de vencer o breu da escuridão com facilidade. A ele não incomodava o escuro da noite e a escuridão da mente jamais o atingiu. O dia seguinte era como o nascer da vida, não deixava tarefas inacabadas para trás, se acaso ocorressem seriam um fato novo na alvorada vindoura. A fome de ontem não seria lembrada hoje se viesse a ocorrer, nem seria lembrada ao saborear a abundância da refeição à sua frente.

    Não longe encontrariam a margem do rio, Vagalume gostava desse trecho da estrada que lhe seguia o curso, apenas deixava-se levar esquecido de pensar que estrada e rio buscam semelhança ao se apresentarem como caminho e amparo ao viajante mas, enquanto um, em seu poderio majestoso caminha inexoravelmente em mão única para aniquilar-se na imensidão azul que o tragará sem oferecer-lhe opção, tragando também aqueles que dele se serviram, a outra cala-se gentilmente ao que a monta e galga e deixa-lhe o arbítrio de seguir sul ou norte sem impor-lhe vontade. O companheiro não sabia, mas talvez essa dubiedade fizesse parte dos pensamentos de Vagalume e por isso ele gostasse tanto do trecho da estrada que se fazia gêmea do rio. Poderia também ser mais simples: o encantar-se com o coaxar das rãs e o gemido das águas tropeçando nas raízes durante a viagem na escuridão da noite. Não sabia. Indivíduos simples como Vagalume surpreendem-nos com posições que nem sempre suspeitamos. Lembrou-se de certa feita, na juventude de Vagalume, já de amizade sólida os dois, quando ele adoeceu e Vagalume manteve sentinela na porta da frente, proibindo-se de ausência para comer ou beber. Não fossem os pais do doente alimentá-lo e mitigar-lhe a sede seria Vagalume o segundo doente na casa.

    Enquanto ele se entregava a adivinhar a mente do amigo, Vagalume deixava esvaziar-se o pensamento e saboreava a liberdade de estar na estrada comandando seu destino mesmo que a

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