Dia de Mudança
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Sobre este e-book
Após o sucesso de "Marketing de Gente", "Marketing Tutti-Frutti", "Gestão de Mudanças em Tempos de Oportunidades", "Receitas de Grandes Negócios" e "Crônicas de uma Internet de Verão", Mario Persona volta a deliciar seus leitores com seu humor mordaz e certeiro na análise de grandes temas envolvendo o sucesso profissional.
"Dia de Mudança" pode ser lido da forma que preferir: do começo para fim, do fim para o começo ou alternando os capítulos. Mas antes de começar é bom escolher uma poltrona confortável, pois você dificilmente encontrará um lugar para estacionar em suas páginas.
MARIO PERSONA
Mario Persona é palestrante, professor e consultor de estratégias de comunicação e marketing e autor dos livros “Laura Loft - Diário de uma Recepcionista”, “Meu carro sumiu!”, “Eu quero um refil!”, “Crônicas para ler depois do fim do mundo”, “Dia de Mudança” (também em inglês: “Moving ON”), “Marketing de Gente”, “Marketing Tutti-Frutti”, “Gestão de Mudanças em Tempos de Oportunidades”, “Receitas de Grandes Negócios”, “Crônicas de uma Internet de verão”, Coleção “O Evangelho em 3 Minutos” (4 volumes) e Coleção “O que respondi...”. Mario Persona participou também como autor convidado das coletâneas “Os 30+ em Atendimento e Vendas no Brasil”, “Gigantes do Marketing”, “Gigantes das Vendas”, “Educação 2007”, “Professor S.A.” e “Coleção Aprendiz Legal”, além de ter sido citado como “Case Mario Persona” no livro “Os 8 Pês do Marketing Digital”. Traduziu obras como “Marketing Internacional”, de Cateora e Graham, “Administração”, de Schermerhorn, “Liberte a Intuição”, de Roy Williams, além de diversos livros de comentários sobre a Bíblia. O autor é convidado com frequência para palestras, workshops e treinamentos de temas ligados a negócios, marketing, comunicação, vendas e desenvolvimento pessoal e profissional. Alguns temas são: Gestão de Mudanças, Criatividade e Inovação, Clima Organizacional, Gestão do Conhecimento, Comunicação, Marketing e Vendas, Satisfação do Cliente, Oratória, Marketing Pessoal, Qualidade Vida-Trabalho, Administração do Tempo, Segurança no Trabalho, Controle do Stress e Meio-Ambiente
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Dia de Mudança - MARIO PERSONA
* * * * *
Carta a um Executivo
Olá Zé. Doutor José?! Deixe disso, cara, hoje vou tratá-lo de Zé mesmo, pois um dia você foi só isso. Quero falar com você. Pode me dar cinco minutos? Dois? Sei que não tem tempo, que está correndo feito louco, mas o que quero dizer é importante para você não ficar assim mesmo — louco — quando a correria acabar.
É verdade, a correria acaba, nada dura para sempre. Quantas vezes nos últimos dias você ouviu a frase Não trabalha mais aqui
ao ligar para alguém? Antigamente não tinha disso, né Zé? Pois é, novos tempos. Seja humilde. Muito daquilo que você hoje pensa que tem não é seu. É da companhia ou do posto que ocupa.
Sabe o Júnior, aquele cheio de MBA disso e MBA daquilo, que fala até mandarim? Olha, Zé, é melhor você emagrecer porque seu paletó vai para ele. Se um dia você já foi o rei da cocada preta, hoje não é mais. Isso mudou. Deu cem dias sem resultados e vai ter alguém atendendo seu telefone e dizendo: Não trabalha mais aqui
.
Tudo bem que você vai sair como quem sai e não como quem é saído. Executivos são jogados na rua com tapete vermelho, até para resguardar a imagem da empresa. Vão dizer que saiu para desenvolver projetos próprios (leia-se "procurar emprego"), buscar novos desafios ("pesquisar nos classificados") e se dedicar mais à família ("viver à custa da patroa").
Por isso, comece a baixar a bola porque ela é emprestada. Devagar com seu próprio andor, porque você é de barro. Pode nem ser você quem está na reta, mas seu chefe ou o patrão. Empresários também são demitidos pelo mercado.
Quando jovem, negociei com um empresário a renovação do aluguel de um imóvel que pertencia a ele, ocupado pelo banco para o qual eu trabalhava. Muito dinheiro. Fumando charuto e entediado com a negociação na enorme mesa, numa enorme sala do enorme prédio de sua enorme empresa, ele baforou em minha cara a conclusão nada humilde:
— Vá lá, fica por isso mesmo. Esse aluguel eu gasto num final de semana só de combustível para meu iate.
Na certa seu iate também era enorme e devia beber muito porque poucos anos depois ele não tinha nem iate, nem empresa, nem charuto. Só fumaça. Os tempos são outros, por isso seja humilde, Zé. Como assim, seja humilde?
Bem, fuja do perfil do executivo que vi uma vez jogando golfe em um resort. Prepotente, altivo, desses que culpam tudo e todos por seu próprio fracasso, era um show à parte. Chamava a atenção com seus chiliques, lançando impropérios contra a grama e culpando-a por não conseguir acertar o buraco. Isso foi há alguns anos. Não sei se ele comeu grama melhor desde então.
É provável que você não se aposente como executivo. Pouca gente vai conseguir. Acostume-se com a ideia de não estar no próximo congresso para ver o Peter Drucker e outros gurus. Mesmo porque até o grande Drucker passou, como todos passam e um dia você vai passar também. Por isso, seja humilde.
Aprenda desde já a viver como um simples mortal — pegar fila em banco, andar de ônibus, comer pastel de feira. Pode não ter o glamour com o qual está acostumado, mas é menos estressante do que a vida que você leva agora. Por sinal, lembre-se de deixar o glamour na portaria junto com o crachá. Pertence à empresa.
Não se iluda com sua rede de relacionamentos. Muitos são amigos apenas da donzela que viaja de Zepelim. Quando o balão se vai, você volta a ser para eles a Geni da música do Chico. Nessas horas vale até ligar para todos aqueles cartões de executivos que você guardou na gaveta para quando precisasse. Mas não se espante se, na maioria das vezes, só ouvir a mesma frase: Não trabalha mais aqui
.
Comece a desenvolver um Plano B
, um Plano C
e não se acanhe se precisar chegar a um Plano Z
. Quanto mais opções, melhor. Você pode acabar virando consultor ou até palestrante como eu. Você não imagina o currículo que têm as pessoas que me procuram atrás de dicas de como palestrar, achando que esta é a aposentadoria padrão de todo executivo. Fico até constrangido de pensar que possa ter algo a ensinar para pessoas com uma bagagem tão maior que a minha.
Faça já um diagnóstico de suas competências. Existe algo mais que saiba fazer? Sei lá, cozinhar, costurar, fazer de conta que sabe fazer contas. São coisas úteis para quando você abrir seu restaurante por quilo, sua confecção de biquínis ou começar a fazer em casa a contabilidade de seus novos clientes. Tudo bem, pode se apresentar como chef
, designer de moda
ou personal finance coach
, quando fizer a declaração do imposto de renda dos amigos em seu home-office
. Pode usar esses termos, se quiser acrescentar algum glamour às suas novas atividades. Mas se não souber fazer nada, seja humilde e volte a estudar.
Tem mais uma coisa: dê atenção à sua família, se tiver sobrado uma. Geralmente esposa, filhos e irmãos são tudo o que resta quando a idade vem e a carreira vai, levando junto os amigos de copo e coffee-break. Isso quando resta, se você não os tratou como resto e cuspiu no prato nativo enquanto comia em louça chinesa com os talheres de prata da ingrata empresa.
Quer mais? Sabe aquela menina que poderia ser sua neta e chama você de gato, que diz que grisalhos são charmosos e carecas têm um brilho todo especial? Não acredite nela. Ninguém saliva tanto assim por um prato de pelancas. Ela está mais interessada numa viuvez bem-sucedida com pensão garantida, do que em ficar passeando em alguma estância de água mineral de braços dados com um tiozinho decrépito.
Não tenho mais dicas para dar. Ah, sim! Mais uma: seja humilde. Eu já disse? Tudo bem, é a idade. Por falar nisso, qual é a sua? Sabe que isso influi, não sabe? Pois é. Por falar em humildade, conheço empresários e executivos que já trabalham assim, dando exemplo de humildade e fazendo do ato de servir uma característica de sua imagem profissional.
Durante o almoço em um evento, o dono do grupo de indústrias que me contratou interrompeu o que estava fazendo para me cumprimentar. O que estava fazendo? Servindo as mesas. Outro, presidente de uma multinacional, agarrou minha mala e carregou-a até meu carro no estacionamento do hotel, diante dos olhares atônitos dos que seguem suas ordens no dia-a-dia da empresa. Executivos malas vão desaparecer. Os que não têm vergonha de carregá-las irão sobreviver. Portanto, seja humilde.
Eu sei, eu já disse.
Mario Persona
* * * * *
Apresentação
Fui visitá-la em Filadélfia, mesmo sabendo que ela estava em estado terminal. A experiência não seria lá muito agradável e acabou trazendo à tona recordações de dias melhores. Achei que não teria outra chance se não a visitasse naquela manhã fria que antecedia o inverno no hemisfério norte.
Um misto de reverência e tristeza encheu minha alma ao passar por aquelas pesadas portas. Era como se invadisse o mausoléu de um faraó séculos depois de seu tempo de glória. Nas paredes, hieróglifos em inglês gritavam sua agonia: GOING OUT OF BUSINESS!
. Eu estava em uma das lojas da rede Towers Records nos EUA. Mais uma que sucumbia aos novos tempos e às mudanças.
Você já se deu conta de como as coisas estão mudando rapidamente? Quando adolescente, ir a uma loja de discos era um acontecimento. E um sofrimento, pois alguns proprietários tinham o sádico costume de fazer de conta que não entendiam o nome da música em inglês errado e pediam para a gente cantar um pedacinho. Eu odiava aquilo, mas gostava de dar uma passadinha lá, só para ouvir outro otário cantar. Era hilário.
Agora acabou. Se ainda existir uma loja de discos em sua cidade — hoje eles são chamados CDs —, corra lá e leve seus filhos. No futuro eles poderão contar que já estiveram numa loja assim, como hoje eu conto para os meus que já andei de bonde.
As lojas de CDs partem, mas não vão sozinhas. Morrem de mãos dadas com as lojas de fotos e outros negócios que o tempo levou. Ficou tudo digital. A foto você tira com o celular e revela na Internet. A música, você baixa e não revela. E o vídeo da locadora? Esse já foi desenganado e só aguarda a chegada da banda para tocar no funeral. A banda larga.
Curiosamente, aquele que parecia estar com seus dias contados continua firme e forte. Irmão mais velho — bem mais velho — das outras mídias de expressão artística, o livro tem driblado o bico do corvo e vai fazendo seus gols de letra
, nome do gol feito com as pernas cruzadas em X
. Uma incógnita, como a data da morte do livro.
Quando surgiu o primeiro computador pessoal todo mundo achou que aquela seria a pá de cal do livro. Ninguém pensou no som e na imagem, pois as primeiras máquinas só sabiam cantar bip!
e imprimir fotos feitas com letras. Mas as mídias tradicionais de som e imagem acabaram sucumbindo antes. Enquanto isso, todas as tentativas de divorciar as letras da mídia de papel não receberam o aval do juiz, o mercado.
O livro é um fetiche. As pessoas querem apalpar sua capa, deslizar os dedos por suas páginas, deixar marcas em suas folhas, desfilar sua lombada a caminho do trabalho ou expor seu dorso na estante. Para leitores assíduos como eu, livro é objeto de desejo. Tem até livraria que vende livro por metro, só para decoração. Vi um rapaz, numa livraria, olhando-se em um espelho e fingindo que caminhava segurando um livro. Escolheu o que tinha a capa mais bonita, provavelmente só para levá-lo passear ou fazer uma entrada triunfal e intelectual na empresa.
Até aí tudo bem. O problema é lidar com o número de pessoas que me escrevem querendo saber como publicar um livro. Pensam que só é escritor quem publica. Não é. Escritor é quem escreve, assim como escultor é quem esculpe, pintor é quem pinta e cantor quem canta. Se a obra será ou não vista pelo mundo, esta não é a preocupação primeira do escritor. Para ele ou ela, escrever é uma necessidade fisiológica e visceral. Escrever é o vômito da abelha ébria, o mel.
O engano está em pensar que publicar é sinônimo de ficar rico e famoso. Quem pensa assim não quer ser escritor, quer ser rico e famoso. A grande maioria dos escritores não passa nem perto disso. Para ser escritor é preciso gostar de ler. Você odeia ler? Então esqueça escrever ou contrate um ghostwriter. Você gosta de escrever? Então comece. Foi assim que comecei.
Mas, como tudo está mudando rapidamente, escrevo de um modo como não poderia escrever no