Ilha de Metarica: memórias da guerra colonial
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Sobre este e-book
As memórias francas, por vezes imensamente divertidas, por vezes brutalmente chocantes, do percurso militar de um capitão miliciano do Exército Português, enviado para a Guerra Colonial na Guiné e em Moçambique, onde se cruzou com Spínola, Kaúlza de Arriaga e outros homens e mulheres que o marcaram para o resto da sua vida.
"Tive tempo, muito tempo mesmo, enquanto estive em África, principalmente na Ilha de Metarica, durante as horas mortas no aquartelamento, ou nas operações de dias e dias pela mata, para pensar na minha vida e nos meus problemas, e cheguei à conclusão que era necessário relativizá-los, por muito grandes que eles me parecessem, perante a gravidade de certas situações com que me deparei na guerra. Não quis definir metas para a minha vida para quando regressasse a Portugal, mas tinha a certeza de que voltaria um “homem” novo e em variados aspetos – humano, social, político e principalmente sexual - foi ali, em África, que cheguei finalmente à conclusão de que, apesar da minha orientação sexual não ser a mais comum, eu era um homem normal."
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Ilha de Metarica - João Carlos Roque
ILHA de METARICA
Memórias da Guerra Colonial
João Carlos Roque
INDEX ebooks
2014
Ficha técnica
Título: Ilha de Metarica: Memórias da Guerra Colonial
Autor: João Carlos Roque
Revisão: João Máximo, Patrícia Relvas e Luís Chainho
Capa: João Máximo
Fotos: João Carlos Roque
Edição 1.00 de 17 de julho de 2014
Copyright © João Carlos Roque, João Máximo e Luís Chainho, 2014
Todos os direitos reservados.
Esta publicação não poderá ser reproduzida nem transmitida, parcial ou totalmente, de nenhuma forma e por nenhuns meios, eletrónicos ou mecânicos, incluindo fotocópia, digitalização, gravação ou qualquer outro suporte de informação ou sistema de reprodução, sem o consentimento escrito prévio dos editores, exceto no caso de citações breves para inclusão em artigos críticos ou estudos.
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Lisboa, Portugal
ISBN: 978-989-8575-47-0 (ebook)
Introdução
No Portugal onde eu cresci, havia uma certeza que pairava sobre todos os jovens rapazes, como eu, principalmente a partir de 1961. Mais tarde ou mais cedo, seríamos chamados a cumprir o serviço militar obrigatório, facto que apenas era evitado por quem era deficiente, tinha doenças verdadeiramente graves ou então por quem tinha bons padrinhos
, o que era bastante corrente nas classes dominantes e que levava a que esses sortudos
ficassem por cá nas administrações militares, em vez de irem para o Ultramar, como então se chamava às colónias. Aos outros restava apenas uma forma de escapar à ida para a tropa e que era fugir
, ou seja o exílio! Este fugir não era determinado pelo medo, mas sim, quase sempre, por uma recusa em servir uma causa que muitos condenavam – a manutenção das colónias a qualquer preço.
A guerra colonial portuguesa iniciou-se em 1961, em Angola, e durou 13 longos anos, durante os quais, e nas três frentes de combate, as Forças Armadas Portuguesas lutaram contra os movimentos de libertação, os chamados turras
(denominação esta de que nunca gostei muito): o PAIGC na Guiné, a FRELIMO em Moçambique e os três movimentos em Angola: a UPA/FNLA, o MPLA e a UNITA[1].
A guerra não foi igual nas três colónias; a guerra na Guiné teve aspetos e formas de atuação de parte a parte bastante diferentes dos da guerra em Angola ou em Moçambique. Na Guiné, região muito pobre, a consciência política estava muito presente e sobrepunha-se naturalmente às razões económicas. Havia um líder carismático, Amílcar Cabral, que congregava as diversas etnias e, por ser um território pouco extenso, a progressão do PAIGC, com o auxílio dos países limítrofes, principalmente da Guiné–Conacri e do Senegal, foi rápida pelo que, em pouco tempo, o controlo das nossas forças se limitava, por assim dizer, aos principais centros urbanos. A região do sudeste, quase deserta a partir do rio Corubal, foi mesmo totalmente conquistada pelo PAIGC, que aí proclamou unilateralmente a independência, em Madina do Boé, em setembro de 1973, ato que foi reconhecido internacionalmente por muitos países, mas nunca aceite por Portugal, como é óbvio. Para além das principais cidades, também controlávamos, a muito custo, os aquartelamentos precários que se situavam em pequenas localidades, de onde mal se podia sair e onde se podia ser alvejado a qualquer altura.
Em Angola e Moçambique, a situação era bastante diferente. Eram territórios vastos e ricos e a guerrilha fazia-se noutros moldes, a partir de autênticos santuários
que foram sendo sistematicamente eliminados pelas nossas tropas, embora à custa de muitas vidas, o que ia levando à pacificação de vastas áreas e limitando as zonas de guerra real. Em Angola, especificamente, os conflitos entre os movimentos de libertação foram bem explorados pelas Forças Armadas Portuguesas.
Os aquartelamentos nestas duas províncias ultramarinas (nome porque tinham passado, então, a ser designadas oficialmente as colónias) eram geralmente seguros, mas as operações militares, para atingirem os seus fins, eram longas, demoradas e perigosas. Nunca se sabia onde o inimigo apareceria, como atacaria, numa constante mobilidade a que a nossa tropa nunca conseguiu responder adequadamente por falta de preparação específica. Um facto de que se falou muito foi o elevado número de vítimas que ocorreram em acidentes com viaturas, tendo-se chegado a especular que poderiam ser mortos e feridos em combate que o governo não queria assumir; mas não, esses acidentes aconteciam mesmo devido ao mau estado das picadas
, à falta de manutenção das viaturas e à impreparação dos condutores auto, nem sempre bem selecionados e vítimas das facilidades
que então eram dadas aos militares para tirarem a carta.
Não posso deixar de referir que, ao contrário da Guiné, onde em 1974 a guerra estava completamente perdida, em Angola e Moçambique a guerra poderia não estar ganha, longe disso, mas estava bastante controlada e cada vez mais limitada territorialmente.
Foi pois a partir do início dos conflitos armados nas três principais colónias portuguesas – Angola, Moçambique e Guiné – logo no começo da década de sessenta do século passado e que coincidiu com a progressão dos ideais de esquerda entre a juventude lá fora, e cá também, principalmente nas Universidades (lembrar as crises académicas da época), e que culminaram com o maio de 1968, em França, que aumentou em muito o número de jovens portugueses que saíam do país para fugir
à tropa.
Claro que a mim, o problema também se me pôs, pois era completamente alheio aos motivos que norteavam a defesa das colónias – nunca senti que se ia para África para defender