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O Brasil Na Segunda Guerra Mundial
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O Brasil Na Segunda Guerra Mundial
E-book465 páginas5 horas

O Brasil Na Segunda Guerra Mundial

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Sobre este e-book

O Brasil na Segunda Guerra Mundial: História e memórias é um livro que reúne aspectos que vão do período entre-guerras, passando pelo alinhamento brasileiro com os Aliados, a participação do Brasil no conflito e as consequências políticas, sociais e militares dessa participação. Privilegiando o uso de fontes primárias, como depoimentos dos ex-combatentes, cartas, impressos da época e documentos oficiais, o leitor vai explorar, além dos combates na Itália, outros temas pouco debatidos na historiografia brasileira, como a importância estratégica de ter o Brasil como aliado no conflito; as preocupações de Vargas quanto às consequências da participação na guerra, principalmente na desestabilização do Estado Novo; as agruras dos soldados da borracha ; a desmobilização precoce da Força Expedicionária Brasileira (FEB); as dificuldades que os ex-combatentes sofreram na readaptação ao mundo civil; e as heranças do conflito, para o regime varguista e para o Exército Brasileiro. O último capítulo, intitulado Além do front reúne 23 diferentes subcapítulos que, como o nome sugere, explora situações cotidianas, sobretudo envolvendo os ex-combatentes e a população. Com a maioria das narrativas repletas de fontes primárias, o leitor se sentirá como se estivesse ouvindo os causos contados pelos veteranos, bem como conhecer outros aspectos que certamente ainda não leu, como integração racial nas tropas brasileiras, relacionamento com a população italiana, massacres perpetrados contra a população local, tratamento aos prisioneiros de guerra e feridos alemães, miséria italiana e compaixão brasileira, burros de carga nas montanhas apeninas, trocas de de gentileza e arranca-rabos entre combatentes brasileiros e norte-americanos etc. Desejamos uma boa leitura, descontraída e repleta de novas informações!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento7 de dez. de 2023
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    O Brasil Na Segunda Guerra Mundial - Anderson Luís Ciotta

    SOBRE O AUTOR:

    A Segunda Guerra Mundial é reconhecidamente o maior conflito da história da humanidade, pela dimensão que tomou e pelas perdas infligidas aos países beligerantes e, principalmente, àqueles que V'I

    ro

    sofreram a perseguição do regime nazista.

    ·;::

    No Brasil, os mais ufanistas trataram as vitórias da Força E

    Major do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Expedicionária Brasileira (FEB), principalmente em Monte Castelo e Q)

    Catarina, Anderson Luís Ciotta nasceu em 1981, E

    Montese, como dignas de colocar o país ao lado das grandes em Bituruna-PR.

    Q)

    É formado em História, pela Universidade

    potências vencedoras.

    ro

    Estadual do Paraná; Letras - Inglês, pelo Centro Mas, em se tratando de uma guerra com números exagerados, com

    ·;::

    Universitário Estácio; e Ciência Política, pelo aproximadamente 100 milhões de soldados envolvidos, os 25.334

    -�

    Centro Universitário Internacional (UNINTER).

    Além do Curso de Formação de Oficiais do Corpo

    combatentes brasileiros enviados ao front italiano mudaram a I

    de Bombeiros (2009-2011), possui o Curso de trajetória do conflito? Certamente não!

    ro

    Formação de Sargentos (2001) e o Curso de

    Então, a participação do Brasil foi insignificante? Poderia ser, caso a

    :a

    Formação de Oficiais da Reserva (2000), ambos

    e

    do Exército Brasileiro. Foi agraciado com as História fosse ciência exata, mas não é.

    ::::,

    medalhas de 1° colocado dos três cursos de Assim, para explorar esses aspectos, lhe convidamos para uma leitura

    Edital nº 001/ACORS/2022

    formação militares.

    que ultrapassa as narrativas positivistas, restritas aos documentos

    Como

    Sargento

    do

    Exército

    Brasileiro

    ,_

    Empenhada em divulgar conheci

    (2001-20091, atuou nas áreas de explosivos,

    oficiais, grandes personalidades e autoridades civis e militares.

    Q)

    mento e fazer com que seus associapontes, meios de transposição, topografia, Explorando também fontes primárias, como cartas, periódicos,

    ::::,

    orientação e História Militar. Participou da Missão dos busquem a literatura como

    relatórios, legislações e depoimentos dos ex-combatentes, esta obra ro

    das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti -

    prazer, a ACORS lançou mais um

    "O

    MINUSTAH (2008-2009), nas funções de

    aborda aspectos do alinhamento brasileiro com os Aliados, e

    Edital para publicação de obras

    Comandante de Esquadra da equipe de

    contribuições para o esforço de guerra, participação da FEB no front,

    ::::,

    literárias.

    neutralização de explosivos (EOD Team) da ONU

    readaptação dos ex-combatentes, e os reflexos do conflito na política O"l

    Q)

    Acostumada a patrocinar essas

    e intérprete de inglês.

    V'l

    Como Oficial do Corpo de Bombeiros, trabalhou

    nacional e no Exército Brasileiro.

    ro

    obras, a ACORS orgulha-se de apoiar

    como Chefe de Seção de Segurança Contra

    Com a utilização de fontes orais, as memórias dos ex-combatentes e

    em 2022 a publicação de 06 livros,

    Incêndio, Comandante de Companhia e

    são aqui compartilhadas, trazendo percepções e narrativas inéditas,

    "iii

    todos de autoria de Oficiais da Polícia

    Força-Tarefa,

    Ajudante

    de

    Ordens

    do

    Militar e do Corpo de Bombeiros

    Comandante-Geral, piloto de avião e de

    dividindo com o leitor o privilégio de tê-los ouvido. Afinal, não só de co

    Militar de Santa Catarina, totalizanhelicóptero. Na Defesa Civil estadual, foi Diretor grandes personalidades é feita a História, mas também de anônimos, o

    de Resposta aos Desastres e Diretor de

    como era a enfermeira Elza, desconhecida à época da eclosão do do cerca de 70 livros e revistas já

    Reabilitação e Reconstrução. Na Casa Militar, publicadas.

    ocupou o cargo de Ajudante de Ordens do

    conflito, que sintetizou em poucas palavras o sentimento nacional, De livros técnicos, contos, relatos

    Governador do Estado.

    após o torpedeamento de navios brasileiros pelos alemães, fato reais, até histórias de OPM/OBM,

    determinante para a entrada efetiva do país na 2ª Guerra Mundial: nesse ano os autores surpreenderam,

    Eu não poderia permitir, jamais, uma brasileira, que viessem os com obras que agradaram a

    estrangeiros aqui pra dentro das nossas águas matar a nossa gente! *

    Comissão Permanente de Análise

    *Major Elza Cansanção Medeiros, a mulher mais condecorada do Brasil, Literária da Academia de Letras dos

    Militares Estaduais - ALMESC.

    com mais de 200 medalhas, em entrevista ao autor, em Porto União-Se, A ACORS pretende exercitar seu

    em maio de 2008. A Major Elza é uma das primeiras oficiais do Exército direito de sempre lutar pelo bem da

    Brasileiro e participou da 2ª Guerra Mundial como enfermeira.

    sociedade e de seus associados,

    buscando no conhecimento e no

    constante aperfeiçoamento o princi

    '•

    pal caminho para a melhoria de suas

    .. , -

    atividades.

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    ....... .. , .:::-.·

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    Desejamos uma boa leitura desta

    obra e das demais publicadas com o

    Selo da EDITORA FAPOM - Faculdade

    da Polícia Militar.

    Sérgio Luís Sell

    Coronel QOPM se

    Presidente da ACORS

    Edital nº 001/ACORS/2022

    Empenhada em divulgar conheci mento e fa-

    zer com que seus associa dos busquem a li-

    teratura como prazer, a ACORS lançou mais

    um Edital para publicação de obras literárias.

    Acostumada a patrocinar essas obras, a ACORS

    orgulha-se de apoiar em 2022 a publicação de 06 li-

    vros, todos de autoria de Oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina,

    totalizan do cerca de 70 livros e revistas já publicadas.

    De livros técnicos, contos, relatos reais, até histórias de OPM/OBM, nesse ano os autores surpre-

    enderam, com obras que agradaram a Comissão

    Permanente de Análise Literária da Academia

    de Letras dos Militares Estaduais - ALMESC.

    A ACORS pretende exercitar seu direito de

    sempre lutar pelo bem da sociedade e de

    seus associados, buscando no conhecimen-

    to e no constante aperfeiçoamento o princi-

    pal caminho para a melhoria de suas atividades.

    Desejamos uma boa leitura desta obra e das de-

    mais publicadas com o Selo da EDITORA FAPOM

    - Faculdade da Polícia Militar.

    Sérgio Luís Sel

    Coronel QOPM SC

    Presidente da ACORS

    Anderson Luís Ciotta

    O Brasil na

    Segunda Guerra

    Mundial:

    História e memórias

    Florianópolis, setembro de 2022.

    Copyright © 2022 por Anderson Luís Ciotta Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamen-to ou transmissão de parte deste livro por quaisquer meios, sem prévia autorização do autor.

    Primeira edição, 2022

    Projeto gráfico/Diagramação: Rogério Junkes

    Capa: Agência Escuzê

    Revisão: Autor

    Apoio Cultural: ACORS / ALMESC

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

    C576b Ciotta, Anderson Luís,

    O Brasil na Segunda Guerra Mundial : história e memórias /

    Anderson Luís Ciotta. – 1ª ed. – Florianópolis : FAPOM, 2022.

    326 p.: il.

    Inclui referências bibliográficas

    ISBN: 978-65-00-59152-1

    1. Segunda Guerra Mundial. 2. Força Expedicionária Brasileira. 3. Relatos de Veteranos - Brasil. I. Ciotta, Anderson Luís. II. Título.

    CDD: 355.009

    Catalogação na fonte: Gabriela Garcia Mendonça CRB-14/1802

    Dedico este livro a todos que labutaram ou sacrificaram a vida na luta contra o totalitarismo e a intolerância, materializados no século XX pelo nazifascismo e suas nefastas ações contra a humanidade.

    Agradecimentos

    Em ordem cronológica, àqueles que inspiraram ou participaram deste projeto:

    - Meus pais, Pedro e Juraci, alicerce e base de todos os ensinamentos morais e encaminhamentos para a vida social e profissional;

    - Coronel Gláucio Érico de Almeida Silva, o então Capitão Érico, instrutor de História Militar do Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva (NPOR) do 5º Batalhão de Engenharia de Combate, em Porto União, que desenvolveu, junto a nós alunos, projeto de história oral sobre a participação dos ex-combatentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na 2ª Guerra Mundial, servindo de estopim para a minha paixão pelo tema;

    - Professor Doutor Frank McCann ( in memoriam), historiador norte-americano, Professor Emérito da Universidade de New Hempshire, estudioso das relações Brasil – Estados Unidos, que dedicou parte do seu precioso tempo à troca de correspondência eletrôni-ca, indicação de materiais de estudo e orientação à distância, quando o autor era ainda acadêmico do curso de História;

    - Professor Doutor Ilton Cesar Martins, meu orientador na graduação, no Trabalho de Conclusão de Curso intitulado A participação dos pracinhas paranaenses e catarinenses na Força Expedicionária Brasileira;

    - Major Elza Cansanção Medeiros, Enfermeira no teatro de operações da Itália que, além de conceder-me entrevista, agraciou-me com sua gentileza no curto e inesquecível período de convivência que tivemos. Obrigado pelas boas conversas e pelo acesso irrestrito ao seu acervo de fotografias, mas, sobretudo pelo livro de sua autoria, com a dedicatória "Ao amigo Sargento Ciotta... ";

    - Professora Terezinha Leony Wolf, por ter compartilhado suas experiências de infância, da inocência em período tão conturbado, quando qualquer descendente germânico, residente no Brasil, era 5

    suspeito de ser quinta-coluna;

    - Veterano Zigmundo Koslowski que, de pronto, concordou em conceder entrevista quando visitava o 5º Batalhão de Engenharia de Combate Blindado para a prova de vida. Sua lucidez, gentileza e bom

    -humor ficarão para sempre na minha memória;

    - Veterano Romão Golênia e sua filha Helena, que me receberam em sua casa para a entrevista, que foi uma longa e agradável conversa, além do acesso ao acervo pessoal e um delicioso café da tarde;

    - Veterano Estanislau Vitek, que nos brindou com sua participação em uma das minhas aulas de História Militar no NPOR, quando assumi tal disciplina, anos após ter sido aluno do daquele Núcleo.

    Suas memórias foram conosco compartilhadas e atentamente acompanhadas pela Professora Leni Trentim Gaspari, a quem agradeço pela parceria e ensinamentos durante a supervisão do meu estágio em História;

    - Veteranos Elba Ayres Pacheco, Francisco Izidoro Pimpão, Silvio Forville, Pedro Pcheneczuk e Nico Zalutski, que também contri-buíram, com depoimentos, para que suas memórias e contribuições à pátria fossem aqui narradas e, dessa maneira, eternizadas;

    - Veterano Lino Vicenzi, pela gentileza de me enviar seu livro de memórias com dedicatória, em 2013. Sua trajetória, narrada com simplicidade e autenticidade, prende a atenção do leitor e nos enche de orgulho;

    - Ao Sargento Eduardo Baukat fica o agradecimento pela relevante parcela de contribuição na realização desta obra, por ter acompanhado o autor nas entrevistas e oferecido, além da amizade, o suporte técnico necessário; e

    - À minha esposa Heloísa e meus filhos Anderson Gabriel e Maria Luísa, pelo suporte e por fazerem parte da minha trajetória, na presença ou mesmo nas ausências.

    6

    Epígrafe

    Dos meus companheiros mortos a bala alemã, isso eu não me esqueço! São pessoas que morreram e deram a sua vida em favor da democracia que agora nós estamos usufruindo. E não foi um só, foram vários!

    Francisco Izidoro Pimpão – ex-combatente

    da Força Expedicionária Brasileira.

    7

    Sumário

    Introdução ........................................................................................... 15

    1 Antecedentes do conflito ............................................................... 19

    1.1 Contexto mundial após o término da 1ª Guerra Mundial .. 19

    1.2 A ascensão de Hitler e o antissemitismo ............................... 24

    1.3 Deflagração do conflito ........................................................... 35

    2 Alinhamento brasileiro e seu valor estratégico .......................... 38

    2.1 Fornecimento de matérias-primas e uso de bases

    aéreas e navais .......................................................................... 38

    2.2 Soldados da borracha .............................................................. 51

    3 O Brasil na Segunda Guerra Mundial ......................................... 60

    3.1 Ação dos quinta-colunas: é mais fácil uma cobra fumar... . 62

    3.2 Formação da FEB e fase de preparação ................................. 70

    3.3 Rumo à Europa ......................................................................... 84

    4 A cobra iria fumar: a FEB no teatro de operações ..................... 94

    4.1 Últimos preparativos para entrar em ação............................ 100

    4.2 Massarosa, Camaiore e Monte Prano .................................... 107

    4.3 Castelnuovo di Garfagnana .................................................... 110

    4.4 Do Serchio ao Reno ................................................................. 113

    4.5 Monte Castelo ........................................................................... 115

    4.6 Operações de inverno: neve, lama e patrulhas ..................... 131

    4.7 Ataque vitorioso ao Monte Castelo ........................................ 137

    4.8 La Serra ...................................................................................... 144

    4.9 Castelnuovo............................................................................... 145

    4.10 Montese ................................................................................... 148

    4.11 Ofensiva final e rendição alemã ........................................... 159

    5 Retorno ao Brasil ............................................................................ 173

    5.1 Viagem de retorno e recepção de herói ................................. 173

    5.2 De herói a cidadão comum: desmobilização precoce e readaptação ............................................................................ 178

    6 Pós-guerra no Brasil: heranças do conflito ................................. 205

    6.1 Fim do Estado Novo ................................................................ 205

    9

    6.2 Exército Brasileiro pós 2ª Guerra Mundial ........................... 214

    6.2.1 Doutrina Militar .............................................................. 216

    6.2.2 Sistema e instituições de ensino .................................... 223

    6.2.3 Formação de oficiais da reserva .................................... 232

    6.2.4 Emprego de veículos blindados ..................................... 236

    7 Além do front .................................................................................. 241

    7.1 Convivência com a população italiana .................................. 242

    7.2 Presença da mulher brasileira na Itália ................................ 246

    7.3 Hoje você não entra aqui! ....................................................... 246

    7.4 Sargento Max Wolff Filho: o icônico patrulheiro ................ 248

    7.5 Cadê o meu fuzil? ..................................................................... 253

    7.6 Em troca de Lira e um pouco de comida .............................. 254

    7.7 Uma lata, querendo resto de comida... e não deram! .......... 257

    7.8 Mais miséria .............................................................................. 259

    7.9 Confiança que levou à negligência ......................................... 261

    7.10 Tratamento aos feridos alemães ........................................... 262

    7.11 Três bravos brasileiros ........................................................... 263

    7.12 Nunca envie correspondência em envelope do

    serviço religioso!..................................................................... 265

    7.13 Massacres durante a ocupação nazista ................................ 267

    7.14 A guerra psicológica e de informações ............................... 272

    7.15 Alimentação da FEB .............................................................. 279

    7.16 Hospitais de campanha e causos de enfermeira ................. 282

    7.17 Integração racial entre negros e brancos ............................. 284

    7.18 Berberino antropógafo? ........................................................ 290

    7.19 When the Snake Smokes, the Pracinhas Get Sore ........... 291

    7.20 Brasileiros e norte-americanos continuam

    a troca de gentilezas ............................................................... 293

    7.21 O militar norte-americano que jaz no Brasil ...................... 294

    7.22 Modernos blindados e... muares! ......................................... 296

    7.23 A Cobra fumou! ..................................................................... 298

    Reflexões finais .................................................................................... 301

    10

    Apresentação

    Esta obra se dedica a narrar a participação brasileira na 2ª Guerra Mundial, com abordagem que inicia no período entreguerras, chegando até os desdobramentos que os alinhamentos estratégicos e o envio de tropas à Itália produziram, alguns deles com reflexos sentidos até a contemporaneidade.

    Para além das narrativas encontradas em outras obras, buscamos privilegiar a inserção de informações obtidas em fontes primárias, por meio de documentos oficiais e acervos particulares, mas, sobretudo, de fontes orais, portanto com exposições inéditas, obtidas em entrevistas com os ex-combatentes.

    Dessa forma, o livro foi dividido em seis capítulos que seguem a ordem cronológica dos fatos e um sétimo, que aborda temas esparsos no tempo, podendo cada um dos seus subcapítulos ser lido de forma separada, sem prejuízo à compreensão.

    O primeiro capítulo explora a situação europeia no período entreguerras, as dificuldades econômicas, a ascensão do nazismo e de Hitler na Alemanha, suas consequentes ações de supremacia racial e perseguição aos judeus e outras minorias e, finalmente, o início do conflito.

    No segundo capítulo, a guerra não é mais exclusiva do território europeu e sua eclosão é sentida nas Américas, seja pela ação bélica direta dos japoneses em território norte-americano ou por meio da pressão quanto ao alinhamento brasileiro com os Aliados. Nesse contexto, além da conhecida importância geopolítica do Brasil e sua possibilidade de fornecimento de matérias-primas, aspectos habili-dosamente explorados por Getúlio Vargas, inserimos um subcapítulo sobre os soldados da borracha, por ser uma passagem da História pouco explorada, que envolveu quantidade significativa de brasileiros em uma ingrata batalha pela exploração do látex e, em última análise, pela própria sobrevivência.

    O terceiro capítulo traz o tortuoso caminho percorrido entre 11

    a decisão de enviar tropas para alguma frente de batalha em outro continente e a efetivação desse objetivo. O descrédito criado pela propaganda nazista, a mobilização de efetivo considerável perante o tamanho do Exército Brasileiro (daquela época) e uma gama de deficiências logísticas (todas elas oportunidades de evolução nas Forças Armadas) são alguns dos aspectos explorados.

    O quarto capítulo narra as ações da FEB em território italiano, possivelmente utilizando abordagens parecidas com a bibliografia que explora o tema. O objetivo é que o leitor possa identificar e ambien-tar-se com as principais batalhas que a tropa brasileira se deparou, cada uma com as suas peculiaridades e nível de dificuldade. Afora as referências bibliográficas, inserimos narrativas dos ex-combatentes, justamente visando trazer citações inéditas e o sentimento dos febianos, por mais que, à época das entrevistas, já houvesse passado várias décadas do final do conflito.

    O quinto capítulo versa sobre tema dos menos explorados, quando se fala em Força Expedicionária Brasileira, que é nostalgia inicial pelo retorno à pátria (com tratamento de herói) e a desmobilização precoce que, para muitos, fez dar início a uma nova guerra, pela saúde física e mental, emprego e amparo estatal, ou readaptação ao retorno à vida civil.

    O sexto capítulo, da mesma forma, discute tema que normalmente não faz parte dos principais debates acerca do Brasil na Segunda Guerra. As heranças aqui abordadas, sendo a mais imediata e pontual delas o fim do Estado Novo, e outras perenes, ligadas às evoluções introduzidas no Exército Brasileiro, são em grande parte decorrentes do alinhamento do Brasil com os Estados Unidos, abordado no capítulo dois.

    O sétimo capítulo é o que mais utilizou de fontes primárias, sendo a maioria dos mais de vinte subcapítulos baseados em narrativas dos veteranos e aspectos que não se limitam às ações de articulação política ou de combate, justamente por isso intitulado de Além do front. Da convivência pacífica com a população local, camaradagem 12

    ou arranca-rabos entre a tropa brasileira e os norte-americanos, até os covardes massacres praticados pelos nazistas contra os italianos, a ideia principal foi explorar a memória, dando voz a diversos atores até então desconhecidos.

    Enfim, a proposta desta obra não é recontar a participação brasileira no conflito, tantas vezes narrada em primeira ou terceira pessoa.

    O objetivo é trazer novos pontos de vista e, principalmente, em respeito ao precioso tempo que os veteranos despenderam ao conceder entrevistas, e em homenagem a eles e suas trajetórias de vida, colocar suas narrativas no papel, para que sejam compartilhadas, lidas e reli-das, pois seria ato de egoísmo guardar para si tamanha contribuição que os ex-combatentes deram para a história oral da Força Expedicionária Brasileira.

    13

    Introdução

    No início de 1944, durante a ocupação alemã em território italiano, uma típica família local, casal com dois filhos, foi submetida a situação que retrata a crueldade do conflito. O pai Casemiro havia se refugiado nas montanhas, para evitar qualquer tipo de retaliação nazista, cuja população masculina adulta era o principal, mas não único alvo. Assim, na casa do pequeno vilarejo, ficara sua esposa Anna e o casal de filhos, Antonio (9 anos) e Elena (7 anos).

    Acontece que Casemiro recebeu informação de que os alemães estavam se deslocando ao vilarejo, no intuito de realizar um stragi (massacre), em retaliação a um ataque que os partigianos (guerrilheiros) promoveram contra suas tropas. Na possibilidade iminente de perder esposa e filhos, Casemiro saiu, naquele início de tarde, em de-sabalada carreira, em direção à casa da família, na tentativa de resga-tá-los a tempo.

    Descendo a montanha, quando não muito distante do conjunto de casas, deparou-se com o que temia e tentava a todo custo evitar: a tropa alemã. Os soldados já estavam muito próximos da localidade, com o objetivo definido e o armamento pronto para ser usado, mesmo sabendo que lá se encontravam apenas mulheres, idosos e crianças.

    Casemiro jogou-se ao chão, para que não fosse avistado e se tornasse a primeira vítima dos nazistas, mas com a desesperança de quem pressentia que a chance de salvar sua família escorria pelas mãos. Sentiu o gosto amargo da impotência, diante de soldados armados e dispostos a levar a cabo a atitude de vingança e ação que serviria de exemplo para quem ousasse desafiar a autoridade da tropa ocupante.

    Na casa, Anna organizava os utensílios de cozinha, após a parca refeição que haviam tido, enquanto os filhos, com a inocência que a idade lhes oferecia, brincavam no quintal, todos sem sequer imaginar o trágico destino para o vilarejo que os alemães tinham em mente.

    Os nazistas prosseguiam sua marcha, firme e ininterrupta. Nos 15

    segundos que Casemiro estava ao chão, como se eternidade fosse, com o filme da vida inteira passando em seus olhos marejados, lembrou-se do caminho alternativo que podia percorrer e, com muita sorte, chegar antes dos soldados até seus filhos e sua esposa. Entre a certeza da morte da família e a possibilidade de estarem juntos ainda em plano terreno, agiu rapidamente, desbordou pela picada na mata e, pela lateral da casa, avistou os bambinos brincando.

    Para evitar qualquer reação entusiasmada ou eufórica que os denunciasse, se aproximou fazendo sinal de silêncio, catando uma criança em cada braço, em um abraço salvador, percebido por Anna, que estava em seus afazeres, na pia instalada em frente à janela. A mãe percebeu a pressa de Casemiro, deixou tudo para trás e os acompanhou para os fundos do terreno, de onde entraram no bosque, sumindo das vistas dos algozes. O desdobramento dos fatos fica por conta do leitor, pois essa narrativa não passa de ficção!

    Apesar de ser o único trecho de ficção que você encontrará nesta obra, ele se assemelha a tantos outros verídicos, que poderiam narrar uma investida real dos alemães contra a população italiana; falar sobre pai e mãe brasileiros que entregaram seu filho à FEB e somente receberam de volta o seu corpo, na cerimônia de repatriação dos brasileiros mortos na Itália; contar as desventuras de uma família polonesa que foi separada e enviada a campos de concentração diversos, sabendo-se lá qual o desfecho; ou até mesmo resgatar a história de um soldado da borracha, que partiu do Nordeste para a Amazônia em busca de oportunidade.

    Na verdade, o maior conflito bélico de todos os tempos causou tantas histórias individuais e familiares que seria impossível a narração de todas, sendo cada uma delas um grão de areia, diante das milhões de narrativas possíveis. Contudo, a possibilidade de trazer à luz o fato concreto, vem atada à responsabilidade de informar às gerações futuras o que ocorreu no passado, deixando a cargo de cada leitor a análise e julgamento dos fatos históricos ocorridos no século passado, que tanto prometia em termos de evolução.

    16

    O promissor século XX, que iniciou inovador e viveu seu presente sabendo do sentido histórico que possuía, poderia não ter sido testemunha do conflito, pois havia presenciado uma guerra mundial logo na sua segunda década, na qual tropas que nunca haviam lutado fora de seus continentes tiveram essa desafiadora experiência pela primeira vez, guerreando em regiões distantes.

    Foi uma época de transformações revolucionárias e surgimento de economias modernas. Povos colonizados, antes apenas extensões das suas metrópoles colonizadoras, sentiram rápidas transformações.

    A História se democratizou, trazendo à luz os movimentos de massa, que passaram a pressionar e fazer parte do destino dos Estados.

    Com todas as evoluções ocorridas e, caso as diferenças de interesse encontradas na Primeira Guerra tivessem sido realmente apa-ziguadas, o pós-guerra poderia ter desembocado em um período de crescimento econômico e estabilidade democrática. Contudo, as mesmas massas que ganham voz na luta pelos seus direitos, são aquelas passíveis de manipulação, a partir de discursos inflamados e do monopólio da narrativa apresentada à população.

    Dessa forma, o período de almejada paz passou a presenciar a intolerância em nome de uma causa, abrindo espaço para que o mundo fosse conduzido ao mais internacional dos conflitos vividos pela humanidade.

    Assim, convidamos o leitor a imergir em uma leitura de fatos históricos e resgate de memórias, iniciando pelo período pós 1ª Guerra Mundial e culminando nos reflexos sentidos pelos ex-combatentes, pela sociedade e pela Força Terrestre ao término da 2ª Guerra Mundial.

    Boa leitura!

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    1 Antecedentes do conflito

    É impossível debater a Segunda Guerra Mundial isoladamente, sem que os olhares se voltem ao término do conflito global anterior e ao contexto em que os vencedores e, principalmente os vencidos, estavam envoltos, pois o ambiente de instabilidade política, social e econômica foi fundamental para a ascensão de Hitler ao poder, na Alemanha.

    A partir do discurso inflamado e consequente apoio das massas, com base na supremacia ariana e na escolha de um bode expiatório, no qual recaía toda e qualquer mazela do país, o maior conflito já visto reunia todos os ingredientes para ser deflagrado.

    1.1 Contexto mundial após o término da 1ª Guerra Mundial Para ser digno da confiança do povo, eu só tinha uma coisa a fazer: colocar os traidores na impossibilidade de fazer mal e salvar a Alemanha da tragédia da guerra civil.1

    Creio ser supérfluo recomendar à polícia do Reich de não manifestar, jamais, hostilidade contra as associações nacionais. De outra parte, é necessário reprimir, pelos meios mais implacáveis, os movimentos dos marxistas.2

    Ao final da Primeira Guerra Mundial, que durou de julho de 1914 a novembro de 1918, a Europa estava em ruínas, no campo econômico e social, contando com milhões de baixas dentre a população civil, como resultado das invasões, epidemias, restrições alimentares e da fome, bem como do déficit de natalidade. Outras consequências importantes dizem respeito ao desgaste da estrutura de transporte e do maquinário das indústrias, que tiveram utilização máxima, sem renovação e conservação, diminuindo assim o potencial econômico.

    Dessa forma, houve prejuízo pela falta de crescimento da produção.

    Os países envolvidos no conflito estavam consideravelmente endivi-1 Hitler, em entrevista cedida ao professor Pearson, de Des Moines (Iowa). Publicado na Folha da Noite, em 11 de julho de 1934.

    2 Goering, Ministro do Reich, ao Berliner Morgenpost, em 21 de fevereiro de 1933. Publicado na Folha da Manhã, de 6 de maio de 1934.

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    dados e tiveram que contrair financiamentos, ceder reservas de ouro e desfazer-se de parte dos investimentos que possuíam no exterior.3

    Uma das consequências da 1ª Guerra foi a Conferência da Paz de Versalhes, em 28 de abril de 1919, que culminou na criação da Liga das Nações (ou Sociedade das Nações). Com sede em Genebra (Suíça), a Liga deu início às suas atividades em 1920, procurando mediar os conflitos internacionais, com vistas à preservação da paz mundial.

    A Liga foi formada por Estados independentes e pretendia ter abrangência sobre uma gama de problemas mundiais, para resolvê-los de forma pacífica e democrática. Porém, com a ausência de algumas das grandes potências, se revelou uma entidade sem força política, pois o Senado dos Estados Unidos vetou a participação do país, a Alemanha não pertencia à Liga e a União Soviética foi excluída. Dessa forma, foi impotente para impedir a invasão japonesa na Manchúria, em 1931, e o ataque italiano à Etiópia, em 1935, por exemplo. Quanto à Alemanha, ainda havia a dificuldade da Liga em lidar com o ânimo da população, em decorrência das restrições impostas ao país.4

    Assim, no contexto geral do pós-guerra, se as nações envolvidas no conflito já haviam perdido muito, para a Alemanha foi consideravelmente complicado. Em 28 de junho de 1919, sob liderança dos Estados Unidos, França e Inglaterra, os vencedores da 1ª Guerra Mundial estabeleceram um conjunto de decisões, o Tratado de Versalhes, uma verdadeira sentença penal. O tratado determinava à Alemanha, por exemplo:

    - Devolução da Alsácia – Lorena à França;

    - Ceder outras regiões para Bélgica, Dinamarca, Tchecoslováquia e Polônia;

    3 FULLER, 2002, p. 35. Durante os dois últimos anos da guerra, mais de um milhão de não combatentes morreram de fome na Alemanha e na Áustria. No dia 13 de dezembro de 1918, quando os alemães plei-tearam permissão para importar trigo, gordura, leite condensado, produtos médicos etc., sua pretensão foi rejeitada. Na Boêmia, em fevereiro de 1919, 20% das crianças nasceram mortas e 40% morreram no primeiro mês de nascidas. Só em março de 1919, quando o Lorde Plumer (General-Comandante do Exército Britânico do Reino) informou ao Governo britânico que seus soldados não podiam suportar o espetáculo de crianças morrendo de fome, o bloqueio foi relaxado.

    4 PORTO; SILVA, 2019, p. 3-4.

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    - Redução do efetivo do exército (100 mil homens, entre oficiais e soldados) e extinção do serviço militar obrigatório;

    - Suspensão da marinha de guerra, ficando impedida de possuir submarinos, aviação de guerra e naval, e artilharia pesada;

    - Obrigação de entregar todos os submarinos e a marinha de superfície (exceto 6 couraçados pequenos, 6 cruzadores ligeiros, 6 destroieres e 12 torpedeiros);

    - Renúncia a todas as colônias, beneficiando principalmente a França e a Inglaterra; e

    - Pagamento de monumentais indenizações em dinheiro aos países vencedores.5

    O primeiro ponto falho do Tratado foi não ter nascido do con-senso, premissa indispensável para que os países subjugados se sub-metam às regras estabelecidas após o término do conflito. A proposta de que os delegados germânicos tomassem parte na Conferência foi vetada, e não houve sequer discussão verbal ou apresentação de uma minuta do Tratado, para que pudesse haver um acordo com posterior aceitação, mesmo que tivesse de ser sob a forma de coação. Ainda, promessas de campanha foram feitas aos eleitores britânicos, no sentido de que os alemães pagariam as dívidas de guerra da Inglaterra.

    Com esses propósitos, seria difícil conseguir algum resultado realmente eficaz. Por outro lado, se não fossem tomadas certas medidas, tais como requisitar alguns territórios da Alemanha e impedir uma consolidação nacional, o Terceiro Reich poderia ser fortalecido e a 2ª

    Guerra Mundial teria acontecido da mesma forma. A Alemanha não poderia ser aniquilada, para não dar a oportunidade ao surgimento de um forte nacionalismo e, ao mesmo tempo, não poderia estar for-talecida ao ponto de conseguir retomar uma ação bélica. Equilíbrio difícil de se encontrar.6

    5 PORTO; SILVA, 2019, p. 4-5.

    6 BOBBIT, 2003, p. 542-550.

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    A votação acerca da aceitação ou da rejeição do Tratado, pela Assembleia Nacional Legislativa de Weimar, estava indefinida até o último momento. Os votos a favor viriam dos socialdemocratas e do Partido Democrático Alemão. O povo e o Partido Nacional Alemão

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