Deixa-Me louca
De Fiona Harper
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Sobre este e-book
O estilo da consultora de moda Coreen Fraser nunca deixava os homens indiferentes. Mas escolher a roupa para um fim de semana de crime e mistério deixou de ser divertido quando descobriu que tinha de usar um fato de tweed e calçado cómodo.
O seu melhor amigo, Adam Conrad, tinha os seus próprios planos para o fim de semana… e um beijo à luz da lua abriu os olhos a Coreen. Adam era o único que conhecia a verdadeira rapariga que havia por detrás dos saltos altos e do batom vermelho, mas teria coragem de convidá-lo para que a beijasse sempre que quisesse?
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Deixa-Me louca - Fiona Harper
Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.
Núñez de Balboa, 56
28001 Madrid
© 2011 Fiona Harper. Todos os direitos reservados.
DEIXAME LOUCA, N.º 1345 Setembro 2012
Título original: Swept off Her Stilettos
Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.
Publicado em portugués em 2012.
Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados.
Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.
Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.
® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.
® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.
As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.
I.S.B.N.: 978-84-687-0632-0
Editor responsável: Luis Pugni
Conversão ebook: MT Color & Diseño
www.mtcolor.es
Capítulo 1
Uma rapariga não pode evitá-lo...
Confissões de Coreen.
Nº 1. Na minha opinião, um dedo mindinho não está adequadamente adornado se não estiver rodeado pela mão de um homem... E eu certifico-me sempre de que estou impecavelmente vestida!
Lancei um olhar furioso para o homem que acabava de entrar na cafetaria. Não só estivera quase a fazer com que as duas chávenas de café se entornassem sobre o meu melhor vestido, como nem sequer se incomodara em segurar a porta para eu passar.
Talvez, no seu afã para escapar ao mau tempo que se fazia sentir lá fora, nem sequer me visse.
Sem outra alternativa, tentei abrir a porta com o cotovelo. Não serviu de nada. Só havia uma forma de o conseguir. Suspirei, dei uma volta de cento e oitenta graus e empurrei a porta com o traseiro.
Quando saí para a rua Greenwich, olhei para o céu ameaçador. O que devia ter sido uma tarde tranquila e ensolarada de verão, estava a transformar-se numa tarde sombria de dezembro. Felizmente, só tinha de andar durante alguns minutos para me encontrar a salvo antes de romper a tempestade.
O homem indelicado tinha mais um defeito. Ninguém ficaria embevecido ao ver-me sair. Ninguém admiraria o meu traseiro enquanto me afastava com a cabeça erguida e a balançar as ancas, como Marilyn em Quanto Mais Quente Melhor. Vira o filme pelo menos cinquenta vezes, antes de dominar a forma de andar da protagonista e o que menos merecia era que apreciassem pouco os meus esforços.
Endireitei os ombros e ergui o queixo. Com ou sem homem indelicado, tencionava fazer a viagem de volta à loja. Havia trânsito de sobra para servir de audiência. Pus um sapato vermelho de salto de agulha à frente do outro e comecei a andar.
Virei em Church Street e atravessei a ocupada Nelson Street. No entanto, a visão da fila ordenada de casas, estilo Georgiano, não me animou naquela tarde. Normalmente, quando passava à frente de cada loja, sorria e cumprimentava os donos, acenando com a mão enquanto contava os números das portas com uma excitação crescente. Primeiro, havia a loja de produtos orgânicos, depois a livraria com artigos em segunda mão, a padaria e pastelaria de Susie, com a sua montra tentadora, a seguir havia um restaurante tailandês, o quiosque da imprensa e uma loja chamada Petal, onde se vendia de tudo, desde que fosse cor-de-rosa.
E, finalmente, a minha loja, o Armário de Coreen, uma loja de roupa clássica, capaz de competir com as melhores de Londres.
Mas quando entrei e virei o cartaz de «fechado», estava ainda de pior humor.
Não tinha ouvido um assobio ou uma buzinadela em todo o caminho! Aquilo era outra novidade. Não queria acreditar nas minhas recentes dúvidas, mas algo não estava bem.
– Porque estás zangada? – perguntou Alice, enquanto eu deixava o seu descafeinado no balcão. A minha sócia era uma daquelas mulheres de aspeto etéreo, ruiva, de tez pálida e figura esbelta. Embora, no momento, não estivesse precisamente esbelta. Estava grávida de sete meses e, dada a sua magreza, o bebé só podia ir numa direção: Para fora. Parecia uma cobra que engolira o meu Volkswagen Beetle ao pequeno-almoço.
Destapei a minha chávena de café e soprei.
– Esta manhã, há algum problema com a população masculina de Londres – referi.
Alice riu-se. Conhecia-me muito bem.
Apesar das minhas tentativas para fazer uma careta, sorri antes de beber um gole de café. Alice estava apoiada no balcão, a massajar os tornozelos inchados.
– Pareces cansada, Alice.
Ela semicerrou os olhos.
– Não me digas!
Deixei a minha chávena no balcão e fui para as traseiras. Quando voltei, entreguei a Alice o guarda-chuva e a mala dela.
– Tens de ir para casa. Telefona a Cameron. Posso fazer o inventário sozinha.
Alice tentou protestar, mas eu não permiti. Tirei o telemóvel da mala dela, pressionei o botão de marcação rápida do número do marido e entreguei-lho quando começou a tocar. Quinze minutos depois, o marido protetor apareceu para a levar para casa, preparar um banho e mimá-la com todos os caprichos induzidos pela sua situação hormonal.
Era para isso que serviam os homens, não era?
E não me referia às náuseas matinais! Ainda não estou pronta para isso. Nem pensar. Embora esteja pronta para a parte dos caprichos, é óbvio.
Assim que Alice saiu, fui para as traseiras da loja e comecei a trabalhar. Normalmente, não era uma tarefa pesada. Eu adorava o meu pequeno tesouro de roupa clássica e acessórios. Em certos dias, chegava a pensar que era uma tragédia ter de abrir a loja e deixar que outras pessoas levassem aquelas roupas fabulosas. Mas tinha de viver de alguma coisa.
Concentrei-me no trabalho, enquanto lá fora, o tempo piorava. Ainda faltava uma hora para a rua se animar. Até lá, ninguém pararia para observar a minha montra maravilhosa, com as malas bordadas e os vestidos de noite iluminados por trás, para realçar a sua beleza.
Sentei-me no chão de madeira, entre as filas de vestidos, e afastei uma madeixa de cabelo escuro que escapou do meu coque. Tinha de verificar a lista de calçado que tinha no meu bloco. Peguei num par de botas prateadas, para ver em que estado estavam. Poderia ter sentido a tentação de ficar com elas mas, embora às vezes me vista assim para me divertir, no fundo, sou uma rapariga dos anos cinquenta.
Segundo o padrão atual, a minha figura considera-se muito cheia, muito carente de musculatura visível e muito pálida. As minhas curvas pertencem ao passado, a uma época em que se considerava que a figura ideal de uma mulher era a de um relógio de areia... E não a de uma prancha de surfe!
Voltei a deixar as botas na prateleira e peguei nuns sapatos de noite, com um laço na ponta. Fiquei a olhar para eles sem os ver e, de repente, recordei-me de que não tinha marcado as botas na minha lista.
Suspirei. Não estava a desfrutar como nas outras tardes, do veludo, do cetim e da roupa interior de seda. O que se passava? Tinha conseguido tudo o que queria naqueles últimos anos. A loja Armário de Coreen era um êxito e, graças a uma colaboração sortuda com o marido de Alice, tínhamo-nos transformado na nova loja de roupa clássica da moda, no sul de Londres.
Para além dos clientes mais fiéis que tivera, na minha banca de roupa no mercado, tinha conseguido atrair alguns jovens que pensavam que a roupa clássica era o mais «chique» do momento e que estavam dispostos a pagar grandes somas por ela. Tinha conseguido tudo o que queria, então, porque não estava a dar saltos entre as filas de roupa, a dar gritos de entusiasmo, em vez de estar sentada no chão, a contar o mesmo par de botas várias vezes?
Talvez se devesse ao facto de, normalmente, fazer aquele trabalho com Alice. Sentia a falta dos nossos mexericos e do prazer partilhado de encontrar uma saia fabulosa ou uma blusa esquecida numa prateleira. Mas a ausência de Alice era um sintoma de outra mudança inquietante na minha vida.
Noutra época, eu costumava ser a líder de um grupo de raparigas solteiras, livres e sem compromisso, mas com o passar do tempo tinha-me transformado numa raridade. Naquele momento, todas tinham namorado e estavam mais interessadas em pintar quartos para bebés, do que em divertir-se na cidade. Isso fazia com que me sentisse muito só e abandonada, num estado de ânimo com que não me sentia nada confortável. Já tinha visto como a solidão podia afetar uma pessoa.
Contudo, na verdade, não sentia ciúmes, nem inveja.
Testei-me. Imaginei ser a dona de uma casinha de tijolos vermelhos, um lar onde me encontrava com o mesmo rosto todas as tardes, em que me ocupava de cozinhar, de pagar as contas... Não. Não era um plano precisamente atraente. Era muito aborrecido, muito normal. As pessoas murcham com essa vida, que só pode acabar de duas formas: Ou os dois membros do casal acabam intumescidos, anestesiados e a aguentar-se mutuamente ou, numa manhã, um deles acorda para descobrir o outro lado da cama vazio e um bilhete duvidoso de desculpas.
De maneira que não se tratava de inveja ou de ciúmes. Na verdade, não sabia o que queria. Não conseguia identificar a causa da ansiedade, mas cada vez que a sentia, experimentava um desejo intenso de devorar algo doce, embora soubesse que também não serviria para me aliviar.
Baixei o olhar para os meus seios, exibidos pelo decote em forma de coração do meu vestido. As minhas curvas afloraram quando ainda era muito jovem e não demorei muito a perceber que os homens eram criaturas muito simples e que era muito fácil fazê-los babar-se com o estímulo adequado. Uns seios generosos, aliados a uma careta no momento oportuno podiam fazer com que uma rapariga conseguisse, virtualmente, tudo o que quisesse.
No entanto, começava a pensar que estava a perder o meu toque especial e os acontecimentos daquela tarde só tinham servido para aumentar os meus temores. Porque a verdade era que havia um homem que parecia imune aos meus encantos, apesar de me ter esforçado muito para o encorajar.
Suspirei e olhei para as botas prateadas. Ainda não as tinha marcado. Aquilo fez-me voltar à realidade. Estava a comportar-me como uma estúpida. Não se passava nada. Naquela mesma manhã, um homem que estava atrás de mim tinha entornado o café na camisa, quando me tinha inclinado para abrir a loja. E isso não era precisamente um indício de que estava a perder o meu encanto, pois não?
Marquei as botas na minha lista e voltei a afastar a madeixa rebelde da minha testa. Fiz o mesmo com os meus pensamentos sensíveis.
Já tinha feito metade do inventário quando ouvi que alguém batia