Durma Bem
De ESTHER HERVY e Albert Spano
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Sobre este e-book
Você lembra da primeira vez em que tentou prender a respiração? Você era criança e estava brincando. Você encheu os pulmões aspirando o máximo de ar possível, inflou as bochechas e contou até sessenta. Eu também brincava dessa brincadeira inocente, e ainda sorrio quando penso nisso. Mas hoje tudo mudou e eu estou com medo. Desde que fui nomeado diretor dessa grande empresa, dias atrás, alguém ou alguma coisa me impede de respirar quando tento encher os pulmões. Uma mão invisível pressiona meu peito ou aperta minhas narinas para se certificar de que nenhuma molécula de oxigênio alimente meu corpo. Qualquer forma de vida está agora proibida para mim. E mesmo que eu ainda não esteja morto, não sei quanto tempo vou aguentar. Durma Bem é um conto escrito a quatro mãos por Albert Spano e Esther J. Hervy.
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Durma Bem - ESTHER HERVY
DURMA BEM
por
Albert Spano e Esther J. Hervy
Baseado em fatos reais
Se a noite é escura, é para que nada possa
nos distrair dos nossos pesadelos.
Bill Watterson
Durma bem
- 1 -
Fiquei sabendo da minha designação faz duas semanas, e ela vai se concretizar em algumas horas. Aquele momento foi como saborear a vida eterna. Beber no cálice de Cristo. Para mim, a força e o poder, e, principalmente, para mim, o dinheiro. Eu sonho com esse cargo desde que entrei na empresa. Tudo aconteceu muito rápido: em poucos meses, eliminei meus oponentes, removi quem era peso morto, limpei os obstáculos que impediam a minha passagem no caminho da ambição. Agora, meu objetivo foi alcançado. Desde o anúncio da minha designação, minha excitação está no auge. Mal posso esperar para que ela se torne realidade. A mensagem começava com Caros colegas
e terminou com Desejamos todo o sucesso a ele, a nós, à nossa empresa
.
Uma felicidade sem limite. Aliás, naquela noite, novamente eu me acordei, sem dúvida por causa da embriaguez da minha conquista. Noites completas se tornaram uma lembrança remota para mim. O certo é que essas novas responsabilidades tomaram de assalto o meu cérebro. Diretor-adjunto de uma grande empresa: a apoteose da minha carreira. Acabou-se o open-space junto com os outros. O novo dirigente, que serei eu, terá direito a um tratamento especial: sala privativa no último andar com vista para o Sena, vaga na garagem, um salário enorme e bonificações sem fim.
Grana. Muita grana. Como eu nunca tinha ganho, e que aos poucos vai tomando conta dos meus pensamentos, que se tornaram incontroláveis. Eu não paro de pensar no magnífico Mercedes cupê que eu vou me dar de presente, assim que os euros caírem na minha conta, apesar de eu nem gostar de carros, e muito menos de dirigir. Sua vaga na garagem...
Foi o que ficou na minha mente, e o que, entre outras coisas, a deixa nas alturas... Eu ainda não tenho carro, ainda não estou no cargo, e já me sinto mais rico e forte.
Tala-larga, pintura metálica, interior em couro, painel em madeira nobre... Sinal exterior de riqueza. Na verdade, eu nem o desejo. Mas meu cérebro, incontrolável, se consome por possuí-lo. Tanto que, como eu estava contando, minhas noites quase se tornaram a continuação dos meus dias, com uma força estranha que não me deixa encontrar descanso.
Domingo de madrugada. 3h27min. Eu tento acalmar a minha atividade cerebral, que parece não querer repouso. Abro os olhos e vejo o teto do meu quarto, sabendo que eles não vão se fechar novamente. Me levanto e sento no sofá da sala, esperando, com essa manobra, dominar meu espírito rebelde. Ligo a televisão, acreditando ingenuamente no seu poder soporífero.
Notícias esportivas se repetem continuamente. Os minutos e as horas passam, já sei todos os resultados de cor, mas o sono, que é bom, decidiu não dar o ar da graça.
"Está confirmado: o Paris