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Entardecer de estações
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E-book231 páginas3 horas

Entardecer de estações

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Sobre este e-book

O livro descreve como os modos de morrer são engendrados sócio-historicamente com os modos de viver e apresenta resultados de três investigações empíricas sobre morte, perda e luto. Os autores explanam como mudanças na socialização e na urbanização fazem com que o lugar da morte e dos mortos seja transferido da ritualização em praças públicas, igrejas e lares, para a institucionalização em hospitais, funerárias e cemitérios; e discutem como as ciências da saúde desenvolvem terapêuticas voltadas à luta pela vida "a todo custo", fazendo com que perda e luto sejam vistos como fracasso e patologia.

Esta obra alerta para a necessidade de ressignificação dos papéis de especialistas em saúde, moribundos e familiares na condução da experiência da perda e luto. A revisão do paradigma organicista em vigor parece, aos autores, essencial ao reexame das antinomias saúde versus doença, indivíduo versus sociedade e à ressocialização da morte como experiência de vida.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2016
ISBN9788581929477
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    Entardecer de estações - Laura Camara Lima e Alexandre Sant'Ana de Brito

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição – Copyright© 2016 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS - PSICOLOGIA

    Ao meu orientador no mestrado e no doutorado, Prof. Dr. Lídio de Souza (in memorian).

    Alexandre Sant’Ana de Brito

    A Itamar, Pierre e Cacilda, depois da morte, ainda em minha vida.

    Laura Camara Lima

    Agradecimentos

    Aos meus professores e colegas do Programa de Pós-Graduação em Psicologia/UFES pelo apoio e confiança; à Laura por esta realização; ao Prof. Dr. Jorge Correia Jesuino pela atenção dedicada desde além-mar; aos amigos e parentes que me foram apoiadores, aos meus pais e irmãos, aos Lanzzeri Laviano, minha família uruguaya de coração; e aos sujeitos que me confiaram informações e emoções no momento mais desafiador de suas existências.

    Alexandre Sant’Ana de Brito

    Aos meus pais, que mostraram os caminhos; aos meus mestres, que me iniciaram na busca pelo conhecimento; ao Alexandre, com quem compartilhei este desafio; aos meus filhos e marido, pela alegria de viver e compreensão nos momentos de privação necessários para concluir esta produção.

    Laura Camara Lima

    APRESENTAÇÃO

    O interesse de Alexandre Sant’Ana de Brito em pesquisar a morte foi despertado há alguns anos, quando participou de um evento sobre filosofia e religião promovido por uma instituição educacional filosófica e teológica da Região Metropolitana da Grande Vitória (GV), localizada no Estado do Espírito Santo (ES). No decurso de um workshop sobre ritos funerários católicos, as exéquias, enquanto era apresentada uma análise sobre epitáfios de cemitérios do Estado, ocorreu um insight do que já poderia ser óbvio, mas que raramente é contemplado criticamente: que a lida com a morte era uma construção sócio-histórica e que os escritos tumulares poderiam expressar representações sociais da perda pelos enlutados e círculo de parentes e amigos. Imediatamente emergiram as seguintes questões: como lidamos com a morte na GV? Como esse fenômeno poderia ser analisado? Esses questionamentos incipientes ocasionaram a busca da literatura acadêmica, dos meios de comunicação e das experiências locais, à procura do habitus vigente e de uma compreensão mais ampla do fenômeno.

    Também não se pode desconsiderar a opinião, de amigos pesquisadores, de que as exéquias tenham sido o mero instigador de uma inquietação velada, provocada pela realidade de cidadão-policial. Após ter trabalhado alguns anos em um setor burocrático do Departamento Médico Legal (DML), da Polícia Civil Capixaba (PCES), e já tendo desenvolvido um estudo sobre Representações Sociais da Profissionalização de Policiais Civis/ES, no mestrado do PPGP/UFES, novamente investiga um campo relevante ao conhecimento da atividade policial. É possível... De todo modo, parece mais coerente justificar este estudo pela necessidade de contínua reflexão sobre questões existenciais e da cultura capixaba, bem como pela necessidade de enfrentamento dos desafios ocasionados pelas profissões de policial e de professor. Portanto, integram-se os aspectos intelectivo, cívico e antropológico, por buscar aprender mais a respeito do constituir-se como cidadão e profissional, e desejar contribuir à ampliação do conhecimento das dinâmicas psicossociais a partir do que é mais próprio das sociedades: a sua cultura.

    Os capítulos deste livro são originários dos conteúdos elaborados na tese de doutorado Ocaso de Estações: estudo de representações sociais da perda por morte, defendida por Alexandre Sant’Ana de Brito no mês de agosto de 2012, no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo (PPGP/UFES), cuja delimitação do objeto de estudo, desenvolvimento e defesa foram orientados pelo prof. Dr. Lídio de Souza (in memoriam). Esta obra registra a continuidade dos trabalhos de refinamento e aprofundamento da tese, que, por ação de vicissitudes e o tracejar de novas sendas, foram compartilhadas com a Profa. Dra. Laura Camara Lima, um dos membros da banca de defesa da tese. A identificação de interesses comuns de pesquisa contribuiu à consolidação de confiança e respeito mútuos que permitiram a realização deste projeto.

    Ao longo do trabalho analisamos a perda por morte a partir de algumas de suas facetas. A perspectiva da Psicologia Social nos permitiu abordar os fenômenos da morte e do morrer, antes pela integração que pela particularização das experiências. As percepções e as interpretações desses fenômenos se materializam na relação triádica sujeito-contexto-objeto, na imbricada dinâmica entre a ciência e o cotidiano, e no deslocamento e refazimento de categorias sociais de outrora no agora, categorias essas que poderão ser açambarcadas pelo porvir. Os resultados obtidos foram discutidos à luz da triangulação entre temas empregados, teoria e conceitos adotados, e investigações empíricas. A tese foi originalmente estruturada em torno de três análises independentes, ainda que conexas, que autorizam a organização do objetivo geral do estudo: analisar a elaboração de representações sociais sobre morte, perda e luto, e a execução de práticas sociais nos contextos da cultura e ciência em saúde. Assumimos como principal hipótese que a lógica fundamentadora das práticas dominantes em saúde tem ocasionado empecilhos à valorização das construções sociais à lida com a morte no Ocidente contemporâneo. E, ao considerarmos que a perda e o luto por morte são temas universalmente relevantes, e universalmente desestabilizadores para indivíduos e coletividades, questionamos: Por que em sociedades centrais se tornou um dilema ainda maior? O que sustenta essa dinâmica? Como, então, temos enfrentado a perda? Quais os papéis dos ritos e dos costumes diante da forte influência das tecnologias e do tecnicismo em saúde? A Ciência em saúde se tornou, definitivamente, o plano norteador para especialistas da vida e para os sobreviventes da morte?

    A obra se divide em duas partes. Na primeira, apresentamos os referenciais teóricos que sustentam o trabalho. O Capítulo I, A morte como objeto social, refere-se à delimitação do objeto e dos interesses de pesquisa, e à descrição do contexto teórico e empírico no qual trabalhamos. A teoria das representações sociais é explicitada em seus desenvolvimentos conceituais, e expomos as perspectivas de análise oferecidas por diferentes autores, representando as principais escolas da teoria. O Capítulo II, Morte e Civilização, destaca contribuições antropológicas e historiográficas realizadas por vários pesquisadores que fornecem elementos relevantes ao entendimento das relações entre a construção coletiva dos objetos – morte, perda e luto, de acordo com o desenvolvimento social, cultural, político e tecnológico. O Capítulo III, Ciência contra Morte, descreve como se deu, ao longo da história mais recente das civilizações, a passagem dos ritos coletivos para a individualização dos modos de lidar com a morte, e como os ritos mortuários foram sendo institucionalizados a partir do paradigma positivista e posteriormente organicista, sendo deslocados do cenário dos templos e residências para os hospitais, funerárias e cemitérios. O Capítulo IV, Patologização do Luto, retoma conceitos, modelos e investigações realizadas a respeito da morte e luto, e dos estados – afetivo, emocional e relacional – que os acompanham, em diferentes épocas e contextos, e discute alterações da relação social com a perda.

    Na segunda, inferimos sobre vivências e práticas sociais relacionadas aos fenômenos analisados. Nela são apresentadas investigações empíricas referentes a três objetos sociais específicos, avaliados a partir de três contextos sociais reais, cuja unidade e coesão se relacionam às especificidades dos objetos estudados, todos pertencentes à Região Metropolitana da Grande Vitória, principal território urbano do Estado do Espírito Santo. O Capítulo V, Morte, luto e dor representados por profissionais em saúde, apresenta uma investigação sobre as homônimas experiências do ponto de vista de profissionais em saúde (enfermeiros e médicos) que trabalham em hospitais públicos e privados, postos de atendimento em saúde e no Departamento Médico Legal. O Capítulo VI, A perda representada em obituários e elogios fúnebres, apresenta uma investigação sobre a perda veiculada em elogios fúnebres e obituários, e discute quais funções psicossociais as publicações mortuárias desempenham. E, o Capítulo VII, O luto representado por enlutados que perderam os cônjuges, apresenta uma investigação sobre a perda do cônjuge, e as crenças e práticas facilitadoras da vivência do luto no contexto estudado, considerando variáveis tais que: o tipo de união estável, as causas e circunstâncias da perda, e os significados que morte, perda e luto têm para viúvos e viúvas.

    Ensejamos que esta produção estimule investigações sobre os objetos, morte, perda e luto, por pesquisadores das várias áreas do saber, assim como traduza ao público em geral um pouco dessa vivência infinda de (re)adaptação à vida.

    PREFÁCIO

    Segundo Nietzsche, o homem é o único animal que sabe que vai morrer. Isto, não obstante o mito dos elefantes, que se retiram para morrerem discretamente, em privado.

    A consciência da mortalidade é algo que teria, porventura, levado à religião e à filosofia, mas também à ciência. A temporalidade, enquanto experiência, passa a constituir uma dimensão objetivável, conforme bem diagnosticou Heidegger. É ainda Heidegger que introduz o oximoro da morte enquanto possibilidade duma impossibilidade e que Levinas inverte para impossibilidade de uma possibilidade.

    Poderíamos multiplicar as referências filosóficas sobre um tema e uma preocupação que sempre esteve e sempre permanece no horizonte da condição humana. À metafísica associam-se estreitamente, e a ela estão subjacentes, considerações de carácter antropológico.

    Vico, na sua Ciência Nova, porventura um dos fundadores da antropologia cultural, sugere como característica da condição humana os ritos matrimoniais ao par dos ritos funerários. Em paralelo com a futura fórmula de Nietzsche, o homem será o único animal que enterra os mortos seus irmãos.

    E basta recuar à tragédia de Antígona para darmos conta do trauma da recusa duma sepultura. O rito funerário constitui, de algum modo, uma objetivação socialmente partilhada dum luto.

    E o luto não é mais do que uma tentativa de superação dessa impossível possibilidade ou, se preferirmos, dessa possível impossibilidade que a perda do outro reaviva.

    Não se trata apenas dum quiasma retórico. A ciência igualmente se debate entre a morte como resultado da doença, cujos sintomas se anunciam com o envelhecimento em que a mortalidade atinge 100% de probabilidade – mas por que não admitir que ela possa recuar? Não é isso que leva à obstinação terapêutica? – e a morte como consequência da programação genética e em que a probabilidade dá lugar à certeza.

    Optar por uma ou outra alternativa tem diferentes consequências e implicações no plano político. Entre política e metafísica a distância não é tão grande como um estreito positivismo pretende.

    Todas estas questões estão presentes no horizonte do texto que Alexandre Sant’Ana de Brito e Laura Camara Lima nos oferecem, com o sugestivo título: Entardecer de Estações: representações de morte, perda e luto. A arquitetura do livro segue o esquema do modelo teórico introduzido por Serge Moscovici, examinando as continuidades e descontinuidades entre ciência e senso comum.

    As conclusões a que chegam confortam de algum modo a suspeita de que a ciência, não obstante os progressos alcançados no aumento da longevidade e duma maior capacidade de controle da dor física, nem por isso se acha melhor equipada para fazer face à perplexidade do sofrimento, que não se confunde com a dor física e que tem sempre subjacente uma perda seja de um outro ou do próprio eu.

    Tal como escreveu há vários séculos John Donne, não perguntes por quem dobram os sinos, eles dobram por ti.

    Particularmente fascinante na obra de Sant’Ana de Brito e Camara Lima é o estudo em que examinam obituários e elogios fúnebres, onde se reflete essa modalidade retórica que Aristóteles designou de epidíctica.

    Os autores revelam-nos que a ideia surgiu como um "insight", uma epifania, o que para mim leitor, ao lê-los, igualmente atuou da mesma forma, ou seja, com uma evidência que apenas aguardava quem para ela olhasse.

    Os cemitérios bem como as palavras que dedicamos aos nossos mortos declinam-se de muitos modos e constituem assim uma das vias reais para nos aproximarmos do mistério da morte, dessa morte que é sempre a dos outros e nunca a nossa, sem que a distância que dela nos separa, todavia diminua.

    Jorge Correia Jesuino

    Professor Emérito do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) e Professor Honoris Causa pela Universidade do Paraíba (UFPB).

    sumário

    Parte teórica

    CAPÍTULO 1

    A MORTE COMO OBJETO SOCIAL  

    CAPÍTULO 2

    MORTE E CIVILIZAÇÃO  

    Costumes fúnebres no curso do processo civilizador 

    Práticas mortuárias e atuações em saúde na perspectiva comparativa  

    CAPÍTULO 3

    CIÊNCIA CONTRA MORTE  

    Individualização dos modos e (des)institucionalização dos ritos mortuários  

    Aspectos socioeconômicos e jurídicos do morrer 

    CAPÍTULO 4

    PATOLOGIZAÇÃO DO LUTO 

    Parte empírica

    CAPÍTULO 5

    MORTE, LUTO E DOR REPRESENTADOS POR PROFISSIONAIS EM SAÚDE 

    Método 

    Representação social da morte 

    Representação social do luto 

    Representação social da dor 

    Discussão 

    Considerações finais 

    CAPÍTULO 6

    A PERDA REPRESENTADA EM OBITUÁRIOS E ELOGIOS 

    FÚNEBRES 

    Método 

    Descrição fenomenológica dos elogios fúnebres 

    Descrição fenomenológica dos obituários 

    Redução fenomenológica 

    Interpretação  

    Considerações finais 

    CAPÍTULO 7

    O LUTO REPRESENTADO POR ENLUTADOS QUE PERDERAM OS CÔNJUGES 

    Métodos 

    Resultados 

    Classe 1: viuvez tradicional, consolo pela devoção materna e religiosa 

    Classe 2: perda repentina, baque e luto 

    Classe 3: luta da ciência contra a morte e aspectos temporais da perda 

    Classe 4: Nostalgia como alienação e luto como negação de uma vida frustrada 

    Classe 5: Dívidas e direitos no pré e pós-morte 

    DISCUSSÃO: a dinâmica dos themata e as análises interclasses  

    Análises comparadas das narrativas individuais 

    Considerações finais 

    CAPÍTULO 8

    CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O REPRESENTAR DA MORTE, PERDA E LUTO 

    REFERÊNCIAS

    Parte teórica

    CAPÍTULO 1

    A MORTE COM OBJETO SOCIAL

    A Ciência e suas assertivas funcionam como potente dimensão organizadora

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