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Ensaios Sobre a Construção da Subjetividade das Esposas de Militares: As Inevitáveis Mudanças
Ensaios Sobre a Construção da Subjetividade das Esposas de Militares: As Inevitáveis Mudanças
Ensaios Sobre a Construção da Subjetividade das Esposas de Militares: As Inevitáveis Mudanças
E-book264 páginas3 horas

Ensaios Sobre a Construção da Subjetividade das Esposas de Militares: As Inevitáveis Mudanças

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Sobre este e-book

O livro Ensaios sobre a construção da subjetividade das esposas de militares: as inevitáveis mudanças é o resultado de uma pesquisa de campo realizada na Vila Militar do Rio de Janeiro, a maior da América Latina, com as esposas de oficiais do Exército Brasileiro nos anos de 2014 e 2015. O objetivo foi investigar a influência da Cultura Militar na construção da subjetividade das esposas de militares residentes na Vila Militar. Em especial, investigaram-se os impactos dos deslocamentos, das mudanças a que estão sujeitas essas famílias e suas reações. A obra retrata a realidade desse grupo de pessoas, o que possibilita a ampliação da discussão sobre a construção de subjetividades na contemporaneidade e sobre as mudanças a que não só os militares e suas famílias estão expostos, mas que são visivelmente observadas nesse público, pela questão concreta das mudanças físicas. Trata-se de uma realidade social pouco explorada em Psicologia Social no Brasil. Para tanto, foi proposto um método híbrido para analisar as relações propostas. Os discursos foram analisados relacionando as formações discursivas em blocos de sentido, descrevendo o contexto das relações. A Vila Militar apresentou-se como suporte geográfico, não somente um espaço de moradia e trabalho, mas também de lazer e sociabilidade. A Família Militar, categoria discursiva, apresentou-se como Suporte Social, demarcando um pertencimento que reforça elementos identitários. Foram descritos o contexto social, o cotidiano dessas mulheres e a interação delas no território. Trata-se de uma excelente fonte de consulta sobre família militar, subjetividade e cultura. A obra traz elementos teóricos e conceituais que embasam as discussões sobre a influência da cultura na construção da subjetividade. Além disso, trata-se de um tema inédito com um vasto campo de pesquisa dentro das Ciências Sociais e da Psicologia.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento12 de jul. de 2019
ISBN9788547319106
Ensaios Sobre a Construção da Subjetividade das Esposas de Militares: As Inevitáveis Mudanças

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    Ensaios Sobre a Construção da Subjetividade das Esposas de Militares - Werusca Marques Virote de Sousa Pinto

    contexto.

    PARTE I

    PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

    1

    IDENTIDADE(S), CULTURA E SUBJETIVIDADE

    É porque sabemos que não estamos no controle de nossas próprias subjetividades que precisamos identificar tão desesperadamente suas formas e descrever suas histórias e possibilidades futuras.

    Johnson, 2010, p. 72

    Este capítulo refere-se ao conceito de identidade, pelo viés cultural, e às suas múltiplas possibilidades propostas aos indivíduos pela sociedade contemporânea. O texto pretende revisitar conceitos relacionados às identidades cultural e nacional e ao hibridismo cultural, tendo por base o contexto brasileiro.

    O conceito de identidade vem sendo alvo de discussões e investigações científicas que procuram relacioná-lo com as mudanças pelas quais o mundo passou nas últimas décadas. As ciências sociais e a psicologia, em especial, dedicam grande parte do seu tempo a questões afins.

    Este livro versa sobre um universo específico: a mulher, esposa do militar, oficial do Exército Brasileiro. Um indivíduo que, mesmo não sendo militar, compartilha dos valores e da cultura dessa Instituição, deixando-se impregnar pelas formações discursivas da Instituição, que vão dando forma a uma singularidade, uma construção que se dá a partir de uma inserção cultural.

    A formação da identidade militar e os principais aspectos da cultura do Exército Brasileiro também serão descritos, com realce no modo como os militares são formados, como lhes são transmitidos valores e princípios, a serem compartilhados por todos os envolvidos.

    Para discutirem-se as identidades na pós-modernidade, há de se pensar nas mobilidades, que mesclam histórias singulares e situadas aos universos globais, cujo processo dinâmico produz identidades marcadas pela diversidade, pela fragmentação e pela presença marcante da alteridade – elementos que se articulam e configuram o sujeito pós-moderno.

    Será visto o papel da linguagem na construção da identidade, já que as tradições culturais, as normas, os papéis que os indivíduos representam e as faces do cotidiano manifestam-se por meio do uso que se faz da linguagem.

    O conceito de subjetividade será discutido numa aproximação com as novas formas de singularidades e as implicações das raízes históricas e epistemológicas na sua atual construção. Vale ressaltar a diferença entre subjetividade e identidade, que se faz necessária para a discussão do tema.

    Assim, o objetivo deste primeiro capítulo é abrir a discussão sobre identidade cultural, estabelecendo um diálogo entre os principais autores (HALL, 2002; 2008; 2014; CANCLINI, 2000; 2003; 2005; 2006; CANEN, 2000) e ressaltando as implicações da identidade e da cultura na construção da subjetividade contemporânea.

    1.1. Linguagem: matéria-prima das identidades

    A linguagem enquanto elemento estruturador da identidade surge como função a ser analisada a partir do século XX. Primeiramente, é interpretada como fenômeno objetivo, com ordenação lógica, formalista e, em outro momento, como elemento interpretativo, abstrato, um fenômeno social: ferramenta necessária à comunicação, à interação social, de caráter intersubjetivo, discursivo, influenciada pelos aspectos circunstanciais, sociais e culturais (NUNES, 2006).

    A ênfase da linguagem como um produto de práticas sociais e culturais que vão sendo consolidadas ao longo do tempo entre os falantes estabelece alguns parâmetros e características que a tornam tema central quando se discute a construção de subjetividades.

    Funciona como elemento que proporciona possibilidades de aprendizagem social e intercâmbios culturais. É, portanto, o vínculo central de transmissão de ideias, cognições, sentimentos e estados afetivos utilizado pela nossa espécie, dando solidez e estabilidade ao vínculo social que une seres humanos em comunidade (NUNES, 2006, p. 53).

    Porém a linguagem é também arbitrária; os significados não são atribuídos por regras naturais e, sim, por uma estabilização de sentido, por convenção social. Outra característica da linguagem é o simbolismo, o que faz com que ela seja compreendida por todos os integrantes de determinada comunidade, uma vez que esse conjunto encadeado de símbolos lhe garante uma estruturação. Por fim, ela é produtiva e dinâmica, marcada pela potencialidade de gerar novas expressões linguísticas, adaptadas às circunstâncias históricas, sociais e culturais (NUNES, 2006).

    A ciência dedicada a estudá-la é a Linguística, que pesquisa a língua falada e escrita, os sons e todos os demais desdobramentos que envolvem a linguagem humana. O suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913) foi o primeiro a demonstrar uma maneira de compreender o fenômeno linguístico como ciência, considerando o signo como seu elemento central. Para ele, o signo é arbitrário, composto pela junção entre significado (conceito) e significante (imagem acústica). A relação de significação é de caráter arbitrário e consensual em uma determinada comunidade linguística. Não existe signo linguístico sem uma espécie de acordo entre os falantes da língua (NUNES, 2006, p. 45).

    O autor buscava a compreensão do funcionamento da linguagem, dos seus elementos constitutivos e da mediação entre esses aspectos. As teorizações saussureanas serviram como um dos alicerces que Jacques Lacan, psicanalista francês, utilizou para estudar a subjetividade a partir do método estrutural. O inconsciente é estruturado como uma linguagem, afirmou Lacan (1998), ao observar que os significantes se estruturam como em uma cadeia.

    Em uma perspectiva psicanalítica, Lacan escolheu a linguística e a lógica para estudar o inconsciente e, em seus pressupostos, analisou o quanto a linguagem estrutura o sujeito, ao mesmo tempo em que revela faces do seu inconsciente. Ele postula que o corpo do bebê é uma superfície marcada pelo discurso e pelo olhar materno. A mulher transmite ao seu bebê o significante por meio das letras que imprime no seu corpo, marcas do desejo (operação denominada de alienação), e que o insere na linguagem quando olha seu bebê e o reconhece como filho, dotando-o de uma imagem (estádio do Espelho). O bebê vai-se construindo a partir da relação com a mãe, do olhar, do contato, dos sons que ainda não lhe são inteligíveis. O bebê internaliza essa linguagem e diferencia-se num processo de separação da mãe até se reconhecer como outro, produzindo uma construção simbólica própria.

    Para Lacan, o inconsciente pode ser captado, conhecido, decifrado por meio de expressões da linguagem, por elementos presentes na história e nas construções que estão materializadas na sociedade.

    O inconsciente é o capítulo de minha história que é marcado por um branco ou ocupado por uma mentira: é o capítulo censurado. Mas na verdade pode ser resgatada; na maioria das vezes, já está escrita em outro lugar. Qual seja: - nos monumentos: e esse é meu corpo, isto é, o núcleo histérico da neurose em que o sintoma histérico mostra a estrutura da linguagem e se decifra como uma inscrição que, uma vez recolhida, pode ser destruída sem perda grave; - nos documentos de arquivo, igualmente: e esses são as lembranças de minha infância, tão impenetráveis quanto eles, quando não lhes conheço a procedência; - na evolução semântica: e isso corresponde ao estoque e às acepções do vocabulário que me é particular, bem como ao estilo de minha vida e o meu caráter; - nas tradições também, ou seja, nas lendas que, sob forma heroicizada, veiculam minha história; - nos vestígios, enfim, que conservam inevitavelmente as distorções exigidas pela reinserção do capítulo adulterado nos capítulos que enquadram, e cujo sentido minha exegese restabelecerá (LACAN, 1998, pp. 260-261).

    Assim, Lacan afirma que o homem é construído a partir do seu discurso e dos discursos que o atravessam, por comportamentos que imita, por histórias que circulam ao redor de sua existência, por políticas e ideologias que constituem a sociedade em que vive. Todos esses elementos são transmitidos por algum tipo de linguagem, por uma lógica comunicativa que se articula por meio da língua.

    A linguagem é um elemento capaz de inserir os indivíduos em grupos ou excluí-los; pela observação da linguagem, pode-se identificar e qualificar os sujeitos. Observando um falante, é possível classificar sua posição social, que tipo de formação possui, se faz parte de grupos dominantes, ou oprimidos. É pela linguagem que o sujeito afirma quem ele é e nega o que não é.

    Por meio da linguagem, o sujeito organiza e planeja seus pensamentos, comunica-se e inicia seu relacionamento com o conhecimento humano, adquirindo, por meio dela, os conceitos do meio em que está inserido. É que, numa linguagem, os signos adquirem valor por sua relação uns com os outros (LACAN, 1998, p. 298). A linguagem é um lugar de construção de relações sociais que permite ao sujeito transformar e ser transformado, tornando híbridos os conhecimentos. Desse modo, a identidade constrói-se pela interação social e a incorporação dos signos culturais.

    Todo sujeito que fala expressa uma intenção e, com isso, adentra no campo do discurso: o indivíduo fala de um lugar social, com uma postura delimitada e uma linguagem impregnadas de sentido, revelando um espaço social no qual valores fundamentais de dada sociedade se exprimem e confrontam. Cada época, cada momento histórico-social, possui um repertório, jargões e formas de expressar seus desejos e inquietações. No discurso, reside a possibilidade de conhecer o sujeito, é possível identificar no falante, na inter-relação, por meio da linguagem, os rastros de sua subjetividade.

    Pois, nesta, a função da linguagem não é informar, mas evocar. O que busco na fala é a resposta do outro. O que me constitui como sujeito é minha pergunta. Para me fazer reconhecer pelo outro, só profiro aquilo que foi com vistas ao que será. Para encontrá-lo, chamo-o por um nome que ele deve assumir ou recusar para me responder. (LACAN, 1998, p.301)

    Derrida³, filósofo francês influenciado por Saussure, discorre sobre o papel dos significados na construção da identidade. Ele trata da questão da instabilidade do significado, no processo de construção da identidade e da diferença, ou seja, não é possível apreendê-lo na totalidade. Há uma variedade de significados complementares que não se pode controlar; eles vão surgindo e subvertem as tentativas de estabilização. Para Derrida (1994), signo não é uma presença, assim, o conceito não está presente no signo.

    A identidade estrutura-se pela linguagem, pelo discurso. O sujeito afirma quem ele é e, a partir dessa afirmação, diz a que grupo pertence e o que ele acredita. Por antítese, depreende-se o que ele não é.

    A identidade é, antes de tudo, uma formação discursiva, um processo de apropriações simbólicas, que por meio da linguagem delineiam o sujeito.

    1.2 Ponto de partida: identidade cultural

    Tomaz Tadeu da Silva aborda a identidade pela perspectiva da produção discursiva e social da diferença. Sua discussão transcende a questão da tolerância ao diferente, por questionar e problematizar as identidades e as diferenças, numa confirmação de seu caráter social e

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