Ensaios Sobre a Construção da Subjetividade das Esposas de Militares: As Inevitáveis Mudanças
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Ensaios Sobre a Construção da Subjetividade das Esposas de Militares - Werusca Marques Virote de Sousa Pinto
contexto.
PARTE I
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
1
IDENTIDADE(S), CULTURA E SUBJETIVIDADE
É porque sabemos que não estamos no controle de nossas próprias subjetividades que precisamos identificar tão desesperadamente suas formas e descrever suas histórias e possibilidades futuras.
Johnson, 2010, p. 72
Este capítulo refere-se ao conceito de identidade, pelo viés cultural, e às suas múltiplas possibilidades propostas aos indivíduos pela sociedade contemporânea. O texto pretende revisitar conceitos relacionados às identidades cultural e nacional e ao hibridismo cultural, tendo por base o contexto brasileiro.
O conceito de identidade vem sendo alvo de discussões e investigações científicas que procuram relacioná-lo com as mudanças pelas quais o mundo passou nas últimas décadas. As ciências sociais e a psicologia, em especial, dedicam grande parte do seu tempo a questões afins.
Este livro versa sobre um universo específico: a mulher, esposa do militar, oficial do Exército Brasileiro. Um indivíduo que, mesmo não sendo militar, compartilha dos valores e da cultura dessa Instituição, deixando-se impregnar pelas formações discursivas da Instituição, que vão dando forma a uma singularidade, uma construção que se dá a partir de uma inserção cultural.
A formação da identidade militar e os principais aspectos da cultura do Exército Brasileiro também serão descritos, com realce no modo como os militares são formados, como lhes são transmitidos valores e princípios, a serem compartilhados por todos os envolvidos.
Para discutirem-se as identidades na pós-modernidade, há de se pensar nas mobilidades, que mesclam histórias singulares e situadas aos universos globais, cujo processo dinâmico produz identidades marcadas pela diversidade, pela fragmentação e pela presença marcante da alteridade – elementos que se articulam e configuram o sujeito pós-moderno.
Será visto o papel da linguagem na construção da identidade, já que as tradições culturais, as normas, os papéis que os indivíduos representam e as faces do cotidiano manifestam-se por meio do uso que se faz da linguagem.
O conceito de subjetividade será discutido numa aproximação com as novas formas de singularidades e as implicações das raízes históricas e epistemológicas na sua atual construção. Vale ressaltar a diferença entre subjetividade e identidade, que se faz necessária para a discussão do tema.
Assim, o objetivo deste primeiro capítulo é abrir a discussão sobre identidade cultural, estabelecendo um diálogo entre os principais autores (HALL, 2002; 2008; 2014; CANCLINI, 2000; 2003; 2005; 2006; CANEN, 2000) e ressaltando as implicações da identidade e da cultura na construção da subjetividade contemporânea.
1.1. Linguagem: matéria-prima das identidades
A linguagem enquanto elemento estruturador da identidade surge como função a ser analisada a partir do século XX. Primeiramente, é interpretada como fenômeno objetivo, com ordenação lógica, formalista e, em outro momento, como elemento interpretativo, abstrato, um fenômeno social: ferramenta necessária à comunicação, à interação social, de caráter intersubjetivo, discursivo, influenciada pelos aspectos circunstanciais, sociais e culturais (NUNES, 2006).
A ênfase da linguagem como um produto de práticas sociais e culturais que vão sendo consolidadas ao longo do tempo entre os falantes estabelece alguns parâmetros e características que a tornam tema central quando se discute a construção de subjetividades.
Funciona como elemento que proporciona possibilidades de aprendizagem social e intercâmbios culturais. É, portanto, o vínculo central de transmissão de ideias, cognições, sentimentos e estados afetivos utilizado pela nossa espécie, dando solidez e estabilidade ao vínculo social que une seres humanos em comunidade
(NUNES, 2006, p. 53).
Porém a linguagem é também arbitrária; os significados não são atribuídos por regras naturais e, sim, por uma estabilização de sentido, por convenção social. Outra característica da linguagem é o simbolismo, o que faz com que ela seja compreendida por todos os integrantes de determinada comunidade, uma vez que esse conjunto encadeado de símbolos lhe garante uma estruturação. Por fim, ela é produtiva e dinâmica, marcada pela potencialidade de gerar novas expressões linguísticas, adaptadas às circunstâncias históricas, sociais e culturais (NUNES, 2006).
A ciência dedicada a estudá-la é a Linguística, que pesquisa a língua falada e escrita, os sons e todos os demais desdobramentos que envolvem a linguagem humana. O suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913) foi o primeiro a demonstrar uma maneira de compreender o fenômeno linguístico como ciência, considerando o signo como seu elemento central. Para ele, o signo é arbitrário, composto pela junção entre significado (conceito) e significante (imagem acústica). A relação de significação é de caráter arbitrário e consensual em uma determinada comunidade linguística. Não existe signo linguístico sem uma espécie de acordo entre os falantes da língua
(NUNES, 2006, p. 45).
O autor buscava a compreensão do funcionamento da linguagem, dos seus elementos constitutivos e da mediação entre esses aspectos. As teorizações saussureanas serviram como um dos alicerces que Jacques Lacan, psicanalista francês, utilizou para estudar a subjetividade a partir do método estrutural. O inconsciente é estruturado como uma linguagem
, afirmou Lacan (1998), ao observar que os significantes se estruturam como em uma cadeia.
Em uma perspectiva psicanalítica, Lacan escolheu a linguística e a lógica para estudar o inconsciente e, em seus pressupostos, analisou o quanto a linguagem estrutura o sujeito, ao mesmo tempo em que revela faces do seu inconsciente. Ele postula que o corpo do bebê é uma superfície marcada pelo discurso e pelo olhar materno. A mulher transmite ao seu bebê o significante por meio das letras que imprime no seu corpo, marcas do desejo (operação denominada de alienação), e que o insere na linguagem quando olha seu bebê e o reconhece como filho, dotando-o de uma imagem (estádio do Espelho). O bebê vai-se construindo a partir da relação com a mãe, do olhar, do contato, dos sons que ainda não lhe são inteligíveis. O bebê internaliza essa linguagem e diferencia-se num processo de separação da mãe até se reconhecer como outro, produzindo uma construção simbólica própria.
Para Lacan, o inconsciente pode ser captado, conhecido, decifrado por meio de expressões da linguagem, por elementos presentes na história e nas construções que estão materializadas na sociedade.
O inconsciente é o capítulo de minha história que é marcado por um branco ou ocupado por uma mentira: é o capítulo censurado. Mas na verdade pode ser resgatada; na maioria das vezes, já está escrita em outro lugar. Qual seja: - nos monumentos: e esse é meu corpo, isto é, o núcleo histérico da neurose em que o sintoma histérico mostra a estrutura da linguagem e se decifra como uma inscrição que, uma vez recolhida, pode ser destruída sem perda grave; - nos documentos de arquivo, igualmente: e esses são as lembranças de minha infância, tão impenetráveis quanto eles, quando não lhes conheço a procedência; - na evolução semântica: e isso corresponde ao estoque e às acepções do vocabulário que me é particular, bem como ao estilo de minha vida e o meu caráter; - nas tradições também, ou seja, nas lendas que, sob forma heroicizada, veiculam minha história; - nos vestígios, enfim, que conservam inevitavelmente as distorções exigidas pela reinserção do capítulo adulterado nos capítulos que enquadram, e cujo sentido minha exegese restabelecerá (LACAN, 1998, pp. 260-261).
Assim, Lacan afirma que o homem é construído a partir do seu discurso e dos discursos que o atravessam, por comportamentos que imita, por histórias que circulam ao redor de sua existência, por políticas e ideologias que constituem a sociedade em que vive. Todos esses elementos são transmitidos por algum tipo de linguagem, por uma lógica comunicativa que se articula por meio da língua.
A linguagem é um elemento capaz de inserir os indivíduos em grupos ou excluí-los; pela observação da linguagem, pode-se identificar e qualificar os sujeitos. Observando um falante, é possível classificar sua posição social, que tipo de formação possui, se faz parte de grupos dominantes, ou oprimidos. É pela linguagem que o sujeito afirma quem ele é e nega o que não é.
Por meio da linguagem, o sujeito organiza e planeja seus pensamentos, comunica-se e inicia seu relacionamento com o conhecimento humano, adquirindo, por meio dela, os conceitos do meio em que está inserido. É que, numa linguagem, os signos adquirem valor por sua relação uns com os outros
(LACAN, 1998, p. 298). A linguagem é um lugar de construção de relações sociais que permite ao sujeito transformar e ser transformado, tornando híbridos os conhecimentos. Desse modo, a identidade constrói-se pela interação social e a incorporação dos signos culturais.
Todo sujeito que fala expressa uma intenção e, com isso, adentra no campo do discurso: o indivíduo fala de um lugar social, com uma postura delimitada e uma linguagem impregnadas de sentido, revelando um espaço social no qual valores fundamentais de dada sociedade se exprimem e confrontam. Cada época, cada momento histórico-social, possui um repertório, jargões e formas de expressar seus desejos e inquietações. No discurso, reside a possibilidade de conhecer o sujeito, é possível identificar no falante, na inter-relação, por meio da linguagem, os rastros de sua subjetividade.
Pois, nesta, a função da linguagem não é informar, mas evocar. O que busco na fala é a resposta do outro. O que me constitui como sujeito é minha pergunta. Para me fazer reconhecer pelo outro, só profiro aquilo que foi com vistas ao que será. Para encontrá-lo, chamo-o por um nome que ele deve assumir ou recusar para me responder. (LACAN, 1998, p.301)
Derrida³, filósofo francês influenciado por Saussure, discorre sobre o papel dos significados na construção da identidade. Ele trata da questão da instabilidade do significado, no processo de construção da identidade e da diferença, ou seja, não é possível apreendê-lo na totalidade. Há uma variedade de significados complementares que não se pode controlar; eles vão surgindo e subvertem as tentativas de estabilização. Para Derrida (1994), signo não é uma presença, assim, o conceito não está presente no signo.
A identidade estrutura-se pela linguagem, pelo discurso. O sujeito afirma quem ele é e, a partir dessa afirmação, diz a que grupo pertence e o que ele acredita. Por antítese, depreende-se o que ele não é.
A identidade é, antes de tudo, uma formação discursiva, um processo de apropriações simbólicas, que por meio da linguagem delineiam o sujeito.
1.2 Ponto de partida: identidade cultural
Tomaz Tadeu da Silva aborda a identidade pela perspectiva da produção discursiva e social da diferença. Sua discussão transcende a questão da tolerância ao diferente, por questionar e problematizar as identidades e as diferenças, numa confirmação de seu caráter social e