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Cásper líbero e a modernização do jornalismo brasileiro
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Cásper líbero e a modernização do jornalismo brasileiro
E-book311 páginas4 horas

Cásper líbero e a modernização do jornalismo brasileiro

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Sobre este e-book

Quando e como foi criado o primeiro curso de Jornalismo no Brasil? O que motivou essa iniciativa? Como ela se refletiu na prática jornalística brasileira? Essas e outras questões a elas relacionadas são apresentadas pelo livro Cásper Líbero e a Modernização do Jornalismo Brasileiro. A obra analisa o projeto jornalístico daquele que foi um dos empresários pioneiros da imprensa nacional, destacando-se, entre o final dos anos 1920 e o início dos 1940, pela modernidade com a qual dotou instalações, equipamentos, linha editorial e administração – inovações que equipararam A Gazeta aos melhores jornais da América Latina –, mas que, curiosamente, não encontrou registro nas obras clássicas sobre a História do Jornalismo, caindo assim no esquecimento.

Para quem vive, porém, na era das tecnologias digitais, qual seria o interesse de conhecer o projeto jornalístico de Cásper Líbero? Ao estudarmos A Gazeta em seu período de grande efervescência, somos apresentados a um veículo que agrega uma série de inovações ao panorama nacional, visando a acompanhar o progresso que se impõe à sociedade brasileira no século XX e, sobretudo, a São Paulo. Nessa medida, o vespertino busca ser identificado como o jornal dos paulistanos, revelando a mentalidade dos intelectuais e empresários que, à época, comandavam o cenário político, econômico e cultural no País, forjando um projeto de modernização para o Brasil.

Por outro lado, ao favorecer a reflexão sobre o exercício do Jornalismo, permite o entendimento das transformações ocasionadas pela modernização das práticas, em um momento crucial da história da imprensa brasileira, o qual determinou a criação do primeiro curso de Jornalismo do País, estabelecendo uma ruptura profunda na formação profissional e, consequentemente, no exercício da profissão. Dessa forma, este livro preenche lacunas significativas da biografia da imprensa nacional.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2016
ISBN9788547302368
Cásper líbero e a modernização do jornalismo brasileiro

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    Cásper líbero e a modernização do jornalismo brasileiro - Gisely Valentim Vaz Coelho Hime

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição – Copyright© 2016 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO

    Agradeço a meus queridos marido, filho, pais, avós e amigos-irmãos, o amor incondicional que dá sentido à vida.

    Apresentação

    Entre o fim dos anos 1920 e o início dos 40, um vespertino destacou-se no cenário jornalístico brasileiro pela modernidade de suas instalações, equipamentos, linha editorial e administração – modernidade que o equiparou aos melhores jornais da América Latina. Trata-se d’A Gazeta, vespertino paulistano dirigido, à época, por Cásper Líbero.

    Toda essa modernidade, porém, não encontrou registro nas obras clássicas sobre a história do jornalismo, caindo assim no esquecimento. Daí a proposição deste livro: analisar o projeto jornalístico de Cásper Líbero por meio das páginas d’A Gazeta e, dessa forma, preencher lacunas significativas da história da imprensa brasileira.

    Qual o interesse do projeto jornalístico de Cásper Líbero? Ao estudar A Gazeta no seu período de grande efervescência – de 1928 a 1943, ano da morte de Cásper –, somos apresentados a um veículo que agregou uma série de inovações ao panorama jornalístico, como, por exemplo, o uso da rotogravura colorida e da radiofoto, ou o lançamento da página feminina ou do suplemento infantil. Tal modernização visava a acompanhar o progresso que se impunha à sociedade brasileira no século XX e, sobretudo, a São Paulo. Nessa medida, o vespertino buscava ser identificado como o jornal dos paulistanos.

    A identificação entre A Gazeta e São Paulo, contudo, não se limita à modernidade das instalações, mas também se dá na pauta do jornal, na orientação editorial, no tratamento dado à notícia. O vespertino participava ativamente da vida de São Paulo, pelo apoio à urbanização, pelo incentivo ao meio universitário ou ainda pela participação em eventos políticos. Aliás, A Gazeta integrou-se não somente à vida política de São Paulo, como à vida política do Brasil, passando de forte opositora à franca aliada de Getúlio Vargas. Por outro lado, estimulava a discussão do exercício do jornalismo, valorizando às discussões da classe e investindo na formação profissional.

    Nesse sentido, Cásper Líbero foi jornalista e empresário de vanguarda. Previu que o futuro de seus empreendimentos estava na modernização: dos equipamentos à estrutura administrativa. Investiu alto e chegou longe. Transformou o abacaxi que era o jornal, quando foi por ele adquirido, em um veículo respeitado internacionalmente. E mais longe iria se não fosse a morte precoce em um acidente de avião.

    Sem o líder, A Gazeta perdeu força, no entanto nas suas páginas ficou o registro de um exemplo, muito atual, para todos que se dispuserem a refletir sobre o jornalismo e o seu papel na sociedade.

    PREFÁCIO

    Em uma obra de fôlego, em narrativa sedutora, a professora doutora Gisely Hime apresenta-nos o jornalista Cásper Líbero, empresário e criador do vespertino paulistano A Gazeta. Trata-se de uma pesquisa histórica exemplar que nos coloca em contato com o jornalismo e sua relação com a cultura e a sociedade dos anos 20 aos 40 do século XX. E mostra a permanência do pioneiro Cásper Líbero no seu legado para a formação intelectual e profissional de jornalistas.

    A autora tem um longo percurso no ensino e na pesquisa de jornalismo. Possui graduação (1987), mestrado (1997) e doutorado em Jornalismo (2002), todos pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Coordenou o Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social do FIAM-FAAM Centro Universitário entre dezembro de 2009 e agosto de 2015. É docente na área de comunicação, com ênfase em história do jornalismo, atuando principalmente nos seguintes temas: teoria do jornalismo, história da comunicação e produção textual. Atua na área de comunicação empresarial há cerca de 20 anos. É tradutora de francês e produtora de material jornalístico nesse idioma. Atualmente, leciona no Programa de Mestrado Profissional em Jornalismo do FIAM-FAAM Centro Universitário, além de ser professora titular dos cursos de Comunicação Social do UniFIAM-FAAM.

    Pelo seu envolvimento com o mundo do trabalho e do ensino da profissão de jornalista, Gisely Hime pode perceber as escolhas de Cásper Líbero: na vida política, na administração dos negócios, nas relações de trabalho, na formação de jornalistas.

    A autora oferece uma detalhada visão do que foi o jornal por meio da análise do vespertino paulistano A Gazeta, no período em que foi dirigido por Cásper Líbero (1918-1943). O conteúdo do jornal é avaliado como expressão da mentalidade da época, ou ainda como expressão da mentalidade de um determinado grupo ou grupos nela inseridos. Ela estuda a relação do jornalismo com as mudanças sociais e a repercussão nos movimentos sociais da amplificação de determinados valores pela imprensa.

    Esta obra preenche lacunas da história da imprensa paulistana e brasileira, ao reconhecer a importância que A Gazeta teve no período, praticamente esquecida nos tratados de história da imprensa, cedendo os louros a jornais como O Estado de S. Paulo. Também vê Cásper Líbero como um pioneiro na reflexão da prática jornalística e sua valorização do trabalho e do trabalhador jornalista na administração do seu veículo. Destaca o processo de construção das bases financeiras, educacionais e administrativas da Fundação Cásper Líbero, possível pelo testamento deixado por Cásper Líbero para administrar seu legado jornalistíco e fundar a primeira escola de jornalismo do País. Ainda, mereceu exame o seu papel estratégico durante a Era Vargas, principalmente no que se refere à difusão cultural e às relações exteriores.

    A publicação deste livro atende a demandas qualificadas como a do historiador e jornalista Matias Molina, que avaliou a dissertação de Gisely Hime como "o único trabalho de peso sobre o jornal A Gazeta e Cásper Líbero".

    A Gazeta no período de 1928 a 1943, ano da morte de Cásper Líbero, agregou uma série de inovações ao panorama jornalístico, como, por exemplo, o uso da rotogravura colorida e da radiofoto, ou o lançamento da página feminina e do suplemento infantil. Tal modernização visava acompanhar o progresso que se impunha à sociedade no século XX, ideal que se incutia a São Paulo. Nessa medida, o vespertino buscava ser identificado como o jornal dos paulistanos. A identificação entre A Gazeta e São Paulo não se limitava à modernidade das instalações, mas também se dava na pauta do jornal, na sua orientação editorial, no tratamento dado à notícia. O vespertino participava ativamente da vida de São Paulo, pela urbanização, pelo incentivo ao meio universitário, pela participação em eventos políticos. A Gazeta integrou-se não somente à vida política de São Paulo como também à vida política do Brasil, passando de forte opositora à franca aliada de Getúlio Vargas. Após a derrota dos paulistas em 1932, Cásper deixou a oposição e investiu no jornalismo. Ele conseguiu ser indenizado pelos prejuízos sofridos pelo jornal e atribuídos a atos das forças governistas, o que lhe deu capital para investir em equipamentos, instalações e funcionários jornalistas.

    Enquanto homem de jornalismo, Cásper participou da discussão sobre a necessidade de investir na formação profissional em toda a década de 1930, valorizou as discussões da classe e investiu na formação profissional. Cásper Líbero foi jornalista e empresário de vanguarda. Previu que o futuro de seus empreendimentos estava na modernização: dos equipamentos à estrutura administrativa. Aceitou conviver com o Governo Vargas e com a ditadura do Estado Novo, apoiou suas políticas culturais e educacionais, fez seu jornalismo em um país sob estado de guerra.

    Alice Mitika Koshiyama

    Professora doutora sênior da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP)

    Sumário

    INTRODUÇÃO

    A GAZETA REVELA O PASSO A PASSO DA CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO DE JORNALISMO: O PROJETO DE CÁSPER LÍBERO 

    Parte I

    O encontro entre o jornalista e seu jornal

    CAPÍTULO 1

    CÁSPER LÍBERO: A OPÇÃO PELO JORNALISMO 

    1.1 Um homem obstinado 

    1.2 Conhecendo o mundo 

    1.3 Abraçando o jornalismo 

    CAPÍTULO 2

    A GAZETA: A CHEGADA DE CÁSPER LÍBERO 

    2.1 A trajetória d’A Gazeta 

    2.2 Chegada de Cásper À Gazeta 

    2.3 A modernidade contagiou a imprensa 

    Parte II

    A Gazeta e a política

    CAPÍTULO 3

    1930: EM CAMPANHA POR JÚLIO PRESTES 

    3.1 As conturbadas eleições de 1930 

    3.2 A imprensa e as eleições 

    3.3 A Gazeta em campanha 

    CAPÍTULO 4

    1932: NA LIDERANÇA DO MOVIMENTO CONSTITUCIONALISTA 

    4.1 O Governo Provisório impõe a censura 

    4.2 A volta d’A Gazeta 

    4.3 A liderança no Movimento Constitucionalista 

    4.4 A participação nas eleições constituintes 

    4.5 Um novo período de arrocho com o Governo Constitucional 

    CAPÍTULO 5

    1937: A APROXIMAÇÃO COM GETÚLIO VARGAS 

    5.1 O Estado Novo e seu aparato de sustentação 

    5.2 A imprensa adapta-se à censura 

    5.3 O entrosamento d’A Gazeta com o novo governo 

    5.4 Funções da imprensa em um estado autoritário 

    5.5 A influência da propaganda política sobre a opinião pública 

    5.6 A implantação de modelos 

    5.7 A tematização 

    CAPÍTULO 6

    UM PAÍS EM PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO 

    6.1 A Gazeta desperta para a indústria 

    6.2 A caminho de Volta Redonda 

    6.3 O Brasil ao volante e nos ares 

    CAPÍTULO 7

    A PROPAGAÇÃO DA CULTURA NORTE-AMERICANA 

    7.1 Brasil e Estados Unidos aproximam-se 

    7.2 Visitando o bom vizinho 

    7.3 A propaganda norte-americana invade as praias brasileiras 

    7.4 O outro lado da moeda 

    7.5 A solidariedade americana 

    7.6 Nas garras do imperialismo 

    CAPÍTULO 8

    A CONFIGURAÇÃO DO NACIONALISMO 

    8.1 As contradições da Era Vargas 

    8.2 As contradições d’A Gazeta: da Europa à América 

    8.3 O amor pela pátria 

    8.4 Para um Brasil maior e melhor 

    Parte III

    A Gazeta e suas ideias sobre jornalismo

    CAPÍTULO 9

    O USO POLÍTICO DA IMPRENSA 

    9.1 Uma imprensa fundamentalmente política 

    9.2 É possível reagir à censura? 

    CAPÍTULO 10

    A ELABORAÇÃO DE UM PROJETO EDITORIAL 

    10.1 Uma sociedade corporativa 

    10.2 A função educadora da imprensa 

    10.3 O mau exercício da profissãoa 

    CAPÍTULO 11

    A CONSTRUÇÃO DE UMA EMPRESA MODERNA 

    11.1 O primeiro prédio especialmente construído para um jornal 

    11.2 Modernidade também na administração 

    11.3 Um vespertino moderno 

    11.4 Os ícones do progresso 

    CAPÍTULO 12

    A EDUCAÇÃO PARA A MODERNIDADE 

    12.1 A aproximação com o meio universitário 

    12.2 A valorização da cultura 

    12.3 O nascimento d’A Gazeta Esportiva 

    12.4 Em sintonia com o mercado 

    12.5 A Gazeta Feminina 

    CAPÍTULO 13

    UM JORNAL PARA A SÃO PAULO DO PROGRESSO 

    13.1 O progresso paulista e o movimento modernista 

    13.2 A Gazeta declara seu amor a São Paulo 

    13.3 Uma campanha de cidadania 

    CONCLUSÃO

    A CONSTRUÇÃO DO PROJETO DE JORNALISMO DE CÁSPER LÍBERO: UM PROJETO PARA O PROGRESSO 

    14.1 A identificação do ideário que fundamenta o projeto 

    14.2 O exercício do jornalismo, segundo esse ideário 

    14.3 A figura de Cásper jornalista 

    14.4 A figura de Cásper empresário 

    REFERÊNCIAS 

    Introdução

    A Gazeta revela o passo a passo da construção de um projeto de jornalismo: o projeto de Cásper Líbero

    Tudo começou em 1987, quando, ainda na graduação, fui selecionada a integrar a equipe que se encarregaria, sob a coordenação do professor doutor José Marques de Melo, de pesquisar a criação da primeira faculdade de Jornalismo no Brasil: a Faculdade Cásper Líbero, fundada em 1947, em São Paulo, por vontade expressa em testamento do jornalista de mesmo nome. Nosso trabalho seria levantar todas as informações referentes aos motivos que levaram Cásper Líbero a se interessar pela organização de uma escola, referências às bases dessa faculdade, primeiros professores, instalações e tudo o mais.

    Durante um ano e meio, dediquei-me a essa pesquisa, mas ao concluir o relatório final de minhas atividades não pude me dar por satisfeita. Constatei que uma parte significativa do material por mim reunido não seria aproveitada, uma vez que não dizia respeito diretamente ao tema pesquisado. Explico melhor. Tratava-se de informações referentes À Gazeta, no período em que foi administrada por Cásper Líbero, ou seja, de 1918 a 1943. Por meio dessas informações intuí o importante papel que esse homem e seu jornal desempenharam na história do jornalismo em São Paulo, principalmente de 1933 a 1943, ano da morte do empresário em um acidente de avião.

    Buscando confirmar tal intuição, recorri às obras sobre história da imprensa e, com surpresa, verifiquei que muito pouco, quase nada, ficara registrado acerca de Cásper Líbero e seu jornal. Considerando a História da imprensa no Brasil, de Nelson Werneck Sodré (1983) – uma das obras referenciais do campo –, veremos, por exemplo, que Cásper é citado apenas duas vezes, em ambas simplesmente como proprietário do vespertino. A primeira delas trata da fundação d’A Gazeta e de seus sucessivos proprietários:

    A 16 de maio de 1906, começava a circular, em São Paulo, A Gazeta, dirigida por Adolfo Araújo, sucedido, adiante, por João Dentice, e, depois, por Antônio Covelo, que a transfere, em 1918, a Cásper Líbero (1983, p. 324).

    A segunda refere-se ao posicionamento político da imprensa em 1930:

    O Governo contava, no Rio, com O País, dirigido por Alves de Sousa; A Notícia, de Cândido de Campos; A Noite, de Geraldo Rocha; e as revistas da empresa Pimenta de Melo: O Malho e Ilustração Brasileira; em São Paulo, com o Correio Paulistano, dirigido por Abner Mourão; A Gazeta, de Cásper Líbero; o Jornal do Comércio, de Mário Guastini, e o Diário Popular, de José Maria Lisboa; nos Estados, com o Correio de Minas, de Vitor e Paulo Silveira, em Belo Horizonte; A Tarde, de Simões Filho, na Bahia; e os órgãos oficiais nos Estados cujos governos acompanhavam a candidatura no Catete (SODRÉ, 1983, p. 371).

    Nenhuma menção à inauguração de novos equipamentos em 1939 – considerados por publicações da época como os mais modernos da América Latina –; à viagem de Cásper Líbero à Alemanha para a compra desses equipamentos, quando foi recebido por Joseph Goebbels com honras de estadista; ao documentário sobre A Gazeta, levado aos Estados Unidos em missão do Governo Vargas; à fundação da faculdade; entre tantos eventos que, por certo, mereceriam mais atenção dos historiadores da imprensa.

    Diante de tal lacuna da história da imprensa brasileira, determinei-me a analisar o projeto de jornalismo de Cásper Líbero. Minhas leituras iniciais levavam-me a crer na existência desse projeto, ainda que não formulado formalmente pelo jornalista. As pistas eram numerosas. Para citar apenas algumas, os investimentos na modernização do jornal, a constante promoção de eventos, o lançamento de suplementos e a aparente contradição política de quem, num primeiro momento, se opõe a Getúlio Vargas para depois apoiá-lo, sempre com igual fervor.

    Acreditando, pois, na existência desse projeto, lancei-me à pesquisa e, nessa perspectiva, busquei orientar minha ação. O recorte por mim estabelecido corresponde ao período em que, sob a administração de Cásper Líbero, A Gazeta mais se destacou no cenário jornalístico nacional: de 1928 a 1943. Foi definida tal época tendo em vista a natureza do questionamento. Interessava-me estudar o exercício do jornalismo nas páginas d’A Gazeta e, apenas no fim dos anos 1920, o vespertino começou efetivamente a se pronunciar no mercado jornalístico nacional, pela modernização das instalações, pelo lançamento dos suplementos ou pela reorientação editorial cujo objetivo era fazer do vespertino o jornal de São Paulo. De 1928 a 1943, A Gazeta agregou uma série de inovações ao panorama jornalístico, como, por exemplo, o uso da rotogravura colorida e da radiofoto, ou o lançamento da página feminina e do suplemento infantil.

    Elegi A Gazeta como a principal fonte documental, uma vez que foi para Cásper Líbero o canal, por excelência, de expressão e ação. Ao debruçar-me sobre o veículo, considerei fundamentais as reflexões que Pierre Renouvin, membro do Instituto Francês de Imprensa, desenvolveu a propósito da utilização da imprensa como documento histórico, na obra Histoire générale de la presse française (BELLANGER et al., 1969).

    As reflexões partem da seguinte questão: o que podemos esperar do estudo da imprensa para o conhecimento do passado? Em primeiro lugar, o conhecimento da vida política, social, econômica e das mudanças sobrevindas às mentalidades. De fato, os jornais recuperam dia a dia os acontecimentos políticos, sociais e econômicos, marcantes para uma determinada sociedade, além de refletir as intrincadas relações estabelecidas. Nesse sentido, possibilitam ao pesquisador aproximar-se da realidade, oferecendo um relato pormenorizado, sem o qual o pesquisador teria apenas uma visão global e esquemática dos acontecimentos.

    A imprensa destaca aqueles pequeninos fatos que

    [...] permitem mensurar a distância entre a vontade do legislador ou as ordens do administrador e a aplicação prática da lei ou da circular; apreciar, no domínio econômico, a amplitude de uma crise de abastecimento ou dos transportes, a eficácia de um plano econômico; conhecer, no funcionamento das instituições, os incidentes reveladores de uma carência ou de uma resistência (BELLANGER et al., 1969, p. 4)¹.

    Também registra as ideias novas no domínio literário ou artístico, em geral, e nos segmentos político, econômico ou social. Alguns desses registros podem ser apenas manifestações individuais de um estado de espírito ou de um comportamento. O confronto de informações, contudo, pode contribuir para delinear as tendências da cultura intelectual e as correntes de pensamento.

    No que se refere ao conhecimento dos estados de opinião, existe uma ressalva: é preciso considerar que, se a imprensa, em alguns momentos, busca orientar a opinião, em outros, se contenta em refleti-la, ou até mesmo desempenha os dois papéis (BELLANGER et al., 1969). Daí a necessidade de aplicar no estudo da imprensa os princípios da crítica histórica, ou seja, de reunir a maior quantidade possível de informações sobre as condições de vida da imprensa estudada ou da qual se utiliza como documento. Por condições de vida, entendem-se:

    • as técnicas de transmissão das notícias, de impressão, de difusão (sistema de transporte; pontos de vendas) que estão em relação direta com os progressos mecânicos e com o desenvolvimento dos meios de comunicação [...]; a economia das empresas jornalísticas e as condições de financiamento;

    • a independência do jornal em relação ao governo (legislação da imprensa, procedimentos empregados para suprimir ou limitar a liberdade de expressão etc.) [...];

    • as ligações entre o jornal e banqueiros ou grupos de interesses econômicos que lhe proporcionem apoio financeiro, os grupos de pressão que o patrocinam aberta ou secretamente, os meios empregados por governos estrangeiros para orientar este ou aquele órgão, ou mesmo um grupo de jornais, seja por uma ação financeira junto ao diretor do jornal, seja por subvenções a alguns colaboradores (BELLANGER et al., 1969, p. 10-11)².

    Essa análise minuciosa é, portanto, condição fundamental para a utilização de jornais como documento histórico e, por isso, foi empreendida em minha pesquisa em relação À Gazeta.

    Para pontuar a leitura do vespertino, julguei necessário investigar nos seus pares o enfoque com que foram tratados temas de extrema importância para A Gazeta, como, por exemplo, as revoluções de 1930 e 1932, as campanhas pelo desenvolvimento da aviação brasileira ou ainda a cobertura dos eventos esportivos. Pela impossibilidade prática de recorrer a todos os veículos que circulavam naquele momento, escolhi para esta análise comparativa alguns dos principais veículos paulistanos e cariocas da época. Por sua importância no contexto jornalístico,

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