Déficit de atenção e hiperatividade: para além do diagnóstico
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Déficit de atenção e hiperatividade - Claudia Waltrick Machado Barbosa
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Ao meu marido, pelo incentivo, apoio, respeito e
companheirismo e amor da minha vida nesta existência.
Aos meus filhos, Guilherme, André e Eduardo,
que são a razão da minha vida.
AGRADECIMENTOS
A Deus, porque sem Ele nada seria possível, pois me permitiu vencer todos os obstáculos que a vida nos coloca, mostrando que na vida tudo é possível, desde que não se perca a fé.
A Marilane Maria Wolff Paim, mestre e amiga querida, que compartilhou comigo o seu conhecimento.
À minha amiga Meres, que me deu seu ombro e seu carinho nas horas difíceis.
Ao meu amigo Gustavo Capobianco Volaco, pelo carinho e por me ensinar o verdadeiro sentido da amizade.
PREFÁCIO
O livro de Claudia Waltrick Machado Barbosa, intitulado Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH – Para Além do Diagnóstico, é o resultado de sua dissertação de mestrado e representa uma importante contribuição à área de educação, em especial para todos os professores que pesquisam e trabalham com os processos de aprendizagem no contexto escolar.
Prefaciar o livro da Claudia é um movimento de compromisso e alegria, pois é uma temática relevante/instigante e embora seja um tema já recorrente nas pesquisas nas áreas da saúde e da educação, a mesma ainda se faz inconclusa e nos provoca inúmeras indagações e reflexões, porque não a temos resolvida no espaço/campo da educação, daí importância desta publicação. O objetivo do livro é refletir teoricamente acerca da prática docente frente ao TDAH, considerando que é no contexto escolar que se encontram as maiores dificuldades relacionadas aos processos de ensinar e aprender.
O diagnóstico do TDAH durante muito tempo foi realizado com base nos comportamentos de alguns alunos, apresentados em sala de aula como a falta de atenção, a impulsividade, a atividade excessiva, quando ocorridos de forma contínua, na incapacidade de aprender ou insegurança emocional. Esses sintomas causam nos professores muitas dúvidas, levando-os a suspeitar ou mesmo diagnosticar como TDAH, já que esses comportamentos compreendem os principais sintomas desse transtorno. É importante considerar que nem sempre esses comportamentos são um sintoma, mas podem ser uma manifestação na criança de que algo não está bem, ou de que ela esteja vivenciando uma situação de desconforto, que pode ser familiar ou relacionada à escola.
Foi com essa motivação que Claudia fez sua pesquisa, pois percebeu as muitas lacunas referentes à suspeita ou ao diagnóstico de crianças em fase escolar, tendo em vista que muitos professores, assim como os pais, têm muitas dúvidas sobre o TDAH. Apesar de ser um transtorno complexo, seu impacto sobre os sujeitos ainda está arraigado à falta de informação sobre o problema. Mesmo sendo um transtorno estudado e pesquisado durante anos, percebe-se que ainda há pouco conhecimento sobre ele, sendo necessário que todos os envolvidos nesse processo (professores, equipe pedagógica, alunos e pais) tenham conhecimento sobre TDAH, pois um dos maiores problemas está no fato de que ainda há pouco conhecimento no âmbito escolar e entre os pais, havendo rotulação dos alunos que são acusados injustamente de mal-educados, preguiçosos, desastrados, desequilibrados.
A concepção teórica norteadora da pesquisa foi a teoria de Vygotsky, considerando que as crianças com TDAH tendem a ter problemas na aprendizagem e no desenvolvimento cognitivo, e é na escola que esses problemas devem ser trabalhados, a teoria do desenvolvimento desse grande teórico pode ser a base para a compreensão dessas dificuldades.
O leitor vai encontrar no decorrer do livro uma análise dos conteúdos e os pressupostos teórico-metodológicos sobre o TDAH estruturados em capítulos, sendo que o primeiro capítulo, intitulado Apresentando o TDAH
, contempla as questões que fundamentam o trabalho docente frente ao TDAH e as implicações comportamentais desse transtorno de uma forma que o leitor possa se situar no contexto desse complexo transtorno. A necessidade de descrevê-lo surge da relevância que ele tem no âmbito familiar e para todos aqueles que compartilham da presença deste, frente a suspeita ou diagnóstico, principalmente no ambiente escolar, considerando que é nesse ambiente que o TDAH se manifesta com maior ênfase, ou é mais claramente observado.
Já no segundo capítulo, registrado como O TDAH no contexto escolar
, a autora apresenta a necessidade de esse tema ser trabalhado na escola com os professores, para que elas compreendam como o desenvolvimento do sujeito acontece e quais são as suas dificuldades e possibilidades no que tange ao desenvolvimento intelectual e cognitivo de crianças que apresentam dificuldade escolar, mais precisamente com TDAH.
A teoria de Vygotsky sobre o desenvolvimento do sujeito estabelece uma relação entre aprendizagem e desenvolvimento cognitivo, tendo em vista que os indivíduos que possuem o TDAH podem apresentar comprometimento nessas duas áreas. Dessa forma, as contribuições desse pensador são apresentadas para entender as dificuldades e as possibilidades das crianças com TDAH no ambiente escolar e são discutidas no terceiro capítulo.
No quarto capítulo são apresentados ao leitor os pressupostos teóricos da prática docente frente ao TDAH. E em suas in(conclusões) a autora compartilha com o leitor a compreensão da historicidade social e cultural dos sujeitos, e que, ao trabalhar com crianças com dificuldades ou com transtornos mentais por meio do processo de mediação, é possível estabelecer formas de intervenção mais efetivas, nas quais o professor e o grupo de colegas, como mediadores, podem ajudar as crianças com dificuldades a romper as suas limitações, porque no processo de interação o indivíduo aprende com o outro.
Parabéns à autora pela ousadia do tema e o excelente desenvolvimento do processo investigativo, trazendo uma pesquisa com possibilidade de discutir acerca dos problemas que implicam o processo de aprendizagem no contexto escolar, frente aos alunos que apresentam dificuldades, ressaltando a importância do papel do professor e da escola no conhecimento das situações que podem aparecer no momento de sua prática pedagógica.
Certamente esta obra se constituirá uma importante referência para os pesquisadores e professores.
Boa leitura!
Marilane Maria Wolff Paim
APRESENTAÇÃO
Estamos em 1845. A pequena criança de 3 anos, toda cheia de euforia, vai até o pé da cintilante árvore de Natal para procurar, entre pacotes e embalagens multicoloridas, aquela que lhe está endereçada. Puxa uma, espalha outra, desloca uma caixa e empurra outra e, enfim, encontra aquela que carrega seu nome. Sem pensar duas vezes, ele rasga o invólucro protetor e encontra, no meio de papéis picados, um livro, Der Struwwelpeter oder Lustige Geschichten und drollige Bilder, que está assinado por ninguém menos que seu pai, Dr. Heinrich Hoffmann. Sem parar e mesmo pestanejar, ele começa a folheá-lo e em cada página que deposita seus olhos encontra poesias gravuradas que dizem, sem exceção, mas de formas variadas, que o bom filho, o filho que o Dr. Hoffmann quer para si deve ser obediente, respeitoso e, em suma, bem-educado, muitíssimo bem-educado. Eis alguns exemplos:
O menino que não queria mais comer
"The story of Flying Robert"1
¹
²
"The story of little suck-a-thumb"
³Das mãos do pequeno Carl o livro passa a outras e rapidamente se torna um sucesso editorial cabendo-nos a pergunta: Por quê? Por que um livro tão áspero, tão duro e nada divertido, um livro recheado de castigos e morte se torna um blockbuster do século XIX? A resposta, claro, está em seu poder disciplinatório, em sua força de coerção, em sua invectiva domesticalizante que procura docilizar aqueles que simplesmente resistem em se assujeitar àquilo que sequer compreendem. É como na terrível imagem que encontramos no excelente livro de Michel Foucault, Vigiar e Punir, que foi, por sua vez, retirado do frontispício de outro, não tão excelente assim, Orthopaedia, do físico seiscentista Nicolas Andry de Bois-Regard⁴.
Pois eis aí, à direita, a criança que precisa a qualquer custo se adaptar à retidão de um padrão e assim percorrer as veredas da vida de acordo com o que lhe será inculcado a cada instante e desde o berço. A isso, a partir o século V a.C., chamamos espantosamente de educação. E é isso o que encontramos no Struwwelpeter ou Histórias Divertidas e Figuras Engraçadas, que, segundo a autora do presente livro⁵, inaugura a série da morbidez que discutiremos brevemente a partir de agora.
É claro que ninguém mais, hoje em dia, amarra crianças a árvores ou as prende a camas como as de Daniel Gotlob Moritz Schreber⁶. Os tempos de Procusto⁷ ficaram no passado e desde 20 de novembro de 1959 temos a Declaração dos seus Direitos
, que abomina até o subterfúgio metafórico que poeticamente corta dedos de crianças ou as faz desaparecer depois de um banho de chuva. Mas seria mesmo assim, quer dizer, teríamos abandonado pura e simplesmente as palmatórias – reais ou alegóricas – para, como educadores, permitirmos algo distante do domínio unitário
⁸ que para tudo faz norma e daí normalidade?
Não é o que parece, e se Vico⁹ está certo, o mundo é mesmo cíclico e um fim se enoda a seu início tal como a cobra morde o próprio rabo. Quer dizer: temos um novo flagelo que se incute nas salas de aula – mas não só nelas – que atende pelo nome de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade ou em sua sigla que tende a distância do que encarcera, TDAH. Mas o que é esse transtorno? O que o caracteriza? E por que ele está na moda?
Segundo a professora Claudia Waltrick Machado Barbosa, ele se apresenta, em uma de suas modalidades, da seguinte maneira:
(a) Frequentemente não presta atenção a detalhes ou comete erros por omissão em atividades escolares, de trabalho ou outras;
(b) Com frequência tem dificuldade para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas;
(c) Com frequência parece não ouvir quando lhe dirigem a palavra;
(d) Com frequência não segue instruções e não termina os seus deveres escolares, domésticos ou deveres profissionais (não devido a comportamento de oposição ou incapacidade de compreender instruções);
(e) Com frequência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades;
(f) Com frequência, evita, demonstra ojeriza ou reluta em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como escolares e deveres de casa);
(g) Com frequência perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (p. ex., brinquedos, tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais);
(h) É facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa;
(i) Com frequência apresenta esquecimento em atividades diárias.¹⁰
E, em outra, ele se configura assim:
(a) Frequentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira;
(b) Frequentemente abandona sua cadeira na sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado;
(c) Frequentemente corre ou escala em demasia, em situações impróprias (em adolescentes e adultos pode estar limitado a sensações subjetivas de inquietação);
(d) Com frequência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer;
(e) Está frequentemente a mil
ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor
;
(f) Frequentemente fala em demasia.¹¹
Valendo uma outra pergunta: Não temos aí, no chamado TDAH uma descrição ponto a ponto e de maneira biunívoca daquilo que faz – em seus dois sentidos possíveis – uma criança? Elas não são, por essência e por excelência esses seres que não prestam atenção e se distraem com facilidade?
Mas talvez o leitor diga, o que fundamenta o TDAH não é pura e simplesmente estar a todo vapor feito uma locomotiva sem freios pelos pátios das escolas? Nem o caracterizaria uma falta momentânea de um salutar mutismo, que seguiria o ditado popular de que quando um burro fala o outro, necessariamente, abaixa a orelha. O que firma o TDAH é a hiperbolização, a extrapolação, a globalização a toda comodidade possível, pois estará certo, sem sombra de dúvida, em pensar assim, mas, infelizmente, o diagnóstico excedeu os 3 a 7%¹² da população mundial e virou rótulo para todo aquele que não para em sua carteira e resiste às aulas de álgebra. Temos, em nossa contemporaneidade o que poderíamos chamar, tomando de empréstimo a rica expressão de Hannah Arendt, uma banalização do mal¹³ e basta uma leve inquietação para que a estampilha TDAH seja afixada na testa dessa inconformada criança. E esse procedimento serve para quê? Serve para que mais e mais crianças sejam Carl Hoffmann e seus alteregos Alfredo, Conrad e Bob. E que mais e mais crianças parem de perturbar a sacrossanta sala de aula e suas adjacências e entrem na sina – que é mesmo o que quer dizer ensino – da árvore torta que à custa de remédios – um em especial e que será citado mais a frente – se endireitará.
Assim, será toda essa problematização que o leitor encontrará nas páginas seguintes, nas bem escritas e bem fundamentadas linhas deste trabalho que foi antes dissertação. Para que o leitor sinta aos poucos o que o aguarda, mais um dado: na maioria das vezes os diagnósticos são feitos pelos familiares e pelos próprios professores que, embalados por sua paixão pela ignorância
¹⁴, preferem a camisa de força química que garanta a com-formidade do todos devem ser iguais. E, convenhamos, mesmo quando eles são feitos por profissionais e-s-p-e-c-i-a-l-i-z-a-d-o-s nada nos garante que eles não sejam efeito da máquina que o responsável pela bíblia da psiquiatria (DSM), Allen Frances, chamou de indústria das doenças mentais
¹⁵ e que nessas engrenagens a subjetividade se perca massificada. E o que fazer com isso? Como poderemos distinguir a complexidade da infância de uma patologia infantil? E como os professores, combatentes primeiros dessa árdua missão podem operar? Pois bem, é para responder a essas e outras tantas questões que convidamos o leitor a continuar a leitura desta obra.
E se tentar parar, pensando que nele só encontra um microcosmo lageano que diz uma realidade absolutamente serrana, não o faça, pois estará redondamente enganado. Ao contrário do que poderia parecer, temos, a partir desse insubstituível texto, o pórtico amplo e largo do macrocosmo que se estabelece em nossos tristes dias atuais e de forma exponencial se alastra por toda a superfície terrestre. E se isso já está assim agora, cito Victor Hugo, de que amanhã se trata?
¹⁶. Pois atravessemos esse pórtico e, por favor, depois de o fazermos que consigamos responder com habilidade – responsabilidade – aos desafios que esse nobre ofício implica, sem indicar o cárcere de uma nosologia segregatória e debilitante.
Gustavo Capobianco Volaco
SUMÁRIO
PALAVRAS INICIAIS...
CAPÍTULO 1
APRESENTANDO O TDAH
Conceituando e caracterizando o TDAH
CAPÍTULO 2
O TDAH NO CONTEXTO ESCOLAR
O TDAH e as dificuldades de aprendizagem: encontros e desencontros
O processo de inclusão e suas implicações frente ao TDAH
CAPÍTULO 3
O DESENVOLVIMENTO DO SUJEITO E O TDAH: DIFICULDADES E POSSIBILIDADES
As implicações do TDAH no desenvolvimento escolar
A prática docente frente o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
CAPÍTULO 4
REFLETINDO A PRÁTICA DOCENTE
CAPÍTULO 5
(IN)CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
Palavras iniciais...
O objetivo deste livro é refletir teoricamente acerca da prática docente frente ao Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), considerando que é no contexto escolar que se encontram as maiores dificuldades. O professor, nesse cenário, é convidado a enfrentar, em caráter desafiador, as disparidades do ato de ensinar e as diferentes formas de aprender de seus alunos, tendo em vista uma prática que dê conta de satisfazer todos os parâmetros que o processo ensino-aprendizagem exige.
O TDAH tem em seu contexto histórico uma série de pressupostos diagnósticos, e meu intuito é buscar esclarecer o que acontece com o indivíduo com esse transtorno, até chegar aos critérios atuais de avaliação. Seu histórico foi baseado em diagnósticos referentes ao controle moral do comportamento, criação inadequada, problemas mentais, fatores neurológicos e outros problemas, mas a base diagnóstica não implica somente no enquadramento baseado em sintomas, é preciso entender a totalidade do sujeito, ou seja, seu comportamento frente à escola, à família e as suas interações sociais.
Nas últimas décadas, o interesse por este transtorno tem atraído muitos pesquisadores, principalmente nas áreas da medicina, psicologia e educação. As investigações científicas em torno desse tema têm se concentrado em uma multiplicidade de aspectos, incluindo: epidemiologia, etiologia, métodos diagnósticos e processos de tratamento. É muito provável que nenhum outro transtorno relacionado à infância tenha sido tão bem estudado. Talvez o interesse pelo TDAH, que é bastante generalizado em nossa sociedade, esteja relacionado aos altos índices de crianças em fase escolar, que apresentam problemas relacionados ao comportamento.
Apesar de ser um transtorno complexo, seu impacto sobre os sujeitos ainda está arraigado à falta de informação sobre o problema. O diagnóstico do TDAH durante muito tempo foi realizado baseado em condições similares aos de outras dificuldades como, por exemplo, a incapacidade de aprender ou insegurança emocional. Isso se aplica, em parte, às noções iniciais de que o TDAH não era em si mesmo um problema distinto, mas um subtipo de problemas relacionados à aprendizagem.
A necessidade de entender o TDAH por parte dos pais, e a angústia por eles sofrida, me levou a buscar mais informações. Foi através dessa necessidade que o interesse pelo tema foi crescente, principalmente pelo aumento de pedidos de avaliações diagnósticas e encaminhamentos para os psicólogos. Na minha experiência clínica, essa é uma realidade que venho vivenciando durante muito tempo, e que foi a força-motriz para a elaboração deste livro.
As pesquisas acerca do transtorno avançam, na mesma medida que a necessidade de entendê-lo é explicitada, mas dentro dessa perspectiva muito se tem por fazer e buscar. Foi essa a grande motivação para discorrer sobre o tema, pois pude perceber que são muitas as lacunas abertas, principalmente no que tange à suspeita ou diagnóstico de crianças em fase escolar, porque tanto professores como pais têm muitas dúvidas sobre o TDAH.
Os comportamentos de alguns alunos apresentados em sala de aula causam nos educadores dúvidas, pois a falta de atenção, a impulsividade e a atividade excessiva, quando apresentadas de forma contínua, pode levar alguns desses profissionais da educação a suspeitar ou diagnosticar o TDAH, já que esses comportamentos compreendem os principais sintomas desse transtorno. Porém, vale considerar que nem sempre esses comportamentos são de forma concreta um sintoma, mas uma manifestação na criança de que algo não está bem, ou que ela está sofrendo devido a uma situação vivida, que pode ser de âmbito familiar ou até mesmo relacionada à própria escola ou aprendizagem.
Se algo não vai bem com a criança, seja no contexto familiar ou escolar, as implicações são muitas, podendo inclusive levar a um baixo rendimento escolar. O fracasso escolar pode ser fruto não da incapacidade intelectual, mas por outros problemas e dificuldades. As dificuldades dos alunos em se ajustar aos procedimentos e critérios estabelecidos podem transformá-los em deficientes
ou especiais
, dando a impressão de que os desvios estão neles. Mas cabe à escola ajustar uma forma de intervenção mais efetiva para integrar esses sujeitos ao sistema de ensino, para que se torne concreto o processo de ensino-aprendizagem¹⁷.
Os alunos com diagnóstico de TDAH tendem a sofrer problemas no que tange ao aprendizado e desenvolvimento cognitivo, uma vez que as dificuldades que eles enfrentam podem limitá-los em seu rendimento escolar. Os problemas trazidos por esse transtorno implicam no processo de ensino e nas relações sociais. Em se tratando de um problema que contempla o processo ensino-aprendizagem, cabe ao professor e à escola o comprometimento com a construção intelectual e com a socialização desses sujeitos, pois a aprendizagem permeia as relações entre os sujeitos e é mediada pelo outro, sendo que é esse outro que dá significado ao mundo e a tudo que nele se insere.
É nessa perspectiva que esta obra tem como concepção norteadora a teoria de Vygotsky, considerando que as crianças com TDAH tendem a ter problemas na aprendizagem e no desenvolvimento cognitivo, e é na escola que esses problemas devem ser trabalhados, a teoria do desenvolvimento deste grande teórico pode ser a base para a superação dessas dificuldades.
A partir desse pressuposto, a escola torna-se um novo lugar, um espaço que deve privilegiar o contato social, em que professores e alunos devem ser considerados parceiros nesta tarefa social e o aluno jamais poderá ser visto como alguém que não aprende; possuidor de algo interno que lhe dificulta a aprendizagem. Na concepção de Vygotsky, não há aprendizagem que não gere desenvolvimento; não há desenvolvimento que prescinda da aprendizagem.
Nas palavras de Bock¹⁸, a concepção de Vygotsky aponta que o desenvolvimento é um processo que se dá de fora para dentro. É no processo de ensino-aprendizagem que ocorre a apropriação da cultura e o consequente desenvolvimento do indivíduo
. A escola surge como espaço extensivo do desenvolvimento, pois privilegia o contato com a cultura de forma sistemática, intencional e planejada.
Nesse espaço o aluno é provocado e seu ritmo é acelerado em um