Bases Teóricas da Psicologia da Saúde
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Sobre este e-book
O livro constrói-se a partir de três eixos temáticos: "Fundamentos e modelos em Psicologia da Saúde"; "Mediadores em Saúde" e "Aplicações". Dentro desses eixos, o leitor encontrará, por exemplo, informação sobre a autorregulação do comportamento em saúde, as crenças de saúde e cognições de doença e o comportamento saudável. Também aprenderá sobre os mediadores em saúde, como a personalidade, o gênero, o apoio social, o estresse psicológico e as habilidades de autocuidado. A obra inclui ainda as aplicações da Psicologia da Saúde em relação à adesão ao tratamento médico e na abordagem da comunicação de más notícias, e finaliza com a integração das bases teóricas na aplicação da Psicologia da Saúde; destacando alguns dos elementos notáveis ao longo do livro.
Em resumo, nos encontramos com um excelente material educativo, atual, diferenciado no nosso contexto, com potencial para integrar a formação em Psicologia da Saúde tanto nos níveis de graduação como de pós-graduação e servir de guia para uma prática fundamentada na melhor teoria científica.
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- Nota: 5 de 5 estrelas5/5Livro incrível! Mudou minha perspectiva sobre muita coisa. Gratidão aos autores!
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Bases Teóricas da Psicologia da Saúde - Elisa Kern de Castro
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2018 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
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COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO MULTIDISCIPLINARIDADES EM SAÚDE E HUMANIDADES
Apresentação
É uma satisfação apresentar o livro Bases teóricas da Psicologia da Saúde, que com energia e dedicação escrevemos. O leitor poderá comprovar que o livro é fruto de uma colaboração acadêmica entre professores e pesquisadores de duas universidades brasileiras, Unisinos e UFRGS. Também é resultado da experiência e trajetória profissional, acadêmica e pesquisadora dos autores, e foi cultivado a partir de um trabalho cooperativo entre dois grupos de pesquisa especializados nessa temática.
A publicação do presente livro é oportuna e contribui para complementar a informação e a literatura disponível em língua portuguesa sobre a Psicologia da Saúde desde um ponto de vista teórico e conceitual, e que pretende, junto com outros materiais disponíveis, constituir os alicerces do conhecimento para quem pretende desenvolver estudos, prática ou pesquisa no âmbito dessa importante área.
O livro constrói-se a partir de três eixos temáticos: Fundamentos e modelos em Psicologia da Saúde
; Mediadores em Saúde
e Aplicações
. Os autores enquadram a compreensão do processo saúde-doença como um problema complexo e multifacetado a partir de modelos teóricos da Psicologia da Saúde em que as dimensões biológica, psicológica e social são integradas para dar respostas às demandas que emergem da experiência de adoecimento.
Essa perspectiva é muito oportuna, pois à medida que se aumenta a integração da psicologia com outras áreas das ciências da saúde, faz-se necessário também que se ofereça um portfólio de alternativas de avaliação, pesquisa e intervenção que contribua para o manejo das problemáticas pertinentes ao âmbito da saúde. Essas alternativas devem partir de uma prática experimentada e baseada em resultados e evidências.
O conhecimento aqui descrito pode ser especialmente útil para ampliar o debate e ajudar a pensar a formação de políticas públicas em saúde que considerem uma abordagem moderna dessa problemática tão cara ao nosso País. O conhecimento teórico aqui descrito resultará familiar ao leitor especializado, e novo ao leitor que se inicia neste campo de estudo, porém acessível. O mérito deste livro está em facilitar a compilação dos elementos essenciais da Psicologia da Saúde, na visão dos autores, acumulados ao longo dos anos na literatura especializada.
O leitor encontrará, por exemplo, informação sobre: a autorregulação do comportamento em saúde; as crenças de saúde e cognições de doença e o comportamento saudável. Também aprenderá sobre os mediadores em saúde, como a personalidade, o gênero, o apoio social, o estresse psicológico e as habilidades de autocuidado. A obra inclui ainda as aplicações da Psicologia da Saúde em relação à adesão ao tratamento médico e na comunicação de más notícias; e finaliza com a integração das bases teóricas na aplicação da Psicologia da Saúde; para destacar alguns dos elementos notáveis ao longo do livro. Portanto acreditamos que os pesquisadores da área podem beneficiar-se destes textos ímpares como meio para enriquecer seus conhecimentos e dar seguimento à sua especialização nesse ramo. Este material permite trabalhar a temática tanto com alunos de graduação como de pós-graduação.
Em conjunto, com o presente livro, o leitor tem à disposição um excelente material para conhecer mais sobre a problemática aqui abordada, utilizá-lo como recurso para discussão teórica e atividade docente, e como subsídio na aplicação dos conhecimentos aqui apresentados no seu contexto de atuação, seja ele estudantil, de voluntariado, profissional ou acadêmico.
Em resumo, nos encontramos com uma obra interessante, atual, diferenciada no contexto brasileiro, oportuna e necessária pela temática abordada, e com relevância social. Portanto é com satisfação que recomendamos vivamente aos interessados sua leitura e seu desfrute.
Prof.ª Dr.ª Elisa Kern de Castro
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Prof. Dr. Eduardo Remor
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Sumário
capítulo 1
Introdução à Psicologia da Saúde
Elisa Kern de Castro
Eduardo Remor
capítulo 2
Autorregulação do comportamento em saúde
Elisa Kern de Castro
Maria Júlia Armiliato
Luisa Vital
Carolina Seabra
capítulo 3
Crenças de saúde e cognições de doenças
Ariane de Brito
Gabriela Pasa Mondelo
Eduardo Remor
Capítulo 4
Comportamento saudável
Erika Pizziolo Monteiro
Katia Irie Teruya
Eduardo Remor
capítulo 5
Personalidade e Saúde
Eduardo Remor
capítulo 6
Gênero e saúde
Andresa Soster
Fernanda da Cruz Bertan
Elisa Kern de Castro
capítulo 7
Apoio social
Ariane de Brito
João Paulo Pinheiro
Eduardo Remor
capítulo 8
Estresse e distresse emocional
Paola Otaran
Elisa Kern de Castro
Eduardo Remor
capítulo 9
Autocuidado e saúde
Elisa Kern de Castro
Franciele Peloso
Miguel Luis Alves de Souza
Patrícia Dalagasperina
capítulo 10
Adesão ao tratamento médico
Eduardo Remor
capítulo 11
Comunicação de más notícias em Saúde
Bruna Madrid da Rosa
Fernanda Bittencourt Romeiro
Elisa Kern de Castro
capítulo 12
Integrando as bases teóricas na aplicação da Psicologia da Saúde
Eduardo Remor
Elisa Kern de Castro
SOBRE OS AUTORES
capítulo 1
Introdução à Psicologia da Saúde
Elisa Kern de Castro
Eduardo Remor
Introdução
Este capítulo introduz a Psicologia da Saúde como uma área da Psicologia e traz algumas ideias a respeito de suas origens e bases epistemológicas. Além disso, contextualiza a Psicologia da Saúde brasileira nos âmbitos interno e internacional.
Breve histórico
O surgimento da Psicologia da Saúde (Health Psychology em inglês) como campo aplicado e especialidade da psicologia nos contextos de saúde deu-se em 1978, nos Estados Unidos. Naquele ano, um conjunto de psicólogos procedentes do serviço público, hospitais, serviços de reabilitação médica, centros de formação médica e universidades vinculados à American Psychological Association (APA) se reuniram e deram início a uma discussão sobre o trabalho e a pesquisa do psicólogo na área da saúde (Remor, 1999). Esse movimento serviu de suporte para que, no ano seguinte, nessa mesma conferência anual organizada pela APA, se criasse a divisão 38, denominada Society for Health Psychology (Sociedade de Psicologia da Saúde), cujo objetivo básico era o de fomentar e difundir a contribuição profissional dos psicólogos para um melhor conhecimento da saúde e da doença (Matarazzo, 1980; Remor, 1999), que teve como primeiro presidente eleito o psicólogo Joseph D. Matarazzo.
Em 1979, Stone, Cohen e Adler (1979) publicaram o primeiro livro monográfico sobre a Psicologia da Saúde, com o título Health psychology – A handbook. Theories, applications, and challenges of a psychological approach to the health care system. Três anos mais tarde (1982), foi publicado o primeiro número da revista científica e pioneira dessa divisão da APA, sob o título Health Psychology, cujo primeiro editor foi George C. Stone. A publicação Health Psychology segue líder na área até os dias atuais.
Nas Américas, em 1983, foi criado o Grupo de Trabalho em Psicologia da Saúde e Medicina Comportamental (Behavioral Medicine) patrocinado pela Sociedade Interamericana de Psicologia (SIP) durante o XIX Congresso da SIP celebrado em Quito, no Equador. Em 1984 ocorreu em Havana, Cuba, o Primeiro Seminário Internacional de Psicologia da Saúde patrocinado pela SIP, pela Sociedade Cubana de Psicologia, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
Na Europa, a sociedade multinacional que integra e coordena o desenvolvimento da disciplina nesse continente foi fundada em 1986 em Tilburg, na Holanda, intitulada European Health Psychology Society (EHPS). Essa organização é muito atuante, com representação no organismo de Nações Unidas e realização de congressos anuais no território europeu. Na atualidade, essa sociedade é responsável pela edição de um conjunto de revistas especializadas, como Psychology and Health, Health Psychology Review, The European Health Psychologist, Health Psychology and Behavioral Medicine, e Health Psychology Bulletin, apresentados por ordem de criação.
No âmbito latino-americano, surgiu no período entre 2001 e 2003 a Asociación Latinoamericana de Psicologia de la Salud (Alapsa), com o objetivo de integrar e desenvolver colaborações entre os psicólogos dos países da região, por meio de congressos e formação continuada. Os primeiros eventos aconteceram no México (2001) e na Colômbia (2003).
No Brasil, duas sociedades científicas acolhem os profissionais e pesquisadores da psicologia que trabalham no contexto de saúde: a Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar, fundada em 1997, e a Associação Brasileira de Psicologia da Saúde (ABPSA), fundada em 2006.
O que é Psicologia da Saúde?
A Psicologia da Saúde tenta compreender a saúde e a doença a partir da integração do conhecimento biomédico e psicológico, buscando colaborar para a articulação do conhecimento dos aspectos psicológicos e comportamentais coadjuvantes das doenças físicas. Portanto o foco primário é na saúde física em vez de na saúde mental (objeto da Psicologia Clínica), embora, como duas caras da mesma moeda, elas não sejam facilmente separáveis. Assim, a Psicologia da Saúde pesquisa a relação entre a mente e o corpo, pois os processos psicológicos afetam o estado geral de saúde e bem-estar de um indivíduo (Marks et al., 2005). Ademais, essa disciplina procura intervir sobre as condições psicossociais para a promoção e manutenção da saúde, com foco também em prevenção. De acordo com Joseph Matarazzo (1982), a definição de Psicologia da Saúde refere-se ao
[...] conjunto de contribuições educativas, científicas e profissionais da disciplina da psicologia a promoção e manutenção da saúde, a prevenção e tratamento da doença, a identificação dos correlatos etiológicos e diagnósticos da saúde, a doença e as disfunções relacionadas e a análise e melhora do sistema sanitário e formação de políticas sanitárias (p. 4).
Desde o surgimento, na década de 1970, a Psicologia da Saúde tem crescido enormemente e ampliado seu escopo, em razão de uma série de fatores, tais como: (a) devido à crescente consciência da vasta quantidade de problemas de saúde e mortalidade que são determinados pelo comportamento. A pesquisa epidemiológica sugere que entre as principais causas de mortalidade no mundo ocidental boa parte está relacionada com ou mediada pelo comportamento ou estilo de vida
(WHO, 2016). O que significa que muitas mortes (ou adoecimentos) são potencialmente evitáveis se intervenções efetivas são desenvolvidas; (b) a expansão de uma ideologia na qual os indivíduos são responsáveis pela própria saúde, o fenômeno do estilo de vida saudável e a busca pela saúde (Costa & López, 2000); (c) o desencanto com a atenção dos serviços de saúde e da medicina, o que levou à busca por perspectivas alternativas que valorizam a experiência do paciente e que desejam melhorar a atenção de saúde e os cuidados médicos por meio da compreensão dos aspectos psicológicos implicados na atenção de saúde (Marteau & Weinman, 2004); (d) o surgimento de uma nova era para as doenças crônicas (doenças não comunicáveis), com expansão em todos os continentes, ricos ou pobres; (e) o surgimento de surtos de doenças comunicáveis, como a síndrome respiratória aguda grave (Sars), Ebola, Zika, surtos de intoxicação alimentar, proliferação de bactérias resistentes a antibióticos e infecções hospitalares. As aprendizagens e o conhecimento desenvolvido pela Psicologia da Saúde nas últimas décadas, em termos de prevenção e tratamento, estão sendo úteis para afrontar os problemas de saúde emergentes.
Portanto trata-se de uma disciplina que rejuvenesce e consolida-se por meio das transições epidemiológicas que afetam o mundo. Constituindo-se como uma especialidade que é parte vital de um campo científico maior das ciências da saúde (Freedland, 2017).
O marco teórico da Psicologia da Saúde
No início do século XX, ainda se entendia a doença ou o adoecimento como produto de patógenos ou das más condições de vida, saneamento e infraestrutura, o que se denominou de modelo biomédico para entender a saúde e doença. Esse modelo, apoiado na fisiologia, na anatomia e no estudo de patógenos, trouxe para a medicina êxitos importantes, como, por exemplo, o desenvolvimento de vacinas e a descoberta do agente etiológico da tuberculose. Por outro lado, havia desde muito tempo na história da humanidade a preocupação sobre como mente e corpo interagem, de modo que o interesse pelos componentes psicológicos ganhou força quando, dentro da própria medicina, as pessoas passaram a se dar conta de que o modelo biomédico era insuficiente para entender os processos de saúde e doença (Belar, 2008). Assim, foi somente na segunda metade do século XX, com o desenvolvimento de uma nova concepção de saúde, que se começou a compreender que muitos dos adoecimentos e das mortes podiam atribuir-se ao comportamento e estilo de vida individual. Com essa mudança de paradigma (Engel, 1977) a compreensão dos processos de saúde e doença passou a ser mais abrangente, incluindo também a dimensão psicológica e comportamental. Esse novo paradigma foi denominado de modelo biopsicossocial, que sustenta que todos os fatores biológicos (p. ex., vírus, bactérias, hormônios, lesões cerebrais), psicológicos (p. ex., comportamento, crenças, cognições, enfrentamento, estresse, dor) e sociais (p. ex., classe social, ingressos, situação laboral, nível educativo, etnia, minorias) são elementos determinantes da saúde e da doença (Marks et al., 2005).
Portanto a Psicologia da Saúde é uma disciplina de amplo escopo, que surgiu num contexto interessado por um modelo holístico de saúde e da necessidade de novos parâmetros em saúde e que manifestassem as transformações pelas quais passa a sociedade (Angerami-Camon, 2000; Castro & Bornholdt, 2004; Remor, 1999). Por essa razão, Johnston e Kennedy (1998) entendem-na como o estudo dos processos psicológicos e comportamentais relacionados à saúde e doença, e seu foco nos problemas de saúde físicos trazem novas perspectivas teóricas e metodológicas para a compreensão da saúde e doença e intervenções.
Assim, os psicólogos da saúde buscam identificar preocupações e necessidades ligados às doenças agudas ou crônicas e sintomas médicos persistentes para desenvolver métodos e medir resultados clínicos em diferentes contextos e culturas (Castro & Bornholdt, 2004; Gorayeb, 2010; Remor, 1999; Rodríguez-Marín, 2003). Os psicólogos também se preocupam em adaptar tratamentos psicológicos para sua aplicação em contextos de saúde e hospitais, como, por exemplo, para a promoção de comportamentos saudáveis, controle do estresse, autorregulação emocional, adesão ao tratamento etc. Particularidades relacionadas ao gênero, à idade e à diversidade racial e étnica, dentre outras, também merecem a atenção dos psicólogos da saúde. Fatores que influenciam na saúde e na doença, como sua duração, o contexto cultural, características pessoais, dentre outras, são importantes e podem ser consideradas moderadoras no planejamento e na execução de intervenções na área.
A expansão da Psicologia da Saúde
Dentro da Psicologia da Saúde, podemos observar algumas especializações ou extensões do campo, por exemplo, a Psicologia da Saúde Clínica (Clinical health psychology), a Psicologia da Saúde Ocupacional (Occupational health psychology), Psicologia da Saúde Crítica (Critical health psychology), Psicologia da Saúde Pública (Public health psychology), Psicologia da saúde comunitária (Community health psychology), Psico-oncologia (Psycho-oncology), Psicocardiologia (Psycho-cardiology) e Psiconefrologia (Psychonephrology).
No que se refere à Psicologia da Saúde Clínica (Clinical Health Psychology; APA, 2017), essa aplica o conhecimento científico das inter-relações entre componentes comportamentais, emocionais, cognitivos, sociais e biológicos em saúde e doença para a promoção e manutenção da saúde, prevenção, tratamento e reabilitação de doenças e incapacidades; e a melhoria do sistema de saúde.
O foco distinto da Psicologia da Saúde Clínica – área homóloga à área interdisciplinar Behavioral Medicine (Steptoe, 2010) – está na junção de doenças físicas e emocionais, compreendendo e tratando os desafios sobrepostos. Trata-se de um conhecimento especializado que evoluiu como uma área de especialidade de conhecimento e prática com fundamentos nas ciências da saúde. Essa especialização requer ampla compreensão da biologia, farmacologia, anatomia, fisiologia humana, fisiopatologia e psiconeuroimunologia. E aborda problemas relacionados aos comportamentos de saúde (por exemplo, peso, tabagismo, adesão às recomendações de cuidados de saúde) e ao impacto psicológico da doença física ou da lesão ou deficiência. Utiliza habilidades e procedimentos científicos de uma ampla gama, considerando avaliação, consulta de diagnóstico com a equipe de cuidados de saúde, incluindo a família e várias abordagens e técnicas psicoterapêuticas no contexto de doenças físicas e promoção da saúde. Com experiência em conceituação e métodos de pesquisa, os psicólogos da saúde clínicos também podem realizar pesquisa. A população-alvo é muito variada, desde doenças crônicas graves, incluindo, por exemplo, AIDS, câncer, doenças cardíacas, doenças renais, dor crônica e diabetes, a problemas de saúde agudos, por exemplo, cirurgia, transplante e procedimentos dolorosos (Belar, 2008).
A Psicologia da Saúde Ocupacional (Occupational health psychology; SOHP, 2017), campo interdisciplinar, aplica os conhecimentos científicos para melhorar a qualidade da vida profissional e melhorar a segurança, a saúde e o bem-estar dos trabalhadores em todas as profissões. Por existir na intersecção das ciências comportamentais e das disciplinas de saúde ocupacional, ela é uma especialidade inclusiva de conhecimentos e métodos de psicologia, saúde pública ocupacional, estudos organizacionais, fatores humanos e campos aliados (como sociologia ocupacional, engenharia industrial, economia e outras). A especialidade está preocupada com a ampla gama de exposições e mecanismos que afetam a qualidade da vida profissional e as respostas dos trabalhadores. Esses incluem atributos psicológicos individuais, conteúdo do trabalho e organização do trabalho, políticas e práticas organizacionais e os ambientes econômicos e políticos nos quais as organizações funcionam. A pesquisa e a prática dessa especialidade exploram as intervenções que visam ao ambiente de trabalho, bem como ao indivíduo, para criar locais de trabalho e organizações mais saudáveis e melhorar a capacidade dos trabalhadores para proteger sua segurança e saúde e maximizar sua eficácia geral.
A Psicologia da Saúde Crítica (Critical health psychology; ISCHP, 2017) não se trata exatamente de uma especialidade da Psicologia da Saúde, mas de um conjunto de profissionais que unidos em uma sociedade científica defendem uma variedade de pontos de vista teóricos e metodológicos. Eles compartilham uma insatisfação com os pressupostos positivistas de grande parte da psicologia científica e a suposta desconsideração de questões sociopolíticas mais amplas. De modo que compartilham um interesse em várias ideias críticas (por exemplo, construção social, pós-modernismo, feminismo, marxismo etc.) e vários métodos de pesquisa qualitativos e participativos (por exemplo, análise do discurso, teoria fundamentada, pesquisa-ação, etnografia etc.) e sua relevância para a compreensão da saúde e da doença. Além disso, eles reivindicam ter uma consciência das dimensões sociais, políticas e culturais da saúde e da doença (por exemplo, pobreza, racismo, sexismo, opressão política etc.) e um compromisso ativo de reduzir o sofrimento humano e promover a melhoria da qualidade de vida.
A Psicologia da Saúde Pública (Public health psychology; Hepworth, 2004) concentra seus esforços na saúde da população em oposição à saúde individual. Podem direcionar seu trabalho a certos grupos em risco ou em situação de vulnerabilidade, como populações de baixa renda, para prevenir problemas de saúde. Investigam como os fatores psicológicos afetam as queixas e demandas de saúde de populações específicas, podendo variar de acordo com o local de trabalho, por exemplo, mulheres grávidas de baixa renda, fumantes, hipertensos, usuários de álcool e drogas, ou veteranos de guerra incapacitados. Trabalham integrados a outras áreas de saúde pública, como nutrição, odontologia, genética e epidemiologia. Eles frequentemente realizam estudos científicos e coletam informações a partir de uma variedade de métodos, incluindo observação, pesquisas e entrevistas. Os estudos podem ser direcionados a problemas de saúde específicos, como o abuso de substâncias ou a gravidez na adolescência ou a promoção de programas para melhorar hábitos alimentares para diminuir as taxas de diabetes tipo 2, ou programas de saúde da mulher. Os psicólogos de saúde pública podem trabalhar como consultores para a indústria e organizações privadas e governamentais, como hospitais e instalações de reabilitação, associações comunitárias e agências para desenvolver programas que promovam o bem-estar mental e a prevenção de doenças. Alguns psicólogos da saúde pública usam os dados que pesquisam para trabalhar com os legisladores para desenvolver leis e políticas públicas que possam promover a prevenção de doenças, e com agências governamentais para tentar abordar práticas injustas em saúde ou influenciar políticas públicas relacionadas a problemas de saúde. Alguns autores consideram que a Psicologia da Saúde pública é uma evolução e ampliação da Psicologia da Saúde comunitária (Community health psychology; Hepworth, 2004), geralmente focada na promoção e educação para a saúde no âmbito comunitário.
Outros campos de alta especialização surgidos a partir da expansão da Psicologia da Saúde e Behavioral Medicine são a Psico-oncologia (Psycho-oncology; Holland, 1998), a Psicocardiologia (Psycho-cardiology; Alvarenga & Byrne, 2016) e a Psiconefrologia (Psychonephrology; Levy, 2008).
A Psicologia da Saúde no Brasil
O desenvolvimento da Psicologia da Saúde no Brasil percorreu um caminho não linear. Muitos fatores contribuíram para o atraso do desenvolvimento dessa especialização da Psicologia no País, mas um dos mais impactantes é a pouca internacionalização e troca de conhecimentos científicos da Psicologia feita no Brasil (Castro & Bornholdt, 2004). Outro grande problema é a própria denominação Psicologia da Saúde, pois é recorrente a confusão com terminologias como a Psicologia Hospitalar, Psicossomática, Medicina Comportamental, com a própria Psicologia Clínica (Castro & Bornholdt, 2004) e mais recentemente com o que se tem chamado de Psicologia e saúde. Esse último refere-se a uma grande quantidade de cursos de pós-graduação no Brasil e que não têm um conceito específico, porém não se enquadram dentro do conceito de Psicologia da Saúde propriamente dita, tampouco na Saúde Coletiva.
Por muito tempo no Brasil, a Psicologia da Saúde confundiu-se com a chamada Psicologia hospitalar (Castro & Bornholdt, 2004; Chiattone, 2000). A pouca formação científica dos psicólogos, somada à forte formação individualista no País, fez com que o psicólogo atuante no hospital levasse o modelo de consultório para dentro do hospital, tendo uma prática distanciada do fazer da Psicologia da Saúde (Castro & Bornholdt, 2004). A psicologia como área, inclusive na saúde, penetrou no território nacional sem estar preocupada com a produção de conhecimentos e a transformação das práticas (Dimenstein, 2000), levando o psicólogo a uma atuação descontextualizada e desatualizada.
Em 2001, o Conselho Federal de Psicologia regulamentou a criação de títulos profissionais de especialistas em Psicologia em diversas áreas (Resolução CFP n.º 02/2001), e dentre essas especialidades encontrava-se a Psicologia Hospitalar. Com essa resolução, tornou-se oficial no Brasil a especialidade de Psicologia Hospitalar, inexistente no âmbito internacional da Psicologia. Muitas discussões aconteceram a partir daquela resolução, pois se por um lado ela reconhecia e valorizava o trabalho do psicólogo no hospital; por outro, conceituava uma prática a partir de seu local e não de suas atividades técnicas, descontextualizada da ciência psicológica realizada fora do País. Em 2007, uma nova resolução do Conselho Federal de Psicologia (Resolução CFP n.º 013/2007) atualizava os critérios para título de especialista por esse órgão e mantinha a denominação de Psicologia Hospitalar como especialidade.
A discussão entre Psicologia Hospitalar e Psicologia da Saúde tomou proporções cada vez maiores no Brasil, especialmente na academia (Almeida & Malagris, 2011; Castro & Bornholdt, 2004; Gorayeb, 2010). Questionava-se o nome da especialidade, sua definição, e se sua prática deveria ser oriunda dos conhecimentos da Psicologia da Saúde, entendendo essa como uma área muito mais ampla que abrangia o trabalho do psicólogo hospitalar e em qualquer ambiente onde se faça saúde. Para Castro e Bornholdt (2004), os dois conceitos não eram equivalentes, iniciando pelo próprio significado dos termos saúde
e hospital
. Foram criadas residências em Psicologia Hospitalar em diversos hospitais do Brasil (Gorayeb, 2010).
Contudo, em 2016, uma nova resolução (Resolução CFP n.º 03/2016) altera a anterior e cria a especialidade de Psicologia em Saúde, mantendo a especialidade de Psicologia Hospitalar. Nessa nova especialidade, o psicólogo
[...] atua em equipes multiprofissionais e interdisciplinares no campo da saúde, utilizando os princípios, técnicas e conhecimentos relacionados à produção de subjetividade para a análise, planejamento e intervenção nos processos saúde e doença, em diferentes estabelecimentos e contextos da rede de atenção à saúde. Considerando os contextos sociais e culturais nos quais se insere, estabelece estratégias de intervenção com populações e grupos específicos, contribuindo para a melhoria das condições de vida dos indivíduos, famílias e coletividades. Desenvolver ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e vigilância em saúde junto a usuários, profissionais de saúde e ambiente institucional, colaborando em processos de negociação e fomento a participação social e de articulação de