Manoel Monteiro: (Re)Inventando o Cotidiano nas Diferentes Facetas do Cordel
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Sobre este e-book
Aqui enxergo Manoel Monteiro não apenas do seu lugar de poeta, mas, principalmente, do seu lugar de autor consagrado como referência em cordel, e não somente no estado da Paraíba, mas em muitos estados do território nacional. Os folhetos desse poeta estão, hoje, inaugurando uma diferente apropriação em páginas de livros, apresentando um teor paradidático e publicitário. A visibilidade do nome do autor nos meios midiáticos locais e regionais, assim como a presença de sua produção no âmbito educacional, despertou para a necessidade de um estudo de sua obra. Este livro foi motivado, portanto, pelo interesse em estudar a obra desse grande poeta.
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Manoel Monteiro - Maria do Socorro Moura Montenegro
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2018 do autor
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COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Ao poeta Manoel Monteiro (in memoriam);
Josenildo Pinto da Silva, meu esposo;
Mayrla, Maryana e Gabriel (meus enteados);
Alice (in memoriam), minha mãe;
Cristovão (in memoriam), meu pai;
Carlos e Goretti (in memoriam), meus irmãos;
Elvira e Fátima (minhas Irmãs);
João e Marcelo (meus irmãos);
Meus sobrinhos e sobrinhas;
Aos poetas de cordel, em especial, aos paraibanos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a DEUS, pela luz, força, sabedoria e perseverança na caminhada. Tenho plena certeza de que só a força do Pai Celestial fez com que eu superasse todos os desafios que se fizeram se faz presentes em minha trajetória pessoal, acadêmica e profissional.
Agradeço com amor ao poeta Manoel Monteiro (in memoriam), que, com toda gentileza e carinho, presenteou-me com todos os seus cordéis e livros para que este trabalho se materializasse. Além de sua disponibilidade para diálogos e entrevistas.
Agradeço, gentilmente, ao professor e poeta Johniere, que, de forma atenciosa, cedeu-me, de seu arquivo pessoal, documentos relativos às pesquisas desenvolvidas com o poeta Manoel Monteiro.
Sou grata pela presença de Josenildo no meu cotidiano, que renovou minhas energias para recomeçar, e a Alicinha, representando o amor e o carinho de meus enteados e familiares. Muito obrigada pela compreensão ante a minha ausência.
Com muito carinho, agradeço a minha irmã Elvira, que, por todo seu zelo e amor, representa os meus pais, Cristovão e Alice (in memoriam), que indubitavelmente estavam intercedendo com DEUS, no plano espiritual, pelo meu sucesso pessoal e acadêmico.
Sou grata a minha orientadora, Socorro Pacífico Barbosa, que, devido à minha perseverança, incentivou-me a tecer os fios dos textos de cordel de Manoel Monteiro, de modo a fazer parte de minha importante travessia.
Agradeço afetuosamente, em especial, à amiga Célia, que, com sua grandiosa amizade, encorajou-me nos momentos difíceis, e à amiga Ana Lúcia e Virna; de forma singela, elas provaram o quão importante é uma verdadeira amizade.
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever.
Clarice Lispector
APRESENTAÇÃO
Por que o livro Manoel Monteiro: reinventando o cotidiano nas diferentes facetas do cordel?
Motivado pela pergunta, este livro procura respondê-la a partir das minhas inquietações sobre a reinvenção do cotidiano do renomado poeta Manoel Monteiro, que tomou impulso a partir da constatação de que a maioria dos folhetos produzidos por esse poeta se concentra em temáticas atuais que circulam nos livros didáticos, dando a entender que seu interesse era auxiliar os professores, devido ao caráter de complementaridade atribuído aos seus textos.
A esse respeito, vale ressaltar que a vasta produção do poeta Manoel Monteiro tornou-o um dos grandes responsáveis pela difusão da literatura nas escolas em todo o Brasil, dada a sua singularidade de reinventar o cotidiano por intermédio das diferentes facetas dos textos de cordel, que se encontra materializado nesse suporte textual. Trata-se do tema da minha pesquisa, cujo objetivo geral foi investigar o processo de produção de práticas de apropriação do conteúdo paradidático-publicitário, marcas constitutivas de seus folhetos e de seus livros.
Não perco de vista que, aos 15 anos, Manoel Monteiro aportou em cidade, Campina Grande-PB, também conhecida como a Capital do Cordel
. Certamente, foi um jovem ousado, em razão de, em plena juventude, ter se afastado de sua terra natal – Bezerros-PE, em busca de alçar voos mais altos. É como se tivesse apostado tanto na sua coragem de nordestino destemido como no seu desejo de que a literatura de cordel tivesse mais visibilidade no meio educacional, de modo que isso se concretizou de diversas formas. Por quê? Porque de tanto se utilizar de estratégias e táticas para reinventar o cotidiano, ele se destacou não só no estado da Paraíba, mas no Brasil, como um autodidata/poeta, ao ter produzido uma vasta obra, não só de cordéis; também de livros paradidáticos para grandes editoras do nosso país. Chegou, inclusive, a receber o prêmio de um dos melhores cordelistas do país, concedido, em 2003, pela Associação Brasileira de Literatura de Cordel, em Santa Tereza-RJ. Dessa forma, o poeta conseguiu marcar sua existência no mundo por meio de sua produção autoral.
Em seguida, aponto a forma como Manoel Monteiro, a partir do lugar de autor, utiliza-se de estratégias para formatar o texto de cordel, que vão desde a presença do prefácio na contracapa do cordel (sabendo que o uso do prefácio é muito recorrente no suporte textual livro) ao formato de introdução de entrevistas na contracapa dos cordéis, o que, de certa forma, o diferencia de outros colegas e remete, portanto, a suas práticas de apropriação do produto cultural – o cordel. Entendo que, do lugar social de autodidata, o poeta cordelista venceu as barreiras da inércia cultural e desenvolveu táticas de incursão numa cultura letrada que não era a sua de origem.
A autora
PREFÁCIO
A obra que ora se apresenta é fruto de uma pesquisa cuidadosa sobre a produção poética de Manoel Monteiro, a quem a autora procura fazer justiça, destacando a importância de sua contribuição ao mundo das Letras. Socorro Moura Montenegro, após discorrer sobre o trabalho de Monteiro, naquilo que representa a pertinência dos folhetos de cordel, na visão de mundo desse poeta pernambucano radicado na Paraíba, faz esse veio da literatura sobressair. Este livro narra a vida e obra de Manoel Monteiro e ressalta a função autor, estabelecendo um diálogo com a circulação de seus folhetos e livros
.
A apresentação do Novo Cordel
, a partir do entendimento de Manoel Monteiro sobre o tema, é um amálgama em que se destaca o teor artístico e utilitário do texto poético de literatura de folhetos. Os folhetos satisfazem o campo educacional pela inserção da visão paradidática e publicitária.
Percebe-se, neste livro, uma tentativa de destacar a evolução do Cordel, nas temáticas desenvolvidas, quando a autora busca comentar a memória de poetas mais antigos, como Leandro Gomes de Barros, João Melchíades Ferreira da Silva, José Camelo de Melo Resende, João Martins de Athayde e outros, ao mesmo tempo em que apresenta poetas da atualidade, como José Medeiros Lacerda, Medeiros Bragas, acrescentando ainda as poetas mulheres, como Fátima Coutinho, Maria Godelivie Cavalcante e outras.
Aqui há o uso de uma base teórica sobre questões como leitura, autor, cultura (popular), conteúdo paradidático, publicidade, apropriação, entre outras possibilidades de envolvimento com o folheto de cordel. Foucault foi utilizado para destacar o modo de circulação e envolvimento de textos. Inspira-se a autora em De Certeau para trabalhar a arte de fazer
folhetos do poeta Monteiro e os modos de proceder da criatividade cotidiana, quando os sujeitos se (re)apropriam, diferentemente, de um produto sociocultural.
Chartier, em sendo o teórico mais citado, é também o autor que oferece mais subsídios para sedimentar este texto, apontando caminhos no âmbito de toda a pesquisa. Como Monteiro insiste em convencer seu leitor para acatar as suas ideias, é viável a tática da pesquisadora em recorrer a Chartier (2001, p. 40):
[...] quando se estabelece no mundo das escolas, das universidades, a leitura se tona uma prática intelectual. É talvez a fundação de nosso mundo, nesse sentido; e a partir deste ponto a função atribuída ao texto escrito não é somente uma função de conservação ou de repositório, é o próprio objeto do trabalho intelectual.
Isso era também o que Monteiro defendia quando faz referência à sua produção de publicação de folhetos que ele vê comprometido com o trabalho intelectual. O poeta é inventivo e compreendeu que hoje o poder da literatura de cordel se volta para outros interesses, razão por que os seus folhetos acompanham a mudança dos gostos, de acordo com os tempos e lugares, os objetos lidos e as razões de ler, segundo conclusão a que chegou a autora:
O poeta, assim se posiciona numa estrofe do folheto Os games na escola (2008, p. 5)
Tento entender o presente
Mas paro abismadamente
O avanço tecnológico
Que ataca soberbante
Como um dilúvio e me afoga
Enquanto meu neto joga
Embevecido e distante
O cordel, na perspectiva abordada por Socorro Moura Montenegro, apresenta uma nova roupagem, primando por circular por espaços nunca antes imaginados, como conteúdos paradidáticos, como complemento aos currículos escolares do ensino fundamental, veiculando, ainda, tipos variados de informação à sociedade de modo geral.
O poeta buscou, na maioria das vezes, inventar e reinventar o cotidiano, para marcar a sua existência de autor, ao fazer circular seus discursos em textos de cordel materializados no formato editorial dos folhetos e livros paradidáticos. A autora soube captar a intenção do poeta, que aponta para construção de uma autoria de comercialização do bem simbólico, em espaços heterogêneos e diferentes segmentos do mercado, como o fio condutor na construção do perfil autoral do poeta cordelista, que firma a noção de Novo Cordel
como um recurso próprio para desenvolver e defender a percepção poética com um caráter utilitário.
A pesquisa se apresenta num tempo e espaço propício à história das mudanças no Cordel, e Socorro Moura Montenegro dá um passo importante nessa área de estudos que, apresentando a evolução desse veículo cultural do fazer poético, tem contribuído para o registro de novas configurações do fazer literário.
Geralda Medeiros Nóbrega
Professora visitante – PPGLI/UEPB
Sumário
INTRODUÇÃO
1
VIDA E OBRA DO POETA MANOEL MONTEIRO
1.1 PERFIL BIOGRÁFICO DO POETA PERNAMBUCANO RADICADO NA PARAÍBA
2
DA ORIGEM DOS FOLHETOS DE CORDEL AOS FOLHETOS PARADIDÁTICO/PUBLICITÁRIOS DE MANOEL MONTEIRO: UM NOVO
CORDEL?
2.1 O BERÇO DO CORDEL NO BRASIL: ENTRE O CÂNONE
LITERÁRIO E A LITERATURA
DE FOLHETOS
2.2 NOVO CORDEL
: CONTROVÉRSIAS EM TORNO DA NOVA
TERMINOLOGIA
2.3 TEXTOS DE CORDEL: ENTRE FOLHETOS E LIVROS
2.4 CIRCULAÇÃO DOS FOLHETOS: DAS FEIRAS ÀS BIBLIOTECAS
2.5 (RE)PENSANDO O CORDEL NA ESCOLA
3
FOLHETOS PARADIDÁTICO/PUBLICITÁRIOS: ANALISANDO UMA NOVA
FACE DO TEXTO DE CORDEL
3.1 O ASPECTO DIDÁTICO ATRIBUÍDO AOS FOLHETOS DE CORDEL
3.2 (RE)INVENTADO UMA NOVA
FACE: ESTRATÉGIAS TEXTUAIS DO AUTOR MANOEL MONTEIRO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
DISSERTAÇÕES E TESES
REVISTAS, ENSAIOS E WEBSITES
LIVROS PARADIDÁTICOS
APÊNDICES
APÊNDICE A – TIPOLOGIA DOS FOLHETOS DE MANOEL MONTEIRO
APÊNDICE B – ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
APÊNDICE C – BIOGRAFIA DE POETAS/CORDELISTAS PARAIBANOS
INTRODUÇÃO
É fundamental evidenciar que, no contexto das universidades brasileiras, no campo da historiografia da leitura, há pesquisadores desenvolvendo estudos sobre o cordel. No entanto verifiquei a inexistência de abordagens relativas ao enfoque paradidático-publicitário desses textos. Nesse sentido, este estudo se propõe a fazer tal abordagem nos cordéis produzidos pelo famoso poeta Manoel Monteiro – pernambucano radicado na Paraíba –, visto que o traço paradidático-publicitário é constitutivo das várias facetas de sua obra. É, portanto, no objetivo de preencher a lacuna produzida nesse domínio dos estudos da literatura de cordel que a execução desta pesquisa se sustenta.
Meu interesse pela obra do poeta surgiu no primeiro semestre de 2009, momento em que cursei a disciplina Literatura e Cultura, como aluna especial do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Debates sobre noções como leitura, leitor, gestos de leitura, escrita e escrita e cultura, dentre outras, propiciaram e sedimentaram a minha vontade de investir na temática selecionada.
Tenho conhecimento de que boa parte dos folhetos produzidos pelo poeta trata de temáticas que circulam nos livros didáticos, funcionando, desse modo, como peças integrantes do currículo regular, devido ao caráter de complementaridade atribuído aos seus textos.
Em entrevista concedida à pesquisadora (cf. Apêndice A
), o autor intencionava incentivar a produção de cordel em todas as cidades do interior paraibano, objetivando registrar a história de cada um dos 223 municípios do estado, com a pretensão de que seus folhetos fossem utilizados nas escolas, não apenas como fonte de fruição, mas também para auxiliar no tratamento dado aos conteúdos de ensino. Tal pretensão remete à função educativa e ao cunho paradidático-publicitário que reveste os textos produzidos pelo poeta, e que este estudo põe em evidência. A falta de patrocínio, no entanto, impossibilitou seu projeto.
Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo geral investigar o processo de produção de práticas de apropriação do conteúdo paradidático-publicitário, marcas constitutivas de seus folhetos e de seus livros. Para alcançar esse intento, delineei os seguintes objetivos específicos: (1) identificar práticas de apropriação de teor paradidático-publicitário nos folhetos de Manoel Monteiro; (2) reconhecer de que formas os folhetos do poeta se moldam para atender à função paradidático-publicitária; (3) observar quais as diferenças existentes entre a materialidade de 11 folhetos paradidático/publicitários e de dois livros da coleção Cordel Ilustrado
que selecionados para análise.
A pesquisa é de cunho qualitativo-interpretativo. No processo de formação do corpus, inicialmente cataloguei toda a produção dos folhetos de cordel do poeta. Em seguida, construí um quadro tipológico com a seguinte classificação: Folhetos Paradidático/Publicitários; Folhetos Projeto Educação/Sob Encomenda; Folhetos Projeto Paraíba Grandes Nomes/Sob Encomenda; Folheto Projeto Cordelando a Paraíba/Sob Encomenda; Folhetos Sem Classificação; Folhetos de Convite/Sob Encomenda; Folhetos de Adaptação; Folhetos de Memória; Folhetos de Gracejo; Folhetos de Santidade; Folhetos de Peleja; Folhetos de Santidade e Putaria; Romance de Amor; Romance de Sofrimento e Romance de Tragédia. Para conhecimento do leitor e de futuros pesquisadores, o quadro tipológico encontra-se no Apêndice B
, nas páginas finais deste livro.
Conforme anunciei anteriormente, selecionei 11 folhetos para formar o corpus. Dos integrantes do grupo de Folhetos Paradidático/Publicitários, foram selecionados: