Criação e Processos Artísticos em Sala de Aula - Um Olhar de Maurice Merleau-Ponty
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Sobre este e-book
Desse modo, a autora retoma em seu processo de criação, dos alunos e dos artistas, como Paul Cézanne (1839-1906) e Frans Krajcberg (1921-2017), as vias de investigação artística, em que procura compreender como se dá o conhecimento significativo da arte na práxis pedagógica.
Um estudo teórico-prático-artístico realizado com alunos do ensino fundamental no ciclo I, rede pública do estado de São Paulo. Longe de se constituir em um método a ser aplicado, intenciona ao leitor "reaprender a ver o mundo", concepção sustentada pela fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty (1908-1961). Conversas com Gaston Bachelard (1884-1962) e John Dewey (1859-1952), entre outros, também nos convidam a repensar a arte e a educação em seu tempo-espaço histórico, diante das questões socioeconômicas e culturais.
Uma obra para os apreciadores das ciências sociais em diferentes categorias de estudantes, profissionais e investigadores, que se dispõem a percorrer o caminho da curiosidade.
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Criação e Processos Artísticos em Sala de Aula - Um Olhar de Maurice Merleau-Ponty - Cláudia Maria Kretzer Rodriguez
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2018 dos autores
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COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS
Aos meus alunos,
Que me deram a ver e viver
o que estava oculto.
Agradecimentos
Aos meus pais, Maria Ester e Waldir, pelo amor e confiança oferecidos em todos os dias de minha vida.
Ao meu marido, José Antonio, pelo carinho e apoio, meu amor.
Aos meus filhos, Manoela e Zezinho, que sejam livres para reaprender a ver mundo
, o meu eterno amor.
Aos amigos e mestres que me guiaram à compreensão de um caminho.
À Escola Estadual Professor João Clímaco da Silva Kruse, por dispor do campo fértil às experiências e vivências obtidas.
Apresentação
Esta obra caracteriza-se como a retomada de vivências mais poéticas e artísticas de toda uma trajetória na criação, tanto das produções artísticas como simultaneamente da busca do conhecimento significativo para o ensino da arte. O fazer e o ensino da arte habitaram meu corpo e tornaram-se vísceras. Assim, desagregá-las é tão difícil como classificá-las em grau de importância.
A presente produção é fruto de pesquisas dentro e fora do ambiente escolar, com alunos regulares do Ciclo I do ensino público do estado de São Paulo. Pressupõe propostas que possibilitem aproximar-se da essência do homem no mundo.
Tudo parece ter começado durante o curso de bacharelado em Escultura,¹ em especial, no qual ocorreu o encontro com a fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty (1908-1961)², que se tornou carne
. Sua dialética propõe um entrelaçamento do eu-mundo, sujeito-objeto, corpo-alma... Em meio ao meu processo criativo, refleti sobre as relações com o mundo, imagens que se tornavam visíveis e que faziam parte de minha experiência de vida. Essas imagens desvelaram-me e com base das leituras de Maurice Merleau-Ponty tenho até hoje buscado a essência, coisas que me ligam a esse mundo percebido. O processo criativo,³ como fonte de um pensar vivo,⁴ sempre foi um de meus questionamentos e reflexões presentificado em meu percurso. Nesse sentido, interrogava como propor em sala de aula, aos meus alunos, uma práxis significativa.
Na Escola Estadual Professor João Clímaco da Silva Kruse, pertencente à Diretoria Regional de Ensino – Leste 5, de São Paulo, iniciei o processo de investigação. Após sete anos de finalização do curso de bacharelado e lecionando no ensino do Ciclo I, encontro um campo fértil para investigar tais inquietações. O público-alvo constitui-se de crianças do ensino fundamental I, com idades entre seis e 12 anos, da 1ª a 4ª série,⁵ bem como alunos de inclusão,⁶ com idades entre 8 e 18 anos.
Neste momento, é importante abrir parênteses para compreender qual o sentido da palavra significado para a pesquisa. Dentre as várias definições que serão descritas posteriormente, a criação para Merleau-Ponty⁷ é o acesso às experiências vividas, convertidas em conhecimento significativo. Na criação temos a experiência do que somos. Portanto, o sentido está na relação das coisas, na relação das essências: percepção e pensamento. Ambas desvelam o ser, o que há de primordial, pois estrutura como se dá sua relação com o mundo.
Assim, pautada no autor, tendo como ponto de partida o processo de criação em sala de aula, proporciono experiências artísticas que concebam sentidos.
Em meados de 2006, essas inquietações levaram-me a realizar uma observação mais intencionalizada sobre o processo significativo do ensino e aprendizagem da arte. Um dos aspectos importantes para construção de alguns trabalhos artísticos foi o fato da escola disponibilizar-me uma sala de aula que foi transformada em sala ambiente de artes. Assim, durante os anos 2007-2009, os três anos dos quatro registrados pela investigação, a sala ambiente de artes colaborou significativamente para a realização dos projetos. Nessa sala, podíamos contar com vários materiais de artes, como: livros de artes, algumas matérias-visíveis-sensíveis (argila, colas coloridas, massinha, entre outras) e instrumentos (estecas, tesouras, pistola quente, fitas, entre outros) que auxiliavam todo o processo de criação. Contava, ainda, com prateleiras para guardar os trabalhos artísticos e mesas para construção das peças. A sala ambiente constituiu-se em um excelente espaço de trocas artísticas e de criação.
FIGURA 1 ‒ SALA AMBIENTE DA ESCOLA ESTADUAL JOÃO CLÍMACO DA SILVA KRUSE, 2011
FONTE: a autora, 2011
Como forma de visibilizar todo o processo de criação, utilizo o registro audiovisual e suas produções artísticas. Em 2010, para buscar a compreensão do todo
vivido, busco refletir as ações entrelaçando teoria e prática artística.
A pesquisa é norteada pela fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty, que passa a ser além do método, a sustentação teórica para se chegar e transitar na prática educativa. Convidados, como Gaston Bachelard (1884-1962), John Dewey (1859-1952), Fayga Ostrower (1920-2001), Rudolf Arnheim (1904-2007) nos acompanharão, assim como outros autores que trabalham pela via dos pensares fenomenológicos
, em busca de compreender o objeto de estudo.
Nas pesquisas científicas contemporâneas, a abordagem Histórica Hermenêutica (Fenomenologia) consolidada no final do século XIX e princípios do século XX guiam os pensamentos da era da pós-modernidade e/ou pós-contemporaneidade no século XXI, em várias áreas do conhecimento. Trata-se de uma alternativa de buscar compreender a relação do ser no mundo, articulando a experiência vivida, como forma de visibilizar o que está oculto na relação sujeito-objeto, eu-mundo. Uma prática difícil que exige olhar a totalidade, perder os conceitos preestabelecidos para reaprender a ver
, vendo. Para tanto, há o interesse da educação nessas pesquisas e uma necessidade emergente de modificação das condições humanas na sociedade.
Desvelar o sentido, interrogar o mundo cultural, decifrar códigos, recuperar o vivido são um dos objetivos da fenomenologia, como também uma das práticas artísticas da Arte Contemporânea. Nessa rede relacional de percepções e de conhecimentos, o significado de estar no mundo vai se constituindo e construindo.
CENÁRIO
A fenomenologia nasceu na segunda metade do século XIX, por volta de 1850, e provém do termo grego Phainomenon. Conforme Joel Martins e Maria Bicudo, significa aquilo que se mostra em si mesmo, o manifesto e logos, como sendo o discurso esclarecedor. Assim, fenomenologia quer dizer discurso esclarecedor a respeito daquilo que se mostra por si mesmo.
Para o pesquisador Joel Martins, a fenomenologia procura enfocar o fenômeno entendido como o que se manifesta em seus modos de aparecer, olhando-o em sua totalidade, de maneira direta, sem a intervenção de conceitos prévios que o definam e sem basear-se em um quadro teórico prévio que enquadre as explicações sobre o visto
.⁸
A convicção de Merleau-Ponty de que os problemas da filosofia são submetidos a compreender a percepção, ou seja, que reaprendamos a ver o mundo, vem de seu interesse na leitura fenomenológica de Husserl. Fenomenologia, para Merleau-Ponty, é a volta às operações concretas do sujeito, pois procura examinar a experiência humana, o modo de pensar, algo a ser experienciado e relacionado com o ser que a vivencia, ou seja, ir às coisas mesmas
⁹ ao primordial, à essência. Para Merleau-Ponty, a fenomenologia só é acessível com o método fenomenológico, cuja descrição consiste em descrever a experiência no espaço-tempo vivido; a redução fenomenológica ou redução que consiste em perceber o eu-outro na experiência vivida, selecionando com base em certo afastamento, quais partes da descrição são essenciais; e a reflexão ou compreensão é uma tentativa de especificar o significativo da experiência baseada na descrição e na redução.
A fenomenologia só é acessível a um método fenomenológico. [...] Trata-se de descrever, não de explicar nem de analisar. [...] A melhor fórmula da redução é sem dúvida aquela que lhe dava Eugen Fink, o assistente de Husserl, quando falava de uma ‘admiração’ diante do mundo. A reflexão não se retira do mundo em direção à unidade da consciência enquanto fundamento do mundo; ela toma distância para ver brotar as transcendências, ela distende os fios intencionais que nos ligam ao mundo para fazê-los aparecer, ela só é consciência do mundo porque o revela como estranho e paradoxal.¹⁰
Durante toda a observação que envolveu a pesquisa, o contato com a matéria foi fundamental ao processo de criação. É pela matéria que damos visibilidade ao pensamento. Portanto o primeiro momento da investigação foi promover o acesso com a qualidade e a variedade de técnicas e materiais. Contudo elejo a matéria como matéria-visível-sensível, pois não a sinto apenas como um suporte plástico à materialização do processo criativo, mas como um prolongamento
, um entrelaçamento do próprio corpo, como dirá Merleau-Ponty,¹¹ com a matéria, que dialoga e que na qual o corpo, como também ressaltaria Bachelard,¹² necessita da matéria, naquele momento, para poder se expressar de maneira única e significativamente consigo mesmo. Para Merleau-Ponty, o visível é o que se apreende com os olhos e o sensível é o que se percebe pelos sentidos. Neste momento, infiro com o filósofo, concebendo a matéria como sendo matéria-visível-sensível.
Unida a esse prolongamento de expressão, temos a percepção, que é dada pela experiência vivida. É pela percepção que retomamos a fonte de nossa existência no mundo – seu significado. Dessa forma, está ligada a uma visão do todo, a um conjunto visual que envolve olhar o objeto e perdê-lo no fundo, mas ao mesmo tempo ver o objeto em meio ao seu fundo, isto é, uma visão do conjunto
. Assim, a visão de conjunto envolve tanto o que se olha como quem o olha. Portanto os olhos, como órgãos, fazem com que eu veja