Corações De Aço
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Corações De Aço - E. S. Robinson
[2]
3
Do autor, publicado no Clube de Autores.
Boulevard Café
[4]
E. S. Robinson
5
Copyright © 2015 by E. S. Robinson
Todos os direitos desta edição estão reservados a E. S. Robinson.
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por
qualquer forma e/ou meios (eletrônico ou mecânico) sem a permissão do
autor.
DIAGRAMAÇÃO E REVISÃO E. S. Robinson
ILUSTRAÇÕES galleryhip.com/dreamstime.com
ARTE DE CAPA Rodrigo Lippi
www.clubedeautores.com.br
Dados internacionais de catalogação na publicação - CIP
R664c Robinson, E. S.
Corações de aço / E. S. Robinson – Recife:
Ed. do autor, 2015.
199p.
ISBN 978-85-916745-1-0
1. Literatura brasileira. 2. Contos.
I. Título.
CDD – 869.93
[6]
Sumário
Nota do autor ........................................................9
Humanoide ......................................................... 14
Equilíbrium ......................................................... 49
O Último Humano ................................................ 90
Atordoado .........................................................123
Cyborg ..............................................................157
7
Nota do autor
Corações de aço é uma reunião de contos interligados
que surgiu a partir do primeiro conto escrito no primeiro
semestre de 2013 o Equilíbrium
. Ele foi escrito para
participar de uma antologia chamada "A Fantástica Literatura
Queer" da editora Tarja – que consistia em narrar uma
história de ficção fantástica abordando o tema da diversidade
sexual. Mas antes que o conto pudesse ser entregue para os
organizadores, a editora veio a fechar as portas e o projeto da
antologia teve que ser, temporariamente, suspenso. Com este
conto em mãos decidi então prolongar seus galhos e fincar
suas raízes escrevendo outros contos que tivessem ligação
com Equilíbrium
. Desta forma outras histórias foram
9 │Corações de Aço
surgindo de modo a continuar o mesmo clima da primeira.
Estava surgindo aí Corações de Aço. E espero que cada
história busque provocar no leitor uma reflexão a respeito do
tema principal que é o mito da extinção humana. E que cada
conto faça o que geralmente os mosquitos fazem na hora da
gente se deitar: não nos deixam dormir em paz.
E. S. Robinson│ 10
"A espécie humana apenas se pode permitir uma guerra: a
guerra contra sua própria extinção."
Isaac Asimov
11 │Corações de Aço
E. S. Robinson│ 12
Ano de 2190
Primeira expedição dos androides fora
da terra.
13 │Corações de Aço
Humanoide
1
"Este é um pequeno passo para o
homem, um salto gigantesco para
a humanidade."
O comandante Hilbert tinha pensado nesta frase
várias vezes enquanto controlava a estabilização do Mobile
Suit na estratosfera. Os milhares de botões e alavancas
E. S. Robinson│ 14
piscando luzinhas coloridas traziam sua
atenção de volta ao painel de
controle no cockpit. Os efeitos da
variação da pressão atmosférica
eram quase nulos para sua
armadura de proteção e para o seu corpo
completamente feito de metal e pele
sintética. O comandante era um
androide, uma espécie de robô que possui forma humana tão
perfeita que não seria capaz de distinguir a diferença entre
um e outro.
- Estamos alcançando a Mesosfera em alguns
segundos. – falou ao microfone no capacete de proteção.
Sua voz se espalhou por todos os lugares e logo em
seguida sentiu balançar um pouco na cabine de comando que
ficava na região do peito do robô. O horizonte cinza e
arredondado da terra começou a ganhar forma, há muito
tempo que não era mais azul.
Minutos depois o Mobile Suit Valkíria atravessou a
barreira atmosférica com muita facilidade até encontrar a
imensidão do espaço negro e vazio.
15 │Corações de Aço
O comandante Hilbert acionou o piloto automático e
saiu da cabine de comando.
- É só por um instante, meu amor. – sussurrou. Não
tinha notado que o microfone de seu capacete ainda estava
ligado.
Ao sair da cabine passou por um corredor até chegar à
sala onde se juntou a equipe de cientistas que estavam a
caminho do planeta Kepler-186f. O planeta mais parecido
com a terra antes da extinção humana e jamais visitado
devido a precária tecnologia da época.
Na sala existia uma mesa branca com quatro cadeiras
ocupadas.
Um androide que estava ao lado apertou o botão que
retraia o capacete para traz como um capuz.
- Sr. Hilbert, o senhor precisa parar de tratar a nave
desse jeito.
Ele se remexeu tentando disfarçar o desconforto.
O Mobile Suit Valkíria tinha esse nome porque o
comandante Hilbert decidiu batizá-la com o nome da própria
mulher que morreu em um acidente na primeira tentativa de
viajar para fora da terra. E desde então ele costuma
conversar com a nave robô como se falasse com a mulher.
E. S. Robinson│ 16
Ele tinha uma forma parecida com a humana equipado com
canhões nos ombros e armas escondidas pelo corpo.
Outro androide com aparência feminina e oriental
entrou na sala trazendo um tablet na mão que projetava um
mapa holográfico indicando o caminho que a nave deve
seguir até o destino.
- Temos uma hora e quarenta minutos. – disse ela
colocando o tablet em cima da mesa.
Um pontinho vermelho indicava a localização exata
da nave passando por estrelas e lixo espacial.
O comandante Hilbert olhou impaciente para a hora
projetada na parede ao lado.
- Não se preocupe comandante. A nave estará segura
durante o caminho.
- Dra. Asako, eu receio que se algo acontecer a esta
nave todos nós estaremos condenados a vagar pelo universo.
- Não seja pessimista. Nós temos um trabalho duro a
fazer.
Os outros tripulantes ficaram em silêncio.
- Eu vou separar os recipientes de coleta. Confesso
que estou ansiosa. – continuou Dra. Asako e depois se
retirou da sala.
17 │Corações de Aço
- Amanda fica temperamental quando está ansiosa. –
falou Dr. Houzel outro androide que estava ao lado. – Ela
esperou muito tempo por esse momento.
O comandante apenas esboçou um sorriso da forma
que sua pele sintética permitia.
Neste momento todos sentiram a nave balançar
bruscamente. O robô tinha levantado o braço para afastar
restos de lixo espacial que vinham em sua direção. O que fez
o comandante desejar que a viagem acabasse o mais rápido
possível.
Ele dividia a atenção entre o relógio projetado num
canto da sala e o pontinho vermelho se movendo no mapa. E
não foi capaz de esconder a impaciência.
2
Durante a viagem a nave não teve problemas para
desviar do campo gravitacional de planetas desertos e
estrelas maiores.
E. S. Robinson│ 18
A Dra. Asako havia assumido o posto de copiloto ao
lado do comandante logo depois que o planeta de destino
tinha sido avistado.
- Ele é azul.
O comandante se voltou para ela que continuou:
- É como voltar no tempo. Em um tempo que não foi
nosso.
- Não fique sentimental demais, Dra. – falou o
comandante em resposta.
Ela riu pelo nariz, acionou o capacete e depois se
levantou da cadeira.
- Nos avise quando for pousar, quero ser a primeira a
pisar no solo.
O comandante assentiu.
A nave sobrevoou por alguns minutos a atmosfera do
planeta a procura de algum lugar seguro. E logo encontrou
uma área deserta coberta de areia e pedras gigantes. Quando
finalmente pousou, a nave espalhou uma nuvem de poeira
que tapou a visão na cabine de comando. Estavam em terra
firme.
A Dra. Asako já estava em frente à porta que dá
acesso ao lado de fora segurando uma caixa com recipientes
19 │Corações de Aço
de coleta. Junto a ela, Dr. Houzel e mais três androides a
acompanhavam.
Depois que a nuvem de poeira baixou, o comandante
autorizou a abertura da porta que ficava bem no peito do
Mobile Suit. Quando a porta começou a abrir, os androides
acionaram os planadores da sua armadura e segundos depois
já estavam pairando sob o deserto desconhecido do planeta
Kepler.
Dos seis que pularam da nave, a Dra. Asako foi a
primeira a por os pés no chão realizando, assim, seu desejo.
Ela jogou a caixa que segurava para um canto e observou o
ambiente por todos os lados e não conseguiu enxergar nada
além de areia e pedras.
- Comandante Hilbert. – falou ela no microfone do
capacete, mas o comandante estava logo atrás. – Pousamos
em uma área muito ruim, não há nada aqui.
- Foi o melhor lugar que encontrei.
- Devo lembrá-lo que estamos