O "Bom Professor" de Educação Física: Algumas de suas Práticas
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O "Bom Professor" de Educação Física - Luís Eduardo Moraes Sinésio
Dedico esta obra a todos os profissionais da Educação Física, que incansavelmente não medem esforços para ministrar suas aulas na educação pública. À minha família: minha esposa Valéria Cristina Pereira, minha filha Maria Eduarda Pereira Sinésio; à minha mãe e aos meus irmãos, o meu muito obrigado pelo apoio e compreensão nos momentos de escrita do livro. A todos os professores pesquisadores que procuram em seus processos de investigação a compreensão de objetos de pesquisa voltados mais especificamente ao campo da Educação Física.
Luís Eduardo Moraes Sinésio
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por me permitir concluir esta obra de forma intensa, procurando elucidar algumas questões da prática pedagógica, e por proporcionar sabedoria suficiente para que eu chegasse até aqui e atingisse esse objetivo; muito obrigado. Ao meu orientador, professor Antônio Carlos do Nascimento Osório, pelas orientações dadas nas minhas primeiras leituras de Michael Foucault; e como foi difícil descontruir minhas certezas.
Agradeço ainda ao meu grande parceiro da Educação Física, professor doutorando Rafael Pessotto Vicente Cruz, que incansavelmente procurou contribuir durante a escrita e reorganização da obra, fazendo uma varredura no texto, sempre sugerindo e intervindo com o seu vasto conhecimento acadêmico, bem como com suas experiências com a docência. Não poderia deixar de agradecer ao meu colega de profissão, professor doutor Altemir Luiz Dalpiaz, pelo incentivo e pela ajuda incondicional que em momentos de fraqueza me encorajaram a finalizar esta obra.
Fé na vida, fé no homem, fé no que virá.
Nós podemos tudo, nós podemos mais.
Vamos lá fazer o que será.
Gonzaguinha (1945 - 1991)
Sumário
CAPÍTULO I
A TRAJETÓRIA DOCENTE NA EDUCAÇÃO FÍSICA: PRIMEIRAS INQUIETAÇÕES 15
Princípios Etnográficos como Procedimento Investigativo 23
O Perfil do Professor de Educação Física da Rede Municipal de Ensino (Reme) de Campo Grande - MS: construindo novos discursos 25
Coleta de Dados da Amostra 40
Instrumentos e Procedimentos de Análise 46
Dialogando com o Referencial Teórico e a Prática do Bom Professor de Educação Física na Escolarização 49
CAPÍTULO II
A APRENDIZAGEM, O SENTIDO E O SIGNIFICADO DO MOVIMENTO HUMANO NA ESCOLA 59
O Professor de Educação Física nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: Alguns Discursos de suas Práticas 66
O Estado de Mato Grosso do Sul, o Município de Campo Grande e as Políticas Públicas Educacionais para a Educação Física Escolar 68
O Plano de Ensino da Educação Física Escolar em Escolas da Reme 85
CAPÍTULO III
O BOM PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA
E OS SEUS DISCURSOS 89
Relação Professor-Aluno 94
O Planejamento e Organização do Ensino dos Bons Professores de Educação Física
104
ALGUMAS ANÁLISES DA INVESTIGAÇÃO 125
REFERÊNCIAS 129
APRESENTAÇÃO
Quando lancei a ideia do livro, minha proposta inicial era relatar a escola como um espaço de libertação e não de doutrinação. Parti do pressuposto de que o professor é o principal ator nesse contexto do processo de ensino e aprendizagem.
A docência, durante anos, tem se tornado um grande desafio, pois considero uma ação política de grande relevância para a sociedade. Entender a escola do ponto de vista social, por meio dos ditames políticos, econômicos, administrativos e culturais, é pontuar conflitos e contradições. É atribuir um caráter subjetivo à educação no seu contexto social mais amplo.
Em Michael Foucault, analisei que numa sociedade o processo de escolarização é reprodutor de práticas sociais disciplinares e a partir dos discursos dos alunos e de representantes das instituições escolares verifiquei como é feito o tratamento do corpo dentro da instituição chamada escola.
Nas primeiras páginas deste livro, retrato minhas experiências de vida e docência, minhas inquietações e os conflitos gerados no interior das escolas onde ministrei aulas, bem como as primeiras ações de ensino.
Nesse sentido, além de conduzir o processo de ensino aprendizagem, o professor é um potencializador de relações de poder e saber, advindo de um conjunto de práticas sociais de controle e submissão. Indagado por essas proposições iniciais, procurei identificar nesta obra como essas relações se estabelecem no contexto da vida das crianças que se encontram no cenário educativo escola-sociedade, e de que forma há um controle da vida humana, uma vez que durante a trajetória escolar o indivíduo constrói seu pensamento sobre a cultura.
Para tanto, tornou-se necessário o entendimento das diferentes relações escolares frente à prática docente, entendendo, assim, a escola e as suas diferentes estratégias de controle impregnadas de vícios sociais altamente criticados, mas inteiramente reproduzidos.
Dessa forma, um dos desafios na organização deste livro foi investigar as relações que configuram a prática pedagógica na compreensão do professor de Educação Física e a compreensão que ele possui de seus alunos, tendo o referencial teórico de Michael Foucault para dar suporte e sustentação às análises deste trabalho.
Este livro apresenta em três capítulos a trajetória de pesquisa que reuniu um conjunto de elementos da linguagem que pudesse exprimir os discursos institucionais do bom professor
de Educação Física no contexto da escolarização das crianças em escolas públicas do município de Campo Grande - MS.
CAPÍTULO I
A TRAJETÓRIA DOCENTE NA EDUCAÇÃO FÍSICA: PRIMEIRAS INQUIETAÇÕES
Este estudo tem sua origem a partir de um contato mais próximo com a realidade educacional, quando ingressei profissionalmente na área docente e na convivência com as diferentes formas de ensino e aprendizagem, o que resultou na constante inquietação a respeito do trabalho desenvolvido com crianças dos anos iniciais do ensino fundamental.
Atuando como professor de Educação Física na Rede Municipal de Ensino de Campo Grande - MS, durante aproximadamente 10 anos adquiri experiências profissionais que me fizeram refletir sobre minha prática, procurando entender, de forma mais apropriada, como os alunos aprendem, bem como as diferentes manifestações dessas aprendizagens.
A preocupação com a prática pedagógica emerge de uma situação natural e de vida, pois as experiências adquiridas durante esse tempo na escola e no trabalho com crianças fizeram-me querer mais, indagar, refletir. Enfim tornaram-me gradativamente um pesquisador da própria prática. Diante disso, uma leitura crítica da realidade tornou-se necessária, bem como a análise da trajetória histórica da disciplina de Educação Física no processo de escolarização.
Nas ações docentes, observava as crianças realizando as atividades propostas. Buscava então abordar diferentes formas de trabalho, nas quais identifiquei também as diferentes relações que eram estabelecidas com os meus alunos, estas, por sua, vez constituíam-se em relações de poder, de domínio e de controle – fato que percebi em estudos realizados no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMS, tanto por parte do professor como por parte do aluno.
Ainda no processo de formação inicial, na graduação em Educação Física, no ano de 1994, identifiquei as diferentes abordagens desta área do conhecimento, cujo teor de sua ação estava permeado por mecanismos reprodutivos na prática de movimentos. E na escola não era diferente, pois o que observei foi um processo de controle e manipulação do corpo e do movimento, uma cultura disciplinar.
A Educação Física, em uma perspectiva histórica, enquanto disciplina curricular foi identificada em segundo plano pelos outros professores, pela equipe técnica da secretaria e pela direção da escola. Isso leva a crer que as áreas de conhecimento tidas como mais importantes, são aquelas que preconizam somente aspectos cognitivos. Isso levou-me a perceber a configuração de uma fragmentação de saberes na prática escolar, cujo currículo caracteriza-se como sendo sistematizado, normativo e conteudista, reproduzindo toda uma relação cultural presente na nossa sociedade. Torna-se interessante ressaltar as ideias de Ghiselli (2004, p. 118), quando relata o seguinte:
A Educação Física não precisa ser uma disciplina auxiliar do desenvolvimento de outras, não necessita ser a disciplina passível de substituição da escola, mas estar integrada à concepção de