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A irmandade: ameaça global
A irmandade: ameaça global
A irmandade: ameaça global
E-book283 páginas3 horas

A irmandade: ameaça global

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Sobre este e-book

No livro 'A Irmandade – ameaça global', a aventura policial criada pelo escritor Pedro F. Ribeiro, acompanhamos a história do pequeno Lucas que, aos doze anos, sofre uma tragédia em família. Todos são mortos e ele é o único sobrevivente. Quem o acolhe é Hércules, que o leva para ser treinado e para crescer dentro do rigor militar de uma força clandestina, a Irmandade. A equipa compunha-se de Hércules, Prometeus, Atlas e o seu mais recente integrante, Lucas. Todos eles eram igualmente marcados pela violência e buscavam fazer justiça com as próprias mãos. Acompanhado, em maior parte, pelo seu mentor, Lucas lutará contra as suas emoções e a sua natureza, enquanto lida com as ameaças, neste romance de sangue, suor e lágrimas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de nov. de 2019
ISBN9789898938442
A irmandade: ameaça global

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    A irmandade - Pedro F. Ribeiro

    epílogo

    prólogo

    Previa-se um dia como qualquer outro, o sol nascia no horizonte e iria desaparecer no lado oposto horas mais tarde, os adultos saiam das camas, aprontavam os seus descendentes, os que tivessem, aperaltavam-se e ganhavam asas em direção ao trabalho. Todos se alimentavam, todos se aplicavam, todos brincavam e todos viviam. Um estado utópico no plano geral português, devastado quando examinado ao pormenor. Nem todos trabalhavam, nem todos brincavam e muito menos se aplicavam. Todos viviam, porém fosse por trabalho próprio ou contribuição alheia, necessária ou não. As horas passavam, o mundo girava sobre o seu eixo e a ilusão de tempo estendia-se. O dia ia acabando vagarosamente, semelhante ao dia anterior e ao dia seguinte. Aquele dia, porém, iria mostrar a sua verdadeira face e distinguir-se-ia dos restantes, endurecendo a inocência de uma criança.

    O dia era 2 de setembro de 1997 e um céu enublado cobria o topo do mundo até ao término do alcance da vista. Os postes de iluminação encontravam-se já ligados em plena tarde, fruto da escuridão prematura que se avizinhava.

    Lucas era um pequeno rapaz, pele morena e cabelos negros, reguila como os há e dono de uma curiosidade imensa. A sua fome pela aprendizagem era a única coisa que lhe pregava a atenção nas aulas, enquanto os seus colegas falavam para o lado, atiravam papéis, colavam chicletes debaixo das mesas e cadeiras, Lucas tentava concentrar-se na melodia vocal da sua professora, assimilando quase toda a informação transmitida. Não era capaz, no entanto de se manter consciente durante a aula completa.

    Um mundo de fantasia esvoaçava pela mente de Lucas em momentos do dia, todos os dias. A salvação do mundo, de donzelas em apuros, até mesmo apenas ganhar o torneio de futebol da escola, várias as ideias improváveis que o retiravam da aula e o levavam para o plano do imaginário, perdendo o fio à meada e a obrigá-lo a estudar em casa.

    A campainha tocava e resgatava Lucas de volta para a Terra, assinalando o término do dia de aulas.

    Meninos, não se esqueçam de recolher as vossas cadernetas e informar os vossos pais que amanhã é Dia das Profissões! — dizia a professora — Nunca se sabe, talvez descubram o que querem ser quando forem grandes! — continuou com um sorriso no rosto.

    Arrumando cuidadosamente o seu material escolar, Lucas colocou tudo no interior da sua mochila e dirigiu-se para o corredor.

    Lucas… — fez-se ouvir a professora — Podes chegar aqui um momento?

    Dada meia volta, Lucas caminhava em direção à professora Júlia quando um colega de turma embarrou-lhe, lançando a sua mochila, que ainda se encontrava pendurada apenas num ombro, para o solo.

    Estás bem domesticado Lucas. — gozou Lionel — Dá a patinha também órfão!

    Lionel, que seja a última vez que te ouça a falar assim para quem seja! — repreendeu a professora — E se fosses tu na situação do Lucas?

    Pff… Como queira. — ignorou —Até amanhã, Lucas. Ão ão!

    Estendendo a mão para Lucas, a professora aproximou a criança de si e acarinhou-lhe o ombro.

    Não ligues Lucas, é um miúdo muito amargo, dados os pais que tem.

    Não me preocupo professora, a minha mãe diz para ignorar quem diz estas coisas e que o meu pai era um grande homem, que devia ter orgulho nele.

    A dona Helena tem toda a razão Lucas! — concordou, passando a mão gentilmente no rosto do seu aluno, claramente perturbado pelas palavras do seu colega. Decidiu mudar de assunto, distrair o pequeno — Bem sei que a tua mãe é uma senhora muito ocupada Lucas, mas se conseguisses que ela viesse amanhã eu agradecia. É uma inspiração para todos e decerto seria maravilhoso que ela pudesse transmitir todo o conhecimento que ela tem da política e de como a sociedade funciona.

    Sim professora, quando chegar a casa digo à mamã.

    Obrigado, querido e cabeça erguida, se continuares no bom caminho académico serás alguém, nunca te esqueças disso!

    Acenando afirmativamente e de sorriso forçado, Lucas despediu-se da professora e abandonou a sala, vagueando pelos corredores até ao enorme portão verde que dava acesso ao exterior do perímetro.

    Do lado de fora estava Lionel e os seus amigos arruaceiros, corajosos em grupo, fazendo caretas e insultando quem não gostavam, por vezes agredindo até, como pequenos chimpanzés a lutar pela maior banana.

    Ão ão! — novamente Lionel a provocar Lucas.

    Baixando a cabeça e seguindo o seu caminho, o pequeno jovem sabia bem que não podia fazer nada. Por um lado, detestava confrontos físicos, por outro a sua desvantagem numérica aliada a um corpo de franganote tornavam Lucas um alvo fácil, como já experienciara.

    Um dia, pensava, vou bater naquele nariz de batata…

    Após caminhar durante algum tempo, Lucas chegava a casa e sentiu imediatamente o aroma do cozinhado da mãe. Entrou pela porta da frente e dirigiu-se prontamente para a cozinha, espiar o que seria a refeição para aquela noite.

    O aroma a filetes de pescada fritos que emanava no ar era delicioso e, de modo a que o sabor acompanhasse o cheiro, umas gotas de limão espalhadas pelo peixe tornava-o simplesmente divinal. O irmão de Lucas aguardava impacientemente a sua chegada para brincarem antes do jantar.

    Roberto era um adolescente cujo interesse no sexo oposto apenas há poucos meses se começara a manifestar. O seu cabelo acastanhado liso e feições quase simétricas, iriam eventualmente atrair a atenção das jovens da sua escola. Os seus olhos azuis, ao contrário aos negros de Lucas, eram apenas outra distração pela qual sofreriam as suas colegas.

    Rapazes saiam lá da cozinha. Ide brincar para outro lado. — Fez-se ouvir uma voz feminina.

    A sua mãe, a muito estimada Helena Cardoso, era uma mulher vibrante e influente na comunidade. Dona de seu próprio nariz e dos narizes dos outros, trabalhava arduamente na reforma da pequena vila de Valbom. Poucos anos haviam passado desde que tomara posse da Junta de Freguesia da terra e expunha já resultados satisfatórios quanto à redução da criminalidade e remodelação de habitações sociais, em comunhão com a Câmara Municipal.

    Roberto e Lucas, não ouviram o que disse? Ide para o quarto então se não querem ir para a sala, mas deem-me espaço para cozinhar, chiça! — repetiu-se, deixando escapar o seu característico sotaque da terra.

    Mano, podemos jogar às escondidas? Podemos? — Lucas pediu a Roberto, entusiasmadíssimo com a ideia.

    Roberto acenou afirmativamente, vestindo um sorriso rasgado na face. Nenhum se lembrava há quanto tempo passara desde que jogaram pela última vez um jogo tão simples quanto aquele.

    Estabeleceu-se que seria Lucas o primeiro a esconder-se e, assim que o seu irmão levou as mãos ao rosto para contar, desatou a correr para o andar superior. Procurava um local para se ocultar, mas, desorientado com o entusiasmo, o seu poder de raciocinar e de decisão estavam virtualmente desligados.

    Assim que a contagem atingiu um número crítico rumou imediatamente ao quarto da sua mãe e escondeu-se no seu enorme armário embutido na parede. Um armário de três portas, possíveis de trancar através do exterior, em madeira e uns puxadores, já gastos da erosão temporal, pendurados.

    Aqui ele não me encontra, pensou ingenuamente.

    Ouvira o seu irmão terminar a contagem e iniciar a busca, levando a encolher-se um pouco mais no recanto coberto de edredões e mantas.

    Ansioso que Roberto fosse ao quarto e desse meia volta, Lucas esperava impacientemente no esconderijo perfeito, imóvel. No entanto seria contada uma história diferente.

    Haviam passado alguns minutos quando sons estranhos se fizeram ouvir no andar inferior. Subitamente houve um estalido na porta do armário, o qual reconheceu como o trancar da fechadura.

    Assustado com o ocorrido, pontapeou o pedaço de madeira que o separava da liberdade, berrando pela sua família.

    Por favor não faças barulho — ouviu Roberto sussurrar do outro lado — Fica aqui escondido, eles apanharam a mamã, por favor fica calado!

    Roberto saiu velozmente do local em direção à cozinha, deixando para trás apenas o barulho dos seus pés a entrar em contacto com o soalho de madeira.

    Seguiram-se apenas barulhos abafados, decifrando apenas a diferença entre uma voz sentenciada e gritos desesperados.

    Desejava apenas fugir daquela toca e ir ajudar os seus no que estivesse a acontecer, mas uma porta trancada e as palavras de Roberto confinavam-no àquela prisão.

    Além da sua respiração e batimento cardíaco, o silêncio instalara-se e dominava a casa no seu absoluto. A fluidez temporal deixara de ser uma constante e passara a uma incógnita. Questionava-se há quanto tempo estaria no interior do guarda-roupa, desorientado com as várias respostas que concluía.

    Subitamente fez-se um estalido e a porta abriu-se. Do outro lado apresentava-se um homem entre os trinta e os quarenta anos, algumas rugas e um cabelo manchado com brancas. Este, no entanto, era pequeno, mas possível de agarrar.

    Lucas empurrou o seu pequeno corpo para trás, utilizando as pernas, até ao limite de espaço, compreendendo imediatamente que a fuga não era opção.

    O desconhecido baixou-se, quase ficando sentado nas suas próprias pernas, e esticou a mão.

    Olá pequeno, sou Hércules. E tu, qual é o teu nome? — inquiriu com um sorriso.

    Lucas. — murmurou.

    Não tenhas medo Lucas. — disse, tranquilamente — Agarra a minha mão, estou aqui para te ajudar.

    Apesar do seu ceticismo em acreditar na palavra de um estranho, algo que a sua mãe lhe ensinara desde tenra criança a não fazer, segurou-lhe o pulso e puxou-o para fora do armário.

    Onde está o meu mano e a minha mãe? — perguntou, timidamente.

    O rosto do homem rapidamente se transformou e a expressão de calma desaparecera, trocada por uma imagem dura e rigorosa.

    Anda pequeno, quero-te mostrar algo.

    Dirigiu-se calmamente para a escadaria, levando Lucas a seguir-lhe as pegadas. Como uma sombra, pé à frente do outro, acompanhou-o até pararem na entrada da cozinha, do lado exterior.

    Antes de entrares ali, quero que penses no seguinte. Os culpados foram homens maus, gente que não trabalha de outra forma que não seja em seu próprio proveito! — proferiu, lançando um olhar intenso.

    Deslizou o braço, como que dando autorização a Lucas para entrar na sua própria cozinha.

    Incapaz de assimilar as palavras de Hércules, decidiu entrar devagar, não fosse alvo de uma surpresa. Empurrou a porta, tentando espreitar antecipadamente, procurando saber o que havia acontecido.

    Uma sensação de paragem cardíaca apoderou-se de Lucas naquele instante, ao entender o que ocorrera.

    Numa crueldade incrível, as paredes e o chão da cozinha ganharam uma cor desconcertante. Os azulejos outrora brancos, com desenhos leves de flores, estavam agora salpicados em tons de vermelho rubro, escorrendo pela parede. No chão podia-se ver poças de sangue, estas em tons escurecidos devido à concentração do líquido, nas redondezas de dois cadáveres estendidos. Na porta do frigorífico era possível ler PECADORA. Com os sentidos adormecidos devido ao choque, decidiu perguntar à única pessoa viva no local o significado da palavra.

    Senhor Hércules, o que é pecadora?

    É uma mentira, é o que é. Pecadora é uma pessoa que comete crimes morais, ao contrário da tua mãe, que trabalhava em prol de todos. — explicou — Quem cometeu este delito deixou essa mensagem para desviar atenções.

    Desviar atenções? — inquiriu, baralhado com a informação.

    Sim. Esta mentira foi deixada aqui de modo a que os investigadores pensem que foi um crime de ódio religioso por a Helena ser mãe solteira, entre outros tantos rumores infundados. — continuou — No entanto, ela foi morta devido ao seu novo projeto. Um projeto muito além do mero quotidiano desta vila, até mesmo do país. Um combate global à corrupção que se vive no seio policial e político.

    Lágrimas escorriam pela sua face assim que absorveu totalmente as implicações do ocorrido. A sua única família acabara de ser morta e Lucas ficara paralisado no andar superior enquanto a sua mãe e Roberto eram dilacerados.

    Correu em direção aos restos mortais da outrora destemida Helena e caiu de joelhos, abraçando o seu corpo imóvel e cobrindo-se de sangue.

    Chamava pelos falecidos, berrando como nunca o fizera antes, fazendo-se ouvir por toda a vizinhança.

    Bêbedo de raiva, confrontou Hércules com pensamentos que, até ao momento, nunca haviam percorrido a sua mente.

    Você sabe quem os matou certo? Diga-me, eu próprio vou matá-los! — gritou, olhando desafiador nos olhos do desconhecido.

    Isso irá trazê-los de volta? Irão retornar à vida através da tua vingança? — questionou, novamente calmo. — Não devemos atuar enevoados pela raiva. Devemos ser claros e eficientes na nossa atuação, não turvos e descuidados. Não te darei as ferramentas para os vingares, mas posso dar-te a possibilidade de prevenir situações idênticas, fora do alcance limitado da lei, julgado apenas pela necessidade dos teus atos.

    Não, não quero saber disso! Quero apenas quem os matou! — retorquiu, balbuciando.

    Paciência pequeno Lucas. Vem comigo e, quem sabe um dia, os vossos destinos não se cruzam.

    Decidiu, com a fúria a substituir a lógica no complexo plano que é o raciocínio, aceitar a proposta de Hércules.

    Desconhecia o que iria fazer, quem iria conhecer e o que poderia estar destinado pois, naquela hora e naquele lugar, apenas a vingança o alimentava.

    capítulo i

    Duas semanas passaram desde a carnificina no seu antigo lar e a promessa de vingança parecia esquecida. Como uma folha no vento, também as suas palavras de retaliação esvoaçaram longe da mente de Hércules.

    Viajavam desde então, visitando várias cidades e aldeias, parques de diversões e centros comerciais. O propósito de tal ação iludia Lucas e o seu guardião parecia não fazer intenção de o explicar.

    Admitia, no entanto, que a descontração com que Hércules o tratava e agia, ajudara a sua transtornada mente a alcançar bom porto espiritual, afastando-se da travessia atribulada de vingança com a qual preenchera os pensamentos.

    A visita mais recente fora a Coimbra, no rio de Montemor-o-Velho, pequena região no centro do país onde se realizavam os Campeonatos Nacionais de Remo.

    Naquele dia, todavia, iriam apenas realizar-se treinos da Briosa, geralmente conhecida como Académica de Coimbra. Sentaram-se na relva da margem, observando as diversas pessoas no local.

    Os diversos atletas que ali se encontravam, de todas as idades, estavam trajados com maillots, vestimentas quentes e elásticas, comuns naquele desporto.

    Já alguma vez remaste Lucas? — Perguntou Hércules.

    Não. Já andei de canoa com o Roberto, mas remo nunca.

    Eu remei, na minha juventude. Era pouco mais velho que tu quando competi pela primeira vez num campeonato nacional de juvenis. Meu deus como era atrapalhado! — comentou, largando uma risada — "Treinava há poucos meses e o meu treinador decidiu lançar-me na competição para que ganhasse estaleca, como ele dizia."

    Conseguiu vencer?

    Longe disso! — retorquiu, coçando a cabeça embaraçado — A prova correu pessimamente. Dei por mim preso por três vezes na margem do rio e demorei onze minutos a completar uma pista que se fazia em aproximadamente seis!

    Sorriram um para o outro, ele revivendo a experiência na sua mente, enquanto Lucas imaginava a cómica situação.

    Os atletas preparavam-se para colocar os barcos na água e iniciar o seu treino. Lucas conseguia ver barcos singulares, mas maioritariamente de quatro e oito elementos. Colocavam os enormes barcos no rio, ao longo da prancha, deixando os remos do seu lado direito em cima da mesma. Com um pé no barco e outro em terra firme, empurravam calmamente o seu veículo até os remos beijarem a água. Encolhiam as pernas, submergindo as pás ao atingirem o máximo, e, com um movimento inverso, empurravam o barco na direção desejada.

    Apercebeu-se que dois barcos de oito atletas se colocaram lado a lado, preparando-se para dar largada. Com um grito do seu treinador, ambos partiram. A equipa vermelha rapidamente foi ultrapassada, colocando os azuis na rota da vitória.

    Sabes porque o Oito vermelho ficou para trás? — inquiriu Hércules, ao qual Lucas respondeu negativamente — Observa os movimentos dos vermelhos. Desorganizados, uns mais lentos que os outros, enquanto três estão a remar, outros ainda vão colocar as pás na água. A equipa azul, no entanto, movimenta-se em sintonia. Todos os seus movimentos estão coordenados pelo primeiro homem em frente ao timoneiro, todos seguem a sua deixa. Esta é a lição do dia.

    Lição do dia?

    Sim. Se o objetivo for o mesmo, mas os camaradas não estiverem em concordância connosco, o barco não deslizará ao ritmo desejado. Se não agirmos como um, o verdadeiro potencial nunca será atingido e missão será um fracasso!

    Ergueu-se num ápice e, após se arranjar, estendeu a mão.

    Quero que te lembres do que aprendeste hoje. Irás precisar no futuro.

    E quando será isso? — perguntou, agarrando a sua mão e levantando-se.

    Assim que chegarmos à Irmandade.

    capítulo ii

    Paragem terminal, Monte Alegre. — fez-se ouvir uma voz feminina.

    Lucas acordou desorientado com aquela informação, procurando por Hércules, apenas para descobrir o já sabido. Encontrava-se no mesmo local antes de adormecer, mantendo um olhar atento e minucioso aos seus arredores.

    Onde estamos?

    Estamos a chegar a Monte Alegre. Não consegues ler com doze anos? — retorquiu com um esgar de gozo.

    Claro que sei, quero é saber o que estamos a fazer no fim do mundo!

    Paciência pequeno. Monte Alegre é dos locais mais belos de Portugal, dono de uma paisagem requintada e de terrenos bastante elevados. — pigarreou — Estes montes podem ser utilizados para diversas situações. — acabou, lançando um olhar, assumindo que Lucas deveria entender o que estava a implícito.

    Abandonaram o autocarro assim que chegaram ao destino, para alívio de ambos. O transporte, para além de ter aproximadamente vinte anos, possuía um tom cinzento por todo, sendo que os seus ferros gastos e vermelhos no interior eram os únicos objetos que destoavam do restante ambiente. A estética, no entanto, afetava apenas a absorção visual, enquanto outros fatores deixavam os seus usuários desconfortáveis. O intenso cheiro que emanava no ar, devido à negligência na limpeza do veículo, adicionado a um outro odor de mau hálito e suor, criava uma mistura insuportável, atenuada apenas pela abertura das janelas superiores.

    Hércules gesticulou com os dedos, indicando para Lucas o seguir por uma viela estreita paralela à paragem de autocarros.

    Apesar do seu pequeno e esguio tronco, tinha dificuldade em caminhar confortavelmente por aquele caminho, enquanto o seu guardião, no seu físico bem constituído, passeava sem problemas, rodando apenas na diagonal o seu tronco.

    Monte Alegre, terra pacata que era, possuía um dom já raro no mundo civilizado. Desprovida de poluição sonora, facilitava a audição dos sons naturais, desde pássaros a chilrear, grilos a cantar e mesmo a relva a esbracejar ao querer do vento.

    Lucas teria, no entanto, apenas uns momentos mais à frente no tempo

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