A Vida é Cheia de Surpresas
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Sobre este e-book
Ada nasceu em Torino e é uma ex-livreira amedrontada por uma ligação que não dá trégua. Depois de toda uma vida dedicada ao trabalho, se vê diante de um destino que está para lhe virar as costas. O sabor de uma amizade antiga e outra nova lhe devolverá o sentido da vida e a obriga a entrar em cena. Afastada do convívio social volta à vida com todas as suas surpresas.
Ada analisa o rumo que a sua vida tomou e sentindo um desejo grande de voltar atrás e, de repente, muda tudo assumindo o risco de atrapalhar tudo. Depois, como num passe de mágica, chega a vida com as suas regras que transforma tudo e nos ensina o quanto somos pequenos e tão insignificantes diante dos nossos desejos. Isto aconteceu com a protagonista de “A Vida é Cheia de Surpresas”.
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A Vida é Cheia de Surpresas - Giuseppina Valla Innocenti
A VIDA É CHEIA DE
SURPRESAS
Os direitos desta obra recebidos pelo autor são doados para causas beneficentes organizadas pela Fondazione Faro Onlus, Via Oddino Morgari 12, Torino, Itália.
Giuseppina Valla Innocenti nasceu em Castagnole no Piemonte, em 14 de janeiro de 1953 onde vive ainda com a família. Formada em Literatura, publicou "Sulla strada dei ricordi (Alzani, 2002),
La vecchia cipolla d´argento (Edizion Nuovi Poeti, 2004),
Le radici della felicità (EdizioniNuovi Poeti, 2005),
Il mistero di Casa Castagno (Edizioni Angolo Manzoni, 2008) e
Battiti di Emozione (GDS edizioni, 2009). Em 2012 publicou juntamente com Araba Fenice
La forza dell’Edera e, com na mesma editora,
Non ti fermare sul ponte!" em 2015 e "Tace il labbro" em 2016. Para a Edizioni Hogwords escrevi "La casa dal grande comignolo"(2018)
––––––––
Por que da vida eu não soube tirar tudo? Por que da bela torta cheia de surpresas, que muitas vezes tive sobre a minha mesa, me contentei com migalhas e não abocanhei as fatias mais grossas e saborosas?
Ada.
Na vida nada vem como se teme nem como se espera.
(Alphonse Karr)
À Maria Savio em Viotto, uma querida
amiga, de alma linda, simples e
extraordinária.
À sua bondade, sua pronta
disponibilidade, à sua positividade
contaiosa.
Ao seu sorriso acolhedor e à su coragem
singular em encarar as surpresas da
vida.
ÍNDICE GERAL
CAPÍTULO I..........................................................................................................................
CAPÍTULO II........................................................................................................................
CAPÍTULO III.......................................................................................................................
CAPÍTULO IV........................................................................................................................
CAPÍTULO V.........................................................................................................................
CAPÍTULO VI........................................................................................................................
CAPÍTULO X.........................................................................................................................
CAPÍTULO XI........................................................................................................................
CAPÍTULO XII......................................................................................................................
CAPÍTULO XIII.....................................................................................................................
CAPÍTULO XIV.....................................................................................................................
CAPÍTULO XV......................................................................................................................
CAPÍTULO XVI.....................................................................................................................
CAPÍTULO XVII...................................................................................................................
CAPÍTULO XVIII.................................................................................................................
CAPÍTULO XIX....................................................................................................................
CAPÍTULO XX.....................................................................................................................
CAPÍTULO XXI....................................................................................................................
CAPÍTULO XXII..................................................................................................................
CAPÍTULO XXIII.................................................................................................................
CAPÍTULO XXIV..................................................................................................................
CAPÍTULO XXV....................................................................................................................
CAPÍTULO XXVI...................................................................................................................
CAPÍTULO XXVII..................................................................................................................
CAPÍTULO XXVIII.................................................................................................................
CAPÍTULO XXIX...................................................................................................................
CAPÍTULO XXX....................................................................................................................
CAPÍTULO I
Me chamo Ada, tenho 60 anos, um corpo bastante seco, cabelos castanhos, um pouco grisalhos, encaracolados e grandes olhos escuros.
Atravesso a rua Gênova e respiro com uma certa falta de ar os ares de Torino, a cidade na qual nasci e vivi.
Olho ao redor um pouco amedrontada, angustiada por um medo que nunca me abandona.
Não posso continuar! Queria gritar para qualquer um que estivesse por perto.
Não consigo tirar das costas o frio que sinto e depois de um telefonema inesperado, o senti da cabeça aos pés.
O coração continua a bater como um tambor e me vem algumas imagens chocantes.
Uma fita insiste em apertar meu cérebro e me ofusca a visão. Me sinto amassada por um peso insustentável de ânsia e perguntas opressoras e fico sem ar.
Não percebo a temperatura suave e o sorriso dos idosos que vagam ao lado de seus cuidadores.
Pequenos cães que seguem passeando com seus donos, com seus agasalhos pesados e quadriculados, atrapalham minha passagem. De vez em quando param para cheirar as folhas secas abandonadas na calçada, nas pracinhas e não querem seguir em frente.
Uma amargura enorme me oprime e até Torino, forçada a deixar o título de importante centro industrial, me parece um pouco sofrida.
As pessoas enchem as ruas. Ao cruzá-las ouço falar de crise econômica, do preço das casas, filhos que crescem e boletos pra pagar. Seria a influência do Natal que se aproxima, mas todos parecem serenos, prontos para aproveitar os últimos dias de 2014.
Queria ter os seus problemas no lugar da enorme vontade de chorar que cresce aqui dentro.
Em contraste ao meu péssimo humor, das vitrines das doceiras e das cafeterias vem as luzinhas das árvores cobertas de bolinhas coloridas e de pacotes coloridos com mil surpresas.
Não tenho certeza se fiz bem em sair. Tenho medo, é como se estivesse pela primeira vez na cidade, sozinha.
Não é o tumulto dos carros, das bicicletas, dos bondes que me deixam nervosa, mas o medo de que o celular toque.
No cantinho da lateral da bolsa, eu o observo com a mesma ansiedade como quem vê uma bomba pronta a explodir de uma hora pra outra.
Se, de repente, pudesse ouvir de novo uma voz, feminina ou masculina, dissesse pronto, queria falar com a senhora... a minha poderia mudar completamente e nada seria como antes.
Às vezes eu o esquecia na sala de jantar, grudado na tomada, carregando ou entre as almofadas do sofá da sala. Agora carrego sempre comigo como um companheiro inseparável e, ao mesmo tempo, temível.
Estou como minha amiga de infância que, com dois filhos no exterior, tem o celular o tempo todo no bolso da calça.
Avanço a passos lentos, quase caindo.
Vou em direção ao hospital Molinete, em frente à minha casa, mas preciso engolir algo quente e paro num bar que acabara de abrir.
Entro em uma sala não muito grande, cheia de gente falando muito, em voz alta e a proprietária, cordial, logo se aproxima para me atender. Ela é baixa, robusta, veste um casaquinho vermelho bordado em branco que dá a ela um ar atrevido, quase infantil.
As bochechas roliças e o sorriso delumbrante estão em sintonia com o ambiente sóbrio que a circunda.
Um espelho grande de moldura prateada reflete um buffet laqueado de branco folheado de mogno, cadeiras transparentes brilhantes de design atual e um lustre brilhante com dezenas de braços flexíveis cromados.
Um fio dourado, cheio de pequenas lâmpadas piscantes, contorna o banco em forma oval com efeito metálico e prateleiras colocadas com bom gosto sobre as paredes forradas com estampas.
Entre tantas, uma mostra uma planta singular da cidade de Torino, de aparência antiga, de um marrom desbotado, em contraste com a modernidade do lugar.
A grande porta se abre continuamente e o meu olhar inquieto se concentra sobre os que entravam, quase todos médicos e de boa aparência.
Nas condições em que me encontro não tenho nenhuma intenção de prestar atenção aos seus assuntos.
Por sorte, só alguns falam de de doenças e de cura, a maioria se limita a discutir sobre o tempo e a economia.
Estão apressados e logo deixam o lugar para os colegas, pessoas vestidas com casacos elegantes que deixam transparecer calças feitas em ótimos tecidos.
Os mais jovens estão em roupas casuais, à espera para serem servidos, nem mesmo levantam o olhar e passam seus dedos longos e sutís pelos seus Iphones de última geração.
Um de cabelos castanhos, emaranhados tipo Lucio Battisti de relance, me traz à mente a imagem de um companheiro meu do bonde, apixonado por medicina que há anos não vejo e com quem dividi momentos inesquecíveis da juventude.
Não sei se consegue vestir a camisa branca, mas ainda me lembro quanto sonhou com isto.
Falar com ele ou ver um filme juntos certamente me faria bem.
Os detalhes ao redor me distraem daquela lembrança.
Como não trabalho mais, não fico encostada no balcão perto dos alunos impacientes, mas me sento na mesinha. Peço um café e me fixo sobre o jornal, pendurado numa prateleira de madeira para facilitar a leitura. A seta de cima a baixo com a mesma avidez do homem que, a dois passos de mim, está devorando um sanduíche de presunto e queijo.
Por 15 minutos não tiro os olhos do jornal e paro na crônica diária. Há alguns dias a área onde moro está no centro das atenções por causa dos assaltos nos alojamentos. Sob a tensão que me encontro que antes me envolvia, agora parece inacreditavelmente estranha.
Não tenho vontade de comentar com a gentil senhora que, ao meu lado, tem a intenção de iniciar uma conversa. Me viro só para sorrir para a criança que, com a bala na boca, está se acomodando nos joelhos da mãe à espera do chocolate quente.
Por um momento me lembro dos momentos felizes da minha família.
Um galinho de madeira, comprado no Vale d’ Aosta durante uma excursão, com a crista de um vermelho vivo, alta, forte e que ficou na memória.
Por muitos anos ganhou o lugar central na mesa da sala, colocado sobre uma toalhinha de renda.
Um medo profundo me aperta o coração, mas de repente, um discurso roubado num dia de Natal de cerca de meio século, vem através da fresta da porta relembrar a minha infância.
_Você me cansou com esta lamentação! Eu trabalho a semana toda e se às vezes saio com meus amigos, o que tem de mau?
meu pai dizia com seus afazeres de uma pessoa de bem.
_Não são amigos, são mulheres...
respondia a mãe em um fio de voz, quase para esconder a dura verdade dos seus próprios ouvidos.
Eu, de lado, estava parada entre duas livrarias para me esconder e, de repente, uma vermelhidão me invade o rosto.
Minha mãe, achando que eu estava no quarto, continuava: Não pode gastar seu salário assim! Ada está crescendo e o dinheiro deve ser para ela.
Me pai não disse mais nada, saiu e uma angústia envolveu as paredes, os móveis e o enfeite jogado no chão.
A bela crista do galo se quebrou em vários pedaços que se espalhou debaixo do sofá. Ele não recolheu, bateu a porta atrás de si e para mim nada foi mais como antes.
Naquele exato momento ambos perdemos a nossa identidade: meu pai não era mais o meu príncipe encantado e eu não seria mais a sua princesa!
Não o esperaria mais com aquela ansiedade quando voltasse do trabalho, não pensaria mais nos perigos dos seus turnos da noite na fábrica lá longe onde, como dizia, a produção nunca era interrompida.
Ia dormir chorando e não pedia nenhuma explicação. Tudo estava tristemente claro e deixei que uma grande amragura cavasse sulcos profundos dentro da minha alma. Assim, como na margem de um rio, dia após dia, se acumularam dúvidas, inseguranças e um grande vazio.
Na manhã seguinte não perguntei nada, nem mesmo sobre o galinho e sobre a bandeja cinza de estanho que o substituia...
Quatro anos depois, com 16 anos, num domingo à tarde minha mãe, na presença das minhas amigas de escola, me reprimiu por ter entrado tarde depois do cinema, respondi com raiva e rispidez:
_Não me passe sermão, pense antes com quem se casou!
"
Ela não me respondeu. Na minha frente, já uma adolescente, se comportava com uma severidade que manteve por toda sua vida. Nunca se lamentou nem com seus pais, mas quando alguém ingênua ou sarcasticamente a fazia perceber que tivera a sorte de ter ao seu lado alguém extremamente gentil e amável, ela respondia com orgulho: _Tens razão, ele é muito amoroso!
Ela abriu seus grandes olhos brilhantes e quase sempre pegava um lencinho para soar o nariz.
A dignidade da família devia estar acima de tudo."
Sempre procurei guardar estes detalhes em uma gaveta, mas agora tudo volta mais vivo do que nunca.
O barulho de uma colherinha que caiu no chão me tirou dos meus pensamentos e a chegada de dois conhecidos me obrigaram a voltar à realidade.
Antes daquele telefonema vou falar com eles, agora quero só me fechar na minha solidão.
Por isso, como se alguém estivesse me esperando, pago a conta e saio.
CAPÍTULO II
Apesar do caminho curto que me separa de casa, controlo ansiosamente o relógio.
Já se passaram seis meses desde que deixei de ser comerciante. Sem horário, obrigações, achava que não fosse mais necessário me preocupar com o passar do tempo. E, ao contrário, nas condições em que me encontro, as horas se tornaram ainda mais prementes.
Encontro um pouco mais de paz das 6 da tarde às 9 da manhã porque durante esta pausa não tem secretárias que telefonam e profissionais que dão sentenças espinhosas. Só agora me distancio da escravidão das ligações e procuro viver como antes.
Contudo, estou aterrorizada pelos dias que me esperam, não sei o que poderá acontecer e a cada manhã quando acordo a mesma angústia tira a graça dos meus dias. Vivo sob uma capa de terror.
O meu mundo, de uma hora pra outra, pode ser