Introdução às Ciências Ambientais : Autores, Abordagens e Conceitos de uma Temática Interdisciplinar
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Introdução às Ciências Ambientais - José Augusto Drummond
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO SUSTENTABILIDADE, IMPACTO, DIREITO, GESTÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Prefácio
Prefaciar uma obra como Introdução às Ciências Ambientais, dos colegas José Augusto Drummond e Cristiane Gomes Barreto, não é uma tarefa fácil por diversos motivos. Posso mencionar alguns, a começar pela complexidade das Ciências Ambientais, devido ao seu caráter multi e essencialmente interdisciplinar, mas principalmente pela sua juventude como área de formação profissional. Em diversas instituições de ensino superior no Brasil a área só tem cerca de 10 anos de vida.
Em nossa Universidade de Brasília a concepção da área, e de um curso como um consórcio estruturado com diversas unidades acadêmicas, com cadeias de seletividade variadas, forma jovens cientistas ambientais preparados para entender e conduzir os temas com o nível de complexidade que a área ambiental exige. É um grande desafio ajustar os temas das disciplinas com geógrafos, biólogos, geólogos, economistas, cientistas sociais, químicos, entre tantas formações dos nossos docentes. Mas é um desafio que nos traz novas visões de mundo devido à troca de expertises que chegam aos nossos cientistas ambientais.
Ao começar com as contribuições das Ciências Sociais, os autores nos lembram da importância de se inserir os humanos no contexto ambiental, pois eles são os agentes motivadores e transformadores da natureza. Entender a paisagem sem entender o papel dos humanos é como observar de forma estanque uma pintura ou uma fotografia, ou seja, é ter uma visão congelada, que não capta a dinâmica que as relações humanos-meio imprimem. Sempre que processamos uma imagem de satélite, por exemplo, precisamos saber quem mora dentro do pixel e como ele o altera. Assim, fazem os moradores desde que eram nômades e coletores de alimentos até se estabelecerem na sociedade tecnológica. Os autores descrevem relações muito interessantes que vão auxiliando o estudante e os interessados pelas Ciências Ambientais a fixarem conceitos e entenderem as relações humanos-meio.
O texto de Drummond e Cristiane revisita em seguida as Ciências Naturais e traz a essência que essa formação diversa apresentava numa época em que os saberes eram compartilhados com pessoas que buscavam compreender o mundo na sua diversidade e complexidade. Quando penso nos cientistas naturais, sempre me lembro da primeira vez que estive em Cordisburgo (Minas Gerais) visitando a Gruta de Maquiné e me surpreendi ao ver as condições que Peter Lund enfrentara por meses a fio no intuito de compreendê-la de forma integral. Recordo-me da famosa viagem de Darwin, que estudou medicina e teologia, versado em geologia e em diversas outras ciências – elas permitiram que Darwin concebesse A Origem das Espécies. Aliás, Darwin menciona a coleção de fósseis que Lund recolheu nas cavernas brasileiras.
O que me espanta é que perdemos esse glamour de sermos especialistas em generalidades para nos tornarmos especialistas em ramos cada vez mais específicos, em pequenos detalhes. Recordo como foi incômodo ter que me ajustar a uma caixinha do conhecimento quando ingressei na universidade, pois mesmo sendo da Geografia, que tem componentes humanos e físicos, os colegas (e eu mesmo, como forma de sobrevivência) se definiam como geógrafos humanos ou físicos. Mas estar numa universidade é estar dentro do lócus da universalidade do conhecimento e a inquietação do saber nos remeteu a disciplinas como agricultura alternativa, desenho de paisagens, entre tantas disciplinas diversas de módulos livres e aos chamados centros, como o de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) ou o de Desenvolvimento Sustentável (CDS), ambos na Universidade de Brasília, nos quais os inquietos com a unidisciplinaridade podem extravasar suas angústias.
O maravilhoso ensaio de nossos amigos converge para os temas que poderão ser abordados como caminhos possíveis para esse novo profissional que vive num mundo jamais imaginado pelas gerações anteriores, no qual empresas de transporte não têm veículos próprios em suas frotas, criptomoedas começam a inundar relações virtuais comerciais, lojas não têm estoques físicos e mesmo assim entregam os produtos no prazo. Nesse mundo há ainda relações pessoais superficiais que se baseiam em likes e cutucadas e com pouco olho no olho, isso só para citar algumas modernidades
. Sem falar que o mercado será dominado por profissionais de áreas que ainda não existem formalmente, como os cientistas ambientais, que não existiam há cerca de uma década.
Espero que o texto de Drummond e Cristiane seja um despertar para os meninos e meninas que vão ingressar na universidade e que não aceitam os desrespeitos, nem que a diversidade, seja ela qual for, seja reprimida; que não aceitam usar canudo e copos descartáveis; que sabem que lixo é resíduo e pode ser reaproveitado; que entendem o papel potencialmente poluidor da antropomassa e das suas diversas pegadas
; que entendem que um mundo ambiental e socialmente saudável e mais justo é um direito de todos, independentemente de cor, de raça, de sexo, de credo, enfim de tudo! Espero também que os cientistas ambientais em curso, os já formados e todos aqueles que se interessam pelo tema tenham o mesmo prazer que eu tive em lê-lo, além da honra de tive em prefaciá-lo. Boa leitura.
Brasília, outono de 2019
Gustavo Baptista
Geógrafo de formação e um cientista ambiental informal e inquieto!
Apresentação
¹
Este livro foi concebido para ser usado por estudantes e profissionais de Ciências Ambientais, além de interessados em conhecer os fundamentos dessa área interdisciplinar e relativamente nova. A sua finalidade é identificar o conjunto de autores, abordagens e conceitos que dão suporte às reflexões dentro da área das Ciências Ambientais. Reunimos algumas das principais contribuições teóricas, conceituais e empíricas das Ciências Sociais e das Ciências Naturais para essa área, mostrando como elas dialogam e, juntas, cooperam para o entendimento dos desafios decorrentes da relação sociedade-natureza.
O texto corresponde a uma versão revista, atualizada e ampliada de uma contribuição anterior de autoria de Drummond². A nossa intenção é auxiliar a sedimentar alguns autores, conceitos e temas centrais da área interdisciplinar de Ciências Ambientais. Quisemos dar indicações substantivas para o estudo e a pesquisa interdisciplinares sobre as questões socioambientais. O nosso público-alvo é o de alunos dos cursos de graduação de Ciências Ambientais e assemelhados. Pensamos que o texto pode ajudar também alunos de pós-graduação de cursos das áreas de Ciências Ambientais, mas que tiveram formação graduada em cursos disciplinares. No entanto o texto foi composto também para ajudar professores que ingressaram há pouco tempo na área, principalmente aqueles cuja formação básica ocorreu em cursos disciplinares. O texto pode ajudá-los a programar e lecionar as suas disciplinas. Embora ele não seja um texto propriamente didático ou desenhado para apoiar aulas específicas, pode ser usado como leitura de apoio ou complementar às aulas de diversas disciplinas em cursos de graduação de Ciências Ambientais.
Partimos do pressuposto de que o cientista ambiental é formado para analisar, planejar e propor soluções para questões ambientais, empregando uma visão sistêmica, considerando igualmente a dimensão natural, de um lado, e a dimensão social, de outro. O nosso foco recai sobre as relações entre o meio ambiente natural e a sociedade, o que demanda conhecimentos fundamentais das Ciências Naturais (Biologia, Hidrologia, Climatologia, entre outras) e das Ciências Sociais (Economia, Política, Antropologia, entre outras).
Os cursos de bacharelado em Ciências Ambientais são relativamente novos no Brasil. A maior parte surgiu em 2009 ou depois, ou seja, há cerca de 10 anos. Atualmente eles são oferecidos por nove instituições de ensino superior no Brasil, que abrem cerca de 600 vagas por ano. A maior parte dos primeiros cientistas ambientais formados nesses cursos entrou no mercado de trabalho ou seguiu para cursos de pós-graduação apenas a partir de 2013. Considerando a média de evasão desses cursos (cerca de 40%), estimamos que eles formaram cerca de 2 mil cientistas ambientais até o final de 2018.
Por causa de sua criação recente, é de se esperar que os cursos tomem emprestados referenciais de áreas afins e os adaptem até que os seus próprios conceitos, princípios, fundamentos e ferramentas sejam construídos e estabelecidos. Contudo uma base teórico-metodológica e epistemológica que emerge da interface entre Ciências Sociais e Naturais exige uma abordagem interdisciplinar, desafiadora, envolvendo áreas de saber com pressupostos por vezes contraditórios. A nossa contribuição explora parte de uma enorme literatura pertinente e busca ressaltar diálogos possíveis e resgatar subsídios para a interdisciplinaridade inerente às Ciências Ambientais.
As Ciências Ambientais surgiram, portanto, como uma macrodisciplina
que trabalha na