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Território e Tradição: as práticas de saúde entre agricultores de origem alemã de Vila Itoupava (SC) no contexto do desenvolvimento regional: o cuidado com a saúde
Território e Tradição: as práticas de saúde entre agricultores de origem alemã de Vila Itoupava (SC) no contexto do desenvolvimento regional: o cuidado com a saúde
Território e Tradição: as práticas de saúde entre agricultores de origem alemã de Vila Itoupava (SC) no contexto do desenvolvimento regional: o cuidado com a saúde
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Território e Tradição: as práticas de saúde entre agricultores de origem alemã de Vila Itoupava (SC) no contexto do desenvolvimento regional: o cuidado com a saúde

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Sobre este e-book

O cuidado com a saúde e as relações de gênero que se organizam a partir do domínio de saberes relacionados às práticas de saúde envolvendo o uso de plantas medicinais utilizadas pela comunidade alemã residente em Vila Itoupava (SC.) tem sido pertinente no contexto do desenvolvimento regional. A urgência em se realizar tal estudo vincula-se ao risco potencial da perda de registros importantes em virtude da idade avançada das moradoras mais idosas, uma vez que as mulheres são as guardiãs destes saberes tradicionais. A saúde dos agricultores esteve inicialmente voltada para suas práticas de saúde tradicionais trazidas pelos imigrantes e adaptadas à região. Com o processo de industrialização, que iniciou por volta da década de 1960 e se intensificar na década de 1980, as agricultoras que detinham esses conhecimentos e eram responsáveis pelo cuidado com a saúde da família passaram a trabalhar nas indústrias nascentes e com isso se transformaram em colonas-operárias, ou seja, somente passaram a trabalhar na lavoura um período do dia. Este movimento, bem como o processo de mecanização da agricultura e a entrada da energia elétrica em 1970, irá trazer novas configurações na região e no caráter atribuído aos cuidados com a saúde.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de out. de 2020
ISBN9786588065860
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    Pré-visualização do livro

    Território e Tradição - Leonilda Wessling

    Bibliografia

    1 - INTRODUÇÃO

    Este trabalho apresenta o resultado de um estudo realizado sobre as relações de gênero que se depreendem das práticas de saúde em comunidades de imigrantes de origem alemã que se fixaram em Vila Itoupava na condição de colonos. A pesquisa é pensada no contexto do desenvolvimento regional. A escolha de Vila Itoupava se deveu ao fato de a região abrigar um grande contingente de imigrantes de descendência alemã cuja cultura é bastante expressiva nessa área rural. Grande parte dessa população ainda preserva a língua alemã, da mesma forma que ainda mantém parte dos hábitos e rotinas trazidos da Europa na condição de imigrantes.

    Para a realização do estudo verificamos que a comunidade de Vila Itoupava se diferencia de outras regiões habitadas por levas de imigrantes alemães em virtude de manter-se, apesar das transformações, com o maior número de produtores agrícolas, ou seja, pessoas vinculadas à terra. Um desses fatores diz respeito à sua localização em relação à cidade de Blumenau – SC., da qual se distancia aproximadamente 25 km. Outro fator diz respeito à própria topografia da região, que possui um relevo ondulado, com declividades médias a fortes, fator este que também favorece seu isolamento em relação ao restante do município. Devido às suas características de relevo e hidrografia, encontramos muitas áreas protegidas pelo Art. 2o. da Lei Federal 4.771/65 (Código Florestal), como Área de Preservação Permanente (TRAUCZYNSKI, 2001).

    Apesar de ser considerado um bairro, sua característica é de vila e sua constituição se deu bem após a chegada das primeiras famílias alemãs na Colônia Blumenau, que se constituiu no ano de 1850. Os imigrantes alemães e poloneses que vieram a residir na região chegaram ao Brasil em momentos distintos e de lugares diferentes da Europa. Eles se fixaram em pequenas propriedades rurais com tamanho entre cinco e trinta hectares, constituindo um modo de produção baseado na agricultura familiar. Estimamos que, em virtude do próprio quadro em que se deu a imigração, os imigrantes alemães e poloneses se fecharam em grupos bastante herméticos, resistentes a influências externas e também um do outro.

    Partindo da noção de identidade¹ como uma construção social, constituída no movimento de construção, desconstrução e reconfiguração dos grupos sociais, entendemos que este isolamento em relação à cidade de Blumenau tenha contribuído para garantir a homogeneidade do grupo e a manutenção de suas práticas, entre elas, as ligadas a saúde, representando uma face da luta a respeito da identidade étnica ou regional. Quer dizer, a respeito de propriedades ligadas à origem através do lugar de origem e dos sinais que lhe são correlativos (BOURDIEU, 1989, p. 113).

    Nesse contexto, está em jogo a resistência ao poder da cultura local (cultura hospedeira) em impor uma visão de mundo que muitas vezes é diferente daquela que tais grupos de imigrantes possuem, interferindo potencialmente sobre a identidade e a unidade do grupo. Nesse sentido, em estudos anteriores, percebemos que muitas moradoras idosas da Vila Itoupava possuíam em seu poder receitas para o tratamento da saúde, com plantas medicinais tanto para os chás como ainda para rituais de benzeção, receitas essas ainda escritas na língua alemã. Algumas dessas receitas estavam registradas em livros antigos trazidos da Alemanha. Ainda que as receitas tenham sido ou venham sendo adaptadas ou modificadas para se adequar à realidade da imigração, essa cultura expressiva de utilização de plantas medicinais como tratamento à saúde, que inclui desde uso de plantas medicinais e a benzeção que compõe as práticas de saúde dessa comunidade, que, todavia, parecem estar passando por uma reconfiguração relativamente recente.

    Como aponta Bourdieu (1989), os critérios de identidade regional são objetos de representações mentais, de atos de percepção e de apreciação, de conhecimento e de reconhecimento em que os agentes investem os seus interesses e seus pressupostos e de representações objetais, em coisas ou em atos. Entendemos que os rituais de prática de saúde, bem como a valoração a eles atribuída pela comunidade, estão vinculados a representações simbólicas que subentendem relações de gênero vinculadas à invisibilidade da mulher que detém tal conhecimento.

    Tradicionalmente as mulheres têm sido as guardiãs dessas práticas e da utilização de plantas medicinais nas áreas rurais. Portanto, a mulher imigrante tem ao longo dos anos exercido um poder relevante sobre o tratamento da saúde, em especial no que se refere ao cuidado com a criança. As mudanças que vêm ocorrendo na comunidade, todavia, parecem afetar os valores atribuídos a tais saberes e às relações de poder que eles constituem. Elas passam a ser questionadas a partir da popularização das práticas da medicina moderna entre a população da Vila. Ainda pode ser pensada a reconfiguração da própria comunidade seja por morte dos habitantes mais idosos, por migração (para outras regiões do município, mais próximas da zona urbana).

    Esse poder² da mulher pode ser visto como um poder simbólico inscrito nas relações entre indivíduos e, nesse caso, nas relações de gênero³. Bourdieu (1983), ao se referir ao poder simbólico, dá ênfase ao papel das experiências passadas dos indivíduos na instituição de relações de poder, experiências estas que funcionam como matriz de percepções, produto de trajetórias anteriores, o que liga o poder à noção de habitus, entendido como um conhecimento adquirido, [...] um haver, um capital (BOURDIEU, 1989, p. 61).

    Os saberes acumulados pelas mulheres, no que se refere aos rituais de prática de saúde, vinculam-se à noção de habitus, da mesma maneira que a elas se vinculam as relações de poder que esses saberes estabeleceram em maior ou menor grau.

    1.1 - OBJETIVO GERAL

    O objetivo geral da pesquisa foi realizar um estudo sobre os papéis⁴ e as relações de gênero que se organizam, a partir do domínio de saberes relacionados aos rituais de práticas de saúde envolvendo o uso de plantas medicinais e a benzeção utilizadas pela comunidade alemã residente na Vila Itoupava e a maneira que essas relações se modificam ou não ao longo dos últimos anos no contexto do desenvolvimento regional.

    1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

    • Caracterizar como a comunidade da Vila Itoupava vem se modificando ao longo dos últimos anos e levantar as causas que levam a tais alterações;

    • Analisar como as práticas de saúde vêm se modificando a partir das reconfigurações que se delineiam na comunidade;

    • Analisar a maneira como estas alterações se fazem refletir nas representações simbólicas em relação à saúde e de que maneira contribuem, ou não, para reconfiguração das relações de gênero;

    • Identificar de que maneira a EPAGRI vem reorientando o cultivo de ervas para uso doméstico/comercial e estimar as modificações que vem se estabelecendo a partir dessas orientações;

    • Identificar de que maneira o (SUS) Sistema único de Saúde, através do (PSF) Programa Saúde da Família está introduzindo o uso de plantas medicinais para o tratamento à saúde por meio dos postos de saúde da região;

    • Identificar como essas reconfigurações encontradas se relacionam com a saúde e o modelo de desenvolvimento regional existente.

    1.3 - JUSTIFICATIVA

    A relevância desse estudo está por entendermos que as práticas de saúde e as relações de gênero são marcadas na comunidade pelo desenvolvimento regional levando-se em consideração a reconfiguração recente pela qual vem passando a região. Entendemos que a urgência em se realizar tal estudo está vinculada ao fato de se realizar importantes registros que se perderiam se não fossem realizados agora dado a idade avançada das mulheres que detêm esses saberes.

    Esse tipo de estudo se apresenta como fundamental para pensar o desenvolvimento regional. O uso das plantas medicinais para o tratamento à saúde pode ter garantido e continua garantindo o tratamento de muitas doenças e doentes. Esse tipo de pesquisa sobre a saúde e as relações de gênero em Vila Itoupava contemplando as discussões do desenvolvimento regional se apresenta como sendo inédita. Há de certa maneira, neste projeto, a preocupação em documentar uma realidade em transição, a qual se tem observado desde a pesquisa que realizamos na comunidade para a elaboração da dissertação de mestrado⁵, pesquisa que está sendo aprofundada neste doutorado. O interesse em se investigar a maneira como comunidades imigrantes se reorganizam em sociedade hospedeiras vem sendo motivo de muitas pesquisas no Brasil e internacionalmente, embora não estejam tratando essa problemática no âmbito do desenvolvimento regional, como estamos fazendo aqui. Não temos conhecimento de pesquisas que incidam especificamente sobre as relações de gênero implicadas nessas práticas e as modificações que estas sofrem em decorrência de reconfigurações de que as práticas de saúde são objeto e vice-versa.

    Os saberes relativos ao uso das plantas, anteriormente dominados pelas mulheres, principalmente por aquelas mais velhas, contribuíam em alguma medida para que essas mulheres exercessem o controle no tratamento à saúde no âmbito da família e da comunidade. No que tange uso de plantas medicinais, contribui para a alteração das representações sociais e ao campo do domínio dos saberes relativos a essas práticas, influenciando, em alguma medida, as relações de gênero que se marcam na comunidade estudada.

    1.4 - METODOLOGIA

    A metodologia utilizada é a etnográfica. Trata-se de uma forma específica de conhecimento, voltada para a comunidade pesquisada, por meio da observação in loco, identificando especificidades que não são visíveis sem a sua observação. A pesquisa etnográfica foi realizada via observação e elaboração de um diário de campo, onde, além dos aspectos relativos aos rituais de prática de saúde e às relações de gênero a eles vinculadas, estão sendo registradas nossas impressões relativas ao contexto em que a comunidade se insere.

    Segundo Laplantine (2000), a experiência pessoal do campo é indispensável para qualquer que seja a opção teórica. O campo provém de uma ruptura com qualquer conhecimento abstrato e especulativo. A observação direta dos comportamentos sociais, a partir de uma relação humana constitui uma proximidade ao sujeito em estudo. Na visão dele, o etnógrafo é aquele que é capaz de viver nele mesmo a tendência principal da cultura que estuda. A relação direta com o seu objeto permite se aprofundar e, com isso, recolher, analisar e testemunhar, colocar-se o mais perto possível do que é vivido por homens de carne e osso. A busca etnográfica nos coloca diante dos erros cometidos no campo que constituem informações que o pesquisador deve levar em conta, como também o encontro que surge frequentemente com o imprevisto, o evento que ocorre quando não esperávamos.

    A abordagem etnográfica quer provocar uma revolução no olhar, uma ruptura com a ideia de uma ciência que centraliza todo o saber. A etnografia é a coleta direta, e a mais minuciosa possível, dos fenômenos que observamos por uma impregnação duradoura e contínua e um processo que ocorre por aproximações sucessivas. Esses registros podem ocorrer, por gravadores, fotografias, relato das observações em um diário etc. (LAPLANTINE apud LÈVI STRAUSS, 2000, p. 25).

    A sistematização dos resultados obtidos em campo em diálogo com a teoria vai ocorrendo por meio de uma representação que vai sendo criada ao longo do tempo. Aos dados registrados no diário de campo, somar-se-ão as contribuições da história oral dos entrevistados, obtidas por meio de entrevistas direcionadas a delinear a maneira como se constituem as práticas de saúde familiar que envolve o uso de plantas e benzeção, no passado e no presente, e as relações de gênero que a elas se vinculam. O uso de plantas medicinais para o tratamento à saúde é uma parte da agricultura familiar.

    A história oral é uma das técnicas utilizadas pela etnografia para o estudo do tempo presente e do passado recente, tomando como fonte principal de dados, a visão e a versão de pessoas que viveram os fatos, processos e experiências em estudo. Trabalha-se em geral com narrativas coletadas por meio de entrevistas, em um processo dialógico que passa pela gravação e posterior transcrição, culminando na construção de um documento, marcado pela interação entre pesquisador e pesquisado (VON SIMSON, 1997, p.01)

    A memória é a capacidade humana de reter fatos e experiências do passado e retransmiti-los às novas gerações através de diferentes suportes empíricos (voz, imagens, música, textos etc.). Existe uma memória individual que é aquela guardada por um indivíduo e se refere às suas próprias vivências e experiências, mas que contém também aspectos da memória do grupo social onde ele se formou, isto é, no qual esse indivíduo foi socializado. (...) a função de memorizar é a de esquecer. Não podemos manter na memória todas as experiências que vivemos ou das quais tomamos conhecimento num dia comum das nossas vidas. Somos obrigados a selecionar, para serem mantidas em nossa memória, aquelas informações que possuem significado. (VON SIMSON, 1997, p. 14-15).

    É verdade que nós não nos lembramos de tudo o que aconteceu ou que nos foi ensinado ao longo de nossa vida. De um modo geral descartamos a memória das experiências que não nos foram importantes e retemos aquelas que são funcionais para a nossa existência futura.

    A cultura é memória, pois é a cultura de uma sociedade que fornece os filtros através dos quais os indivíduos que nela vivem podem exercer o seu poder de seleção, realizando as escolhas que determinam aquilo que será descartado e aquilo que precisa ser guardado ou retido pela memória, porque, sendo operacional, poderá servir como experiência válida ou informação importante para decisões futuras (VON SIMSON, 1997, p. 16).

    As entrevistas foram realizadas com mulheres da comunidade a partir da idade de 20 anos, a faixa etária de 28 a 59 e acima de 80 anos. Iniciamos as entrevistas com as mulheres acima de 60 anos. Com base nas respostas obtidas com esse primeiro grupo entrevistado, elaboramos as entrevistas que foram realizadas com os demais sujeitos da pesquisa. Dez mulheres com idade de 28 a 59 e dez acima de 60 anos totalizando 20 entrevistas. Entrevistamos também o marido das agricultoras devido ao contexto que se apresentou. As entrevistas resultaram em informações importantes que complementaram os dados fornecidos pelas mulheres.

    O nosso acesso às informantes se deu por meio de uma rede formada inicialmente por uma indicação inicial fornecida pela Intendência Distrital da Vila Itoupava na pessoa do Senhor Adir Krause - Gerente. A partir disso, foram sendo fornecidas a indicações de outras, sempre dentro da faixa de idade requerida. A entrevista foi realizada na casa das informantes sem a presença do marido, de modo a não haver constrangimento na fala da mulher. Numa ocasião em que o marido estava presente necessitei retornar em outro dia. As entrevistas realizadas com mulheres acima de 60 anos, pela sua disponibilidade em relação ao tempo, o fato de não trabalharem fora de casa e serem aposentadas, foram mais fáceis para marcar e para conversarmos. Quanto às mulheres mais jovens que ainda estão no mercado de trabalho, tivemos mais dificuldades em marcar o dia e horário para ser atendida, a falta de tempo tem sido uma constante reclamação para essas mulheres.

    Quanto à receptividade, fomos bem recebidas, mas somente no decorrer da entrevista que o diálogo foi ocorrendo, elas vão se soltando em suas falas e acabam contando parte do que lembram e do que ouviram contar na sua infância como ainda dar a própria opinião sobre o momento atual que estão vivendo. Das dez mulheres entrevistadas acima de 60 anos, apenas duas são viúvas e oito delas são casadas e vivem com seus maridos. Quanto as dez mulheres entrevistadas que estão no mercado de trabalho, de 28 a 59 anos, uma é viúva, duas são separadas e sete são casadas.

    Entre as mulheres entrevistadas acima de 60 anos, num total de dez, nove têm filhos morando na propriedade familiar, com casa própria. Quanto às mulheres que estão no mercado de trabalho com idade inferior a 60 anos, sete delas têm sua casa construída no terreno dos pais ou dos sogros. Essas mulheres, além de agricultoras, trabalham na indústria têxtil da região.

    Para a obtenção das informações por meio de entrevistas, utilizamos de um gravador tendo em vista aproveitar melhor o conteúdo das falas, através de sua transcrição. Além disso, fizemos anotações ao longo do trabalho em um diário de campo, com base nas observações realizadas.

    Para uma melhor compreensão sobre a maneira como vem se operando (ou não) a reconfiguração das práticas de saúde na comunidade, a pesquisa também envolveu entrevistas com a equipe de Agentes de Saúde que trabalha no Posto de Saúde de Vila Itoupava dentro do Programa Saúde da Família. Assim, procurou-se entender como se define a intervenção do PSF/ESF na Vila Itoupava e como os Agentes de Saúde atuam no que se refere à orientação quanto ao uso por parte da comunidade de plantas medicinais.

    Optamos por uma metodologia da escrita partindo do geral para o específico. Isso porque possibilita mais clareza dos fatos apresentados a partir de uma linha cronológica que se inicia com a discussão do território e tradição, o movimento migratório na Alemanha, seguido do destino migratório e a chegada ao Vale do Itajaí com a construção de um novo espaço territorial. Buscou-se também fazer uma discussão amparada nos pressupostos teóricos, portanto, não há um capítulo específico para a teoria. Nós optamos por teorias distribuídas ao longo de todos os capítulos. Mesmo porque a metodologia utilizada é a etnográfica, que transita entre a teoria e a empiria, por meio do seu cotejamento durante todo o processo de trabalho de campo. Praticar a etnografia é estabelecer relações, selecionar informações, mapear campos, manter um diário e assim por diante. Porém, o que o define é o tipo de esforço intelectual que ele representa (GEERTZ, 1978).

    Roberto Cardoso de Oliveira (2000), ao referenciar em sua obra O Trabalho do Antropólogo, aborda três dimensões fundamentais do trabalho etnográfico: Olhar, Ouvir e Escrever. O autor considera que há um olhar e ouvir disciplinado pela teoria e será no escrever que nosso pensamento se exercita na síntese do que foi feito nesses primeiros momentos. Assim é que vai sendo elaborado o pensamento voltado à construção da teoria. Nesse sentido, o texto foi construído como resultante dos três momentos da pesquisa. A domesticação teórica do seu olhar vai se dando no decorrer do processo, isso porque, a partir do momento em que nos sentimos preparados para a investigação empírica, o objeto, sobre o qual dirigimos o nosso olhar, já foi previamente alterado pelo próprio modo de visualizá-lo. Seja qual for esse objeto, ele não escapa de ser apreendido pelo esquema conceitual da disciplina formadora de nossa maneira de ver a realidade (OLIVEIRA, 2000, p.19).

    Para Oliveira (2000, p. 21), tanto o ouvir como o olhar não podem ser tomados como faculdades totalmente independentes no exercício da investigação, ambas se completam. O olhar e o ouvir podem ser entendidos como atos cognitivos mais preliminares no trabalho de campo, porque é no ato de escrever que a questão do conhecimento se torna mais crítica. Devemos entender, assim, por escrever o ato exercido no gabinete. As condições de textualizações, isto é, de trazer os fatos observados, vistos e ouvidos, para o plano do discurso, não deixam de serem muito particulares e exercem, por sua vez, um papel definitivo tanto no processo de comunicação, como no de conhecimento⁶.

    Para Oliveira (2000, p. 27), o momento do escrever, está marcado por uma interpretação e no gabinete, faz com que aqueles dados reunidos sofram uma nova refração uma vez que todo o processo de escrever no discurso da disciplina está contaminado pelo contexto, pelas conversas de corredor, pela atividade docente, entre muitas outras atividades, enfim pelo ambiente acadêmico. O que se pode entender é que "se o olhar e o ouvir constituem a nossa percepção da realidade focalizada na pesquisa empírica, o escrever passa a ser parte quase indissociável do nosso pensamento, uma

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