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Restinga de Massambaba: os matos e seus insetos
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Restinga de Massambaba: os matos e seus insetos
E-book620 páginas1 hora

Restinga de Massambaba: os matos e seus insetos

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Sobre este e-book

Foi "trabalho de formiguinha". Ao total, seis anos de incansável observação e pesquisa. Objetivo: catalogar a vida numa área de preservação ambiental que vai de Saquarema a Arraial do Cabo. Deu livro. De acordo com Solange, 'Restinga de Massambaba – Os Matos e Seus Insetos' começou a ser produzida  em 2007. Naquele ano, as pesquisadoras testemunharam o corte de casuarinas – árvores típicas da região – do entorno da Álcalis, em Arraial do Cabo. Sobre esse tema, as duas têm outra obra publicada, também pela Sophia: 'Casuarinas da Região dos Lagos – Mitos & Fatos'. 

"Resolveram cortar as árvores do entorno da Álcalis alegando que as mesmas eram prejudiciais à natureza. Foi aí que eu resolvi interceder em favor dessas casuarinas e observar as árvores mais de perto", conta a autora.

O processo de observação durou cerca de 6 anos. Ao longo do período, outras coisas foram descobertas no local da pesquisa de campo. 
IdiomaPortuguês
EditoraSophia
Data de lançamento21 de out. de 2020
ISBN9786588609026
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    Restinga de Massambaba - Bruna Pozzebon

    I. INTRODUÇÃO

    A restinga de Massambaba é um cordão arenoso, com cerca de 42 km de extensão, situada na região nordeste do estado do Rio de Janeiro. Esta restinga, ao se formar, aprisionou porções do mar, construindo o que hoje conhecemos como a Região dos Lagos, a qual engloba os municípios de Saquarema, Araruama, Iguaba, São Pedro d’Aldeia, Cabo Frio e Arraial do Cabo (Fig.1).

    Regiaõ dos Lagos- mapa doGOOGLE EARTH

    Fig.1- Mapa da Região dos Lagos, mostrando a restinga de Massambaba (seta) que formou as lagoas de Saquarema e Araruama e outras menores (Pitanguinha e Pernambuca). [1]

    É grande a relevância desta restinga, por conta de suas múltiplas características. Apenas para citar algumas, temos, por exemplo, uma parte importante na História do Brasil, quando aqui foi o berço da pirataria do pau-brasil na região sudeste. As naus europeias adentravam pelo canal do Itajurú da Laguna de Araruama (Fig.2), para a extração destas árvores aos milhões, as quais eram utilizadas principalmente como madeira tintorial. E extraíam não só esta — que nos deu o nome — mas também milhares de outras espécies, que eram utilizadas para mobiliário, construção de embarcações, e até mesmo como lenha nos castelos da Europa.

    G:\LIVRO-INSETOS DA RESTINGA DE MASSAMBABA\FOTOGRAFIAS INCLUIDAS NO LIVRO\01-Figs. introdução até insetos da restinga-OK\Fig.2-mapa de anastasio e a entrada p.a l.de araruama.jpg

    Fig.2-Mapa de Anastasio, do séc. XIX, que servia como guia aos caminhantes que demandavam a Região dos Lagos, passando pela restinga de Massambaba. As naus portuguesas e piratas entravam pela boca da barra da lagoa de Araruama em Cabo Frio, para pilharem o pau-brasil. A seta assinala o canal de Itajurú que é a única entrada para a Laguna. [2]

    Aqui também foi o berço do primeiro povoamento humano de europeus no Brasil, em 1503, na praia da Rama em Arraial do Cabo. À época em que, por toda a restinga, e suas adjacências, viveram milhares de indígenas de diversas tribos, como por exemplo os Tamoios e os Tupis. Além de tudo isto, a Região dos Lagos, durante o período pré-histórico, foi a sede de vários grupamentos humanos 3.000 anos antes de nossa descoberta...

    Sua importância também se traduz em termos ecológicos, primeiro pelo fato dela ser uma quase-ilha (vide Fig.2), uma vez que está separada do continente pelo cordão das lagoas, e que, por conta de certas características climáticas peculiares — como o fenômeno da Ressurgência — faz com que se apresente com aspectos ambientais relacionados à flora e fauna, bastante diversos daqueles do continente. Estes aspectos, como o baixo índice pluviométrico anual e uma vegetação similar à do cerrado nordestino, embora bastante rica e diversificada, são, de certa forma, raros para o contexto climático quente e úmido da região sudeste. E por conta disto, com relação à flora, vários trabalhos científicos foram produzidos nos dias atuais. Contudo, já desde o séc. XIX, quando os naturalistas estrangeiros passavam pela baixada litorânea da Região dos Lagos (e.g. Charles Darwin, o príncipe Maximillian Wied-Neuwied e Auguste de Saint-Hilaire entre outros), eles ficavam mesmerizados com a magnificência da Floresta Atlântica, e sobretudo com a riqueza da vida vegetal e animal aí existente. (Fig.3)

    G:\IMAGENS\Floresta virgem do Brasil-Tela Charles Othon frederic Jean Baptiste de Clarac.jpg

    Fig.3- Uma visão da Floresta Atlântica que existiu junto a região litorânea, desde o sul do país até o nordeste. (Desenho e aquarela de C.O.F.J-B. de Clarac, do séc.XIX) [3]

    Por meio dos relatos destes naturalistas, constatamos que, na Massambaba, eram abundantes as orquídeas, as bromélias, as cactáceas e uma infinidade de outras espécies vegetais de grande porte, as quais foram sendo inexoravelmente dizimadas pela ininterrupta atividade humana predatória, iniciada no século XVI, e provavelmente, bem mesmo antes disso, de acordo com os relatos de DEAN (1996) [4].

    Todavia, o que é mais absurdo é que estas destruições ambientais continuem ocorrendo em pleno século XXI, apesar de todo o conhecimento científico de que dispomos hoje, e apesar da premente necessidade que temos de áreas verdes! O que é mais atemorizante, é que agora os danos ao meio ambiente ocorrem com maior celeridade, já que os mecanismos de destruição (tratores, pás mecânicas, motosserras) são mais eficazes, e ocorrem com maior intensidade, pois a restinga de Massambaba, é um ambiente cobiçado por todos, por contar com uma incrível beleza cênica: são areias muito finas, extremamente brancas, amplos espaços verdes e um mar incrivelmente cristalino e azul. Entretanto, paradoxalmente, todo este cenário paradisíaco da restinga está sendo destruído!. A Fig.4 é só uma pequena amostra desse panorama que narramos.

    G:\IMAGENS\Arraial\Prainhas\Prainhas e a Pr. da Ilha.jpg

    Fig.4- As Prainhas em Arraial do Cabo, em primeiro plano, e ao fundo a vista da praia mais perfeita do Brasil (eleita pela mídia) na Ilha do Cabo Frio, coberta por mata Atlântica (=I. do Farol) [5]

    Assim, se a flora foi bastante apreciada pelos antigos naturalistas e os modernos cientistas, no que tange aos estudos da fauna de vertebrados não aparentam ser muitas as pesquisas! Talvez porque ela esteja cada vez mais rara e inconspícua; e aquela porventura ainda existente, permaneça restrita e acuada nas áreas vegetadas, que (ainda!) não foram totalmente ocupadas pelo Homem.

    Embora ainda existam algumas áreas com cobertura vegetal (Fig.5 a), elas são de difícil acesso aos pesquisadores, uma vez que estes cerradões são praticamente impenetráveis, a menos que se os destrua a golpes de facão, o que seria inadmissível, além de não ser mais permitido pelas recentes leis de proteção ambiental. Pode-se ver na figura (a), a esquerda da foto, a inexorável ocupação humana. Em (b), o detalhe da flora, em um conjunto praticamente impenetrável.

    G:\IMAGENS\Arraial\Panoramicas\Panorama_Sem Título333.jpg

    (a)

    IMG_0109

    (b)

    Fig.5- (a) Panorâmica da vegetação da restinga e a ocupação humana (legal e ilegal) sobre este raro ecossistema. Em (b) detalhe da flora impenetrável em certas partes.

    Entretanto, pela literatura do séc. XIX, temos notícia da existência pretérita de grande diversidade faunística em toda a nossa região. AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE [6] e o príncipe MAXIMILIAN DE WIED-NEUWIED [7] nos seus respectivos cadernos de viagem, relataram presença de muitos animais vertebrados como, veados, jacarés, cobras, tatus, miríades de araras, papagaios e periquitos dentre várias outras. As figuras 6 e 7, corroboram estes relatos, por meio dos raros avistamentos recentes, aqui na região da Massambaba (respectivamente nos anos de 2018 e 2014), de alguns destes vertebrados citados.

    G:\IMAGENS\Arraial\Jacaré em Figueira-foto Rubens Henriques- Fev.2018-ampliada.jpg

    Fig.6- Jacarés de papo amarelo avistados em Figueira (distrito de Arraial). (Foto de Rubens Henriques) [8]

    G:\IMAGENS\Arraial\Fauna terrestre\Essa imagem aconteceu dentro da Álcalis ha pouco tempo. talvez em 2014.jpg

    Fig.7 –Tatú que deu a luz nas dependências da já desativada Cia. Nacional de Álcalis, em Arraial do Cabo (circa 2014. Foto de André Ramos) [9]

    É fora de dúvida que esta macrofauna, está-se extinguindo desse ambiente, e o reflexo disso, é o número reduzido de trabalhos de pesquisa sobre eles. As poucas recentemente executadas tratam de anfíbios e peixes, que sobrevivem nas pequenas lagoas temporárias de restinga. Alguns outros, sobre o réptil lagartinho-da-areia, Liolaemus lutzae (Fig.8 a, b), e a ave Com-com (Formicivora litoralis), endêmica da Massambaba, e fortemente ameaçada de extinção (Fig.9), a qual, como o nome científico indica, alimenta-se essencialmente de formigas...

    G:\LIVRO-INSETOS DA RESTINGA DE MASSAMBABA\FOTOGRAFIAS INCLUIDAS NO LIVRO\FIGS. introd. até insetos da restinga\Fig.8-IMG_0607-liolaemus lutzae será-ampliado.jpg

    (a)

    G:\LIVRO-INSETOS DA RESTINGA DE MASSAMBABA\FOTOGRAFIAS INCLUIDAS NO LIVRO\Figs. introdução até insetos da restinga-OK\Fig.8 b -DSC01334.JPG

    (b)

    Fig.8 - Lagartinhos-da-areia (Liolaemus sp. ou Tropidurus sp.?) avistados na restinga em Arraial do Cabo.

    formigueiro_do_litoral

    Fig.9- O Com-com (Formicivora litoralis) comedor de formigas, endêmico da restinga de assambaba. [10]

    Mas se formos buscar trabalhos relacionados aos invertebrados, eles são praticamente inexistentes! Assim, é com uma certa estranheza e tristeza, não contarmos com pesquisas sobre estes pequenos seres, já que eles são a base animal da cadeia alimentar terrestre, e, portanto, profundamente necessários à saúde, e ao bom funcionamento do ecossistema da restinga. Sem esta base alimentar, todos os demais acima deles estarão irreparavelmente ameaçados de extinção.

    Sendo zoóloga, e residente na Região dos Lagos há mais de quarenta anos, tenho acompanhado com profundo pesar e imensa apreensão, todos os processos de destruição da Massambaba. Autores pretéritos, como LAMEGO (1946) [11] nos anos 40, já os prenunciava, e denunciava estes vorazes e incontroláveis processos predatórios humanos.

    Recentemente (2013) abordamos as mais atuais causas de

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