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Educação, meio ambiente e saúde: Escritos científicos do extremo sul do Piauí – Volume 2
Educação, meio ambiente e saúde: Escritos científicos do extremo sul do Piauí – Volume 2
Educação, meio ambiente e saúde: Escritos científicos do extremo sul do Piauí – Volume 2
E-book255 páginas2 horas

Educação, meio ambiente e saúde: Escritos científicos do extremo sul do Piauí – Volume 2

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Sobre este e-book

Ao ler os escritos científicos do sul do Piauí não esperem encontrar análises fechadas ao espaço geográfico, posto que a intenção é inversa, é um movimento de troca contínua de reflexão e adaptação aos mais diversos e surpreendentes contextos contemporâneos. Não obstante, além da relevância entre os objetos de pesquisa, há algo muito peculiar, quais sejam os autores, alguns gratos amigos, e todos certamente muito conscientes do seu papel de propulsores do conhecimento científico em uma região tão rica em potencial, porém ainda tão pouco explorada e que para esses autores os verbos aguçar, despertar e compreender certamente fazem parte de seus cotidianos laborais. Com a publicação supracitada o leitor tem em suas mãos a oportunidade de estender sua visão de mundo, no sentido de produzir novos modos de pensar a realidade com uma exposição clara e firme de temas tão atuais e profícuos, alguns mais técnicos na maneira de escrever, outros mais imbuídos de interpretações. O projeto Corrente cresce e consolida-se como mais um importante canal de comunicação, não apenas acadêmico, posto que a ânsia por desbravar novos caminhos conceituais e metodológicos atinge um público cada vez maior. Assim, todos nós ganhamos, ganhamos na descoberta de trabalhos primorosos, ganhamos nas perspectivas diferenciadas e sobretudo, ganhamos na maneira de pensar uma nova teia, partindo de um ponto e sempre conectada às linhas que a compõem. (Miria Cássia Oliveira Aragão)
IdiomaPortuguês
Data de lançamento29 de out. de 2019
ISBN9788546210503
Educação, meio ambiente e saúde: Escritos científicos do extremo sul do Piauí – Volume 2

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    Educação, meio ambiente e saúde - Teodório Rogério Júnior

    Corrente.

    PREFÁCIO

    Em 1962, o físico Thomas Samuel Kuhn publicou a primeira edição do livro A Estrutura das Revoluções Científicas, no qual definiu o paradigma científico como o conjunto de conhecimentos partilhados pelos membros de uma mesma comunidade de pesquisadores quando se debruçam sobre problemas semelhantes. A publicação dessa obra representou um marco para a Sociologia e para a Filosofia das Ciências, inaugurando uma crítica epistemológica ao modo como a ciência é humanamente produzida, com suas idas e vindas, avanços e retrocessos, e caracterizando o trabalho de pesquisadores e cientistas como fruto de seu tempo, portanto, dotado de caráter histórico.

    Não é exagero afirmar que a produção acadêmica dos pesquisadores do extremo sul piauiense instaura um novo paradigma para a ciência no estado. Afastados de grandes centros urbanos, compartilhando e vivenciando dificuldades típicas de moradores de municípios de pequeno porte no Brasil, ainda mais quando localizados na Região Nordeste do país, esses pesquisadores não têm se deixado esmorecer, antes, transformam essa mesma realidade, muitas vezes esquecida ou ignorada, em objeto legítimo de suas investigações, ressignificando aos olhos da comunidade científica a importância do território das chapadas do extremo sul piauiense.

    Nesse sentido, pode-se observar como essas pesquisas têm tratado de temas convergentes como o Cerrado, a Geografia das nascentes do Rio Parnaíba e outros cursos d’água que compõem sua bacia, o ser humano que habita os Sertões e suas Veredas, descritos já desde o século XIX em obras como a de Euclides da Cunha, Guimarães Rosa e Graciliano Ramos, dentre outros, e os processos de interação entre homem e meio ambiente, bem como temas referentes à educação e saúde. Ao considerar, pois, o locus em que vivem como o objeto alvo de suas inquisições, os cientistas deixam vir à lume uma região que por sua localização, bem como pelas condições sociais daqueles que lá habitam, ainda se mostra desconhecida por grande parte da academia, muitas vezes centralizada em núcleos urbanos mais populosos.

    O livro inicia-se com a apresentação de um estado da arte sobre a Educação Ambiental. Historicamente, segundo certas correntes filosóficas e epistemológicas derivadas do pensamento kantiano, a humanidade tem se distanciado cada vez mais da natureza criando, ele próprio, seu próprio ambiente de maneira artificial. Pode ser observado, nessas concepções, a dualidade homem-natureza, em que o primeiro se associa a uma natureza interior, movida pelos desejos e pelas paixões, nunca, porém satisfeitos, cercado por uma natureza exterior, de caráter primitivo e criada de modo intocado pela divindade. Outros defendem que o homem, sendo parte da história natural da Terra, se insere nela como parte de seus agentes transformadores, como foram outras espécies em tempos remotos da história do planeta, cujos vestígios ainda hoje se fazem perceber.

    Essa concepção retira do homem seu caráter especial e sua centralidade histórica, rebaixando-o a simples condição de espécime da natureza, despem-no, o que, no campo da Biologia, faz o mesmo que fez Copérnico no campo da Astronomia e Einstein na Física newtoniana. Sendo assim, a degradação ambiental causada pela humanidade em tempos recentes não seria, nessa concepção, diferente da grande extinção provocada pelo surgimento das cianobactérias, as quais mudaram a concentração de oxigênio na atmosfera causando o desaparecimento de muitas espécies de seres anaeróbios, agora confinados em lugares insalubres como pântanos, fundos de rios e oceanos e ambientes intracelulares específicos. Seja qual for a concepção a ser adotada, a questão da relação homem-natureza está posta na ordem do dia da sociedade capitalista pós-industrial, pós-moderna e de outros pós, o que acaba por ressignificar a importância do viés ambiental do campo da educação.

    A discussão então, encaminha-se, no segundo capítulo, para destacar a importância dos sistemas agroflorestais para manutenção da matéria orgânica do solo e de sua qualidade. Trata-se de perceber os solos como recursos que, não conservados em sua utilização, encontram-se disponíveis em quantidades limitadas, impactando a agricultura e a oferta de alimentos para a sociedade. Nesse sentido, vislumbra-se a possibilidade de adoção de sistemas de manejo de solo a partir das agroflorestas como uma forma de preservá-lo ou recuperá-lo, ao mesmo tempo em que essa utilização permite a coexistência de produção agrícola a ser explorada e comercializada.

    Por outro lado, o crescimento das lavouras de monocultura nas áreas de Cerrado brasileiro, sobretudo na região do MATOPIBA¹, tem contribuído como fator de degradação do meio ambiente, ocasionando desgaste do solo, contaminação e assoreamento dos cursos hídricos, extinção da flora e da fauna regionais, contribuindo para a não preservação de seus recursos ambientais. Nesse sentido, o terceiro capítulo discute o impacto da derrubada de áreas nativas no Cerrado piauiense para o plantio de soja, considerando-se os municípios de Baixa Grande do Ribeiro e Ribeiro Gonçalves. Já o quarto capítulo discute o impacto da ampliação da área de lavoura do Cerrado para os cursos d’água, considerando-se o caso do rio Corrente dos Matões/PI.

    Se o avanço das lavouras sobre o Cerrado tem causado sua degradação ambiental, impactando a qualidade do solo e provocando a erosão de suas camadas férteis que acabam assoreando os cursos d’água e, contribuindo para a aridez da região, escassez de água e, consequentemente, processos de desertificação no Piauí, o quinto capítulo apresenta os resultados de uma investigação que verificou a possibilidade de uso de espécimes vegetais típicos da Caatinga para a recuperação de áreas degradadas em processo de desertificação.

    Em sequência, o sexto capítulo investiga a qualidade ambiental urbana do município piauiense de Riacho Frio no que diz respeito ao uso e ocupação do solo, existência e utilização de áreas verdes, sistema de abastecimento de água, existência ou não de processos de esgotamento sanitário, coleta e disposição adequada de resíduos sólidos e, por fim, a situação da infraestrutura viária. Tais fatores contribuem para a aferição do Índice de Qualidade Ambiental Urbana do município e a identificação de aspectos de sua infraestrutura que podem ainda ser melhorados, desde que se adotem políticas públicas e investimentos necessários para a melhoria do meio ambiente urbano, sobretudo no que diz respeito ao esgotamento sanitário.

    Já o sétimo capítulo avalia empiricamente os resultados da biofortificação do tomateiro através do tratamento de mudas desse cultivar com fontes de ferro e zinco. Considerando-se a presença preponderante do tomate nas dietas de várias populações pelo globo, o estudo leva em consideração os efeitos nutricionais do consumo da planta, cujos frutos apresentam, muitas vezes, restrições no que diz respeito aos teores de ferro, zinco e vitamina A. No entanto, por meio de técnicas de cultivo adequadas, quais sejam a biofortificação, os frutos do tomateiro podem adquirir melhores condições nutricionais, aspecto que foi avaliado nessa pesquisa, bem como a evolução do crescimento das plantas e seu manejo adequado em condições especiais de nutrição vegetal.

    Em sequência, no oitavo capítulo, discute-se a síndrome de Kawasaki, a qual caracteriza-se como uma doença autoimune que afeta vasos sanguíneos e linfáticos e o sistema vascular, sobretudo de crianças menores de cinco anos. Ainda que não completamente compreendida e sem causas definidas estabelecidas, trata-se de uma síndrome descrita de modo mais frequente no Japão e nos Estados Unidos.

    Por fim, o nono e último capítulo da coletânea apresenta uma análise histórica da obra O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, considerando-se a construção discursivo-literária do sertão e seus elementos constitutivos. Trata-se de conceber a obra de Suassuna como recurso interpretativo e de compreensão da identidade do povo nordestino, seus costumes e sua cultura. O autor afirma que se trata de uma tentativa de preservação, em sua brasilidade, da cultura popular nordestina, mesmo que para isso tivesse que haver um retorno a uma ancestralidade de ascendência medieval portuguesa e pré-colombiana, bem como ao passado co-lonial e suas contradições inerentes do processo de produção inserido num capitalismo nascente e, ao mesmo tempo, escravagista.

    Sendo assim, Educação, Meio Ambiente e Saúde: escritos científicos do extremo sul do Piauí fala de uma piauiensidade que está, ainda, em processo de vir a ser e constituir-se. O sentido de ser piauiense traz à tona questões de ordem identitária, que podem ser traduzidas por esse vocábulo. Tal termo traduz o trabalho, ainda que incompleto e por terminar, de uma construção narrativa e discursiva, por parte da intelectualidade do estado, de uma representação que aglutine todas as interpretações do que significa, de fato, ser piauiense e residir nesse território.

    Ajuda-nos a compreender alguns dos elementos que fazem referência a essa piauiensidade a identificação com o sertão, representação atrelada à ideia de clima seco; a paisagem rural e bucólica típicas de um Piauí agrário, que muitas vezes ainda teima em não se modernizar e se urbanizar e, quando se urbaniza, o faz às custas da qualidade de seu meio ambiente; a pobreza, a miséria e a fome, narradas naquele que pode ser considerado o primeiro romance regionalista brasileiro, Ataliba o vaqueiro²; a coragem e a força do piauiense, herói que lutou na Batalha do Jenipapo³, contribuindo assim de forma definitiva para a Independência do Brasil; a proximidade com as águas do Rio Parnaíba, que limita o Piauí a oeste, separando-o do Maranhão, águas que banham o estado de ponta a ponta, dentre outras características.

    Tais registros e representações deixaram marcas indeléveis no modo de ser e agir do povo piauiense, inclusive no campo da educação, bem como nas investigações científicas que se realizam nesse território. Não se pode deixar, portanto, de se considerar as pesquisas que aqui se apresentam como aquilo que são: arte e fruto do trabalho de um povo que habita o extremo sul do Piauí.

    Flávio de Ligório Silva,

    doutor em Educação pela UFMG.

    Notas

    1. A sigla é um acrônimo que faz referência a uma área compreendida entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, e é considerada a última fronteira agrícola em expansão no mundo.

    2. Obra do Romantismo Brasileiro, de autoria de Francisco Gil Castelo Branco, publicada em 1878.

    3. A Batalha do Jenipapo foi uma das mais sangrentas que aconteceu no movimento de Independência do Brasil, ainda que desconhecida de grande parte dos brasileiros e dos piauienses. Ocorrida às margens do riacho homônimo, em 13 de março de 1823, envolveu piauienses, maranhenses e cearenses contra as tropas da Coroa Portuguesa e foi determinante para a unidade e consolidação do território nacional, visto que D. João VI desejava preservar uma colônia portuguesa no norte do território brasileiro, envolvendo os territórios do Grão-Pará (província que hoje corresponderia aos estados do Amazonas, Pará, Roraima, Amapá), Maranhão e Piauí. Os brasileiros que lutaram a favor da Independência utilizaram instrumentos simples, não eram um exército armado e não tinham experiência de combate. Perderam a batalha, mas foram responsáveis por desviar as tropas portuguesas e garantir a Independência do Brasil, sendo considerados heróis no Piauí.

    1.

    PANORAMA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

    Karine dos Santos Dias

    José Machado Moita Neto

    Pretendemos, nesta síntese, localizar e compreender o contexto histórico que se delineou o movimento ambientalista e o correspondente processo de consolidação de uma imprescindível ênfase ambiental à educação.

    Inicialmente traremos o contexto histórico e filosófico que desencadeou esta atual crise entre o ser humano e seu habitat. Em seguida, elencamos as diversas iniciativas que contribuíram para o reconhecimento da problemática ambiental, bem como o papel fundamental da Educação Ambiental como instrumento de divulgação e conscientização da população acerca das demandas do meio ambiente.

    A trajetória que a Educação Ambiental percorreu, em especial no Brasil, até ser reconhecida no âmbito formal da educação também está descrita nesta seção, além de negarmos com veemência as tentativas de tratá-la como disciplinas específicas nos currículos escolares.

    As raízes da problemática ambiental

    A Revolução Industrial iniciada na Inglaterra, em meados do século XVIII, é considerada um marco histórico no que diz respeito à crise ambiental que vivenciamos, no entanto, episódios de degradação ambiental anteriores marcaram a história da humanidade.

    No entanto, a partir deste marco histórico, na realidade, se potencializou a percepção e a preocupação com os problemas do meio ambiente. As fuligens das fábricas começaram a invadir as casas e a fumaça chegou ao cotidiano das cidades. Estes eram apenas os primeiros sinais de que medidas deveriam ser tomadas para proteger a saúdes das pessoas, mas, como fazê-lo com comprometer o desenvolvimento latente experimentado nessa época?

    Da certeza a (in)certeza: recortes de um processo

    As sociedades medievais europeias viviam sob a égide cultural e social da Igreja Católica, que a todos dominava como detentora de verdades inquestionáveis. Romper este paradigma traria como consequência um dos momentos mais efervescentes registrado da história da humanidade: a modernidade.

    A modernidade se configura no decorrer dos séculos XVIII e XIX, regido por leis naturais e compreensíveis a partir da ciência. A religião foi gradativamente substituída pela ciência e que ganhou status de autoridade, passando a ser definidora da visão cultural do mundo (Tarnas, 2001).

    Diversos fatores formaram o aporte para o desencadeamento da modernidade, destacando-se: as descobertas marítimas, a criação das universidades e o surgimento das corporações marítimas. Uma nova racionalidade surge para substituir a razão ancorada na fé: a razão científica. A razão ancorada na ciência e não na filosofia ou teologia (Beto, 2013), perdurando até hoje como modelo de compreesão do mundo.

    No período moderno o mundo experimentou profundas transformações nos modelos educacionais vigentes, na forma de fazer ciência e arte, conforme Silva (2007, p. 41) assinala:

    Nas artes cênicas, nas ciências, na filosofia, na música, na pintura e no pensamento político nomes como os de Shakespeare, Leonardo da Vinci, Copérnico, Bacon, Maquiavel, Erasmo, Cervantes, Michelangelo e Galileu destacam-se pela produção de trabalhos que rompem e deslocam o Homem do enfoque medieval que o secundarizava em relação a Deus, à Igreja ou à natureza.

    Muitos destas ilustres figuras, citadas por Silva (2007), estavam na interface entre o mundo medieval e moderno, ou seja, embora nesse novo momento da história o homem, enfim, encontrava seu momento de emancipação diante de Deus, muitos deles ainda incluíam uma referência divina as suas teorias, como pontuado no Paradigma Newtoniano.

    Ao formular leis, como, por exemplo, a Lei da Gravitação Universal válida tanto para pequenos corpos, quanto para os corpos celestes, Newton concebeu o mundo como um grande relógio e Deus o grande relojoeiro (Keitiel, Pereira, Berticel, 2012, p. 133). Além disso, Koiré (1979) afirma que a ideia de espaço e tempo infinitos e absolutos de Newton só pode ser compreendida em sua totalidade a partir da existência de um Deus onipresente e eterno.

    O pleno estabelecimento das ideias do período moderno se deu mediante a contribuição decisiva do pensamento Iluminista, pautado pela Reforma Protestante e pela Revolução Científica encampada pelos renascentistas. Além da possibilidade de interpretar as sagradas escrituras, a Reforma Protestante reflete, na realidade, o fator que instituiria a emancipação do homem.

    Para Tarnas (2001, p. 262),

    a Reforma abriu no ocidente o caminho para o pluralismo religioso, depois o ceticismo religioso e, por fim, a um completo rompimento a até então relativa homogênea visão de mundo cristã.

    O contexto de autonomia diante da fé, somado ao conveniente pragmatismo cartesiano, simplificador e racionalizador do mundo, estabeleceu um cenário ideal para o desenvolvimento de teorias e inventos no mundo ocidental.

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