Conversas sobre Feminismo(s) no Youtube: Feminismo Difuso nas Performances do Público
De Paula Coruja
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Conversas sobre Feminismo(s) no Youtube - Paula Coruja
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
Dedico este livro a todas as mulheres fortes que transformam a minha vida e me ensinam diariamente sobre luta, amor e sororidade. E por meio da maior delas, deixo minha eterna admiração a todas: Mama, gracias por me ensinar amor, força, resiliência, capacidade crítica e persistência.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha família, por todo amor e incentivo nas reviravoltas que a vida deu e nas que escolhi dar. Nos momentos em que a dor parecia insuportável, vocês não saíram do meu lado. A Corujada é muito amor.
Agradeço às minhas amigas e amigos queridos que encararam o processo da pesquisa e dividem a vida comigo: Jana, Fernanda, Diego, Elen, Renata. Agradecimento especial às amigas e colegas Laura Wottrich e Fernanda Chocron Miranda, que não só emprestaram o olhar atento durante o desenvolvimento da pesquisa, mas contribuíram muito no processo de elaboração do livro.
Gracias à professora Nilda Jacks, pelo processo de orientação da pesquisa e por topar escrever o prefácio deste livro. Obrigada pela aposta, conselhos, críticas, reikis e conversas ao longo desses anos na pós-graduação. Também agradeço às professoras Nísia Martins do Rosário, Daniela Schmitz e ao professor André Pase, por terem participado da avaliação desta pesquisa que hoje sai publicada em livro. As questões levantadas, críticas e elogios foram fundamentais para o aprimoramento deste texto e para o meu aperfeiçoamento como pesquisadora.
Também agradeço ao CNPq, pela bolsa de estudos que tornou possível a realização desta pesquisa agora publicada.
PREFÁCIO
A descoberta de um novo (?) feminismo grassando os domínios da internet foi o principal resultado da dissertação de Paula Coruja defendida em 2017, no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCOM/UFRGS), a qual originou este livro.
Isso surpreendeu não só a autora, que não tinha esse tema como foco de sua pesquisa, mas a mim, que vivi a juventude em outra onda do feminismo, como é caracterizado por parte das estudiosas do assunto, sem que haja consenso, entretanto. A primeira surpreendida, contudo, foi a própria youtuber, como confessou na entrevista dada para Paula durante o processo de pesquisa: É, descobri feminista porque alguém me apontou. Mas é uma honra. É a ideia do canal hoje em dia, gerar esse tipo de discussão, dar aquela empoderada boa mesmo. Inicialmente não era nem isso, mas daí foi virando isso. É ótimo
.
O tema emergiu para a vlogueira
, como será detalhadamente apresentado por Paula, no relacionamento com seu público, nas e das práticas de produção de conteúdo destinados às mulheres, a partir de sua experiência como jovem mulher. Como ela relata e os dados evidenciam, descobriu-se feminista ao longo de seu processo de interação com suas seguidoras e "haters", na constituição e manutenção de seu canal no YouTube. Em um processo quase espelhado, a pesquisa aqui apresentada emergiu da observação sistemática e atenta do canal JoutJout Prazer no YouTube, levando à mudança de seu foco por força das evidências, característica desse tipo de abordagem relativa à pesquisa qualitativa. Nessa perspectiva, a atenção permanente aos sinais do campo é a principal prerrogativa, sob pena de traição ao objeto de estudo e do não entendimento do que se passa na realidade empírica.
A consequência da fidelidade a um dos princípios básicos da pesquisa qualitativa, no caso de Paula, a levou do projeto original que pautava questões de gênero relacionadas à beleza feminina à dimensão da sociabilidade, por se tratar de um canal pautado pela intensa participação do público. Esse foi o ponto de chegada ao exame de qualificação, que se centrava nas práticas da audiência do canal, mas ainda não seria o foco definitivo a que chegou na dissertação. A discussão do projeto com os membros da banca consolidou o enfoque nas expressões do feminismo contemporâneo, largamente explorado em sua análise a seguir.
Foi uma longa jornada de idas e vindas na observação do campo, de reformulações conceituais e da própria pergunta de pesquisa, e esse é um ponto relevante, repito, quando a abordagem é qualitativa, o qual nem sempre é seguido à risca pelos pesquisadores que almejam compreender os fenômenos em lugar de apenas constatá-los. Ou seja, mesmo optando por essa abordagem, muitos não abrem mão de suas premissas e pressupostos para deixar o objeto revelar-se, cumprindo assim o estatuto que fundamenta o enfoque qualitativo. Paula, ao contrário, pagou para ver, ao custo de se desvestir de algumas premissas, intuições e de trabalho já realizado. O que poderia parecer uma debilidade foi, na verdade, a fortaleza de seu estudo, pois é no tensionamento com o objeto empírico que a teoria se desenvolve e deixa de ser uma formulação vazia à espera de dados. Nesse sentido, a experiência vivida por Paula, e por mim, no processo de realização desta pesquisa, deu concretude às recomendações dos metodólogos qualitativos em relação à natureza outra dessa abordagem, que não pretende apenas verificar a ocorrência e a distribuição dos fenômenos empíricos. Quer compreendê-los e, portanto, deve estar aberta às pistas, aos indícios e às evidências que nem sempre cabem na pergunta e nos objetivos de pesquisa propostos no projeto inicial.
Parte ainda dessa experiência, nos bastidores da orientação, um dos momentos reveladores do que a autora identificou em campo
foi a exibição do vídeo Não tira o batom vermelho
(fevereiro de 2015) para o grupo de orientandas à época, quando a diferença geracional (ainda existe) aconteceu. Como uma pauta tão supérflua e superada (?) para quem participou da segunda onda do feminismo pode ter sido uma questão significativa para quem nasceu nos anos 1980 e 1990? Como as conquistas já alcançadas puderam sofrer descontinuidade tão grande a ponto de se concentrarem em torno do batom vermelho
, para as novas gerações, seria a pergunta de fundo.
Não me contive diante da reação em coro concordando que o conteúdo – o qual, em suas palavras – teria mudado suas vidas: onde estava a mãe de vocês nesses anos todos, perguntei, atônita. O eco retumbou em mim e nelas, e essa é a graça do trabalho de orientação: ensinamos e aprendemos.
Nesse sentido, a metáfora da onda, rejeitada por parte das especialistas desse campo de estudo, poderia explicar o arrefecimento da questão de uma geração para outra. Adotando ou não a periodização caracterizada em ondas, sabe-se que a história não é linear e a geração intermediária viveu outras questões que certamente fizeram mais sentido para aquelas mulheres que antecederam e sucederam as atuais feministas e seus outros modos de reivindicar sua presença no mundo.
O fato é que nesse lapso de tempo o mundo mudou radicalmente e o estudo de Paula ajuda a trazer à tona como hoje se articulam os novos movimentos, as novas demandas, as novas representações e a retomada da luta feminista que havia sido suavizada.
Prof.ª Dr.ª Nilda Jacks
Programa de Pós-Graduação em Comunicação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Porto Alegre, outono de 2019
APRESENTAÇÃO
Este livro nasce do processo de pesquisa que iniciou no mestrado em Comunicação e Informação da UFRGS, defendido em 2017 (CORUJA, 2017c). Nos mais de dois anos que separam a defesa da pesquisa e a publicação do livro, o tempo foi fator fundamental. Não apenas para o amadurecimento e reflexão sobre os resultados que nasceram do processo, mas para um melhor entendimento de que feminismos são estes de que estamos falando agora.
No prefácio, a professora Nilda contou um causo
de uma das nossas reuniões do grupo de pesquisa, nos quais discutíamos o andamento das investigações, compartilhávamos dúvidas e fenômenos que nos intrigavam. Ainda naquele momento, o conflito de gerações impedia que o que acontecia nas caixas de comentários do canal o qual analisei (que não é algo único, acontece com muitas youtubers as quais seguem uma linha mais feminista de conteúdo) fizesse sentido. Afinal, nas décadas de 1960 e 1970, já falávamos em liberdade sexual, em direito ao próprio corpo. O que mudou? A resposta estava naqueles comentários: a discussão passou, o machismo continuou existindo, continuou se perpetuando. Parece básico repetir o que está sendo dito há décadas (e, se pensar bem, séculos)? Talvez. O que não tira sua necessidade.
O que consegui ver durante esse processo é que não há apenas uma repetição do que já vinha sendo dito. Concordo com meu colega Tainan Tomazetti que o feminismo em movimento na contemporaneidade adquire uma lógica comunicacional e acredito que isso muda o modo como é apropriado, propagado, discutido e, em última instância, manifestado em espaços na internet e fora dela.
Assim, o objetivo foi compreender que aspectos dos feminismos (entendendo o feminismo a partir da pluralidade de correntes que o caracteriza) são debatidos por uma youtuber e ressignificados nas manifestações do público na caixa de comentários. Para isso, mapeei algumas das práticas da youtuber a partir da análise dos vídeos publicados nos dois primeiros anos do canal, principalmente com relação ao fazer
dos vlogs. Também mapeei as práticas do público a partir da caixa de comentários para, assim, evidenciar esses sentidos sobre os feminismos que aparecem relacionados ao canal JoutJout Prazer.
A discussão teórica passa pelos estudos culturais, estudos de recepção e cibercultura para abordar o YouTube, como site de rede social e ambiente dialógico, e a convergência. A audiência dos vídeos também entra em debate, principalmente para entender o que acontece quando ela torna pública sua opinião. Também foram abordados alguns momentos do desenvolvimento do feminismo para compreender melhor de que forma emerge hoje, com uma lógica comunicacional, em canais do YouTube.
Por fim, depois de uma incursão pelos vídeos e comentários, trago os principais resultados como as práticas da youtuber, que envolvem o fazer
do vlog, como o uso de espaços semiprivados da casa, a edição para dar ritmo à fala, o uso de recursos didáticos e a própria experiência pontuando a abordagem dos temas. Entre as práticas do público, o uso de jargões, a execução de maratonas e a representação do riso são destacados. Além disso, a partir da identificação das performances do público, mostro os principais sentidos que envolvem o feminismo, de Adoradores a Haters, principalmente com relação ao que identifico e nomeio como feminismo difuso nas postagens.
Ao tornar a pesquisa, principalmente os passos que dei em seu desenvolvimento, pública, espero contribuir para entender um pouco mais das manifestações tão presentes em redes sociais na internet sobre o tema e abrir ainda mais espaço para falar e, sobretudo, para desconstruir um pouco o machismo que ainda permeia nossas relações sociais.
Obrigada por quererem esta discussão comigo.
Sumário
INTRODUÇÃO 17
1
YOUTUBE: UM PEQUENO MERGULHO NA PLATAFORMA 23
VLOGS COMO GÊNERO DE EXPRESSÃO PESSOAL 32
YOUTUBERS, QUEM SÃO? 35
O CANAL: A YOUTUBER E AS DINÂMICAS DO CANAL 42
QUEM É A YOUTUBER? 46
2
FEMINISMO(S): QUE ONDA É ESSA? 53
O TEMPO (CONVENÇÃO) DO FEMINISMO: AS PRIMEIRAS ONDAS 56
PRINCIPAIS EIXOS DE ARTICULAÇÃO DA TEORIA POLÍTICA
FEMINISTA 71
PASSADAS AS ONDAS: EMPODERAMENTO E UM FEMINISMO DIFUSO 78
3
PENSANDO OS PÚBLICOS: CONVERGÊNCIA, AUDIÊNCIAS E PERFORMANCES NAS CAIXAS DE COMENTÁRIOS 87
AUDIÊNCIA: DE ABSTRATA A INTERLOCUTORA 89
AUDIÊNCIA INTERAGENTE 95
DE AUDIÊNCIA A PÚBLICO 97
UMA PRIMEIRA NAVEGAÇÃO PELO CANAL E AS PERFORMANCES
DO PÚBLICO 103
4
PLAYLIST GIRL/BOY POWER: empoderamento por
construção e desconstrução 111
EMPODERAR POR ARGUMENTOS DE CONSTRUÇÃO E DESCONSTRUÇÃO 118
O ARGUMENTO DE DESCONSTRUÇÃO 139
A YOUTUBER: CONSTRUÇÃO, ACONSELHAMENTO; DESCONSTRUÇÃO, UMA QUESTÃO FEMINISTA 156
5
O PÚBLICO E A PLAYLIST: EXPRESSÕES E DISCUSSÕES SOBRE OS FEMINISMOS 161
PRÁTICAS DO PÚBLICO DO CANAL: MARATONA, JARGÃO E RISO 170
OS SUPERTEMAS DO PÚBLICO: MACHISMO E FEMINISMO 178
AS EXPRESSÕES DOS FEMINISMOS: MANIFESTAÇÕES DO
PENSAMENTO DIFUSO 192
FEMINISMO DIFUSO NA PERFORMANCE DO PÚBLICO NA CAIXA DE COMENTÁRIOS 204
(ALGUMAS) cONCLUSÕES 209
REFERÊNCIAS 219
INTRODUÇÃO
Não aceito mais as coisas que não posso mudar, estou mudando as coisas que não posso aceitar. (Angela Davis)
Aos poucos, o feminismo volta à pauta de discussões públicas, além de ocupar um maior espaço em programas de televisão, revistas (para além das femininas) e nas redes sociais na internet. A Women’s March¹, um protesto encabeçado por mulheres que tomou conta dos Estados Unidos na posse de Donald Trump, foi um desses eventos que reverberou na imprensa do mundo inteiro. Angela Davis e Nancy Fraser, duas teóricas e históricas militantes feministas, aproveitaram a oportunidade para fazer a convocação para uma greve mundial de mulheres no 8 de março. O chamamento para a Women’s March, a exemplo da Marcha das Vadias, foi todo articulado por meio de sites de redes sociais, em um movimento autogestionado.
Outras iniciativas recentes² mostram que esse (novo) feminismo é encabeçado por grupos que não necessariamente se articulam fisicamente
, mas que buscam suscitar, usando a internet, reflexões entre as próprias mulheres sobre seu papel na sociedade. Esses grupos também não se articulam em torno de um conceito fechado de feminismo, mas trazem a heterogeneidade do pensamento feminista e suas variadas vertentes e interseccionalidades, compreendendo expressões de múltiplos feminismos.
Depois de ser questionado nos anos 1990 e 2000 no mundo ocidental, principalmente após a ampliação do mercado de trabalho e sanção de leis que igualam os direitos civis, o feminismo é retomado. Novas vozes passam, aos poucos, a (re)questionar o machismo e o patriarcado, um reflexo das estatísticas (e do cotidiano) que deixam claro que a igualdade está longe de ser alcançada. Por exemplo: pesquisa do Instituto Avon/Ipsos aponta que seis a cada 10 brasileiros conhecem alguma mulher vítima de violência doméstica e uma em cada cinco mulheres consideram já ter sofrido alguma vez "algum tipo de violência de parte de algum homem, conhecido ou desconhecido³". A taxa de feminicídio do Brasil é a quinta maior do mundo, segundo a ONU⁴. Ao todo, 85% das mulheres declaram ter medo de sofrer violência sexual⁵. Para 70% da população, a mulher brasileira sofre mais violência dentro de casa do que em espaços públicos, e três em cada cinco mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos⁶. O Relatório Viva, do Ministério da Saúde, aponta que as mulheres são as maiores vítimas de violência doméstica e sexual. Segundo relatório da ONU⁷, 70% das mulheres sofre algum tipo de violência no decorrer de sua vida. Pesquisa do Banco Mundial⁸ mostra que é mais provável que uma mulher entre 15 e 44 anos seja abusada sexualmente e sofra violência doméstica do que desenvolva um câncer ou se envolva um acidente de carro. Em 2013, a Secretaria Nacional de Segurança Pública e o Ministério da Justiça divulgaram estatísticas criminais de todo o território nacional que mostram que os registros de estupro do ano anterior ultrapassam o de outros crimes violentos, como homicídio doloso, culposo e latrocínio – e é sabido que apenas uma pequena parte dos estupros são reportados.
Quando uma youtuber⁹ resolveu ensinar como identificar um relacionamento abusivo, com o vídeo Não tira o batom vermelho
, em fevereiro de 2015, logo se tornou o que pode ser chamado de um viral. O canal, que contava com poucos assinantes, passou por um crescimento exponencial. Ao abordar o assunto, a youtuber fala sobre empoderamento feminino, uma das principais pautas comuns (mesmo que nem sempre nomeado com esse termo que adquiriu certo modismo) às várias vertentes do movimento feminista. A jovem produz conteúdo no YouTube desde maio de 2014. Logo no lançamento do canal, ela ainda não se apropriava das discussões de gênero ou da pauta feminista – até chegou a dizer que não era um lugar de levantar bandeiras
– mas se posicionava na perspectiva de aconselhamentos a partir de relatos baseados em suas experiências pessoais. O canal foi a sua fonte da descoberta sobre o feminismo, quando na caixa de comentários os seguidores da youtuber começaram a apontar que seus questionamentos estavam todos relacionados com uma reflexão sobre o papel das mulheres na sociedade e a como se libertar das opressões de gênero, sendo assim, feminista.
No canal, a youtuber aborda temas do cotidiano, discute relacionamentos, música, leituras. Esses temas chegam a reflexões sobre o próprio pé, o formato de calcinhas ou banheiros mal projetados. Segundo a descrição no canal, Não temos tema nem roteiro, ok? Eu só meio que vou falando e vocês meio que vão ouvindo e a gente meio que vai se amando
¹⁰. Mesmo após a tomada de consciência sobre assuntos relacionados, ela não se propunha a discutir apenas o feminismo, mas trazia a temática (questionamentos, problematização) imbricada nesses vídeos sem roteiro, como define. Essa informalidade na abordagem dos temas fez com que o canal tivesse seu próprio grupo de fãs, que, pela noção de intimidade e senso de comunidade, denominam-se Família. Eles dedicam à youtuber, além de um canal próprio no YouTube, páginas no Facebook e perfis no Snapchat, Instagram e Twitter.
Mulheres dominam esse tipo de vlogs com conteúdo mais pessoal no YouTube atualmente. Em estudo realizado em 2006 pela pesquisadora canadense Heather Molyneaux (2008), foram identificados 1.028 vlogs de língua inglesa, que revelaram aspectos interessantes de produção e recepção desse produto audiovisual por gênero. Uma das constatações é que as mulheres postam duas vezes mais vlogs que interagem com a comunidade do YouTube, têm mais acessos e são responsáveis por 60% desses vídeos de conteúdo pessoal. Os vlogs mobilizam, basicamente, conteúdo gerado por usuário (user-generated content, UGC, na sigla em inglês), transformando-se em uma forma emblemática, mesmo que não seja nova, de participação no YouTube.
Diante disso, o YouTube se configura, desde o seu surgimento, em 2005, em um espaço de fácil acesso a pessoas e grupos que buscam maior visibilidade e representatividade e tem possibilitado o diálogo em torno dessas representatividades. Devido à facilidade e abertura a qualquer pessoa com acesso à internet, é notório que também existem muitos canais com teor conservador e preconceituoso. Porém, paradoxalmente, é essa mesma facilidade e abertura que permite a apropriação por parte dos sujeitos que estão querendo fazer outra discussão, que inclui uma diversidade e representatividade maior. Juharz (2008, 2009) chama isso de nichetube, ou o YouTube de nicho, e considera que esses canais e seu conteúdo só reverberam em um público específico, o que mostra que esse é um espaço de popularização, não de democratização. Essa noção até pode ser contestada se pensarmos na grande proporção de haters ou de perfis mais críticos, que não se alinham ou concordam com esses pensamentos, mas fazem de questão de consumir esse