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O Filho de Madama Butterfly
O Filho de Madama Butterfly
O Filho de Madama Butterfly
E-book205 páginas2 horas

O Filho de Madama Butterfly

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Sobre este e-book

Uma sequência indepedente da ópera de Giacomo Puccini, Madama Butterfly. Essa história do filho do Capitão Pinkerton da Marinha Norte Americana e de Cio-Cio-san, uma jovem de quinze anos com quem o capitão manteve um relacionamento por contrato durante seu serviço em Nagasaki. Tendo sido criado nos Estados Unidos, Tom descobre sobre sua mãe japonesa apenas aos vinte anos de idade. Pertubado e confuso, o jovem segue para o Japão em busca de sua alma japonesa. Lá, na terra do sol nascente, encontra amor no Distrito de Gion em Kyoto, mas um magnata da indústria implacável, que declara a jovem maiko como sua protegida, sente-se desonrado com o romance do estrangeiro e declara apenas suas mortes o satisfarão.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de jan. de 2021
ISBN9781071585016
O Filho de Madama Butterfly
Autor

Harlan Hague

Harlan Hague, Ph.D., is a retired history professor. He has traveled around the world, visiting sixty or seventy countries and dependencies. He has published history, fiction, travel and prize-winning biography. His screenplays are making the rounds. More at http://harlanhague.us

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    O Filho de Madama Butterfly - Harlan Hague

    Butterfly’s Child

    Um romance

    Harlan Hague

    Traduzido por Camila Moreira

    Graycatbird Books

    Copyright © 2017 por Harlan Hague

    ––––––––

    Butterfly's Child está protegido por direitos autorais. Todos os direitos são reservados. Este livro não pode ser copiado, digitalizado, impresso ou masterizado digitalmente para revenda. Pequenos trechos podem ser citados para uso em promoções, revisões e para fins educacionais, com o devido crédito ao autor. Para obter permissão para outros usos, entre em contato com o autor para obter uma autorização por escrito.

    Esta é uma obra de ficção, baseada em eventos reais e fictícios. Os nomes de cidades, locais e eventos reais são mencionados, mas muitos outros eventos e locais foram inventados pelo autor. As semelhanças entre os personagens da história e qualquer pessoa, viva ou morta, são coincidências, exceto quando pessoas reais são incluídas como parte da linha da história e tratadas de modo fictício.

    Donna Yee desenhou a capa.

    O amor é composto de uma única alma que habita dois corpos.

    Aristóteles

    O amor é uma doença mental séria.

    Platão.

    Prólogo

    Há muito tempo a história de Cio-Cio-san, a jovem artista japonesa e o tenente Pinkertons da Marinha dos Estados Unidos, imortalizados na ópera Madama Butterfly de Giacomo Puccini, me fascina. Assisti a obra pela primeira vez em Nova York e fui profundamente abalado pelo final trágico. Conheço um pouco da história e da cultura japonesas, e entendo por que Cio-Cio-san optaria por tirar a própria vida, mesmo que pelas próprias mãos.

    Assisti à ópera de novo em Londres, com certa relutância. Por que alguém iria querer revisitar a tragédia, ainda mais como forma de entretenimento? Mas minha colega nunca tinha visto e queria muito assisti-la, e eu não podia recusá-la.

    No final, saí do teatro com um humor tão sombrio que minha colega perguntou se eu estava doente. Respondi que não estava doente, e que apenas me sentia um pouco mal-humorado, uma resposta boba, na verdade, e pedi licença para voltar ao meu hotel.

    Sentei-me sozinho no salão do hotel diante da lareira, com um copo de vinho e observei as brasas, tentando entender o que havia acontecido no teatro. A resposta de repente ficou clara. Foi como abrir a porta de um quarto escuro e deixar entrar a luz.

    A verdadeira tragédia da história não é a morte de Cio-Cio-san, mas o destino de seu filho. O que aconteceu com a criança? Como era a vida dele, privado do amor de sua mãe e quase não reconhecido por seu pai?

    Naquele momento, decidi que precisava descobrir sobre o destino da criança. Eu havia me aposentado a pouco tempo da academia e submetido, no mês anterior, meu último manuscrito à editora. Estava em busca de em um novo tema de pesquisa, mas ainda não havia iniciado. Isto ficaria para depois.

    Consultas ao Departamento de Pessoal da Marinha dos Estados Unidos revelaram que Pinkerton havia morado com sua esposa americana em Los Angeles e se aposentado ao fim de sua carreira naval. Busquei por seus registros públicos na cidade, encontrei um endereço, mas nenhum Pinkerton. Os vizinhos disseram que a família havia se mudado anos atrás e que haviam perdido o contato.

    Alguns lembravam-se da criança, um garotinho bonito, brilhante, popular entre as crianças da vizinhança, e sensível a qualquer menção de sua descendência mista. Os que estavam dispostos a falar sobre o assunto disseram que nunca haviam questionado ele ou seus pais sobre a identidade de sua mãe.

    Um vizinho tagarela apontou que seu próprio filho conhecia o rapaz da faculdade, pois frequentaram a mesma turma na Universidade do Sul da Califórnia. Isso ocorreu depois que os Pinkertons haviam se mudado. O escritório de registros da USC era relutante em fornecer informações sobre alunos e ex-alunos a um estranho, mas graças a minha posição na comunidade acadêmica, os convenci a me dar algumas pistas.

    As pistas me levaram por um caminho tortuoso até o destino que eu procurava. Encontrei um endereço de Thomas Pinkerton. Escrevi para ele, mas sem nenhuma resposta. Após uma longa espera, decidi que ou era o homem errado, ou o homem certo que queria se pronunciar sobre o assunto.

    Então a resposta veio. Ele reconheceu que era filho do tenente Pinkerton, mas questionou meu interesse no descendente do tenente.

    Contei a ele sobre meu fascínio pela história da ópera e que a tragédia de seu nascimento me assombrava, que estava obcecado. Eu precisava saber o que havia acontecido com ele. Precisava saber a verdade.

    A verdade? Não se deve procurar a verdade na obra de Puccini, ele comentou. Eu quase pude sentir a intensidade da ira em suas palavras. Puccini não tinha interesse pela verdade, segundo ele. O dramaturgo queria apenas contar uma história bonita para entreter, para divertir. Você quer buscar a verdade?

    Sim, eu disse. Eu preciso saber a verdade!

    Ele concordou em me encontrar.

    Capítulo 1

    Ele abriu os olhos, se perguntando se ainda estava sonhando.

    Sentado em uma pequena sala com paredes de painéis de madeira. Parecia tão real. O chão de tatami era uma costura firme de tapetes de um e oitenta por um metro de grama de junco e palha de arroz; cada um arrematado com uma borda de tecido preto e amarrados com barbante. O silencioso quarto, tão quieto, o fazer imaginar ouvir a batida do próprio coração.

    Um delicado baú de madeira esculpida repousava na parede atrás dele. Ao lado do baú, um pequeno tokonoma – um pequeno recuo na parede. Um rolo de caligrafia delicada pendia sobre a parede ao fundo do recuo.

    No chão do tokonoma, sob o pergaminho, havia uma pequena tigela preta envernizada. Ao lado da tigela, um arranjo de galhos, folhas e flores frescas era exibido em um vaso não pintado.

    Tom estava sentado no chão, com as pernas cruzadas, diante das portas shoji abertas feitas de madeira natural e painéis de papel de arroz. Vestia um yukata, um quimono de algodão leve para o verão, decorado com kanjis que desejavam ao usuário uma vida próspera e feliz. Além das portas, uma estreita passagem de madeira polida percorria o comprimento da sala. Mais adiante, um pequeno e bonito jardim fechado por uma alta cerca de ripas verticais, desgastadas pelo tempo.

    O jardim poderia facilmente estar no campo e não nos limites de um distrito comercial de uma movimentada cidade portuária. Apesar da localização, o ambiente era silencioso. O único som provinha do raso riacho que borbulhava sobre pedras até a lagoa ao fundo do jardim. Uma dúzia de coloridas carpas koi deslizavam preguiçosamente na água clara, emitindo ondulações fracas que quase não perturbavam a superfície vítrea. Um bosque de três carvalhos silvestres em miniatura jaziam em frente a cerca de ripas. O chão que descia da cerca até o riacho e lago era um arranjo cuidadoso de pedras e musgo.

    Ele fechou os olhos. Estou meditando, ou o sono perdido está finalmente vencendo? Abriu os olhos e balançou a cabeça. Uma onda de emoções tomou conta de si. Raiva, abandono, desesperança. Culpa. Esperança. Balançou a cabeça novamente, olhou para a lagoa, cerrou os olhos, abriu-os e viu o jardim novamente.

    Havia se passado apenas seis semanas desde que conversou com o cônsul? Parecia mais seis anos ou seis vidas.

    O Grande Despertar, como o professor de história havia chamado. Um fervor religioso que varreu a Europa e as colônias no início do século XVIII, quando os olhos, há muito fechados, se abriram, revelando novas ideias e novas oportunidades. Ele havia deixado a aula às pressas, enfiando os livros na mochila e vestindo o casaco. Sempre olharia para este dia por muitos anos, maravilhado com a coincidência.

    Ele subiu correndo as escadas em direção ao anfiteatro, seguindo alguns outros retardatários. Atravessou as portas duplas e entrou no anfiteatro. A enorme sala estava lotada. Todas as 200 cadeiras do local, ocupadas. Tom juntou-se à multidão que ladeava as paredes. Ele era membro da Liga Japonesa-Americana da Universidade do Sul da Califórnia e recebeu seus comunicados, mas só havia lido sobre o orador do evento desta noite naquela manhã.

    Daniel Sharpless não era uma figura particularmente notável no serviço diplomático dos Estados Unidos, mas havia sido o cônsul americano em Nagasaki por doze anos. Diziam que conta histórias interessantes sobre o exótico Japão. A cidade litorânea no sul do Japão era um porto de escala para navios mercantes e de guerra americanos, e Sharpless costumava servir como contato e intermediário quando os visitantes americanos precisavam de orientação.

    O cônsul era um bom orador e a plateia, principalmente os alunos, permanecia atenta. Falou sobre o Japão de modo geral, mas focou em Nagasaki. Descreveu a vida da cidade e de seus habitantes, apontando em particular o que era diferente e intrigante. Ele discorreu sobre as relações entre visitantes americanos e moradores locais. Seu discurso era tão refinado que ficava óbvio que falava com frequência sobre suas experiências em reuniões como esta.

    Ao final da apresentação, uma dúzia de membros da plateia correu para o pódio a fim de conversar com Sharpless e pegar uma cópia de seu livro. Ele ficava feliz em assinar o nome de quem o comprador indicasse. Pague no lobby, ele instruiu.

    Outros seguiram para o terraço, onde as mesas ofereciam ponche, vinho e doces folheados. Tom pegou um copo de vinho tinto e caminhou até o parapeito. Tomou um gole do vinho, apoiou-se no corrimão e olhou o pôr do sol; o brilho dourado escapando por acima das palmeiras e dos prédios do campus, que rapidamente se tornavam meras silhuetas.

    Ele levantou a taça e terminou o vinho. Precisava conversar com o cônsul. Ao se virar, quase colidiu com Sharpless.

    – Lindo, não é? Pena não podermos ver aproveitar mais – o cônsul disse.

    Tom franziu a testa, então relaxou, e sorriu – Ah, o pôr do sol, sim, sim, é lindo.

    – Kanpai – Sharpless disse, erguendo o copo.

    – Perdão?

    – Saúde.

    – Ah, sim, obrigado – Tom levantou o copo vazio e brindou com Sharpless. – Gostei muito da sua palestra. Foi a primeira vez que ouvi algo sobre Nagasaki em anos.

    – Você conhece um pouco sobre Nagasaki? A maioria das pessoas com quem converso sobre minhas experiências diplomáticas acha que atuei como cônsul em algum planeta nos confins do sistema solar – Sharpless sorriu. Olhou para o lado e viu uma jovem inquieta o observando, segurando um livro e uma bolsa pendurada em seu ombro.

    – Eu não – Tom começou – embora tenha passado anos desde a última vez que conversei sobre isso.

    Sharpless voltou-se para Tom.

    – Meu pai era da Marinha – Tom apontou. – E o navio dele atracou em Nagasaki. Ele nunca falou muito sobre isso. Acho que pensou que eu não estaria interessado. Talvez eu não estava mesmo na época.

    – Talvez eu o conheça, se estive lá quando o navio dele atracou. Qual é o nome dele?

    – Pinkerton. Tenente Pinkerton.

    Sharpless recuou como se tivesse sido atingido por um raio – Tenente Pinkerton... Tenente... Benjamin... Franklin... Pinkerton?

    – Sim, esse é meu pai. Chegou a conhecê-lo?

    – Qual é o seu nome?

    – Tom. Tom Pinkerton.

    Sharpless balançou a cabeça. – Desculpe, este é o meu terceiro copo. Tomei um antes de nossa conversa. Fortificado, sabe. Onde está seu pai?

    – Ele faleceu.

    – Ah. Meus pêsames. Hmm – olhou ao redor. – Tom, vamos...

    – Desculpa interromper, mas... – a jovem que estava pairando atrás de Sharpless se aproximou dele. –Tenho que ir embora e queria muito, muito mesmo, pedir para o senhor assinar minha cópia do seu livro – ela olhou para Tom e sorriu. – Desculpa.

    Tom acenou para ela.

    Sharpless pegou o livro e a caneta que ela segurava, abriu a capa e olhou para a jovem. – Seu nome é?

    – Nancy Bannon – ela suprimiu uma risadinha.

    Sharpless rabiscou uma nota na página de rosto do livro e assinou. Ele sorriu, entregou-lhe o livro e a caneta. – Obrigado por comprar o livro. Espero que goste.

    Ela pegou o livro, a caneta, e recuou, dançando e sorrindo. – Muito obrigada – ela disse para Tom, ainda balançando. –  Desculpa, desculpa – ela se virou e correu pelo terraço, agarrada ao livro e a bolsa de ombro.

    – Tom, vamos chegar um pouco para lá – Sharpless apontou para o terraço, afastando-se das mesas e das conversas sem fim dos clientes.

    Os dois caminharam para um canto tranquilo do terraço e pararam no parapeito. Sharpless olhou para os arbustos escuros abaixo, virou-se para Tom, sem sorrir, sóbrio. – Sim, eu conhecia seu pai. Quando ele faleceu?

    – Quando eu tinha quinze anos, cinco anos atrás.

    – E sua mãe? Onde ela mora?

    – Ela mora em Santa Bárbara. Bem, não é minha mãe. É minha madrasta. Minha mãe morreu apenas alguns meses depois que eu nasci. Nunca cheguei a conhecê-la.

    – Ah. Hm, diga-me... conte-me sobre sua mãe.

    Tom franziu a testa. Minha mãe? Estamos falando do meu pai. – Ela e meu pai não eram casados. Ele a conheceu em San Diego. É onde ele estava morando na época. Ele me disse que a amava. Isso em si já significou muito para mim.

    – San Diego. Hmmm – Sharpless apoiou-se no corrimão e, por um longo momento, observou a escuridão. Tom começou a se questionar se Sharpless havia ficado entediado com a conversa.

    O cônsul endireitou-se e virou-se para Tom. – Há algo que você precisa saber. Eu não diria isso se seu pai ainda estivesse vivo, mas você tem o direito de saber.

    Tom franziu a testa. Ele deveria responder?

    – Tom, sua mãe não morava em San Diego. Você não nasceu em San Diego.

    – Como assim?

    – Escute. Isso pode parecer bizarro para você, mas escute. Você não nasceu em San Diego. Você nasceu no Japão, em Nagasaki. Sua mãe era uma jovem japonesa de quinze anos. Seu pai e ela tiveram uma espécie de cerimônia de casamento. Tudo foi providenciado por um consultor de casamentos.

    Tom inclinou a cabeça. – O que está dizendo? O que você sabe sobre mim? Quem teve uma cerimônia de casamento?

    – Seu pai e uma jovem gueixa.

    Tom franziu a testa, olhou para o lado e depois para Sharpless. – Tem certeza de que está falando do meu pai?

    – Escute, por favor. Seu pai alugou uma casa no litoral com vista para a baía de Nagasaki. Ele passou todas as suas horas de folga lá. Ele e Cio-Cio-san – era como seus amigos a chamavam – pareciam felizes juntos,

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