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Maré Escura: Os Mistérios de Adrien English 5, #5
Maré Escura: Os Mistérios de Adrien English 5, #5
Maré Escura: Os Mistérios de Adrien English 5, #5
E-book369 páginas5 horas

Maré Escura: Os Mistérios de Adrien English 5, #5

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Sobre este e-book

Como se a recuperação da cirurgia cardíaca sob o olhar de sua família excessivamente protetora não o exasperasse o suficiente, alguém continua tentando entrar na livraria de Adrien English. O que esse determinado intruso da meia noite está procurando?

Quando um esqueleto de meio século cai da parede no meio da renovação da Livraria Capa e Espada, Adrien se volta para o ardente e bonito ex-amante Jake Riordan - agora fora do armário e trabalhando como detetive particular.

Jake está muito feliz por ter motivos para ficar em contato com Adrien, mas há mais surpresas no passado de Adrien do que qualquer um espera - e uma dessas surpresas pode ser prejudicial ao próprio coração de Jake.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de abr. de 2021
ISBN9781071597569
Maré Escura: Os Mistérios de Adrien English 5, #5
Autor

Josh Lanyon

Author of nearly ninety titles of classic Male/Male fiction featuring twisty mystery, kickass adventure, and unapologetic man-on-man romance, JOSH LANYON’S work has been translated into eleven languages. Her FBI thriller Fair Game was the first Male/Male title to be published by Harlequin Mondadori, then the largest romance publisher in Italy. Stranger on the Shore (Harper Collins Italia) was the first M/M title to be published in print. In 2016 Fatal Shadows placed #5 in Japan’s annual Boy Love novel list (the first and only title by a foreign author to place on the list). The Adrien English series was awarded the All-Time Favorite Couple by the Goodreads M/M Romance Group. In 2019, Fatal Shadows became the first LGBTQ mobile game created by Moments: Choose Your Story.She is an EPIC Award winner, a four-time Lambda Literary Award finalist (twice for Gay Mystery), an Edgar nominee, and the first ever recipient of the Goodreads All-Time Favorite M/M Author award.Find other Josh Lanyon titles at www.joshlanyon.comFollow Josh on Twitter, Facebook, and Goodreads.

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    Pré-visualização do livro

    Maré Escura - Josh Lanyon

    Capítulo Um

    Começou, como muitas coisas, na cama.

    Ou para ser preciso, no sofá da sala onde eu estava cochilando desconfortavelmente.

    Em algum lugar, na distância de um sonho muito estranho sobre eu e um certo ex-tenente da polícia da LAPD, surgiu um fraco, e persistente arranhar. O arranhar se infiltrou em meu sonho, e eu deduzi com a vaga lógica do inconsciente que o gato estava afiando suas garras na antiga mesa de meia lua no corredor. Novamente.

    Exceto... que aquela bola de calor magrela sobre meu abdômen era o gato. E ele estava profundamente adormecido…

    Eu abri meus olhos. Estava escuro, e me levou um segundo ou dois para me encontrar. A luz da lua iluminava os aparadores de livro em forma de pirata, na estante. De onde eu estava, eu mal conseguia ver o movimento

    das cortinas na brisa quente de julho, na sala da frente acima da Capa e Espada Livros.

    Eu estava em casa.

    Houve um tempo em que eu pensei que nunca mais veria minha casa novamente. Mas lá estava eu. Eu tinha uma almofada peluda aquecida na minha barriga, um torcicolo no meu pescoço, e - aparentemente - um visitante à meia-noite.

    Meu primeiro pensamento foi de que Lisa havia chamado Guy, meu ex, para dar uma olhada em mim. Esse furtivo raspar não era o som de uma chave; era mais como alguém tentando... bem, arrombar a fechadura.

    Eu rolei para fora do sofá, desalojando o gato adormecido, e cambaleei sobre meus pés, lutando contra a tontura que tinha me perseguido desde minha cirurgia do coração três semanas antes. Eu tinha ficado na casa da minha mãe em Chatsworth Hills, mas eu tinha me dado alta do hospício naquela tarde.

    Se fosse Guy embaixo, ele teria acendido a luz na loja. Não havia nenhuma faixa de luz debaixo da porta. Não, o que havia era um flash ocasional de luz, como se alguém estivesse balançando uma lanterna.

    Eu não estava sonhando. Alguém estava tentando arrombar.

    Tateei meu caminho através da sala escura para o hall de entrada. Meu coração já estava batendo muito forte e muito rápido, e eu senti uma faísca de ansiedade - a ansiedade que estava começando a se tornar conhecida desde minha cirurgia. Será que meu coração estava curado o suficiente para esse tipo de tensão? Enquanto eu calculava se eu podia chegar à Webley no armário do quarto e carregá-la antes do intruso conseguir abrir a porta ou se minha melhor aposta era me trancar no quarto e telefonar para a polícia, a decisão foi tomada por mim.

    O mecanismo de bloqueio virou, o puxador da porta girou, e a porta silenciosamente avançou para fora da estrutura.

    Reagi instintivamente, agarrando a cadeira no fundo do corredor e a joguei com todas as minhas forças.

    – Dá o fora daqui, porra! – Eu gritei sobre o barulho da cadeira fazendo barulho contra a porta e batendo no chão.

    E, surpreendentemente, o intruso deu o fora.

    Não era um sonho. Não era uma leitura errada da situação. Alguém tinha tentado arrombar meu apartamento.

    Eu ouvi o pesado baque de passos, batendo escada abaixo de volta para a loja, ouvi algo quebrando abaixo, e outro estrondo, e, enquanto eu tateava à procura do interruptor de luz na parede, a batida de uma porta distante.

    Qual porta? Não a da entrada lateral da loja, porque eu conhecia esse estrondo particular, muito bem, e certamente não a da porta da frente, por trás do portão de segurança. Não, ele tinha que ter vindo da estrutura ao lado. A livraria ocupava metade de um edifício subdividido, que tinha originalmente, na década de trinta, abrigado um pequeno hotel. A outra metade do prédio havia passado por uma variedade de encarnações comerciais, nenhum dos quais tinha sobrevivido mais de um ano, até que eu finalmente me encontrei em uma posição para o comprar na primavera passada. Estava atualmente no processo caro e barulhento de ser renovado, as duas metades divididas por uma parede de plástico espesso.

    Não grossa o suficiente, com certeza.

    O empreiteiro tinha me garantido que as portas daquele lado eram trancadas com bloqueios de construção, e que era tão seguro como nunca. Obviamente, ele não estava familiarizado com a minha história, e muito menos a história do edifício.

    Debrucei-me contra a parede, tentando recuperar o fôlego, escutando. Em algum lugar na rua, ouvi um motor rugindo para a vida. Não necessariamente o carro de fuga de meu intruso fugindo do local. Esta era uma parte não-residencial de Pasadena, e à noite ficava muito tranquilo e surpreendentemente isolada.

    Houve um tempo em que eu teria intrepidamente, dado uma de Sr. Garoto Detetive, e descido para o andar de baixo para verificar os danos. Isso foi há quatro assassinatos, um tiro, e uma cirurgia cardíaca atrás. Em vez disso eu peguei a arma no armário do quarto, a carreguei, e voltei para a sala da frente, onde as janelas ofereciam um melhor ponto de observação, e peguei o telefone. Os postes jogavam manchas de luz nas calçadas vazias, acentuando as sombras profundas entre os edifícios antigos. Nada movia. Me lembrei de uma linha de Raymond Chandler: As ruas estavam escuras com algo mais do que à noite.

    Finalmente reação me atingiu, e eu deslizei pela parede e disquei 911.

    Eu estava tendo problemas para recuperar o fôlego enquanto eu esperava - e esperava – pelo operador do 911, e eu desejava um inferno que eu não estivesse tendo um ataque do coração. Meu coração tinha sido danificado por febre reumática quando eu tinha dezesseis anos. Um recente surto de pneumonia piorou minha condição, e eu estava na fila para a cirurgia antes mesmo de levar um tiro três semanas antes. Tudo estava sob controle agora, e segundo o meu cardiologista, eu estava fazendo um progresso fantástico. O irônico sobre a cirurgia e, a notícia de que eu estaria envelhecendo meus ossos depois de tudo, era que eu me sentia mortal de uma maneira que eu não tinha sentido nos últimos quinze anos.

    Tomkins caminhou até mim e me deu uma cabeçada delicadamente.

    – Oi. – Eu disse.

    Ele piscou os largos, amendoados, olhos verde-ouro para mim e miou. Ele tinha um miado surpreendentemente tranquilo. Não tão irritante quanto a maioria dos gatos. Não que eu fosse um especialista - nem planejava me tornar um. Eu só estava emprestando a um companheiro de armas uma almofada para dormir. O gato - gatinho, na verdade - também estava convalescendo. Ele tinha sido atacado por um cão há três semanas. Seu restabelecimento era melhor que o meu.

    Eu o acariciava distraidamente enquanto se contorcia em volta e tentava morder meus dedos. Imaginei se era verdade a sabedoria popular sobre o fato de que acariciar um gato baixava a pressão arterial, porque eu podia sentir a desaceleração de meu ritmo cardíaco, acalmando - que era muito bom, considerando o quão chateado eu estava por ser colocado na espera no meio de uma emergência.

    Está certo, não era muito de uma emergência neste momento. Meu invasor já estava certamente muito longe.

    Eu mordi meu lábio, ouvi mais uma vez a mensagem aconselhando-me a ficar na linha que a ajuda logo estaria comigo. Supondo que eu ainda estaria vivo para tomar essa chamada.

    Eu desliguei e disquei outro número. Um número que eu tinha memorizado há muito tempo. Um número que aparentemente exigiria lavagem ácida para ser removido das células de memória do meu cérebro.

    Quando o telefone tocou na outra extremidade, olhei para o outro lado, para o relógio na estante. Ménage-a-trois da manhã. Bem, aqui estava um teste da verdadeira amizade.

    – Riordan. – Jake conseguiu dizer com a voz raspando como cascalho.

    – Uh... ei.

    – Ei. – Eu podia sentir seu esforço para empurrar através da névoa do sono. Ele murmurou. – Como você está?

    Bastante civilizado, dado o fato de que eu não tinha falado com ele por quase duas semanas e estava escolhendo reabrir as linhas de comunicação às três da manhã.

    Eu encontrei-me instintivamente me esforçando para ouvir o silêncio atrás dele; havia alguém lá com ele? Eu não conseguia ouvir sobre o farfalhar de roupa de cama.

    – Estou bem. Algo aconteceu agora. Acho que alguém tentou invadir.

    – Você acha? – E ele estava completamente alerta. Eu podia ouvir os lençóis jogados para trás, o chiado de molas.

    – Alguém tentou arrombar Ele deu o fora, mas...

    – Você está de volta na livraria?

    – Sim. Cheguei em casa esta tarde.

    – Você está sozinho?

    Graças a Deus ele não disse como toda as pessoas diziam. Sozinho? Como se isso fosse absurdo. Como se eu ainda estivesse muito doente para ser deixado por minha própria conta. Jake simplesmente olhou para isso a partir de uma perspectiva de segurança.

    – Sim.

    – Será que o alarme de segurança está desligado?

    – Não.

    – Você ligou para a polícia?

    – Eu chamei nove-um-um. Eles me colocaram em espera.

    – Às três horas da manhã? – Ele estava definitivamente de pé e movendo-se, parecia vestir-se, e eu senti uma onda de alívio culpado.

    Independentemente de quão complicada nossa relação era - e era bastante complicada - ninguém que eu conhecia era melhor em lidar com este tipo de coisas. O que quer que esse tipo de coisa fosse.

    O que eu pensei, dizia mais do que eu percebia.

    A voz de Jake era nítida.

    – Desligue e ligue nove-um-um novamente. Fique na linha com eles. Eu estarei aí em dez minutos.

    – Obrigado, Jake. – Eu disse rispidamente

    Bem desse jeito. Eu tinha chamado, e ele estava vindo para o resgate.

    Inesperadamente, uma onda de emoção - reação – bateu em mim. Um dos estranhos efeitos colaterais da minha cirurgia. Eu lutava por mantê-los à distância, enquanto ele adicionava:

    – Eu estou a caminho. – E desligou.

    ***

    Eu fui para baixo para encontrá-lo, desci as escadas devagar, tomando o meu tempo. De cima, eu tinha uma visão panorâmica do piso da livraria. A caixa registradora parecia imperturbada. Eu podia ver onde a mesa de dos livros em promoção tinha sido derrubada. Do contrário, tudo parecia muito como o normal: as mesmas confortáveis poltronas de couro, mesma lareira falsa de madeira, mesmas estantes de nogueira altas cheias - estritamente com mistérios e novelas criminais - mesmos sorrisos secretos nos rostos pálidos das máscaras Kabuki na parede de trás.

    Destranquei a porta, puxei a porta de segurança, onde ele tinha ajoelhado para examinar.

    – Você não tinha que vir para baixo. Eu teria dado uma olhada por aí e eu iria... – Jake se interrompeu. Ele levantou e disse estranhamente. – Déjà vu.

    Eu não entendi por um segundo, e então eu fiz. Ecos da primeira vez que nos conhecemos; embora conhecer era uma espécie de palavra polida para: transformar-se em suspeito na investigação do assassinato de alguém.

    Despenteado, barba por fazer, eu estava ainda vestindo a mesma calça jeans e estava descalço. Eu tinha jogado uma jaqueta de couro nos ombros. Em parte porque, apesar do calor de uma noite de julho, eu me sentia gelado, e em parte porque eu não queria deleitar ele com a visão da costura de uma cirurgia de coração aberto no meio do meu peito. Não que Jake já não tivesse visto isso quando me visitou no hospital, mas parecia diferente fora do contexto. O buraco de bala no meu ombro estava bastante feio; a incisão a partir da base de minha clavícula para baixo através de meu peito era chocante. Eu achava chocante, de qualquer maneira.

    – Mais uma vez obrigado por ter vindo. – Eu disse sem jeito.

    Ele assentiu.

    Olhamos um para o outro. Estas últimas semanas não devem ter sido fáceis para Jake, e não porque eu lhe pedi para me dar um pouco de tempo, um pouco de espaço antes de tentar descobrir onde estávamos. Ele renunciou ao LAPD, saiu para sua família, e pediu o divórcio para sua esposa.

    Mas ele parecia inalterado. Tranquilizadoramente inalterado. Eu acho que eu temia... Bem, eu não tenho certeza. Que ele estaria atormentado pelo remorso. Por toda sua vida adulta ele lutou para defender aquele armário que ele habitava. Disposto a sacrificar quase tudo para protegê-lo. Tinha a ideia de que ele se sentia como um peixe fora d’água quando a verdade veio à tona.

    Ele parecia ok. Não, vamos ser honestos. Ele parecia muito mais do que ok. Ele parecia... bem. Bem, como se The Chiffons estivessem aqui para cantar um chorus por trás dele. Loiro, imponente, com o encanto rude daqueles que haviam sobrevivido à uma prova de fogo. Ele era magro, uma massa de músculos de aço e ossos poderosos. Talvez houvesse mais prata nas têmporas, mas em seus olhos dourados havia uma calma que eu nunca havia visto antes.

    Sob esse olhar claro e firme, me senti desconfortavelmente consciente. Era estranho pensar que, pela primeira vez em todo o tempo que eu o conhecia não havia nada para nos impedir de estar juntos, exceto, a questão se nós dois realmente queríamos.

    Ele perguntou com naturalidade:

    – Por que o alarme não tocou?

    – Ele não foi definido.

    Um franzir rápido de suas sobrancelhas escuras. Ele abriu a boca. Eu o cortei.

    – Nós não estamos ligando enquanto a reforma ao lado está correndo.

    – Diga-me que você está brincando.

    Ele já sabia que não estava.

    – O município ameaçou me multar porque tivemos muitos alarmes falsos. A equipe de construção geralmente chega antes de abrir a loja, e eles continuavam acionando o alarme. Então eu pensei… até que a reforma esteja concluída...

    Seu silêncio disse tudo - coisa boa, porque eu tinha certeza de que se Jake começasse, nós ficaríamos lá a noite toda.

    – Eu acho que ele deve ter vindo a partir do lado. – Virei-me para liderar o caminho.

    Ele me seguiu através dos corredores das altas estantes. Apontei para o ponto onde um dos expositores tinha sido derrubado.

    – Somente as luzes de emergência estavam acesas, e ele colidiu com elas. – Eu balancei a cabeça para a mesa caída, e a pilha de livros caídos no chão. – E lá.

    Chegamos a parede de plástico transparente dividindo Capa e Espada Livros da outra metade vazia do edifício. Olhando de um lado para o outro como se estivesse olhando através de água turva. Eu mal podia distinguir as escadas e andaimes, como se fossem as costelas de uma fera mitológica. Eu dirigi a atenção de Jake para a fenda de um metro rasgado no plástico, próximo da parede.

    – Bom. – Ele parecia sombrio.

    Eu ficaria feliz em estar errado.

    – O empreiteiro disse que esse lado do edifício estaria garantido com fechaduras especiais. Trancas de construção.

    Ele já estava balançando a cabeça.

    – Olhe para isso. – Ele abaixou-se, empurrando através da fenda no plástico, e eu o segui para a escuridão do outro lado do edifício. Havia um odor estranho e úmido desse lado. Uma mistura de argamassa fresca, madeira nova, e poeira. Nós seguimos o nosso caminho através das barreiras de panos, cavaletes de madeira e misturadores de cimento até a porta na parede distante. Ela se abriu ao seu toque.

    – Ótimo. – Eu disse amargamente.

    – Sim. – Ele me mostrou a tranca no centro da maçaneta. Eu discerni que era colorido, embora eu não pudesse dizer de que cor. – Vê isso?

    Eu balancei a cabeça.

    – É uma tranca de construção. Isso é um bloqueio temporário utilizado pelos construtores em canteiros de obras. Eles são todos iguais, ou quase, o que significa que, se alguém se apodera de uma chave, eles têm uma chave para praticamente todas as fechaduras de construção na cidade.

    – Melhor e melhor.

    Ele fechou a porta e trancou.

    – Do jeito que a segurança está, é praticamente o mesmo que deixar a porta escancarada.

    Eu engoli. Assenti.

    – Quem invadiu pode ter estado observando o lugar e sabia que ninguém estava aqui à noite.

    – Ele não parece ter tocado na caixa registradora.

    – Poderiam ter sido crianças aprontando. – Jake não soou convencido, e eu sabia o porquê.

    – Tentando arrombar meu apartamento seria...

    – Muito agressivo. – Ele concordou. – De novo, eu acho que é provável que tinham a crença equivocada de que ninguém estava em casa. Ninguém ficou aqui à noite durante três semanas, certo? Então era uma suposição razoável.

    Eu absorvi isso.

    – Essa poderia não ter sido a primeira vez que ele esteve rondando por aqui.

    – Verdade.

    – Eu não sei se Natalie iria notar o corte na parede de plástico. Inferno, se Warren esteve pendurado ao redor, eu não sei se ela iria notar um Diabo da Tasmânia explodindo por aqui.

    Meio injusto com Natalie; Jake bufou, sombriamente divertido.

    Repentinamente eu estava exausto. Mentalmente, fisicamente e emocionalmente drenado. Eu não parecia ter muito em termos de força física nestes dias, e esse arrombamento começou a parecer muito mais do que eu poderia lidar.

    Jake abriu a boca, mas parou. Através do vidro sujo de janela da sacada, vimos uma viatura estacionar, luzes piscando, embora não houvesse sirene.

    Antes tarde do que nunca, eu imaginei.

    Depois de um ou dois segundos, Jake olhou para mim.

    – Você está bem? Você está tremendo.

    – Adrenalina.

    – E cirurgia cardíaca. – Ele olhou para o carro branco e preto. Respirou fundo. – Por que você não vai lá para cima? Eu vou cuidar disso.

    Lá estava isso novamente. Essa nova emoção estranha. A menor das coisas parecia me sufocar. Como isso. Jake oferecendo-se para falar com os policiais por mim.

    Exceto que isso não era uma coisa pequena. Jake, que havia escondido sua sexualidade de seus colegas oficiais por quase vinte anos, que tinha sido relutante, inclusive, em deixar que as pessoas soubessem que nós éramos amigos, que tinha quase sucumbido à chantagem e mais, para manter esse segredo, estava se oferecendo para ficar aqui no meu lugar e falar com esses policiais - e deixá-los pensar tudo o que eles quisessem sobre nós e nosso relacionamento.

    Eu não tenho certeza do que era mais estranho: o fato de que ele estava fazendo a oferta ou que eu estava pronto para começar a chorar sobre isso.

    – Eu consigo fazer isso.

    Ele encontrou meu olhar.

    – Eu sei que você consegue. Eu gostaria de fazer isso por você.

    Inferno. Ele fez isso de novo. Tinha que ser porque eu estava excessivamente cansado e ainda abalado pelo arrombamento. Eu lutei para não demonstrar tudo o que estava sentindo em meu rosto e voz, dando um aceno brusco.

    Os policiais, um homem e uma mulher em uniforme, estavam saindo do carro. Virei-me e comecei a voltar através de escadas, cavaletes e andaimes.

    ***

    Eu estava sentado no sofá com o gato dormindo no meu colo quando Jake entrou no apartamento.

    Devo ter cochilado, porque o pequeno ruído da porta fechando pareceu vir como um trovão, na sequência de um vendaval.

    O gato pulou do meu colo. Sentei-me, fechei a boca, limpei os olhos, e quando abri meus olhos turvos, Jake estava sobre mim, parecendo injustamente alerta para as quatro da manhã.

    – Isso foi um gato que eu vi correndo para seu quarto?

    Limpei a garganta.

    – Era isso?

    – Parecia como um. – Ele se sentou no sofá ao meu lado - todo seu tamanho, calor e energia - e cada músculo do meu corpo imediatamente apertou em reação nervosa. Eu não me sentia pronto para... Tudo o que isso era susceptível de ser.

    Eu disse levemente:

    – Talvez o edifício seja mal-assombrado.

    – Pode ser. – Ele parecia estudar o meu rosto com atenção incomum. – A sua queixa de arrombamento foi registrada. Amanhã, a primeira coisa que você deve fazer, é dizer ao empreiteiro para colocar fechaduras de verdade nessas portas. Na verdade, eu aconselho a mudar todas as fechaduras em ambos os lados do edifício.

    Eu balancei a cabeça, cansado.

    – Eu tenho tentado pensar no que ele estava procurando.

    – As coisas normais.

    – Então por que não quebrar a caixa registadora?

    – Uma caixa registradora vazia? Por quê?

    Bom ponto. Nenhum ponto em roubar depois que a entrega no banco tinha sido feita. Eu devia estar mais cansado do que eu pensava. Talvez Jake tenha tido a mesma ideia, porque ele disse:

    – Eu pensei que você estaria na cama por agora.

    – Estou a caminho. Mas eu queria te agradecer...

    Ele disse gravemente:

    – Não precisa. Estou feliz que você me chamou. Eu tenho me perguntando como você está indo.

    Meu olhar baixou.

    – Eu estou bem. – Havia muito a dizer, e ainda assim eu não conseguia pensar em nada. – Estou chegando lá. A pior parte é estar cansado o tempo todo.

    – Sim. – Eu podia sentir ele me observando - vendo através de mim.

    – Jake...

    Quando eu não continuei, ele disse:

    – Eu sei. Eu sei que é pedir demais. Provavelmente muito, embora eu não vou fingir que não estou esperando.

    Perdão. Era sobre isso que ele estava falando. Perdão por um número de coisas, eu imagino. Eu estava falando de algo completamente diferente.

    Eu balancei minha cabeça.

    – Não é. Eu não sei como explicar isso. Não é você, no entanto. Sou eu.

    Ele esperou com essa nova calma, essa nova certeza em seus olhos. Ele estava me esperando largar o machado sobre ele. Eu podia ver isso. Ele tinha esperando por isso desde a última vez que conversamos no hospital e eu pediu-lhe para me dar tempo. Isso é o que ele esperava quando ele respondeu ao meu grito de socorro esta noite - o que ele ainda esperava - mas ele tinha que vir de qualquer maneira.

    Era o amor, culpa ou responsabilidade cívica? Ele foi o melhor amigo que eu já tive - e o pior.

    – Isso não vai fazer sentido para você, porque não faz sentido para mim. Eu sei como eu sou sortudo. De verdade. Eu sei que estou recebendo uma segunda chance, e mesmo que eu me sinto como um merda absoluta, eu sei que estou melhorando e eu vou ficar bem. Melhor do que bem. Isso é o que a meus médicos dizem, e eu sei que eu deveria estar muito feliz e realmente aliviado. Mas... Eu não consigo sentir nada agora.

    Nada de Jake. Não que eu o culpasse. O que ele deveria responder após esse discurso?

    Eu concluí desajeitadamente:

    – Eu não sei o que há de errado comigo.

    – Você sente o que você sente. Você está autorizado.

    Foi ficando mais difícil de seguir em frente. Eu senti que tinha que ser honesto com ele.

    – Eu estava bastante feliz com Guy, mas eu não quero Guy. Eu não quero... Ninguém. Agora mesmo.

    Houve outra pausa depois que ele me ouviu.

    – Ok. – Ele disse.

    Era tão fácil. Eu não tinha certeza se o que eu sentia era alívio ou desapontamento.

    Eu me ouvi dizer, sem jeito:

    – Eu senti como se eu devesse...

    – Entendi. – Havia um tom afiado em sua voz? Ele ainda parecia calmo. Na verdade, ele parecia preocupado. Ele disse: – Por que você não vai para a cama, Adrien? Eu vi bonecos de neve com mais cor em seus rostos. Você precisa dormir. Assim como eu. Na verdade, eu vou passar o que sobrou da noite em seu sofá.

    Eu disse, apesar do meu alívio imediato:

    – Você não tem que fazer isso.

    – Eu sei, Greta. Você quer ficar sozinho. Mas a menos que a sua necessidade de espaço proíba um amigo de cair no sofá, isso é o que eu estou fazendo.

    Eu não tinha a energia para discutir com ele - ou comigo mesmo. Eu balancei a cabeça, me empurrei para fora do sofá e fui para o quarto.

    – Há cobertores no armário.

    – Eu lembro.

    Um pensamento me ocorreu. Parei na porta, voltando-me para ele.

    – Jake?

    Ele estava no processo de puxar fora uma bota. Ele olhou para cima.

    – Sim?

    – Lá embaixo. Com os policiais. Foi tudo bem?

    Pareceu levar-lhe um segundo para entender a minha preocupação. Ele sorriu - o primeiro sorriso verdadeiro que eu tinha visto dele em um longo tempo.

    – Sim. – Disse ele. – Tudo bem.

    Capítulo Dois

    Acordei com a noção de que um gato lambia o meu cabelo.

    – Ugh. – Murmurei. – Não faça isso.

    – Miau. – Tomkins respondeu através de um bocado de cabelo.

    Consegui afastá-lo com a mão, mas ele era tão malditamente macio, tão bom de tocar - mesmo quando começou a lamber os meus dedos com aquela pequena língua áspera. Acariciei e fiz cócegas nele durante um segundo ou dois. Eu lembrei que Jake dormia no meu sofá.

    Balancei as minhas pernas sobre o lado da cama, me dei um par de segundos, e saí pela porta. O sofá da sala estava vazio, cobertores asseadamente dobrados sobre ele.

    Eu parei para escutar, classificando os sons da construção depois a porta, a música fraca da loja abaixo, pensado que Jake poderia estar na cozinha; mas depois de um segundo ou dois, sabia que o apartamento estava vazio.

    E esse era exatamente o modo como eu queria, certo?

    Certamente era.

    Voltei ao quarto, lancei um olhar ao relógio. Dez e trinta da manhã de uma terça-feira. Puta merda. Está certo, eu ainda estava convalescente, e não era como se eu tivesse uma noite tranquila, embora a noite passada tenha sido o

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