Valor Saúde: Proposta e casos aplicados para avaliar sistemicamente a relação benefício x custo das iniciativas de promoção à saúde do trabalhador
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Valor Saúde - Antonio Germano
CAPÍTULO 1
A importância de calcular a razão do benefício-custo de iniciativas em fatores psicossociais e saúde
e segurança no trabalho
Graziela Alberici
Leticia Lessa da Silva Silveira
Antonino Germano
O objetivo central deste capítulo é expor a importância de avaliar as ações em Fatores Psicossociais (FPS) e Segurança e Saúde no Trabalho (SST). Assim sendo, cabe distinguir conceitualmente FPS e SST ressaltando a importância de cada um. Ao mesmo tempo, cabe destacar que se trata de uma questão complexa e multifatorial no qual a exposição aos FPS e questões relativas à SST se influenciam e impactam tanto no trabalhador quanto na empresa. Por fim, o capítulo ressalta a importância de uma abordagem integrada e sistêmica de avaliação de iniciativas para melhoria dos FPS e SST nas organizações.
FATORES PSICOSSOCIAIS NO TRABALHO: CONCEITO, CENÁRIOS E DESAFIOS
Nas últimas décadas ocorreram mudanças significativas no mundo do trabalho e nos meios de produção, que resultaram no surgimento de novos riscos ocupacionais. Aos já conhecidos riscos físicos, químicos e biológicos, as organizações começaram a perceber o surgimento de um novo risco, denominado risco psicossocial. Na década de 1970, na Suécia, a Organização Mundial de Saúde (OMS) realizou um fórum para discutir a influência dos fatores psicossociais na saúde e propor políticas e diretrizes baseadas nesses fatores (WHO, 1976). Um pouco mais tarde, em 1984, na Suíça, foi elaborada a primeira referência para a estruturação de ações do Processo de Atenção Psicossocial, com a divulgação do relatório elaborado pela Organização Internacional de Trabalho (OIT) e Organização Mundial de Saúde (OMS). O comitê que participou do encontro tratou da temática dos fatores psicossociais no trabalho, sua natureza, incidência e prevenção. Segundo este documento, os fatores psicossociais são complexos e difíceis de avaliar, pois dependem da percepção e da experiência do trabalhador e abarcam muitos aspectos. Nesse encontro foi conceituado que os fatores psicossociais consistem nas interações entre o ambiente, o conteúdo, a natureza e as condições do trabalho, por um lado, e as competências, necessidades e características individuais dos trabalhadores, por outro. Portanto, são suscetíveis de influenciar a saúde, o rendimento e a satisfação do trabalhador e impactam na produtividade e competitividade das empresas.
Pode-se definir, portanto, que os fatores psicossociais se referem às interações entre meio ambiente, condições organizacionais e de trabalho e às características individuais e familiares dos trabalhadores (COMMITTEE ILO/WHO, 1986). A natureza desses fatores é complexa e multicausal, pois abrange uma série de questões associadas às próprias características dos indivíduos, tais como gênero, idade, estado civil, escolaridade e estilo de vida, somadas às características do meio ambiente e do trabalho.
Os fatores psicossociais podem ser tanto relativos à proteção quanto a riscos para a saúde do trabalhador e consequentemente, da empresa. O risco psicossocial é o risco que pode comprometer o bem-estar psicológico ou físico do trabalhador, decorrente da interação entre a concepção e a gestão do trabalho, no contexto organizacional e social. Em outras palavras, os riscos psicossociais incluem carga e ritmo de trabalho excessivos, insegurança no emprego, horas de trabalho irregulares ou imprevisíveis, relações interpessoais insatisfatórias, falta de suporte por parte da liderança ou dos colegas, indefinição da função a desempenhar na organização, comunicação deficiente, poucas perspectivas de crescimento na carreira, pobre equilíbrio entre vida profissional e familiar, para citar alguns. Somado a isso, alguns riscos podem ser específicos de determinadas organizações, podendo ser identificados por meio de avaliações regulares, sendo que poderão, também, surgir novos riscos à medida que os locais de trabalho evoluem e se modificam (COX, 1993).
Na União Europeia, devido à alta prevalência de problemas de saúde associados ao contexto de trabalho, com destaque para o adoecimento mental, foram desenvolvidas diretrizes para um programa de gestão de riscos psicossociais no trabalho, nomeado de Psychosocial Risk Management – European Framework. Tal programa visa a estabelecer diretrizes a serem priorizadas na promoção de políticas e práticas de gestão, buscando, ainda, apontar ações que envolvam a identificação dos riscos, possibilidades de intervenção e avaliação dessas intervenções (WHO, 2008).
Para que uma empresa possa fazer a gestão dos fatores psicossociais de maneira eficaz, ela deve primeiramente compreender o que são fatores psicossociais e como eles incidem no contexto laboral e impactam na produtividade, reconhecendo a importância de se investir em programas de gestão nessa área.
Enquanto nos países da Europa, Canadá, Austrália e em alguns países da Ásia se encontram iniciativas e ações estruturadas para identificação de riscos psicossociais e sua gestão, no Brasil ainda há um cenário de pouco reconhecimento e investimento na temática. A Instrução Normativa INSS/dc nº 98 de 2003 descreve os fatores psicossociais no trabalho como percepções subjetivas que o trabalhador tem dos fatores da organização do trabalho (INSS, 2003). A percepção psicológica que o indivíduo tem das exigências do trabalho é o resultado das características físicas, da carga de trabalho, da personalidade, das experiências anteriores e do contexto social do trabalhador.
Entre as mudanças importantes que têm afetado os locais de trabalho ao longo das últimas décadas, incluem-se a globalização crescente e a criação de um mercado livre, avanços no domínio das tecnologias da informação e comunicação, novos tipos de disposições contratuais e de organização do tempo de trabalho e ainda, alterações demográficas importantes (EU-OSHA, 2007).
Em um contexto sociológico mais amplo, a vida profissional é afetada pela aceleração geral do ritmo de vida, que contribui para a intensificação do trabalho, pela constante pressão do tempo, pela multiplicidade de tarefas a serem realizadas ao mesmo tempo e pela necessidade de uma aprendizagem constante para manter a posição no mercado de trabalho. Para além dessas mudanças estruturais e duradouras, a crise econômica atual exerce uma pressão crescente sobre empregadores e trabalhadores para que se mantenham competitivos. Muitas dessas mudanças, quando não são devidamente geridas, são passíveis de aumentar os riscos psicossociais e produzir efeitos adversos no nível da saúde e da segurança.
Essas mudanças preocupam também as lideranças mundo afora. O Inquérito Europeu às Empresas sobre Riscos Novos e Emergentes é uma pesquisa realizada pela Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA; ESENER, 2010), sobre riscos emergentes, dentre eles, os riscos psicossociais. O estudo concluiu que 79% dos quadros dirigentes europeus estão preocupados com o estresse nos seus locais de trabalho. Ao mesmo tempo, menos de 30% das organizações na Europa dispõem de procedimentos para enfrentar o estresse organizacional, o assédio e a violência. O ESENER revelou, ainda, que mais de 40% dos dirigentes europeus consideram que os riscos psicossociais são mais difíceis de gerir do que os tradicionais riscos em Saúde e Segurança no Trabalho (EU-OSHA, 2010). O levantamento demonstrou que existem numerosas organizações com a errônea ideia de que a resposta aos riscos psicossociais é difícil e implica custos adicionais.
Os fatores psicossociais podem ser tanto relativos à proteção quanto a riscos para a saúde do trabalhador e consequentemente, para a empresa. O risco psicossocial é o risco que pode comprometer o bem-estar psicológico ou físico do trabalhador decorrente da interação entre a concepção e a gestão do trabalho, no contexto organizacional e social (COX & GRIFFITHS,