Navegando através dos séculos: A história romanceada da família Guterres, um dos troncos seculares do Rio Grande do Sul
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Sobre este e-book
Neste romance com base em dados históricos, os capítulos não obedeçam à ordem cronológica, muito menos o mesmo estilo literário. Enquanto Marlene centra sua narrativa no aspecto histórico, ainda que romanceado, os relatos de Floriana se apresentam ao leitor revestidos de realismo mágico.
A viagem no tempo – e na história familiar – remonta Domingos de Brito Peixoto, bandeirante paulista, filho e neto dos povoadores de São Vicente, que em 1684 empreende com a esposa Ana de Guerra Prado e os dois filhos o povoamento do sul do país. Com o posterior falecimento do pai e do irmão mais velho, o filho Francisco leva adiante o projeto, sendo responsável pela fundação de Laguna. Fruto da união com Severina, uma índia carijó, gerou Maria de Brito Peixoto. Essa mestiça casa-se com Agostino Guterres, natural do Reino de Valência. O casal é que partirá na aventura de desbravar o Continente de São Pedro, ajudando a desenhar as fronteiras e limites do que hoje conhecemos por Rio Grande do Sul.
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Navegando através dos séculos - Marlene Canarim Danesi
Danesi.
A FONTE
Floriana Danesi Breyer
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Guardador de Rebanhos VIII,
de Fernando Pessoa (Alberto Caieiro)
Florência estava cansada de ficar na Casa Amarela. Esteve ali, atenta, ouvindo a avó e já podia ver as janelas laqueadas, os móveis de jacarandá, os mapas no escritório: tudo tal qual num misto de imaginação e memória inventada. A neta gostava de ouvir as histórias da avó, mas na dose certa; sua atenção já estava do lado de fora, no Cinamomo.
Aproveitando uma das pausas contemplativas da avó, Florência aproveita para dar uma banda
(assim costuma dizer a Baiana), a inesquecível babá de criação de gerações da família: "Florisbela da calça amarela voando as tranças"… E lá estava ela voando as tranças campo adentro.
Florência tem uma estranha e entranhada conexão com tudo que é vivo e também com o invisível. Para sentir melhor onde está, tem o costume de tirar os sapatos e ouvir a terra com a sola dos pés. E neste dia, assim o faz; quer escutar as histórias daquela terra antes de ser Estância de São Braz.
Vai deixando-se guiar pelos sopros do vento Minuano e pelos raios de sol que delineiam caminhos no pasto verde por entre as nuvens. Caminha e corre sem destino certo pelo mato ralo que aos poucos fica mais robusto e levemente adensado. Ali, sapos orquestram grilos, que grilam terras para as cigarras, e uma insistente mutuca que não para de atucanar… Florência começa sentir os pés molhados por uma franja de água. Ah! Este deve ser o Jaguarizinho onde Maria Joaquina se banhava, os jacarés moravam e as cinzas da bisa foram jogadas, pensa em voz alta.
Florência sente sede; fica de cócoras e enche a concha das mãos de água. É uma água fria e cristalina. Sem hesitar, molha o rosto e, enchendo novamente a concha das mãos, banha a cabeça e, em seguida, dá um gole guloso sentindo o gelado escorrer por dentro. Neste instante, seu corpo flameja e começa a sentir cócegas que vão do ventre à boca do estômago e seguem até o pescoço. Murmúrios por dentro, em uma língua rara.
Ainda de cócoras, resolve deitar-se e deixar-se molhar por inteira; fecha os olhos e é submersa pelo sussurro daquelas misteriosas águas.
Os raios de sol, que seguem brincando entre as nuvens, passam a incidir sobre o corpo e suas pálpebras. É quando começam os flashes de memória. Verdadeiras cenas completas delineiam-se na tela mental de Florência. De onde vêm estas rápidas, intensas e distintas imagens? Por instantes, tem medo, quer mover-se e sair correndo dali, mas algo a mantém imóvel, quieta como que a convidando a acalmar-se. Curiosa e magnetizada, Florência trata de respirar fundo, relaxar as mandíbulas e entregar-se. Sua tela mental está preparada e começam as visões novamente; desta vez, mais claras e nítidas: vê mulheres correndo desesperadas; vê cabanas de palha pegando fogo; vê homens chicoteando cavalos e tudo o que aparecesse vivo pela frente; vê esporas e uniformes ensanguentados; vê úteros rasgados e costurados e espermatozoides velozes; vê e ouve árvores caindo e sangrando; vê sinhás lavando roupas brancas nos rios e outras tingidas de pau-brasil; vê flechas e mares pintados de sangue; vê velas tombando e seres de plumas trazendo água; vê onça atacando gado e bolas de fogo abatendo onças; vê feras rasgando a mata e defendendo a cria; vê a solidão da noite, o rastro de estrelas, o calor do fogo e corpos pintados de urucum; vê algodões voando com o vento, mulheres tecendo abrigo e homensredes; vê peixes atrapados, conchas, restos e ossos virando montanhas; vê homens virando pássaros e laguna de patos; vê também uns velhos de pele enrugada de sol dando sopros de vida e sugando feridas da alma; vê o brilho de olhos de jabuticaba recém-nascidos e acanhados sorrisos; sente o peso de cabelos negros e lisos. Sente a pança grande e o ventre cheio; sente o cheiro de diferentes leites e o gosto de diferentes tetas; sente por dentro os anticorpos de amas de leite negro e vermelho; vê uma mancha vermelha na testa da criança e um grito forte: é