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Vícios terrenos
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E-book348 páginas3 horas

Vícios terrenos

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Sobre este e-book

Um médico indeciso planeja fugir com as duas mulheres por quem se apaixonou e assumir a bigamia. Qual será a solução para os seus tantos conflitos terrenos? Esse é o mote do livro 'Vícios terrenos', o quarto romance do escritor Cláudio Guilhon, inspirado pelo espírito Rita de Cássia, que reúne paixões, conflitos pessoais, segredos e descobertas, em uma trama ambientada na França napoleônica do início do século XIX.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de mar. de 2022
ISBN9788556621450
Vícios terrenos

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    Vícios terrenos - Cláudio Guilhon

    Introdução

    Nesta aventura amorosa que se entrelaça nos anos de recessão, na querida França, vemos os principais personagens alheios aos desígnios de Deus, quanto ao matrimônio e a convivência entre os que pedem a atenção pelas dificuldades do dia a dia.

    Neste caso, Jairo, o rico, desprezou como todos os outros os preceitos virtuosos da união. Levou uma vida desregrada até entender que sem o princípio básico do amor não conseguiria atingir a sua sublimação como individuo na caminhada a Deus.

    Queiram saber, caros leitores, que esta obra nada mais traz do que momentos de reflexão aos que desejam um dia amar e ser amado.

    Os capítulos que se seguem trazem o mais puro amor de Deus aos que O procuram.

    Fiquem em paz,

    Da sua amiga,

    Rita de Cássia

    Belém, 27 de março de 2018

    Preâmbulo

    Senhores, quero iniciar meu relato para revelar aos leitores minha história que, durante séculos, ficou no anonimato. Chamo-me Jairo, médico lúcido que, após vários anos de total dedicação ao ser humano, foi confundido como sério opositor da monarquia francesa. Depois de muitos anos largado em uma masmorra, fui deliberadamente jogado a um tribunal injusto e corrupto. Um de meus opositores chamava-se Laurant, antigo amigo e leal confidente que, por disputas de territórios e do amor a pequena Clarisse, decidiu romper nossa pura amizade e prosseguir com um vultoso espetáculo de somatórias desavenças, tanto na forma de palavras, como nas ideias.

    Os ideais do império se resumiam em guerras de conquistas. Napoleão Bonaparte possuía extensas áreas conquistadas, nosso imperador já demonstrava ser um gênio militar. Diziam que tudo que Bonaparte planejava era adquirido através de glorioso pensamento de conquistador. Nossas casas eram invadidas com frequência à procura de doações para o exército francês. Tudo decorria com imensa naturalidade, mas o ódio dos camponeses e demais aviltados se transformou em revoltas, todas prontamente abafadas pelo exército napoleônico.

    Era uma época de conquistas, mas que, para mim, sobrou ódio e conspiração. Acompanhem o desenrolar desta história esquecida nos tempos com amor e ódio andando de mãos dadas.

    ***

    Numa tarde chuvosa da Rue La Viete, na Paris do século XIX, chegava à minha residência uma pequena comitiva oriunda da região Normanda. Naquela ocasião, tarde da noite, atendi o grupo sob o propósito de logo se retirarem após a primeira consulta. Era um homem doente, chamava-se Antone, com seus cinquenta e poucos anos, e era forasteiro. Diziam que vinham da região onde seria a atual Lituânia. Nela sofrera duro golpe de enxada e lhe abriu uma ferida profunda na perna direita.

    − Calma, senhor Antone, chegamos ao ferimento agora − desmontei toda a faixa de pano que continha o sangue e logo fui envolvido pela trama do grupo.

    − Senhor, queremos silêncio, não diga nada que nos viu − falou um deles.

    − Serei mudo, não se preocupem.

    Após o curativo com medicamentos, o grupo se retirou na noite deixando-me com dúvidas. Denunciar ou não aqueles rebeldes, eis a dimensão do sofrimento. O bem ou o mal.

    Noite de confissão

    − Senhorita Clarisse − gritou o mordomo. − Aguarde, o senhor Jairo irá recebê-la em breves momentos. Sente-se mademoiselle.

    − Obrigada, Gaston, estou lisonjeada com sua recepção.

    − Não há do que, meu patrão a espera ansiosamente há alguns dias, ademais, a senhorita será cortejada por seus belos dotes.

    − Não fale assim, Gaston, verá que ele desconfiará do seu disfarce.

    − Minha irmã, não há como ele desconfiar, somos parecidos, mas suas origens não confundirão o senhor Jairo. Ele sabe que descende de nobres da região balcânica, e eu, pobre estalajadeiro das soturnas estradas que ligam a Paris.

    − Irmãos de sangue, mas de pais diferentes, sabemos disso.

    − Não fale mais nenhuma palavra, logo o senhor Jairo aparecerá − disse Gaston.

    − Senhorita, que belos momentos a trazem aqui − falou o anfitrião.

    Jairo provinha de uma família abastada, formou-se médico experimentador e ruiu em tédio desde que sua companheira o abandonou. Mas agora revigorava-se com a presença da jovem Clarisse. Certa noite, sufocado foi pela respiração interrompida, acordou de um sonho que o alertava sobre novas aventuras amorosas. Contudo, logo voltou a dormir, acreditando que se tratava de puro pesadelo.

    − Gaston, traga minha harpa, tocarei para a visitante.

    Jairo tinha 32 anos, cabelos loiros e traços afilados com nariz pontiagudo. Aprendeu a dedilhar as cordas com o professor Ariston, velho amigo de seu pai.

    − Aqui senhor, o que deseja mais?

    − Clarisse, diga para sua criada aguardar fora do aposento; quero dedicar toda minha concentração à bela música que irei tocar.

    − Claro, senhor. Ornélia, deixe-nos a sós.

    Com este pedido o casal se aproximou um do outro. Com um leve toque nas mãos da senhorita Clarisse, Jairo, ofegante, disse:

    − Querida, quanto tempo espero por esse momento. Você recebeu meu recado e veio ver esse amigo que roga uma chance para vê-la.

    − Não seja dramático, senhor Jairo, sabe que na minha última visita, há três semanas, deixei indicativo de vir vê-lo novamente. Aliás, faz alguns dias que recebi a sua carta, seu fiel escudeiro e amigo Laurant avistou-me próximo a minha residência e a entregou com elogios e galanteios.

    − Não me diga. Laurant, velho amigo, incapaz de me trair.

    − Veja, Jairo, já não posso esconder meus sentimentos com você, traga-me uma proposta séria e avisarei meu irmão, que tem minha tutela, do seu interesse. Só assim poderei dedicar-me aos seus intentos.

    Com isto, a moça se levanta e dá as costas para o impressionado anfitrião.

    − Você quer um compromisso?

    − Sim, mais que qualquer compromisso, não poderei visita-lo sem ser notada. Meus pais vigiam a casa na qual meu irmão me acolhe, mandam olheiros para seguirem meus passos. Apesar de idosos, não me deixam livre para sair por aí, sem rumo. Querem ter certeza que serei bem casada, de preferência com alguém de posses.

    − E o amor? − perguntou o atônito Jairo.

    − Isto é o que mais me importa. Atire-se em um penhasco e irei atrás de você.

    Jairo, sem palavras, ajoelha-se e pede:

    − Meu amor, Clarisse de Sabour, quer ficar comigo até o fim dos seus dias?

    A jovem vira-se para o homem e, com um sorriso esnobe, fala:

    − Serei sua mulher desde que venha ao meu castelo na região de Avignon e peça aos meus pais a minha mão.

    Jairo se levanta com alegria e chama seu mordomo.

    − Gaston, chame a criada da senhorita Clarisse. Diga que logo partirá para a casa de seus pais em Avignon e em breve seguirei seus passos.

    − Perfeito, senhor, quer algo mais?

    − Sim, logo farei bodas com a senhorita Clarisse.

    O mordomo saiu em disparada para atender seu patrão.

    − Clarisse, eu a amo, nunca me senti assim.

    Com esta apaixonada declaração, e sem os olhares da criadagem, ele beija ardentemente a jovem.

    Os planos

    − Laurant, meu amigo, me ajude, preciso imensamente de você, só conto com você.

    − Diga − respondeu Laurant.

    − Já não durmo direito, irei em breve à casa dos Sabour, pais de Clarisse, pedir sua mão em casamento.

    − Qual é o mal, não está seguro do que irá fazer?

    − Sim e não − respondeu Jairo.

    − Como? É uma bela jovem, há de estar apaixonada por você.

    − Antes quero que vá à sua casa, próxima a Paris, e fale com seu irmão, ainda desconhecido por mim, e peça para que me ajude a desvendar todo meu amor por sua irmã.

    − Está bem, me diga o endereço e haverei com ele.

    − Obrigado, sabia que contaria com sua amizade.

    Prestes a partir para o endereço indicado, Laurant olha para Gaston e fala:

    − Não acha que vocês estão indo longe demais? Seu patrão, quando descobrir a trama, vai enforcá-los.

    − Não diga, senhor Laurant, Clarisse também o espera no endereço indicado.

    A carruagem de aluguel parte em direção aos arredores de Paris, contendo uma carta de apresentação ao irmão de Clarisse, Julien, jovem de dotes duvidosos para a época, pois vestia-se como nobre, mas agia de forma suspeita quando o tema era orgias e mulheres. Por um lado, era um rapaz aparentemente calmo; por outro, um verdadeiro devasso das rodas alegres da cidade. Julien era garboso, mas durante a noite transformava-se em um alegre e destemido mulherengo. Não gostava de Gaston, seu meio-irmão, mas estava cheio de certeza que poriam as mãos na fortuna de Jairo, deixada por seus pais, já falecidos. Nela podia-se contar com vários imóveis de aluguel e uma pequena frota de barcos de comércio que traziam especiarias e produtos do oriente. Tudo administrado por ele e seu amigo Laurant, este sabedor de contabilidade e negócios. Um verdadeiro irmão que nunca teve.

    − Entre, Laurant, já o esperava mais cedo.

    − Cale-se, hipócrita! Não vê que estão indo longe demais? Como podem querer ir adiante com este plano?

    − Você concordou, meu amigo, com todos nossos termos − falou Julien.

    − Seus termos eram apenas para dar alegria ao meu amigo Jairo, e não tornar Clarisse objeto de total desejo.

    − Ah! Isto foi parte do acordo; não esperava que seu patrão ajoelhasse por Clarisse. Tenho minhas dúvidas a respeito do sentimento do senhor Jairo. Afinal, foi abandonado pela esposa ao saber que ele não queria ter filhos ou ele é estéril.

    − Não fale assim. Jairo não deseja ter filhos. Quer levar sua vida dedicada aos negócios.

    − Ora, negócios passam, a família não − falou o pseudo-nobre.

    − Quer ter moral? Como? O dono da noite apegado a bordéis de luxo da cidade.

    − Não fale assim, senhor Laurant, sabe dos meus hábitos, caros por sinal. O que nos leva a crer que necessitarei de mais ajuda para levar seu plano adiante.

    − Não tenho palavras, só quero o melhor para o Jairo.

    − Ah! Ah! Ah! Blasfêmia! Mentiroso − gargalhou Julien.

    − Saia da minha frente, aqui está a carta de Jairo para você. Ficarei de olho, aviso que Clarisse tem que acabar com esta tramoia. Seus pais não vão aprovar esta farsa − bradou Laurant.

    − Veremos, temos um compromisso contigo. Daremos seu amigo de volta, mas com a condição de sermos sócios nos seus intentos.

    − Cale-se! Não lhe suporto, ages por dinheiro.

    Com isto, Laurant sai batendo a porta do sobrado da Rue Leon e pensa: Bastardos impuros, como podem levar tal plano ao final. Vou dar um jeito neles. Saiu pelos becos escuros da velha Paris em direção ao Sena, parando numa casa suspeita.

    − Diga, senhor Laurant, o que deseja a esta hora da noite? − perguntou o senhor Alivert.

    − Salve-me, tenho planos de destruir uma família que está prestes a se formar.

    Os dois sentaram-se à mesa a cochichar, detrimento do casal Clarisse e Jairo.

    Amanheceu um belo dia. Jairo, muito alegre e disposto, resolve atender alguns doentes em casas próximas e fazer de tudo para curá-los.

    − Senhora, passe esse unguento nas pernas de seu esposo e ele logo voltará a andar.

    − Senhor Jairo, quanto lhe devo?

    − Nada, senhora, estou aqui para ajudá-los, mandarei mais ervas para um chá.

    − Que Deus o abençoe, senhor!

    Jairo sai de casa em casa para cumprir sua missão de médico experimentador. Formou-se em Medicina com judeus em sua última viagem ao Oriente.

    − Não diga que o senhor quer partir hoje para casa de Clarisse? − perguntou Gaston.

    − Partirei o mais breve possível. Quero antes estar com o irmão dela. Tenho certeza que ele irá me ajudar no intento de ser aceito pela sua família.

    − Eles não sabem que o senhor desposou outra, mas ela o abandonou?

    − Não tenho segredos, todos já sabem do meu infortúnio. Anriet me abandonou por capricho seu; eu não queria filhos, ela sabia desde o início. Queria apenas viver minha paixão por ela.

    Novas intenções

    Jairo fez as malas colocando em seu interior uma quantidade de moedas para garantir o seu intento de desposar Clarisse. Era o meio utilizado na época para realizar as transações comerciais e especificamente o dote para a noiva. O mais comum era o inverso, mas, no caso de Jairo, já casado e abandonado, seria a única forma de garantir seu desejo.

    − Gaston, apronte o cavalo, irei primeiro à casa de Julien, irmão de Clarisse.

    − Sim, senhor, imediatamente.

    − Gaston, não esqueça de me dar uma garrafa de rum, um presente para Julien.

    − Pois não, senhor.

    Durante a cavalgada, Jairo pensava em ter que dominar a situação quando falasse com Julien.

    Direi a ele de meus intentos e que, se for necessário, o abrigarei em minha casa para demonstrar minhas intenções com Clarisse. Como sou burro! Não posso fazer isto, logo irão querer minha casa.

    Ao chegar à residência de Julien, falou:

    − Amigo, estou aqui para ter uma conversa sincera com você.

    − Claro, senhor Jairo, penso que está cansado, levou duas horas de cavalgada até aqui, segundo relatos de seu amigo Laurant.

    − Sim, Laurant veio aqui ao meu comando, mas o que poderei fazer por você? Sabe que gosto de Clarisse e, por conseguinte, de sua família.

    − Não pode fazer nada por mim; se o senhor quer o meu apoio, o darei incondicionalmente. Já vi Clarisse chorar ao ouvir o seu nome ser pronunciado.

    − Que bom, amigo, conte comigo para tudo.

    Os dois homens apertaram as mãos e Julien disse:

    − Admiro sua perspicácia. Logo seguirei para casa no interior. Falarei com nossos pais a seu respeito. Certamente terá uma boa recepção.

    − Obrigado, Julien, e adeus! Amanhã pretendo ultimar os preparativos para a visita que farei à sua família.

    Após bater a porta, Julien surge no quarto de Clarisse com ar alegre.

    − Pegamos ele − esbravejou a jovem.

    − Certamente, minha irmã. A partir de amanhã você será noiva deste abastado e nós seremos ricos em breve.

    − Não pense assim, ainda teremos que convencer nossos pais que Jairo é um bom homem com boas intenções, apesar de ter sido largado por outra mulher.

    − Cale-se! Teremos o seguinte argumento: diremos que a ex-mulher de Jairo o abandonou por outro homem que a seduziu em plena noite de núpcias. O que acha? Dramático?

    − Claro, meu irmão, é uma boa desculpa. Mas eles não procurarão saber a verdade?

    − Não, pois já me incumbi de espalhar a fantasiosa notícia aos arredores da nossa casa de campo.

    − Glória! Esse é meu irmão.

    Os dois brindaram com um cálice de vinho a sua artimanha.

    Noutro dia, ao despertar, Jairo sentiu uma forte náusea, estava doente, parecia que algo tinha transpassado seu abdômen.

    − Gaston, corra! Não me sinto bem.

    − O que foi, senhor?

    − Traga-me um chá de ervas.

    − Imediatamente − respondeu Gaston.

    − Mande chamar Laurant, acho que o jantar de ontem não me fez bem.

    − Claro, senhor.

    O mordomo saiu correndo, pegou sua túnica e montou a cavalo à procura de Laurant. Tudo em vão. Em poucos minutos, Jairo desfalece. Ao acordar, vê seu amigo Laurant próximo.

    − Jairo, o que lhe ocorreu?

    − Não sei, meu amigo, desmaiei, não passava bem.

    − É a primeira vez que isto ocorre?

    − Na verdade é a segunda. Procurarei repousar por hoje e seguirei para casa de Clarisse amanhã.

    − Deixe-me ajudá-lo, chamarei seu colega Dr. Breton.

    − Não fale nada, logo me recuperarei, foi só uma indisposição.

    Amigos espirituais o observavam. O mal que o atingiu foi um alerta para que postergasse a visita à casa dos pais de Clarisse.

    ***

    − Antônio, fico aflita por nosso filho, está cego por esta jovem − falou Emanuelle, mãe de Jairo na última encarnação.

    − Não podemos fazer nada além disso, seremos avaliados por esta interferência.

    − É para o bem dele − replicou Emanuelle.

    − Sabemos disso, mas o Mestre Jesus exemplificou-nos através de sua conduta que ao homem cabe a benção de seus passos. Não podemos avançar no destino que Jairo está prestes a seguir.

    − E sua esposa Anriet, não podemos ajudá-la a retornar ao seu lar?

    − Não, é uma decisão dela. Jairo não suportaria saber que ela engravidou dele, apesar de seus cuidados, e que em breve será pai.

    − Querido Antônio, roguemos a Deus para que ele proteja nosso amado filho Jairo.

    ***

    A noite chegou e Jairo, já recuperado, decide ficar uns dias em casa para ter certeza de que nada interferiria em sua saúde.

    Novo encontro

    A noite passou lentamente. Em seus sonhos, Laurant é avisado.

    − Saia do caminho de Jairo, ele é seu amigo, mas se o atrapalhar, terá más companhias do lado de cá.

    Assustado, Laurant acordou e pensou: Que pesadelo! Acho que querem me dizer algo. A cigana me avisou que deveria partir daqui e voltar para minha cidade, Nice, mas não aguento ficar só, pobre, sem uma esposa que me respeite. Clarisse! Como a amo, desde que a vi pela primeira vez. Como pude deixar Jairo se apaixonar por ela. Era só para distraí-lo.

    Laurant apaga a vela ao lado de sua cama e adormece novamente.

    − Já é de manhã, acorde, senhor Jairo − falou Gaston.

    − Não estou bem, quero dormir mais um pouco.

    − Patrão, não pode ficar aí. Já é hora de partir para encontrar a mademoiselle Clarisse e sua família. Eles o aguardam.

    − Deixe-me Gaston. Hoje não irei. Partirei assim que me sentir melhor.

    − Como desejar, senhor.

    A porta se fecha e Jairo vislumbra através da janela a beleza de terras que possuía. Tinha um vinhedo próximo onde cultivava as uvas para seu próprio vinho. Tinha descendência de nobres castas de uvas, uma Carbenet da região de Bourdoux. O aroma do campo fazia-lhe bem e ao mesmo tempo pensava em sua esposa que o abandonara. Anriet, onde estará? Com belos traços de uma mulher normanda, cabelos ruivos e pele sedosa, provinha de família rica e desejosa de um bom casamento. Dizia que o amava e nunca o deixaria infeliz e, de repente, em uma noite some para nunca mais ser vista. Já se passaram mais de seis meses e, após intensas buscas em várias localidades, deram-na como desaparecida. Apenas um bilhete dizendo que partira para visitar uma amiga e nada, nenhum vestígio. Fora sequestrada? Estaria morta? Não. Os boatos que se seguiram foi que ela abandonou Jairo, fugiu com um tal de Rogério. Nunca os viu mais.

    − Gaston, decidi dar um rodeio nas terras.

    − O senhor está bem?

    − Sim, prepare meu cavalo.

    − Imediatamente, senhor.

    Jairo monta em seu cavalo brando e inicia um passeio por sua propriedade. Após algumas horas, para próximo da estrada e ouve um cochicho feminino.

    − Mamãe, o que a senhora acha do meu cabelo?

    − Está lindo, minha filha, mas não se gabe, é necessário mantê-lo aparado.

    Vinham na direção de Jairo duas camponesas dialogando.

    − Me desculpem, vejo que estão à procura de algo − falou Jairo.

    − Não, senhor − respondeu Ducete, mãe da jovem Carmina.

    − O que fazem a esta hora, próximo do almoço?

    − Estamos procurando cogumelos silvestres.

    − Então estão do lado errado. Aqui só há uvas plantadas.

    − Desculpe-nos, senhor.

    Carmina olha para Jairo e, com seu ar inocente, o questiona.

    − Aonde podemos colher cogumelos?

    Ao ouvir aquela voz melodiosa, Jairo lembra da sua infância. Ele responde:

    − Não se apressem, podemos conversar

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