Jogando os Dados com a Sorte: Série Jogando os Dados - Livro #4
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Sobre este e-book
Letícia Black
Letícia Black é natural do Rio de Janeiro, nascida no comecinho da década de 90. Seu primeiro livro foi publicado em 2012 e ela não pretende parar. Autora orgulhosa dos livros Contos de Uma Fada, Garota de Domingo, Safira, Toque de Recolher, Monstro, Deserto e da série Jogando os Dados.
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Jogando os Dados com a Sorte - Letícia Black
Este livro encontra-se em sua primeira revisão. Pequenos erros podem ser encontrados e serão corrigidos nas próximas edições, assim como novas cenas serão acrescentadas ao final do livro na segunda edição. Boa leitura e fique atento aos avisos de revisão.
Revisão: Julia Bianca
Diagramação: Letícia Black
© 2016 by Letícia Black
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da autora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.
Para Maya,
Que é tão parecida com Mila que me assusta.
Sumário
Capítulo um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo cinco
Capítulo seis
Capítulo Sete
Capítulo oito
Capítulo nove
Capítulo dez
Capítulo onze
Capítulo doze
Capítulo Treze
Capítulo catorze
Capítulo Quinze
Capítulo dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo dezenove
Capítulo vinte
Capítulo um
Mila
— Ah, não — devia ser a centésima terceira vez que ouvia Tati reclamar de ver eu e o pai namorando.
As coisas estavam indo bem desde o nosso retorno. Nos primeiros dias, nossa filha mais velha, a única que conseguia entender o que estivera acontecendo, parecia bastante feliz com o nosso reenlace, mas, levando em conta que Talles e eu não éramos muito comportados, isso pouco durou. Estávamos reatados há quatro dias e Tati nos pegara nos beijando umas quinhentas vezes — sempre que havia uma oportunidade — e não estava contente. Aquelas coisas chatas de adolescentes.
Talles encerrou o beijo e eu enfiei meu rosto sorridente em seu peito cor de ocre pela camisa aberta de quem voltava de horas cavalgando no sol quente. Minha testa, encostada em sua bochecha, sentiu a movimentação dos músculos quando piscou para a nossa mais velha, que bufou e foi embora.
— Ela está crescendo muito rápido — alertei-o.
Senti-o respirar fundo e levantei a cabeça para olhar para aquele homem que podia chamar de meu. Meu primeiro e único amor que, não importava quantas vezes eu surtava e o levava ao limite, continuava ao meu lado, sem nem se abalar. Como se eu fosse a coisa mais importante em sua existência.
— Ela só tem doze anos — resmungou. — Ainda temos algum tempo até que a gente tenha problemas com garotos.
Ou garotas, pensei. Tinha quase certeza que jamais teríamos qualquer problema com garotos, mas não disse em voz alta. Não achava que Talles fosse aceitar uma situação assim com a mesma facilidade que aceitou minha orientação. Conhecia meu marido o suficiente para saber quais eram seus defeitos. Aquela era uma batalha para acontecer na hora certa, quando fosse preciso enfrentar para defender a felicidade da minha filha. Por hora, só queria curtir a felicidade conquistada à custa de muitos problemas e muitas lágrimas.
— Que bom — concordei, me afastando de seu abraço e gesticulando em sua direção. — Pois veja só o problemão que eu arrumei.
Sentia que o tempo não passava para nós dois toda vez que olhava para o brilho incandescente de luxúria de Talles. Como eu o desejava! E como via o mesmo desejo refletir em seus olhos. Ele sorriu maliciosamente e começou a andar até mim daquela forma ferina que me molhava por inteira. Alcançou-me e levou os lábios até minha orelha, derretendo o que ainda não havia sido derretido.
— Você vai ver o problemão que arrumou na cama — e se insinuou em minha direção, esfregando sua ereção no alto da minha coxa.
Confesso que não estava prestando atenção à promessa clara do mais tarde. Meu corpo gritava por liberação e da minha boca só saiu:
— Agora?
O sorriso de Talles se alargou e estava prestes a me pegar pela mão e me arrastar escada acima em plena luz do dia, mas meu celular resolveu escolher aquele momento para tocar. Ele riu, acostumado com nossas interrupções depois de três crianças. Enrolada, eu peguei o celular e encarei o alarme que tocava. Entrevista brilhava na tela.
Apertei meus olhos enquanto ele me deixava sozinha com minha agitação de correr até o computador para a minha entrevista pelo Skype para falar sobre o pesticida.
Nossa rotina continuou embolada, mas ajustada. Pelas semanas seguintes após nossa reconciliação, dormia por quase toda manhã e tarde. Com Lis para auxiliar com as meninas, escolhia ajudá-las a se arrumar para escola e receber Talles ao final do dia, quando retornava das lavouras da fazenda. O tempo entre esses dois momentos era dormindo. Minha noite era dedicada a Talles e aos nossos namoros e à nossa caçula, Júlia, que era um bebê coruja, acordada por quase toda a madrugada e dormindo por quase todo o dia. Confesso que quando não estava namorando Talles, ficava vigiando o pouco sono de Júlia durante à noite, esperando que ela acordasse para mamar, enquanto ansiava pelo momento que meus peitos voltassem a produzir leite. Não aconteceu. Júlia fez seis meses, começou a exibir pontinhas de dentinhos nascendo, toda a febre e o drama daquele momento tirando minha tranquilidade por completo.
As entrevistas continuavam. O pesticida foi lançado no período e mais da mídia se interessava pelo modo que funcionava e as minhas certificações. Como uma mãe de três filhas conseguiu tempo para ser bem-sucedida e criar, em um laboratório pequeno, caseiro, informal e sem grandes patrocínios, com pouquíssima mão de obra, algo que a indústria química estava atrás há muito tempo. A pergunta foi feita algumas vezes, a maioria de forma grosseira. Respondi que faltava era uma bióloga na equação, além de muito amor e perseverança. Eles pareciam querer encontrar alguma falha na minha história, mas nada havia. Algumas revistas menos profissionais iam mais a fundo e relatavam sobre minha família e houveram notícias sobre meu relacionamento com Talles e minha cotação para ministra do meio ambiente para a campanha de Cael.
Eu não gostava da exposição. Não gostava da atenção que estava ganhando.
— E você queria ser ministra — Talles fez piadinha, porque sempre se aproveitava daquela oportunidade de reclamar do meu comportamento de alguns meses atrás.
Mas ele entendia que meu estresse com aquelas entrevistas era sério e estar estressada me deixava ainda mais estressada, pois acreditava que esse era o motivo de não ter leite para Júlia.
Estávamos deitados em nossa cama no seu antigo quarto, depois daquelas sessões de sexo que limpavam tudo de ruim que eu pudesse carregar dentro de mim e começamos a conversar, abraçadinhos, sobre o que acontecia. Talles estava curioso sobre o entra e sai de jornalistas na fazenda e sobre o que eu conversava com eles quando ele não estava presente. Em meu desabafo, estava reclamando de três entrevistas que saíram naquela semana, uma em inglês, que mencionava meu passado turbulento e o de Talles também, com sua aventura ilegal nos rachas da cidade em que havíamos estudado. Duas em português, uma muito política, destilando venenos para meu pai, Cael e Manu, e outra que diminuía o meu trabalho por ser mulher, com adjetivos muito ofensivos.
— Ah, Talles, não começa — reclamei.
Sabia que ele tinha razão no geral das coisas. Nos últimos meses, eu só tinha cometido mancadas. Primeiro, estava pleiteando uma vaga como ministra do meio ambiente no governo de Cael, se ele vencesse às eleições presidenciais que ocorreriam naquele ano, o que era quase certo. Talles, que sempre respeitou minha individualidade, esteve extremamente zangado e contra aquela decisão. Embora seus argumentos fossem embasados e explicativos, não queria aceitá-los porque achava que ele estava contra o meu sucesso. Deveria ter escutado ele, toda aquela situação tinha custado a minha habilidade de amamentar Júlia e meu crescente nervosismo. Enquanto estávamos tentando resolver esse embate e em uma quase resolução, encontrei Talles na cama com outra. Apesar de jurar para mim que não se recordava do que havia feito, nossa discussão levou Talles para uma internação de vários dias e a desconfiança quase levou fim ao nosso casamento, à minha decisão de aceitar ser ministra e participar ativamente da campanha de Cael e uma mudança com as minhas filhas para a capital. Porém, com a ajuda da minha anja, Drica, minha prima e minha amiga mais confiável, descobrimos que a tal mulher era uma aproveitadora e que Talles e ela nada haviam feito e que aquilo era um raro caso em que o não é isso que você está pensando
era verdade.
Minha dúvida em confiar em Talles quase havia custado nosso casamento, minha felicidade e minha saúde física e mental. Desde o primeiro momento, em que omiti minha indecisão sobre o ministério e neguei suas opiniões sobre aquilo por desconfiar de seu apoio, coisa que jamais me deu motivo para que o fizesse, ele não esteve em outra situação além do que tentar estar do meu lado e me apoiar para tomar a melhor decisão. E eu perdi todo o meu controle, levei-o até o hospital e quase deixei-o ir sentindo minha felicidade escapando pelos meus dedos.
— Está bem, está bem — ele riu, me puxando ainda para mais perto e me dando um beijo na cabeça. — Não vamos falar sobre isso, então. Quando é a próxima consulta da Ju? — Apertei meus olhos. De um assunto desagradável para outro. A Júlia tinha uma consulta com o pediatra na semana seguinte. Era de rotina, para checar os dentinhos e tudo mais, mas a menção daquilo me lembrava sobre minha incapacidade de amamentar. Respondi-o com a voz baixinha e vazia. — Ah, Mila, não fica assim — ele apertou meu nariz com seus dedos, me fazendo dar um sorriso imbecil. — Você amamentou duas filhas lindas e inteligentes. A Ju está cada dia mais linda e esperta, também, não tem nada mudando. Talvez a gente tenha que tomar mais cuidado com ela, sim, com aquela questão dos anticorpos, sei lá, nunca entendi muito bem — ri novamente e vi seu sorriso satisfeito nos lábios que tanto adorava beijar. — A gente sabia que a gravidez dela ia ser mais difícil, né? Você não é mais tão novinha.
— Tá me chamando de velha, marido? — Questionei, a bronca misturada com a diversão em minha voz.
— Dificilmente — ele respondeu, também entre a diversão e o medo. — Estou te chamando de experiente. Quando te peguei, era inocente e agora é uma depravada.
E, pronto. Estávamos de volta às sacanagens.
Muitos beijos, lambidas e mordidas depois, estávamos ofegantes na cama. A noite estava alcançando sua metade, o celular estava na cabeceira, sempre pronto para uma emergência de nossas três pequenas. Apesar do ar condicionado ligado, o calor de nossos corpos nos fizera transpirar. Tracei meus dedos pelos ralos pelos no peitoral de Talles, minha cabeça encostada em seu ombro, satisfeita.
Não era incomum que houvessem momentos de silêncio em nosso relacionamento, embora fôssemos ambos muito falantes. Tínhamos alcançado aquele ponto da intimidade que os olhares falavam, que os toques conversavam, que os suspiros eram monólogos gigantescos. Então, não foi surpresa quando suspirei, não um suspiro apaixonado de quem fizera amor deliciosamente há poucos minutos, Talles levantou a cabeça para me olhar, curioso com a diferença.
— Fala — disse, apenas, pois não havia necessidade de fingir que não era nada.
Sorri, um pouco triste. Aquela conversa tinha acontecido há alguns meses e não correra muito bem. Agora, porém, parecia o momento mais certo. Júlia, apesar de não dormir à noite inteira, estava maior — o suficiente para se afastar de mim por uma noite inteira, então também o suficiente para que eu pudesse me afastar por algumas horas em alguma atividade.
— Minha cabeça é uma confusão entre o que faremos no aniversário da Tati e no que eu posso trabalhar agora que as coisas com o pesticida estão diminuindo.
Talles se virou para mim e eu aguardei a tensão em seu olhar, mas ele estava divertido, então sorri. Minha cabeça escorregou para seu braço quando ele esfregou seu nariz no meu e encostou sua boca na minha levemente uma, duas vezes. Soube que ele estivera esperando pacientemente que esse assunto voltasse ao nosso radar, pois me conhecia tão bem. Desta vez, minha teimosia não venceria suas palavras, estava amolecida por nosso embate recente e iria escutá-lo em quase qualquer situação.
— Bom, sobre Tati — ele começou, disfarçando do assunto que temíamos. — Ela não é muito exigente, nunca foi. Podemos fazer uma festa como todos os outros anos.
— Ela é adolescente, agora — eu ri. — Não quer mais palhaço. Se colocarmos um palhaço, os amigos que vão fazê-la de palhaça.
Talles não gostou de ouvir que a filha era adolescente, mas também não queria que ela fosse palhaça. Algumas discussões depois, estávamos chegando a um denominador comum.
— Então teremos um DJ com músicas mais adolescentes — comecei a listar. — Um pula-pula e alguns brinquedos eletrônicos, totó, touro mecânico…
— Essa festa