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Deserto - Volume 2: 2ª Parte
Deserto - Volume 2: 2ª Parte
Deserto - Volume 2: 2ª Parte
E-book592 páginas8 horas

Deserto - Volume 2: 2ª Parte

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Sobre este e-book

O que você levaria para uma ilha deserta?Eles levaram sua maior desavença.Romance erótico - Contém cenas de sexo explícito e palavras de baixo calão.Morena e Gustavo trabalham na mesma empresa de arquitetura e urbanismo. Ela é designer de interiores e ele é arquiteto. Ambos são os melhores profissionais de sua área no escritório em que trabalham e, por esse motivo, acabam pegando um ou outro projeto juntos, embora evitem porque se detestam e não conseguem se entender. Porém, quando o esforço é feito, o trabalho fica impecável: a balança entre o vintage de Morena e o moderno de Gustavo faz com que sejam trabalhos únicos.Por essa questão, ambos acabam de ter o seu último projeto escolhido entre os melhores do ano no Brasil, levando Morena à lista 30 abaixo dos 30 e dando uma levantada ainda maior na carreira dos dois.A empresa resolveu presenteá-los - e aos outros funcionários reconhecidos em premiações - com uma viagem pela costa brasileira e até o Caribe, onde passariam uma semana de luxo, curtindo o Sol, as praias e toda a mordomia, além das duas semanas no barco, durante a viagem.O que eles não esperavam é que, logo nos primeiros dias de viagem, em uma bebedeira, acabassem à deriva, sozinhos, em um bote salva-vidas.E, agora, a sobrevivência dos dois depende deles encontrarem essa balança impecável também em suas vidas pessoais.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de mar. de 2022
ISBN9781526005311
Deserto - Volume 2: 2ª Parte
Autor

Letícia Black

Letícia Black é natural do Rio de Janeiro, nascida no comecinho da década de 90. Seu primeiro livro foi publicado em 2012 e ela não pretende parar. Autora orgulhosa dos livros Contos de Uma Fada, Garota de Domingo, Safira, Toque de Recolher, Monstro, Deserto e da série Jogando os Dados.

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    Deserto - Volume 2 - Letícia Black

    Pela primeira vez desde que desembarcaram naquela ilha, Gustavo e Morena estavam na mata quando escureceu. O caminho entre as praias era um pouco longo e eles acabaram se perdendo um pouco. Gustavo carregava a cesta com a alça transversal e ainda segurando ao redor dela porque ela pesava, o que obrigou Morena a segurar seu braço para que não o perdesse na escuridão. Provavelmente teria ficado com mais medo se estivesse sozinha, mas, de alguma forma, a presença positivista de Gustavo, mesmo na situação de guerra emocional do momento, tivera um efeito extremamente calmante em seus nervos sempre a flor da pele.

    Gustavo, por outro lado, estava grato pela proximidade e há boatos que dizem que ele se perdeu propositadamente para ficar um pouco mais de tempo com a mulher abraçada a si. Boatos, é claro, nunca confirmados.

    - Fica tudo tão igual a noite - Gustavo murmurou. Baixinho, embora não soubesse porque tinham que sussurrar.

    Eles não enxergavam muito a frente e por isso tinham que andar devagar. Os sussurros, muito incômodos porque faziam certas coisas acontecerem abaixo de suas barrigas, eram proferidos por, vamos confessar, medo do que poderia ter ao redor deles sem que eles conseguissem ver.

    - Isso não está acontecendo - Morena murmurou, mais para ela que para Gustavo. - Não está acontecendo.

    Pouco depois dela ter demonstrado o seu nível de medo àquela empreitada, eles encontraram a praia - e vocês não querem acreditar que Gustavo tinha qualquer coisa a ver com isso? Desculpa, querido, mas não enganou ninguém. Bom, enganou Morena, se quiserem colocar no papel. O alívio que sentiram ao se deparar com as cores quentes da sua amada fogueira foi de esvaziar os pulmões. Morena rapidamente soltou do braço de Gustavo e, em uma das poucas situações em que parecera uma criança aos olhos dele, correu até o fogo e jogou-se ao lado dele em um grito aliviado de alegria.

    Não durou muito.

    Assim que colocaram seus peixes para assar e começaram a comê-los, a água da chuva deu o ar de sua graça. Gustavo não havia terminado o segundo telhado e o sistema de água não tinha sido implantado com sucesso por conta do tempo em que ficaram tentando usar o rádio do avião, então quando eles perceberam as gotas de chuva, ainda tímidas, batendo contra a areia ao seu redor, se entreolharam com os olhos arregalados de pavor.

    - E agora? - Morena questionou.

    Gustavo deu de ombros, não fazendo a menor ideia. Tinham perdido tempo e era tarde demais para resolver.

    - Não dá pra fazer nada. Temos que torcer pra não chover dentro do abrigo e… - Ele se levantou com rapidez e recolheu uma pilha de galhos e gravetos em seu braço, levando-o para Morena - Melhor guardar isso aqui porque nossa fogueira provavelmente já era.

    - E você? - Morena resmungou, levantando-se com os gravetos em seu braço, reclamando de ter que carregar coisas enquanto ele… Não fazia nada. - Por que eu…? - Ela se interrompeu ao vê-lo levantar as sobrancelhas e se abaixar para pegar a cesta de mangas e peixes - Ah… Ok.

    Morena começou a achar que deveria ficar de boca fechada pelo resto do dia porque não estava se saindo muito bem. Depois de ter deixado escapar que gostava de Gustavo, parecia que tudo tinha desandado para o lado dela e ela não sabia por onde começar a consertar. Ao menos Gustavo não parecia ter mudado com ela ou ter feito qualquer piada em cima daquilo, o quem, com certeza, era um avanço agradável. Isso, claro, não mudava o fato de que ela se sentia péssima com tudo aquilo.

    Os dois caminharam pela leve subida na areia até onde ficava o abrigo carregando suas coisas, Gustavo com um pouco mais de dificuldade que a negra. Ele já tinha os braços doloridos por carregar a cesta desde a outra praia até ali e depois de esfriar seus músculos enquanto se alimentava, a pequena distância foi um pouco complicada.

    Deixaram os pertences em um canto do pequeno casebre e houve um momento de suspensão silenciosa enquanto os dois encaravam o bote à sua frente. Depois dos momentos agradáveis que passaram juntos ali e, então, a briga… Não sabiam como dividiriam sua improvisada cama a partir de agora. Morena não era capaz de expulsar Gustavo do abrigo por motivo algum - muito menos agora que começavam a ouvir a chuva castigar a mata atrás deles e o vento passar por entre as madeiras do casebre, levando um pouco da água da chuva até eles.

    Se estava frio e molhado ali dentro, mal imaginavam como estaria do lado de fora.

    - Boa termos tranca nesse momento - Gustavo comentou, fingindo que estava tudo bem e indo reforçar a ideia de Morena para manter a porta firme durante a ventania. - Você é cheia de boas ideias.

    - Agora você vê, não é? - Ela disse, em um deboche leve, mas rindo. Depois de dez anos discutindo em seus projetos e tentando fazer valer seus pontos de vista um acima do outro, Gustavo começava a identificar que ela tinha boas ideias. O que alguns dias em uma ilha deserta não faziam?

    - Nunca disse que você não tinha boas ideias - Ele ainda estava concentrado na porta, tentando amarrá-la firme, mesmo com o vento empurrando-a para abri-la. - Só que eu não gostava muito delas.

    - Bom, a recíproca é verdadeira - Morena disse, em meio a uma reverência exagerada que fez Gustavo cair na gargalhada.

    Com o clima muito mais leve, ela se deitou no bote, afundando a cabeça na borda do bote, cheia de areia para que ele parecesse um pouco mais confortável para dormir, ideia de Gustavo, ao qual ela não tinha aprovado nem um pouco.

    - Mal vejo a hora de ter alguma daquelas almofadas para dormir - Morena murmurou, de olhos fechados, sonhando acordada com as poltronas do avião.

    - Eu pego algumas amanhã pra você - Gustavo prometeu. - Se não estiver muito escorregadio para subir.

    A voz dele estava mais próxima e, de olhos fechados, ela sentiu-se estremecer, porém tentou fingir que nada acontecia em seu corpo. Ouviu-o se deitar ao seu lado e soltou um longo suspiro idiota, querendo matar aquela confusão de sentimentos que acontecia dentro dela.

    Permaneceram em silêncio por mais alguns momentos, sentindo o vento castigar as paredes de seu casebre. Morena já havia declarado mentalmente que não conseguiria dormir enquanto a chuva estivesse tão forte porque estava com medo da pequena construção cair sobre suas cabeças e embora Gustavo estivesse certo que fizeram o melhor que podiam com aquilo… Bom, ele também estava com um pouco de medo.

    O vento adentrava pelas frestas entre as madeiras, deixando o ambiente bastante frio para quem só usava roupas de banho e passara os últimas dias em Sol ardente. Foi mais ou menos quando Gustavo achou que começaria a tremer de frio que as palavras escaparam de sua boca:

    - Frio, né? - Murmurou.

    Morena teve que apertar os lábios para não cair na gargalhada. Naquela manhã mesmo, ela tinha tentado iniciar uma conversa sobre o mesmo assunto. De alguma forma patética, em começar conversas eles eram muito parecidos - e igualmente estúpidos e sem criatividade.

    - Aham - ela concordou, ainda apertando os lábios para conter sua risada.

    Gustavo respirou fundo e com toda a fibra de coragem que ele tinha, resolveu falar o que tinha em mente na esperança de dar certo. Porque não custava nada tentar:

    - A gente podia se abraçar, sabe, pra se aquecer. Né?

    Morena soltou uma gargalhada que ela nem sabia de onde tinha vindo porque, dentro de si, a possibilidade parecia bastante agradável. Então ela se recordou das palavras que haviam saído de sua boca mais cedo e mordeu o lábio inferior com vontade. Gustavo provavelmente só queria se aproveitar da fragilidade dela e ela não estava disposta a compartilhar seu coração, não daquela maneira.

    - Boa noite, Gustavo - murmurou, tentando manter o tom de piada em sua voz, mas havia um pouco de mágoa também que ela rezou que Gustavo não fosse capaz de identificar.

    Virou-se de costas para o homem e respirou fundo tentando não fazer barulho. E foi assim que os dois acabaram adormecendo naquela noite de frio e tempestade. Apenas para acordar em uma manhã calorenta de sol.

    Verão é uma estação engraçada.

    Morena, ao se levantar, não encontrou Gustavo ao seu lado. Ao invés disso, tinha uma folha de tamanho mediano e algumas palavras tortas tinham sido rasgadas nela. Com um pouco de dificuldade com a escrita rústica, ela leu um avião escrito ali. Era curto, provavelmente pela complicação da escrita, mas deixou-a saber aonde Gustavo se encontrava.

    Levantou-se, comeu uma manga como uma mulher das cavernas (já que não tinha ninguém olhando) e grelhou os peixes que pescaram no dia anterior, na esperança de, assim, ficarem frescos por mais tempo.

    Então, ficou em um tédio sem fim e com preguiça de voltar a tentar construir sua espreguiçadeira e foi quando seu olhar se decaiu na jangada de Gustavo. A lembrança da praia vizinha brilhou em sua mente e ela achou que era uma ótima ideia remar até lá e surpreender Gustavo com mais uma cesta de peixes.

    Vestiu o colete salva-vidas e procurou o remo para então colocar a jangada no mar.

    Chuva.

    Poucas coisas eram melhores do que fazer sexo na chuva e Gustavo não conseguia se recordar de nenhuma delas. Bom, talvez fosse porque elas não existiam, na verdade. Sexo com chuva devia ser uma dupla imbatível. Ou… Podia ter haver com o fato de que o sexo era com Morena e com chuva.

    Aí sim.

    Havia um cheiro inconfundível no ar de suor e sêmen, misturado com o cheiro da chuva, da terra molhada e da maresia. Estavam ali por mais de um dia inteiro, embolados um no outro, sem hora para comer ou dormir porque tudo girava em torno do sexo gostoso que faziam - e quando não estavam fazendo sexo… Bom, estavam por fazê-lo. E era nessas pequenas lacunas de tempo que procuravam comer ou dormir.

    Morena dormia como uma pedra e isso o fazia rir. A mulher, com tanta dificuldade para adormecer, parecia desmaiar poucos minutos após terminarem, ainda no entre beijos, e dormia com uma facilidade impressionante, murmurando ahans para as piadas que Gustavo fazia. Enquanto ela adormecia, Gustavo tivera a audácia de sair do casebre apenas para descobrir que a faixa de areia da praia tinha diminuído bastante e as ondas quebravam a poucos cinco passos da entrada do abrigo. O abrigo externo já era, tal como a fogueira, que se apagara.

    Chovia dentro do abrigo. A água passava por dentre os galhos e folhas do seu telhado improvisado e caía em pequenas cascatas em determinados pontos do lugar, mas não importava aos dois. Tinham se movido o bote-cama para uma área livre de goteiras e ali eles estavam bem protegidos.

    O frio, também, não os importunava. Na verdade, embora o vento cortante da mata e do mar fosse bastante gelado para os padrões daquele verão, o calor que emanava dentro daquele cubículo era o suficiente para que eles não sentissem muita diferença de um dia de Sol causticante.

    Gustavo audaciou acordar Morena uma vez, a mão deslizando para o meio de suas pernas e acariciando sua fenda do jeito que ele já descobria que ela gostava - e ela gemeu deliciosamente, despertando para grudar os lábios nos dele, gemendo seu nome. Já Morena, mais safada e com menos princípios que o rapaz, o acordara três vezes, sentando por cima de sua ereção, nem sempre adormecida, arranhando-lhe o dorso sem nenhum cuidado para não machucá-lo.

    Era uma nova dinâmica entre os dois, intensa e selvagem. Instintiva. Como se fossem ambos animais insaciáveis no prazer que buscavam um no outro, tão distantes de sua civilidade quanto a mata e as praias intocáveis que os cercavam, como se o tempo passado ali os houvessem alterado para sempre.

    E eles gostavam disso.

    Gostavam de não ter nenhum compromisso que os fizessem acordar mais cedo e terem que interromper e não aproveitar a companhia um do outro, gostavam de não ter que pensar (Morena principalmente) no que deveriam fazer a seguida, gostavam de fazer apenas o que queriam, quando queriam e como queriam - mesmo que esse leque fosse, basicamente, resumido em sexo.

    - Essa chuva não para - Morena reclamou.

    Gustavo estava deitado em sua barriga, tirando um cochilo agradável enquanto ela lhe acariciava a cabeça em um cafuné delicioso. Tinham arriscado se levantar para comer um pouco de frutas que ainda restavam, já que a fogueira tinha se esgotado e Gustavo não se arriscara a tentar fazer uma nova com tanta goteira e poucos tocos de madeira secos para tal feito. Ainda guardavam alguns pedaços de peixe grelhado que comiam vez ou outra, mas estavam intercalando com as poucas frutas que restavam, esperando que a comida não acabasse antes que se arriscassem a conseguir mais.

    E, apesar de toda insanidade e instintividade que reinava dentro do pequeno casebre, Gustavo estava impressionado com a doçura que parecia emanar de Morena, agora que aquela barreira invisível que os separava havia caído. Ela sorria de forma doce para ele, muitas vezes com os olhos, não poupava carinhos e beijinhos que o faziam sorrir de forma bastante idiota. Ali, naquela bolha que os cercava, ela pareceu-lhe frágil; não vulnerável, porque Gustavo achava que Morena jamais deixaria qualquer pessoa lutar uma batalha em nome dela, mas mesmo assim frágil, daquele tipo que você quer abraçar e proteger do frio - e isso ele fazia muito bem.

    E ele gostava bastante da nova Morena que se apresentava para ele, de sorrisos dóceis e palavras ácidas, de unhas e mordidas e de quentura e de sexo selvagem. Ele gostava daquele pacote extensivo e gostava de como ela fazia ele se sentir. Mesmo que, na maior parte do tempo, ele só se sentisse meio bobo, nem um pouco saciado, feliz e tarado.

    Naquele momento, tarado e insaciável estavam vencendo.

    - E essa cascata que não seca… - Gustavo deslizou a mão para o meio das pernas de Morena que, sim, estava encharcada como todas as vezes que ele procurava por ali.

    Sentiu-a prender a respiração e a mão se fechar em uma mecha de seu cabelo, apertando e puxando quando seu dedo médio invadiu-a sem cerimônias. Gustavo sentiu-se crescer instantaneamente com o gemido baixinho que ela soltou, puxando seu cabelo com mais força. Cedeu ao pedido mudo dela (pela força que ela exercia em seus cabelos, estava mais para uma imperativa), subindo o dorso enquanto seu dedo saia e entrava no quente do meio das pernas dela em uma velocidade lenta e torturante.

    Ela apertava o lábio inferior entre seus dentes e seus olhos estavam fechados em uma expressão quase sublime de prazer - e ele cresceu mais um pouco. Ao senti-lo ceder em seus braços, subindo pelo seu corpo, não sem deixar beijos e mordidelas em seus seios desnudos, Morena abriu os olhos desejosos para Gustavo.

    Tinha uma coisa sobre Gustavo que quebrava Morena por inteiro que ela descobrira naquelas horas de sexo seco, duro e pesado no casebre enquanto a chuva caía do lado de fora. Não, não era a grossura de seu pau que a enchia até o limite, não era a forma com que ele beijava seus seios em adoração, não era como, toda vez em que se embolavam em prazer, ele derretia o nome dela em adoração em sua orelha ou todas as injúrias safadas que ele sussurrava com a sua voz rouca, aumentando a coceira que sentia em seu ventre.

    Apesar de todas essas coisas serem deliciosas, o que enlouquecia a negra e abria as comportas da sua reserva interna, inundando sua intimidade para recebê-lo melhor dentro de si era a forma com que ele parecia sempre procurar olhá-la nos olhos. Para Morena, dentre as tantas muitas qualidades que ela tivera que admitir que Gustavo possuía naquele verão, aquela era a mais incandescente delas. Ao contrário de si própria, Gustavo não tinha medo de intimidade, ele a instigava e a adorava, assistia e possuía com a mesma intensidade. E ela não sabia dizer o quanto daquilo a relaxava e o quanto daquilo a enlouquecia, mas a única coisa que tinha certeza era de que gostava.

    Seria louca?

    E lá estavam seu olhos, ardentes para si, enquanto ela era incapaz de sustentá-los por muito tempo, revirando os seus e derretendo às carícias dele.

    Procuraram os lábios um do outro - e aquela era uma das coisas que eles mais gostavam: a forma com que seus bocas se encaixavam e suas línguas pareciam sempre responder a outra antes mesmo de serem chamadas, ondulando, empurrando, sugando… Tão selvagens e desejosas quanto o resto de seu corpo.

    E naquela altura do campeonato, Gustavo já estava rígido em sua totalidade. Com nada de recato e nenhuma resistência. Mas, se não o tivesse, aquele seria o momento em que o alcançaria, quando as mãos de Morena escorregaram de seus cabelos pelo seu corpo, as unhas deslizando de forma leve pelo seu dorso enquanto a mulher mordia-lhe o queixo, tão pouco incomodava com sua barba quanto ele com seus pelos - e como Morena gostava de mordê-lo!

    As mãos logo alcançaram o que sempre intentavam: envolveram seu pênis com cuidado, apertando ao limite entre o prazer e a dor, e ela precisava das duas para envolvê-lo em suas mãos pequenas e delicadas. A carícia era tão rápida e indiscreta quanto a que ele lhe proporcionava.

    - Ai… Morena… - E lá estava o nome dela escapando-lhe de seus lábios mais uma vez. Antes, isso lhe deixava nervoso, mas agora, com a real companhia dela, fazia-o se sentir bobo e feliz.

    - Fo…de - Gustavo arfou ao pedido dela. - Você - murmurou, sem conseguir formar uma frase adequada, porém suas mãos eram bastante explicativas, puxando-o e guiando-o para si. - Me fode. Você. Quero.

    - Quer, é? - Ele engoliu a seco, o corpo começando a ondular o dela, procurando posicionar para fazer o que ela lhe exigia, sem nem pensar em ponderar. Quando ouviu suas palavras provocativas, ela fez o que ele adorava assisti-la fazer: encheu o pulmão de ar, apertando os olhos, mordendo os lábios e arqueando as costas de leve, e era um espetáculo. - É do meu pau que você gosta, safada?

    Ele não deixou que ela lhe respondesse com palavras, invadindo-a lentamente bem naquele momento; e Morena gritou de forma incomum, seu gemido estendendo-se em forma de choramingo até que ele estivesse inteiramente dentro dela. Arfando, enquanto ele a observada de boca aberta, suas unhas alcançaram-lhe os ombros dele e os olhos se abriram, encarando-o enquanto ele voltava a se movimentar.

    Ela fechou as pernas em torno de sua cintura, mantendo-o perto e com os movimentos limitados, forçando-o a sair menos e empurrar cada vez mais fundo dentro dela; e foi a vez dele gritar, enquanto ela murmurava seu nome baixinho, como um segredo, em sua orelha.

    E bem quando ele estava chegando quase lá, a maldita mão da mulher escorregou entre eles mais uma vez, como todas as vezes, e ela pirraçou seu grelo até que alcançasse o orgasmo, pouco depois dele.

    Demorou cerca de três minutos para que ambos recuperassem a respiração e seus corpos acostumassem com a leveza do pós-orgasmo. Quando isso ocorreu, Gustavo foi o primeiro a reagir, virando o rosto para olhá-la e Morena logo virou-se inteira para ele, deitando-se sobre seu peito ao mesmo passo que Gustavo a recebia de braços abertos, abraçando-a e apertando-a contra si, da forma que eles haviam descoberto que gostavam de descansar e adormecer.

    E apesar de saciado ser uma coisa que Gustavo achava que jamais sentiria na presença de Morena, era naquele momento em que bobo e feliz começava a dominar seu ser. Quando Morena ondulava em seu abraço e se ajeitava em suspiros, suas mãos deslizando pelo seu corpo. E foi aí que Gustavo recordou-se do que já tinha povoado sua mente várias vezes, mas não tivera tempo ou forças para investigar. Enquanto ela se ajeitava, ele pegou seu pulso com a mão que estava livre, distante de seu corpo, e girou os dois dedos que entranharam entre seus lábios e acariciaram guiando-a para seu prazer dentro de sua boca, sugando seu suco doce e ácido para provar.

    Ele bem queria ter fechado os olhos aproveitado mais intensamente o gosto, mas manteve-se alerta, observando a expressão do rosto dela enquanto ela fechava os olhos e abria a boca de forma boba que muito se assemelhava a dele quando ela escorregava o braço entre os dois, todas as vezes, e acariciava-se, impulsionando seu orgasmo.

    Viu-a morder o lábio e expirar o ar com força e isso o fez sorrir. Apesar de não ser mais tão novidade, ele gostava de saber a forma intensa com que mexia com o interior dela e seus prazeres.

    - Já quer mais, é? - Brincou, safado.

    Morena desvencilhou a mão da dele e um tapa fraco estalou em seu peito enquanto ela ria, ainda parecendo um pouco alterada. Outro ponto positivo: ela ficava de ótimo humor com sexo. Ainda não tinha experimentado até onde aquilo iria, não achava que durava mais que poucas horas, mas era o suficiente para perturbá-la com suas piadas bobas e receber risos ao invés de injúrias.

    Ela aproveitou a mão do tapa para apoiar-se e seu corpo se ergueu sobre o dele até que seus rostos estivessem alinhados. Uniu os lábios, então, beijando-o intensa e apaixonadamente, ao que Gustavo correspondeu prontamente, sua mão elevando-se até a nuca da mulher, intensificando ainda mais a carícia e guiando para acompanhar a movimentação de suas línguas. O beijo pouco durou, com seus fôlegos ainda não muito bem recuperados da última maratona e ficou em suspiros frustrados antes que cruzasse a língua do que eles não aguentariam e quase antes que Gustavo erguesse o corpo para intensificar ainda mais a carícia, implorando que aguentasse mais, só mais um pouco, mesmo que tivesse a plena certeza que não o faria.

    - Com você? - Morena respondeu e Gustavo estranhou, nem se recordando mais de onde havia parado a conversa, antes de perceber o sarcasmo e a malícia brincando na voz da mulher e recordar-se da provocação anterior. Cerrou os olhos para ela, que sorriu, sem se abalar. - Sempre - Piscou-lhe um olho, estalando os lábios nos deles de forma leve, antes de voltar a se deitar ao seu lado.

    Gustavo espelhou o sorriso da mulher e suspirou, brincando com sua mão. Se perguntava se algum dia se acostumaria com aquela sensação boa no peito de preenchimento total e também sobre como havia vivido sem aquilo até aquele momento. Morena esfregou a cabeça em seu ombro e ele soube que ela estava afagando o lugar, como um gatinho, para adormecer brevemente. Mas antes que ela o fizesse, ele resolveu terminar o mistério - porque mais alguns segundos e ele esqueceria de perguntar outra vez e, da próxima vez que eles se enroscassem, a dúvida permaneceria pairando sobre sua cabeça, sem que ele conseguisse compreender o porquê ela sempre fazia aquilo.

    - Qual é o mistério da sua mão? - Perguntou, por fim, sem rodeios.

    Morena, já sonolenta e de olhos fechados, abriu um olho para encará-lo virado para ela, os olhos azuis índigos brilhando em curiosidade infantil, mas com um pequeno quê de safadeza que parecia sempre presente e que lhe tirava o fôlego todas as vezes.

    - Hum? - Questionou, sem entender a pergunta.

    - A sua mão - Gustavo repetiu, não conseguindo se fazer entender. - Quando você, sabe, se masturba enquanto a gente tá transando - ele explicou e Morena resolveu dar-lhe atenção, empurrando o corpo para cima e apoiando o rosto em seu pulso fechado, com o braço apoiado logo abaixo do braço de Gustavo e o antebraço sustentando o rosto no ar. - Por que você faz isso?

    Morena queria saber como explicaria aquilo passando por cima de muitas de suas experiências. Havia a resposta curta e simples, mas achava que Gustavo dificilmente se contentaria com ela, porém tentou mesmo assim:

    - Tenho dificuldade de gozar só com penetração - respondeu.

    E disse assim, sem rodeios, fazendo com que Gustavo arqueasse as sobrancelhas pela informação não compartilhada anteriormente, que tinha até feito com que ele duvidasse de sua virilidade - antes de dormir feito uma pedra de cansaço.

    - Dificuldade tipo…?

    - Nunca aconteceu - ela deu de ombros. - Eu até achava que eu não conseguia gozar direito até que…

    Ah… Morena e sua boca grande. Gustavo estava até parecendo levemente satisfeito com a resposta curta, mas agora ele não estaria mais.

    - Hum? - Incentivou, curioso.

    - Até que eu estive com outra mulher - disse, da forma mais tranquila e natural que podia, vendo os olhos de Gustavo quase saltarem se seu rosto. Homens… - Eu sou bi, aliás. Mas agradeceria se você não contasse pra ninguém no trabalho.

    Bom, Gustavo tinha lhe contado sobre Natália e o relacionamento deles. Estava na hora dela começar a dividir também e, bom, aquilo teria que funcionar.

    - Tudo bem… - ele murmurou. Parecia estar tendo dificuldades até mesmo para respirar, se concentrar na conversa, então… Morena estava com um sorriso no rosto, se divertindo com a reação do homem.

    - Então eu descobri que unir as duas coisas é bem agradável - ela sorriu.

    Gustavo permaneceu em silêncio e Morena omitiu a informação de como havia descoberto aquilo (em uma outra hora, quando ele estiver menos etéreo, ela pensou), aguardando o homem retornar a vida. Achou que ele adormeceria antes que pudessem retomar a conversa, mas Gustavo dificilmente dormiria depois daquela reação. Estava tentando colocar na linha do tempo em que conhecera Morena, as vezes em que perdeu a oportunidade de sequer pensar que ela poderia estar dividindo a cama com outra mulher. Definiu que sua ignorância tinha sido boa, dormira várias noites que não conseguiria dormir, se soubesse da possibilidade.

    - Então é um desafio, não é? - Ele perguntou, colocando os pensamentos em ordem.

    E foi aí que Morena se perdeu. Franziu a testa, sem entender para onde Gustavo e seus devaneios haviam ido sem ela, sem que ela conseguisse acompanhar.

    - Desafio? - Questionou, confusa.

    - Você nunca gozou com penetração… - Ele parecia tentar explicar, somando dois mais dois também em sua mente, enquanto Morena arqueava a sobrancelha, quase começando a compreender, e surpresa com sua resolução. - Então é um desafio - declarou.

    Morena admirava bastante a forma com que Gustavo via as coisas, positivista e sempre adiante. Irritava-a, as vezes, também. Ali, porém, apenas balançou a cabeça com um sorriso no rosto. 29 anos de sua vida e seu corpo jamais respondera daquela forma - ela sinceramente achava que era incapaz. Foram muitas experiências e muitos parceiros para que a possibilidade ainda lhe ocorresse, mas deu de ombros, sabendo que ele iria tentar de qualquer forma.

    - Boa sorte - murmurou, sem saber o que mais poderia dizer.

    Boa sorte para ela, também, porque ela queria que fosse capaz. Não só porque tinha vontade de saber como era, mas porque Gustavo tinha um brilho determinado no olhar e ela queria que ele conseguisse o prêmio.

    Distraiu-se, desviando o olhar dela. Sua mão envolveu seu mastro adormecido, segurando-o como quem segura uma espada e Morena sentiu-se dividida entre gargalhar e revirar os olhos.

    - Eu declaro meu campeão nessa batalha - disse, com simplicidade e determinação.

    Morena quis esconder o rosto por detrás das mãos, mas apenas afundou de volta ao abraço de Gustavo e o fez em seu peito, sem disfarçar seu riso contra a pele dele.

    - Ei! - Reclamou. - Eu tô falando sério.

    - Eu sei - ela riu. - Eu também. Boa sorte.

    Ela ainda ria, mas Gustavo suspirou, com um sorriso infantil no rosto e procurou os lábios dela, sentindo em sua diversão e escárnio, seu desejo e sua curiosidade. Ela era uma caixinha de surpresas e ainda tinha vários mistérios a serem desvendados, mas em matéria de química entre os dois, ele só precisava descobrir os ingredientes certos que o resto se faria com facilidade.

    - Prometo - Gustavo murmurou contra seus lábios. - Pode demorar… Mas a gente vai tirar esse nunca da tua boca e, quem sabe, colocar meu pau.

    Morena sorriu e mordeu o lábio dele, se perguntando como ele conseguia ser safado e doce ao mesmo tempo.

    Natália não sabia qual deveria ser a melhor coisa a se fazer naquele momento. Em seu quarto de hotel, ela andava de uma ponta a outra de forma constante, os dedos nervosos desfazendo seus cachos crespos sem que ela se desse conta do que estava fazendo, sua cabeça em um turbilhão de pensamentos nervosos e desesperados.

    Gustavo estava desaparecido, isso ela já sabia. Ele não estava em lugar algum no Caribe e nem havia retornado para casa, como o Felipe havia lhe dito. Ninguém sabia onde ele estava e ela já passara o olho atrás de Morena e perguntara pelos dois na recepção, nenhuma sombra deles.

    Possibilidades absurdas passavam por sua mente; pensou que talvez eles estivessem sendo mantidos contra a vontade deles dentro do navio em uma espécie de sequestro esquisita que não ligava para pedir resgate (era possível, a família de Gustavo era muito rica e aquela era uma possibilidade com a qual eles sempre tinham que pensar), pensou que ele e Morena poderiam ter caído no mar e ninguém deu falta ou deram e estavam mentindo sobre isso, pensou que talvez os dois finalmente tinham se acertado e sumido para um canto sozinho (essa era a que ela achava mais provável, mas não explicava porque eles não entravam em contato com ninguém), que poderiam ter encontrado algum buraco e estavam trabalhando escondido em um projeto fora da Under Constrution e estavam em sigilo porque não queriam ter o contrato de exclusividade com a empresa quebrado (essa era sua segunda opção mais viável e explicava a falta de contato, já que Gustavo não era lá um bom mentiroso).

    Natália não sabia o que fazer, mas sabia que, na pior das hipóteses, seu melhor amigo estava muito encrencado (e na melhor, ele estava transando e ela não e se fosse isso, ele pagaria por sua audácia de deixá-la preocupada enquanto isso).

    Enquanto Natália encarava suas mãos, tentando decidir qual seria a melhor opção para ela desvendar esse mistério e como ela deveria reagir, seu celular tocou. Natália achou que deveria ser uma intervenção divina e correu para o aparelho, com a certeza de que era Gustavo do outro lado da linha.

    Não era.

    Era a odiável avó do rapaz.

    Encarou o aparelho sem nenhuma vontade de atender, não só por querer evitar a mulher, mas por não saber o que dizer para ela. Porém, achou que talvez fosse melhor dividir os problemas com alguém, mesmo que fosse a velha controladora.

    - Alô? - Atendeu, fingindo-se distraída e sentando-se na cama, derrotada.

    Natália, querida! Como vão as coisas no Caribe?

    Natália não gostava da falsidade da mulher, que fingia gostar dela e agradá-la porque estava desesperada que Gustavo casasse logo. Sabia que ela não gostava dela pelos comentários que frequentemente tinha que ouvir da velha e tinha que se manter muito sóbria e tranquila para não lhe dar um fora a cada besteira que ouvia. Por conta disso, não teve paciência para o papo furado da mulher foi logo aos finalmentes:

    - Mal, dona Elena - respondeu. - Não fala para Andrea, mas o Gustavo não está por aqui.

    Como assim ele não está aí? Conseguia sentir o pânico da mulher mesmo a milhares de quilômetros de distância porque ele era muito parecido com o que ela sentia.

    - Não está, dona Elena. Em lugar algum.

    Você procurou direito, querida? Elena perguntou.

    Quem Elena achava que Natália era? Para não pensar em algo tão estúpido quanto procurar? Pelo amor de Deus, ela estava se formando em uma das melhores faculdades do mundo e a velha ainda a tratava como uma criança com dificuldade de compreensão.

    - Claro que eu procurei. Perguntei pra um monte de gente, ninguém sabe onde ele está - ela narrou. - Cacei as informações, um rapaz me indicou o moço que organizou a viagem e ele disse que Gustavo desceu no Rio de Janeiro para voltar a trabalhar - ela estava despejando as informações todas de uma vez, na esperança que a mulher pudesse lhe dar qualquer ideia do que ela deveria fazer. - Mas eu liguei para o escritório e a Ana me disse que não sabe nada sobre Gustavo e, bem, sobre a parceira de projeto dele, Morena também. Ela não entra em contato com eles ou com a família há dias e também não está por aqui. Os dois desapareceram. Ninguém vê ou fala com os dois há mais de uma semana.

    Elena ficou em silêncio por um longo minuto. Natália sentia seu coração batendo com força no peito por ter desabafado tudo de uma vez e estava esperançosa que Elena, com toda sua experiência de idade e gestão, pudesse ter uma solução razoável para aquilo tudo.

    Antes de envolvermos a polícia, temos que encontrar o furo na história Elena pontuou, correta. Isso provavelmente vai envolver a polícia internacional e vai ser uma bagunça. Natália… O navio ainda está ancorado?

    - Sim…

    Você precisa entrar nele e procurar por câmeras. Ou encontrar os quartos em que Gustavo e a garota que você disse estavam para ver se os pertences deles estão por lá. Qualquer pista que comprove que a equipe do navio está mentindo. Precisamos saber se Gustavo está sendo criança outra vez antes de chamar a polícia porque se denunciarmos agora e ele estiver escondido em algum canto enchendo a cara… Vai ter mídia para todo o lado e o nome dele vai ficar sujo para sempre.

    Elena até que tinha razão, mas será que valia a pena arriscar a vida de Gustavo, se ele estivesse enrascado, em prol de um nome?

    - Não sei como fazer isso, Dona Elena - Natália murmurou. - Não é melhor chamar a polícia logo?

    Não. Se aproxime do rapaz que você disse, ele deve ter acesso ao navio, tente lhe tirar alguma coisa que não bata ou que ele leve você até o navio em um encontro, qualquer coisa do gênero… A coisa mais simples que você pode fazer é encontrar uma brecha no que ele diz e a melhor são provas físicas, pertences, principalmente documentos ou imagens deles. Foca nisso, Natália. Enquanto isso, eu vou pensando no que mais podemos fazer.

    No meio da noite, Morena declarou que havia parado de chover. Faltavam poucas horas para amanhecer quando Gustavo tomou coragem de se desvencilhar do abraço da negra e começar a trabalhar em uma fogueira improvisada dentro do abrigo - não era uma ideia 100%, mas era o lugar mais protegido da umidez da tempestade que ele conseguiria e teria que funcionar por algumas horas.

    O horário dos dois estava meio embolado, portanto não houve muitos ferimentos ao seu sono enquanto Gustavo estava sentado ao redor dos gravetos mais secos que encontrou no espaço de 16m² que era o casebre em que se abrigavam. Começou, então, a tentar fazer fogo e depois de algumas fricções da maneira correta, a chama se fez fraca e tímida à frente de si, mas o suficiente para conseguir pequenas labaredas que cozinhariam o peixe que comeriam no café da manhã. Morena, como sempre, despertou com o nascer do Sol e Gustavo a viu se mexer preguiçosamente na cama a medida que o dia clareava e se perguntou se não era ela que fazia o Sol nascer. Bobagem, é claro, mas não há nada impossível aos apaixonados.

    O que acordou Morena, na verdade, foi o cheiro da comida quentinha que Gustavo preparava para os dois.

    - Bom dia - ele murmurou para ela, que ainda encontrava-se de olhos fechados e resmungou um grunhido baixinho em resposta à sua saudação.

    Ele riu. Morena ainda era mal humorada pela manhã e não havia nada que Gustavo pudesse fazer em seu prazer que alterasse isso - exceto, talvez, acordá-la mais cedo com um orgasmo caprichado, mas ele gostava de suas reclamações também, e não queria das fim a elas de forma alguma.

    Demorou um longo minuto até que Morena abrisse as pálpebras, com Gustavo cutucando o fogo para fazê-lo maior e o peixe grelhando um pouco acima, com seu outro braço sustentando o graveto com três deles em uma distância segura do fogo para que eles cozinhassem sem aparentarem queimar demais. Em sua preguiça, ela girou, só então descobrindo que Gustavo não estava ao seu redor e finalmente visualizando o que ele estava fazendo. Enquanto o homem sorria-lhe, inocente e contente pela sua companhia, ela arregalou os olhos em pavor e choque com o que vislumbrou.

    - O que você está fazendo? - Sua voz estava uma oitava mais aguda e Gustavo chegou a deixar sua coluna ereta para fingir que não estava fazendo nada de errado e que era um bom menino.

    E ele até era; mas Morena tinha mania de pensar demais, se preocupar demais, e jamais teria aquela expressão boba e descansada no rosto com uma fogueira acesa dentro do abrigo que tiveram tanto trabalho para construir.

    - Peixe - ele respondeu, simplesmente.

    Morena levantou-se em uma rapidez impressionante e estava para pisar nas chamas para apagá-la quando percebeu que não tinha calçado em seus pés e iria de machucar. Gustavo se levantou naquele momento, segurando-a pela cintura, tentando acalmá-la em seu costumeiro desespero, como sempre, ele mantinha um sorriso no rosto de quem se divertia, mais do que ninguém, com os rompantes desesperados da negra.

    - Ei, ei, calma - ele abraçou-a e, apesar de Morena ceder, ele percebeu que ela mantinha os olhos fincados nas chamas como se fosse uma vigia. - Eu vou apagar já, ok? - Ele ponderou. - Só estou fazendo nosso café. Lá fora tá encharcado, não dá pra acender fogueira… Talvez mais tarde, com o Sol. Eu tô vigiando.

    Morena não estava muito convencida - Gustavo era conhecido por não ter muita atenção com nada. A sua falta de atenção, naquele momento, poderia custar dias de trabalho e talvez machucar os dois, o que era ainda pior. Mas, vendo-o abraçá-la e, então, encará-la com uma certeza absoluta de que tudo daria certo, com seus grandes olhos azuis índigos sorrindo em tranquilização, ela cedeu e concordou com a cabeça.

    Mas nada a impediria de sentar-se ao redor da fogueira por todo o tempo em que estivesse acesa e vigiá-la para que não se tornasse demais e foi isso que ela fez. Pegou o graveto onde Gustavo fincara os três peixes e abandonara dentro da cesta com os demais e admirou o trabalho dele; não tinha limpado o peixe muito bem, mas estaria comível. Ele estava melhorando, até. Das últimas vezes, ela teve que relimpar a comida e fingir que ele tinha feito tudo direito e depois ainda elogiava-o; agora, dava para passar sem que ela se desse o trabalho de refazer o dele.

    Os peixes estavam quase prontos e ela voltou a segurá-los contra a fogueira. Gustavo sentou-se ao seu lado e envolveu sua cintura, deixando beijinhos caprichosos em seu pescoço que arrepiaram sua coluna. E, assim, o mau humor matinal de Morena começou a se dissipar conforme a luz do dia aumentava. Trocaram alguns beijos castos e apaixonados enquanto o peixe grelhava, mas desistiram de algo mais intenso quando a mão de Morena, em reflexo, soltou o graveto e quase causou a carbonização de sua comida quando Gustavo investiu um pouco mais pesado em sua boca. Pegou mais peixes em um outro graveto e acabaram por assar quase todos da cesta de uma vez só.

    - É bom que a gente tenha tantos peixes - ele contou depois que a fogueira estava quase apagada, soterrada por um montinho de areia que eles jogaram sobre ela, embora Gustavo estivesse um pouco bicudo pelo trabalho que dera para acendê-la, entendeu as exigências e recomendações de Morena para sua segurança e, bom, ela tinha razão. A mulher estava de boca cheia e se deliciando com a comida. Tinham passado um tempinho comendo frutas e peixe frio, algo quente era para se lamber os beiços naquele momento. Gustavo sorriu, tão poucas vezes a viu daquela forma, despida de roupas e de sua postura sempre impecável. - Porque, eu não sei você, mas eu não pretendo sair daqui nem tão cedo.

    Morena riu, algo exatamente no meio do contentamento e do deboche. Se dignou a terminar de mastigar o que tinha na boca, encarando Gustavo e seus olhos brilhantes começando a ficar cada vez mais claros conforme a luz do dia adentrava os pequenos buracos do casebre.

    - A gente tem que sair, Guto - murmurou, não querendo ser a estraga prazeres, mas essa era a função dela sempre. A realista, a que sabia o que era necessário ser

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