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Jogando os Dados com o Prazer: Série Jogando os Dados - Livro #1
Jogando os Dados com o Prazer: Série Jogando os Dados - Livro #1
Jogando os Dados com o Prazer: Série Jogando os Dados - Livro #1
E-book500 páginas6 horas

Jogando os Dados com o Prazer: Série Jogando os Dados - Livro #1

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Sobre este e-book

Em algum lugar, em algum momento, um ser iluminado disse que os opostos se atraem. E não há verdade mais clara e óbvia que essa quando um cara convencido, arrogante e violento, vencedor invicto dos rachas de uma cidadezinha do interior de Goiás, cruza o caminho de uma jovem mulher justa, defensora dos indefesos e para lá de discreta. Diferenças a postos, seus mundos entram em colapso e uma aposta maluca é a única solução para colocar seus problemas a limpo, então eles resolvem deixar os dados rolarem. Se ela ganhar, ele terá que aprender a se controlar e não ser um babaca o tempo todo; Se ela ganhar, ela terá que passar longos três meses de férias em sua companhia. E a única certeza do jogo é que nenhum dos dois é um bom perdedor.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de ago. de 2022
ISBN9781526003973
Jogando os Dados com o Prazer: Série Jogando os Dados - Livro #1
Autor

Letícia Black

Letícia Black é natural do Rio de Janeiro, nascida no comecinho da década de 90. Seu primeiro livro foi publicado em 2012 e ela não pretende parar. Autora orgulhosa dos livros Contos de Uma Fada, Garota de Domingo, Safira, Toque de Recolher, Monstro, Deserto e da série Jogando os Dados.

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    Jogando os Dados com o Prazer - Letícia Black

    - Será que eu te vejo mais tarde, moça?

    Esse cara. Esse cara era um idiota, mas basicamente o único amigo que ela tinha. A garota sempre fora meio comportada e quieta, até tinha outros colegas que saiam com ela uma ou duas vezes durante as férias, mas seu tempo livre, suas conversas e confissões, tudo era com ele. E eu sempre tive a certeza que tudo o que ele queria era entrar no meio das pernas dela -nunca entendi como ela não reparara nisso antes porque, na verdade, ela me parecia muito inteligente para não notar..

    Devia ser a famosa Friendzone. Se tomasse coragem, ele ia agarrá-la e não iria deixá-la fugir de jeito nenhum e isso era, de longe, a coisa que eu mais detestaria ver em minha vida.

    Ela sempre fora uma moça bonita, a Ludmila, mesmo zangada e certinha. Não gostava de se misturar ou se exibir, de ser o centro das atenções e nem sequer gostava muito de sair. Acho que ela sempre teve uma zona de conforto muito rente e curta que a impedia de curtir a vida alopradamente como as outras garotas bonitas. Não bebia, não fumava e eu tinha impressão que ela também não era muito adepta do sexo e do rock'n'roll. Ela só era aquela criatura contida, carregando livros por aí, estudando como uma louca e tomando latinhas de Pepsi com pacotes de biscoito Fofura. Chegava a ser patético, toda aquela beleza e inteligência desperdiçadas com apenas aquele idiota do Léo rodeando-a, que mal sabia como aproveitar propriamente.

    Bom, eu podia ter conseguido ela antes, mas seu papo de menina recatada acabou por me entediar. E depois, quando tentei outra vez, tudo o que eu conseguira foi uma grande série de nãos e alguns xingamentos. Eu ficava olhando-a à distância, pensando em simplesmente deixá-la para lá e parar de lhe dar tanta atenção, embora gostasse de desafios. E também tinha aquele problema de aversão que ela parecia ter desenvolvido por mim desde o instante em que colocara os olhos em meu corpo maravilhoso - o que era bastante estranho, na verdade.

    Tenho certeza que era tudo culpa do seu blábláblá qualquer sobre correr riscos desnecessariamente.

    Ela riu à pergunta de Léo, ressonando como a gatinha carente que eu sabia que ela era. Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, envergonhada, flertando sem que ele sequer percebesse porque ele era um burro. Acho que ela nem fazia por mal, parecia natural que ela deixasse pequenos encantos por onde passava, mas seu charme quase infantil era passado completamente despercebido pelo amigo cego que tinha ao seu lado.

    - Talvez - ela respondeu, doce. - Mas acho que só vou dormir até a semana que vem.

    Ele riu, acompanhando, acostumado a fingir sentir graça de suas piadas depreciativas desde que se conheceram, no segundo período. No quinto, quase dois anos depois, eles tinham aquele entendimento silencioso, embora houvesse uma aura de desconforto pelo romance não concretizado. Que, se dependesse de mim, jamais se concretizaria.

    Ele, fracote que era, não tomava iniciativa; ela, apenas não achava que devesse arriscar o único amigo que tinha em uma tentativa que podia ser frustrada. Ou talvez conseguisse ver o que eu via, que ele jamais estaria a sua altura.

    Acho que ela aceitaria qualquer outra opção de amizade que lhe aparecesse, mas sua tentativa de permanecer invisível a todas as pessoas do campus era completamente bem sucedida e ela também não parecia muito disposta a tentar fazer outros amigos.

    Talvez eu fosse a única exceção, a única pessoa que a enxergava através do manto de invisibilidade que ela tentava vestir dia após dia, embora me mantivesse ignorando-a publicamente em boa parte do tempo, mais por sua clara aversão às minhas tentativas de chamá-la para sair que qualquer outro motivo.

    - Bom, então acho que nos vemos em fevereiro - ele disse.

    Em uma das raras vezes que ele se atrevia a ter algum contato físico com ela, deu-lhe um tapinha nas costas e um beijinho na bochecha. O clima desconfortável pareceu se duplicar entre os dois porque ele sabia - todo mundo que tivesse algum conhecimento sobre Ludmila sabia - que ela teria três meses tediosos, implorando por algum evento social na cidade, que normalmente ficava vazia porque os estudantes retornavam todos para a casa de seus pais.

    Algumas vezes, ela dava sorte; outras, apenas ficava em casa com a cara enfiada em livros e mais livros ou com o nariz inchado de tanto chorar vendo filmes românticos bregas.

    Se esse fosse um cara esperto, podia abdicar umas férias para ficar com ela e tenho certeza que ele conseguiria o que queria sem muito esforço, mas - e eu ficava muito contente com isso - ele nunca pensou nisso, então o clima de despedidas era sempre desconfortável porque ambos sabiam que ela estava sendo abandonada para mais meses de tortura e reclusão.

    - Eu vou tentar voltar antes e te ligo todos os dias! - Ele prometeu.

    E essa história de ligar era mentira porque, como já relatei, ele era burro. Nem para se esforçar em mostrar interesse, ele conseguia. Ligava nos primeiros dias, trocava mensagem por, as vezes, duas semanas. Aí parecia encontrar algo mais interessante para fazer. Talvez tivesse mais desenvoltura com garotas desconhecidas ou tivesse alguma prima que ele pegava nas férias, mas esquecia-se de Ludmila com facilidade.

    Ela sabia disso, então apenas lhe sorriu de forma triste, querendo acreditar, mas já não conseguindo. Léo não ligaria, não mandaria mensagens e retornaria em cima da hora para as aulas do próximo período. Talvez, se ela estivesse com azar, só retornasse depois do carnaval. Por isso, ela revirou os olhos para ele e, sem jeito, passou os braços ao redor de si mesma, um abraço que eu tinha certeza que ela gostaria de ter dado nele, mas havia alguma aversão a contatos físicos por ali, em algum lugar entre os dois.

    - Tudo bem - ela disse, ao invés de gritar e acusá-lo de negligência, como ela provavelmente faria comigo.

    Bom, toda essa solidão era por conta do pai dela, claro. Se ele não fosse um babaca ausente - e ela estava rodeada desse tipo -, ela não precisaria passar por esse tipo de coisa. Na época, eu não sabia porque ela escondia a informação, também se ocultando, mas o pai dela era um grandão em Brasília, um ministro importante. Ele apenas casara de novo em algum momento durante o seu primeiro e segundo período e dissera para ela que a nova esposa não queria ter contato com ela e que ela podia ficar onde ela quisesse.

    Ludmila tinha todo o dinheiro que precisasse, mas era só. Podia viajar, é claro, para qualquer outro lugar, mas eu acreditava que ela devia achar isso um pouco chato de se fazer sozinha e nunca convidava Léo porque ele sempre tinha seus próprios planos.

    Então ela se mantinha trancada no seu quarto na torre, esperando qualquer melhora cair dos céus, esperando que seu pai voltasse a lhe dar atenção enquanto ela se mantinha reclusa, esperando um resgate como se estivesse em um conto de fadas.

    Como já disse, era patético.

    - Vou dar uma passada na xerox pra pegar uns papéis e me vou. - ele disse - Se você quiser me levar na rodoviária mais tarde, vou agradecer, tá?

    Ela concordou com a cabeça, então ele se arriscou e lhe deu mais um beijinho na bochecha e se foi. Ludmila soltou um suspiro decepcionado, sempre esperando a melhor possibilidade quando se tratava de Léo, e deu de ombros, sacolejando a mochilinha que carregava. Se arrastando e dando adeus à sua vida social pacata, ela chegou a lanchonete e pediu um sanduíche natural e Pepsi. Enquanto o atendente pegava seu pedido e o troco, uma das minhas maravilhosas fãs cutucou-a e entregou um folder da minha corrida da noite.

    Corrida, essa, que eu iria vencer porque eu sou demais.

    Ludmila revirou os olhos assim que a garota lhe deu as costas, amassando o papel e jogando na lixeira de qualquer jeito, quase errando devido à sua péssima mira. Eu tinha certeza que havia uma foto muito sexy minha no folheto, mas talvez a cara feia do meu adversário profi-babaca-ssional a tenha assustado.

    O que eu estava falando? Balela. Ainda era tudo sobre o blábláblá de irresponsabilidade no volante.

    Ela soltou um suspiro resignado, como se a lembrança da minha existência fosse algo que realmente a incomodasse e quase não notou o atendente da lanchonete acenando atrás de si para lhe dar os seus pedidos porque eu cruzei seu caminho naquele momento.

    Ela me deu seu tradicional olhar zangado e raivoso, mas foi interrompida pelo atendente, que resolveu berrá-la para chamar sua atenção. Eu nem me incomodei, continuei meus afazeres habituais, perturbar e sacanear a qualquer um que pudesse me irritar.

    Porque eu podia.

    Ludmila pegou sua comida e se sentou encostada em uma árvore perto da entrada do prédio da faculdade, talvez na esperança de ver Léo passar na saída ou de que ele fosse falar com ela mais uma vez antes de ir, mas se distraiu com o livro que abrira em seu colo e não o viu passar. Ele, preocupado em terminar de fazer as malas, também não a viu.

    Eu era o único ligado na situação e vi os dois.

    - BRIGA! BRIGA! BRIGA!

    O grito ecoou por todo o campus apenas alguns momentos depois, fazendo Ludmila levantar os olhos do seu livro, observando ao redor para saber o que estava acontecendo e tornar-se a defensora da paz e da tranquilidade que tinha nascido para ser.

    Essa é a minha primeira aparição nessa história. Por favor, não se apaixonem tanto.

    E lá estava eu, rindo em toda a minha glória, com um bando de gralhas ao meu redor e Léo caído a minha frente, a mão na boca exatamente onde meu punho estivera. Esperava que ele tivesse perdido um dente ou dois, mas quando ele afastou a mão, eu pude ver que só tinha um pouquinho de sangue. Ele estava sendo apenas frouxo mesmo.

    - O quê? - Ludmila apareceu, empurrando as pessoas da roda que se formara ao redor de mim e de seu amigo, apenas para lançar um olhar resignado ao encontrá-lo estirado no chão.

    Minha vontade era dizer: Sim, baby, ele é um babaca e um fracote. Não dê atenção à ele. Dê para mim. Quis dizer a atenção, mas se você quiser outra coisa...

    Mas eu não disse nada e ela também não me daria ouvidos, então ela apenas ajoelhou-se ao seu lado, parecendo devidamente preocupada e checando seus lábios com cuidado e atenção.

    - Eu estou bem, Ludmila, me deixe - murmurou, zangado com sua preocupação exagerada.

    Cerrei os olhos, com raiva. Eu daria metade do que eu tinha para ter aquele cuidado para mim e nem precisava que fosse vindo dela. E a garota não tinha culpa da incompetência e falta de habilidades físicas dele, nem que ele não tivesse nenhum tipo de hombridade de permanecer em pé e revidar quando apanhava. Eu estava esperando uma luta quando impliquei com ele, não um massacre. Estava me sentindo um pouco envergonhado, até.

    Dele.

    De mim, nunca.

    Minha perfeição nunca teve limites.

    - Quem você pensa que é? - Ludmila virou seu rosto zangado em minha direção e antes que pudesse terminar a frase, ela se pôs de pé, o dedo em riste apontando para mim.

    Eu não contive o meu sorriso e cutuquei Marcos, meu fiel companheiro, com o cotovelo. Como nos entendíamos assombrosamente bem, Marcos sabia a minha piada antes que eu pudesse dizer e já estava rindo dela.

    - Veja só, o idiota do Léo precisa de uma garota para defendê-lo! - ri também porque era muito engraçado.

    Patético, na verdade. Se eu tivesse uma garota dessas ao meu lado, mesmo que fosse apenas uma amiga, eu me ofereceria para lutar todas as batalhas que ela quisesse e jamais abaixaria a guarda o suficiente para que ela se metesse entre o fogo cruzado, muito menos a frente de um problema que era meu. E, assim, ela permaneceria inteira inteira.

    Para a minha própria apreciação depois.

    - Como você consegue ser o maior dos idiotas? - ela berrou, apertando a mão que não apontava para mim na latinha de refrigerante que havia comprado na lanchonete.-Por que você tem que ficar arrumando confusão o tempo todo para se aparecer?

    Ludmila estava irada. Seus olhos estavam cerrados, as mãos estavam tentando fechar-se em punho, suas narinas inflavam enquanto sua respiração alterava subia e descia rapidamente os seus maravilhosos peitos.

    Ela provavelmente não havia percebido que era o centro das atenções no momento e que alguns caras estavam encarando a sua movimentação graciosa, embora irada, com olhares cobiçadores e queixos caídos. Eu tinha percebido tudo e eu não gostava.

    Era estranho, mas me incomodava.

    - Ah, linda, você não tem culpa se seu namoradinho não tem colhões pra se defender - eu disse.

    Ela abriu a boca para responder, a língua feroz que tinha e com quem eu já havia tido o prazer de discutir algumas vezes, embora nunca tivesse visto perder tanto o controle para a raiva. Porém, sua resposta nunca veio.

    - Ela não é minha namorada! - Léo interpôs, interrompendo a falta de palavras de Ludmila, e pareceu surpreendê-la, apesar de eu não ser capaz de ver a expressão em seu rosto, porque ela virou-se para trás para olhá-lo.

    Ah, as coisas idiotas que nós homens falamos quando temos nossa masculinidade afetada.

    Ele provavelmente nem se dera conta de que podia ofender a garota ou que poderia se perder ainda mais em vexame.

    Achei que a humilhação dele estava concluída e não disse mais nada. Estava um pouco distraído pela expressão decepcionada e irada de Ludmila e por seus seios se movimentandochamativamente por sua respiração irregular.

    - Vamos sair daqui, Mila - Léo disse.

    Ele estava de pé novamente e as pessoas começaram a se distanciar, achando que a briga estava finalizada. Segurou-a pelo pulso como se fosse uma coleira, mas ela sacudiu o braço, afastando-se do aperto. Marcos, ao meu lado, bocejou.

    - Você pode ir sozinho - disse, calmamente.

    Léo piscou, em dúvidas sobre a tranquilidade que ela tentou passar pela sua voz, mas sem conseguir esconder toda sua hostilidade e ironia. Pobre garoto, apenas concordou com a cabeça, tendendo a pensar o melhor dela.

    Ele estava encrencado. Ela já devia estar bastante zangada por estar ficando abandonada em mais um verão e ele havia acabado de estragar tudo, mas não era esperto o suficiente para ver. Era possível que ela o perdoasse antes do verão acabar, mas eu achava que talvez ela o mantivesse longe no próximo período e, só por isso, todo aquele teatro que eu montara já estava valendo a pena.

    - Tudo bem - disse.

    E, empurrando as pessoas, sumiu de vista. Assim que ele se foi, voltei a encarar Ludmila, que estava tomando mais um gole de sua Pepsi pelo canudo, planejando voltar a ficar invisível logo em seguida.

    - O que você está olhando? - Questionou, claramente revoltada por ainda estar chamando atenção.

    O sorriso foi aos meus lábios antes mesmo que eu pudesse controlá-lo. Eu sabia muito bem o que eu estava olhando. Eu estava vendo uma das garotas mais gostosas que meus olhos já haviam batido sobre.

    Seus cabelos eram de um tom escuro, muito preto e quase ninguém conseguia aquele tom natural. Seus olhos eram grandes, em um castanho especial, que poderiam capturar qualquer um por uma eternidade, sem nem causar cansaço ou tédio, e a sua pele era dourada, de quem passava horas deitada nos vastos gramados do campus, lendo e fazendo seus trabalhos, não querendo retornar para a solidão da sua casa.

    E as curvas, ah!, as curvas. Ela não era exatamente magra, o que era muito bom, porque suas curvas eram muito mais bonitas. Tinha a cintura definida pelo quadril largo, seguido das coxas grossas, que eu já tinha reparado que raramente ficavam desnudas por aí. Seus seios eram simplesmente deliciosos, grandes, bem do jeito que eu gostava.

    Uma beldade à minha altura, embora desacreditada em sua reclusão. Uma boa dose de autoconfiança e nós poderíamos ser Romeu e Julieta, sem as mortes e sem a família.

    O ódio ficaria por conta nossa mesmo.

    Mas descontaríamos na cama, é claro.

    - Seus peitos - respondi, deliberadamente.

    Sem resposta pela segunda vez nos últimos minutos, Ludmila abriu e fechou a boca várias vezes, enquanto Marcos ria ao meu lado e eu exibia o meu mais irritante e charmoso sorriso só para ela, deixando ainda mais desconcertada.

    Algumas pessoas ainda estavam olhando a cena de longe, mas a maioria havia perdido o interesse quando Léo se afastara para o ponto de ônibus. Perto, rodeando mesmo, estávamos apenas nós três, Ludmila, eu e Marcos, e mais dois rapazes que pareciam querer comer Ludmila com os olhos, além de mais uma garota - a peguete atual de Marcos.

    O que foi bom, visto que Ludmila jogou todo o resto de sua Pepsi bem na minha cara.

    Estufei o peito, tentando manter a calma, enquanto Marcos segurava a respiração, sem saber o que fazer. Minha reação mais natural era dar um soco na pessoa que me irritava e se ela passava dos limites, como Ludmila havia acabado de fazer, eu podia bater um pouco mais.

    Mas era Ludmila. Era uma garota, muito gostosa por sinal, e sem nenhuma chance em uma luta física contra mim. Nenhuma.

    E eu não queria machucá-la, também. Não queria bater nela, nem espancá-la ou matá-la. Eu só estava com raiva, muita raiva, principalmente do seu sorriso convencido ao segurar a latinha com os dois dedos e derrubá-la no chão antes de pisar, uma metáfora clara de que era o que ela queria fazer com isso.

    Eu deveria ter dito: Sim, baby, pode pisar em mim a hora que quiser. Na minha cama ou na sua, com saltos altos e o sapato pode ser vermelho. Vou adorar.

    Mas o que eu fiz foi levar minhas duas mãos à costura da sua blusa no decote e puxá-las à extremidade, arrebentando-a bem ao meio, abrindo um decote um pouco maior e me dando uma visão maravilhosamente deliciosa dos seus seios cobertos apenas por um sutiã de renda rosa.

    Rosa. Eu nunca imaginaria que ela era uma garota do tipo rosa.

    A boca de Ludmila caiu antes que ela pudesse puxar as duas bordas rasgadas da sua blusa uma contra a outra, se apertando em um abraço envergonhado, enquanto suas bochechas ganhavam um tom rosado que me lembravam da cor de sua lingerie.

    Ao redor de nós, Marcos e os outros dois garotos estavam quase uivando à visão, o que estava me dando coceira nas mãos. Havíamos chamado a atenção de mais gente, outra vez, mas estavam apenas virando os rostos e entortando pescoços para ver se ainda estava interessante ou não.

    - Você rasgou minha blusa! - ela exclamou o óbvio.

    - Você jogou seu refrigerante em mim. - retruquei.

    Nós nos encaramos por um longo momento e eu vi, em seu olhar, a sombra do tanto de inteligência que ela tinha. Sabia que, apesar de reclamar, sua ação tinha causado uma reação minha que era até plausível. Um pedaço de blusa rasgada que causava suas bochechas rosadas de vergonha era claramente igual à humilhação de estar completamente encharcado e grudento por causa do refrigerante que ela me jogava. Consegui ler tudo isso em seu olhar transparente e suspirei.

    - Temos um impasse - murmurei.

    Por uma eternidade, nós dois nos encaramos, avaliando o potencial inimigo (eu confesso que estava avaliando outras coisas, mas Ludmila cerrava os olhos para mim e eu cerrava para ela para fingir que estava sincronizado com ela). Estava furiosa, envergonhada, revoltada, decepcionada e queria descontar tudo em mim. Eu não era o tipo de cara que gostava de levar na cara sem bater, mas gostava de travar minhas batalhas à altura, na maior parte do tempo. E socos não seriam nem perto de à altura com ela. Gostaria de sugerir um campo mais neutro.

    De preferência, na cama.

    Mas, como isso estava fora de questão...

    - Acho que teremos que jogar os dados - eu disse.

    Depois de correr, era uma das coisas que eu mais gostava de fazer e ter as duas coisas quase sempre juntas era um júbilo sem fim. Era ótimo ganhar meu próprio dinheiro, fazendo apostas altas ao meu favor. Tinha feito uma grana muito boa assim, visto que, durante os meus três anos na faculdade, nunca tinha perdido nenhuma corrida. Trinta e sete corridas e eu tinha comprado um carro novo com meu próprio dinheiro sem precisar fazer contabilidades para saber se eu estava apertado ou não. Eu nunca estava.

    - Jogar os dados? - Perguntou-me, devidamente confusa.

    Sua raiva estava subjugada pela confusão e pela vergonha. Ela estava apertando os pedaços da blusa ao seu redor e olhando para os lados, como se procurasse alguém olhando para que ela pudesse lançar seu pior olhar maligno.

    - Apostar.

    Naquele momento, sorri porque eu claramente tinha encontrado minha motivação para vencer. Ah, eu sabia o prêmio que eu queria e era muito melhor do que dinheiro.

    - Sua corrida? - Questionou, com um sorriso irônico.

    - É claro - eu lhe respondi.

    Ludmila estalou a língua, ponderando minha proposta, mexeu os braços de forma tensa ao redor de si, querendo que a blusa ficasse unida por si só e eu já estava quase arrependido, mas o meu pensamento sobre minha premiação estava me levando aos céus.

    Ela.

    Ao meu dispor.

    - Se você perder - sussurrou, me impressionando ao aceitar tão rápido, provavelmente para resolver adiar logo nosso enfrentamento e ela poder se vestir apropriadamente. - Você nunca mais vai participar dessas corridas ou bater e implicar com qualquer pessoa no campus.

    Claro que ela queria e achava que eu perderia aquela corrida. Estavam todos achando que eu não era o suficiente para vencer o profissional idiota, mas eu era. Ainda mais agora.

    Porém, seu pedido me chocou. Eu estava disposto?

    Ah, mas que diabos!Estava, sim. Ela valeria cada segundo de esforço.

    Que os dados rolassem.

    - Se eu vencer, quero que você venha passe suas férias comigo.

    O pedido pegou-a desprevenida e eu a vi avaliar mentalmente se aquela era uma ideia de todo o ruim, não ficar trancada em casa pela primeira vez desde que o pai se casara de novo, mas o problema era que ela era uma espécime zangada de mulher.

    - Mas são três meses! - Ela resmungou.

    - O meu é para sempre e você me vê reclamar? - perguntei. - O que foi, está com medo de perder?

    Vi-a cerrar os olhos, eu sabia que ela havia encontrado sua própria certeza. Porém, minha motivação estava no céu e o poder de mudar o jogo era meu. Eu que correria, se eu perdesse, eu perdia tudo. Se eu ganhasse, eu ganharia tudo.

    Corridas, apostas e Ludmila. Parecia soar muito bem.

    - Te vejo na rua - disse-me, com os olhos ainda cerrados.

    Sorri-lhe e ela virou as costas para se afastar. Rapidamente, coloquei minha mochila aos meus pés e a abri, me abaixando.

    - Ei, Ludmila! - Chamei.

    Assim que ela se virou, joguei minha camiseta de botões que eu havia colocado por cima da branca naquela manhã, mas o calor não deixara que eu continuasse a utilizar. Ela pegou-a no ar, com as duas mãos, me deixando ter um deslumbre de seu sutiã rosado mais uma vez.

    Seu olhar encontrou com o meu, confuso com uma demonstração de piedade e eu continuava sorrindo despreocupada e convencidamente.

    - Não vai me dar um beijo de boa sorte? - Questionei.

    Ela cerrou os olhos, sem entender qual era toda a minha intenção naquela situação.

    - Merda pra você! - disse o cumprimento comum dos artistas, passando os braços pelas mangas da camisa e virando-se de costas novamente, indo embora.

    E eu ri porque eu sabia que seu desejo era literal.

    A cidade de Jataí tem cerca de cem mil habitantes e fica muito menos jovem quando grande parte de seus dois mil estudantes universitários terminam o período e vão embora para suas respectivas casas. Porém, há uma última noite especial antes que a rodoviária se enchesse de vida e desespero, despedidas, alguns para sempre, outros indo e voltando repetidas vezes, incapazes de fechar todas as suas matérias do curso e conseguirem tirar seu diploma.

    O maior evento da última noite especial, durante os quase três anos que eu estava na faculdade e os meus seis períodos, era a minha corrida. As corridas de racha, embora proibidas, acabaram se tornando uma pequena febre na cidade de Jataí, alguns anos antes que eu ingressasse na faculdade. Não éramos muitos alunos ou muitos corredores - e alguns nem estavam na faculdade -, mas o suficiente para que eu nunca tivesse enfrentado duas vezes nenhum adversário em minhas trinta e sete corridas. Logo no meu primeiro período, eles perceberam que eu era uma espécie de estrela dos rachas e, então, me davam as corridas de abertura e encerramento do circuito semestral.

    Porém, agora, estava um pouco escasso de adversários e me arrumaram um corredor de kart profissional para ver se eu perderia ao menos uma vez.

    Cagões. Morrendo de medo de correr comigo e me arrumaram alguém fora do circuito pra verem se eu caía e aí eles iriam poder rir de mim. Como se eu sequer fosse deixar algo assim acontecer.

    - Quanto? - Marcos me perguntou, ao me ver sair do banheiro da oficina. Ele estava curvado sobre o carro e eu podia ver meu cartão bancário encaixado no bolso traseiro de sua calça.

    Quanto? Eu me perguntei. Bastante. Quanto mais estivesse em jogo, mais eu estaria disposto a me quebrar inteiro para conseguir. Já tinha bastante coisa na mesa, mas eu queria mais. Eu sempre queria mais.

    - Coloca uns três - eu disse. - Vou vencer essa de longe. Quero faturar.

    Marcos me encarou como se eu tivesse cheirado uma mão cheia de pó e estivesse completamente doidão. Dei uma sacudida no casaco de couro que eu vestia e me abaixei um pouco, olhando minha beleza perfeita no espelho, ignorando-o completamente. Mas, claro, ele não desistia assim tão fácil.

    - Três mil? - Questionou-me, ainda preso na teoria de que eu estava louco ou drogado.

    Revirei os olhos para mim mesmo no espelho, minha paciência já era bastante curta e Marcos tinha a mania irritante de levá-la ao limite do improvável. Deus sabe quantas vezes eu já não estive perto de tirar a pele dele e pendurar na minha sala de estar só para a apreciação do meu ego.

    - Três mil - repeti. - E veja se Ludmila já chegou.

    Vi Marcos franzir a testa pelo espelho, mas fez a escolha sábia de não me atormentar mais e saiu do camarim.

    Certo, eu queria ser bem sincero aqui. Eu tinha a consciência do quanto eu era foda e especial, mas isso não me impedia de sentir aquele nervoso e frio na barriga antes de qualquer corrida. E daquela, em especial, que tinha bastante coisa em jogo e parecia ser difícil.

    Adrenalina, repeti para mim mesmo mentalmente, é só a adrenalina fazendo o que ela tem que fazer.

    Meu olhar recaiu sobre o embrulho em cima da cômoda e eu balancei a cabeça, tentando não pensar mais sobre Ludmila, sobre apostas ou sobre vitória ou derrota. Só eu e meu corpo.

    Com o dela. Na minha cama.

    Não. Eu balancei a cabeça, sabendo que esses pensamentos só piorariam assim que eu colocasse meus olhos nela outra vez. Estava me perdendo em desejos que eu ignorara desde a primeira vez que eu colocara meus olhos sobre ela, em minha décima vitória, quando desci do carro para comemorar com algumas bebidas e arrumar alguma garota para levar para o meu apartamento.

    Ela.

    Lembro de chegar nela para oferecer uma bebida e passar os seguintes dez minutos com ela me falando sobre tudo o que ela achava sobre acidentes de trânsito e violência em cidades pequenas. Em algum momento, eu me cansei, lancei um sorriso, virei as costas e deixei ela falando sozinha.

    Foi a primeira vez que uma garota me enfrentou e me disse não. Aquilo me esquentou por dentro e eu enchi a cara naquela noite. Na semana seguinte, me peguei procurando-a pelos corredores, prestando atenção nos seus trejeitos e manias e me senti um merda completo por estar tão obcecado.

    Não apaixonado, apenas obcecado com a ideia de me enfiar no meio das pernas dela. E achei que seria adequado deixar para lá, em vista de todos os seus olhares revoltosos em minha direção.

    Era completamente frustrante.

    Até agora.

    Tudo dependia daquela corrida.

    Três mil reais e os lucros. Se as apostas fossem boas e se todos estivessem apostando, mesmo, no babaca do profissional, eu poderia chegar a ganhar dez mil reais. Dez mil reais, vencer um profissional, permanecer invicto e Ludmila. Parecia um ótimo prêmio.

    Fechei os olhos e respirei fundo, várias vezes, tentando manter a calma para ter a mente limpa e fazer uma ótima corrida. Eu precisava vencer, precisava de foco e calma. Correr era a única coisa que parecia funcionar com perfeição na minha vida e eu precisava disso.

    Marcos retornou antes do que eu pensava e passou direto pela minha garagem, guardando meu cartão de volta na minha carteira, na sacola abandonada no chão do oficina.

    - E, então? - Questionei.

    Ele levantou o olhar para mim, meio avoado e perdido, sorrindo daquele jeito idiota que costumava convencer a todos que tudo estava maravilhosamente bem e fazer todas as garotas caírem aos seus pés naquela inocência fingida que logo se substituía por safadezas.

    - Três mil, cara - ele disse. - Tá um contra dez. Se tu ganhar essa porra hoje, mano, vai ser uma grana louca. Até coloquei uma graninha minha também, pra ver se eu faturo um pouco, mas se você perder, eu te mato.

    Torci a cara porque não era o que eu queria saber. Isso já tinha captado no ar, mesmo sem suas informações animadas, sem motivo algum. Eu queria era a outra parte da informação.

    - Ludmila?

    Marcos riu de uma forma totalmente irritante, se levantando para sentar no banco do motorista, fazendo os ajustes básicos para que eu não precisasse fazê-los quando fosse até lá. Ele levantou uma sobrancelha para mim, como se me desafiasse de alguma forma a explicar meu comportamento tão hostil durante o dia inteiro.

    - Você está caidinho por essa garota, né? - ele se riu todo. Cerrei os olhos em sua direção, mas ele não se abalou. Eu apenas achava que eu dava confiança demais a ele e ele estava começando a acreditar que eu não ia estourar minha mão na cara dele em nenhuma circunstância. - Tá aí, uma gata. Saiu de casa pra matar alguém do coração hoje.

    Cerrei ainda mais os olhos, minha cabeça maquinando rapidamente o porquê uma garota que gostava de se esconder havia se vestido para matar, de acordo com Marcos. Talvez ela estivesse com raiva do amiguinho e sua performance naquela tarde e quisesse encher a cara e se vingar transando com qualquer um - que eu certamente ia cuidar para que fosse eu - ou talvez ela tivesse percebido o meu olhar quando rasguei sua blusa...

    - Você acha que ela pode estar tentando me distrair? - Questionei, rapidamente, sem poder conter meus pensamentos.

    Marcos franziu a testa, ainda com o sorriso irritante e convencido no rosto. Foda-se. Eu estava mesmo embasbacado pela garota e de nada me adiantava ficar escondendo isso do meu melhor amigo. Assim, talvez, ele me ajudasse em alguma coisa útil ao invés de ficar rindo às minhas custas.

    - Você já está distraído feito um idiota - disse, rindo. - Quando vir o decote dela, já era.

    - Traga ela aqui - pedi, sem nem pestanejar. Marcos abriu a boca para retrucar, mas eu não permiti. - É melhor que eu a veja agora do que na rua, se é assim - justifiquei, mas a verdade era que a minha intenção era só vê-la logo.

    Ele revirou os olhos e se levantou, dando um tapinha amigável em minhas costas, o sorriso irritante se fora para que um mais complacente e companheiro tomasse o seu lugar.

    - Cara, boa sorte - ele disse. - Com ela e com a corrida.

    Balancei a cabeça em concordância e ele saiu novamente. Suspirei e balancei a cabeça, tentando controlar minha ansiedade, que eu não sabia mais se era por Ludmila ou pela corrida e era melhor eu me acalmar porque qualquer descontrole poderia levar a um errinho que me prejudicaria demais. Peguei o embrulho em cima da cômoda e coloquei-o no braço da poltrona e sentei-me, tentando relaxar. Tinha cerca de quinze minutos antes que me convocassem para sair da garagem e aos invés de manter a calma, eu havia pedido uma encomenda de

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