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Jogando os Dados com o Acaso: Série Jogando os Dados - Livro #3
Jogando os Dados com o Acaso: Série Jogando os Dados - Livro #3
Jogando os Dados com o Acaso: Série Jogando os Dados - Livro #3
E-book314 páginas4 horas

Jogando os Dados com o Acaso: Série Jogando os Dados - Livro #3

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Sobre este e-book

Não é necessário ler os livros 1&2 antes de ler esse, pois conta outra história dos mesmos personagens, só que mais maduros.Mais de dez anos se passaram desde a primeira aposta, a blusa rasgada e a Pepsi desperdiçada.Talles e Mila agora são um casados e acabaram de receber sua terceira filha ao lar.Ambos sucedidos profissionalmente, Mila acaba recebendo uma proposta que vai abalar as estruturas do lar que eles criaram.Brigas, apostas, intrigas e muito sexo nos esperam na continuação de Jogando os Dados.Romance erótico - Contém cenas de sexo explícito e palavras de baixo calão.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de mar. de 2022
ISBN9781526004970
Jogando os Dados com o Acaso: Série Jogando os Dados - Livro #3
Autor

Letícia Black

Letícia Black é natural do Rio de Janeiro, nascida no comecinho da década de 90. Seu primeiro livro foi publicado em 2012 e ela não pretende parar. Autora orgulhosa dos livros Contos de Uma Fada, Garota de Domingo, Safira, Toque de Recolher, Monstro, Deserto e da série Jogando os Dados.

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    Pré-visualização do livro

    Jogando os Dados com o Acaso - Letícia Black

    Este livro encontra-se em sua primeira revisão. Pequenos erros podem ser encontrados e serão corrigidos nas próximas edições, assim como novas cenas serão acrescentadas ao final do livro na segunda edição. Boa leitura e fique atento aos avisos de revisão.

    Revisão: Julia Bianca

    Diagramação: Letícia Black

    ©‎ 2016 by Letícia Black

    Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da autora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.

    Para Maya,

    Que é tão parecida com Mila que me assusta.

    Surpresa

    Mila

    - Será que a gente se vê outra vez, mamãe?

    A enfermeira que soltou a pergunta riu da careta que eu fiz ao ouvi-la. Outra vez? Não, obrigada. Três filhas e um marido criança já eram o suficiente para tomar todo o meu tempo e cuidado.

    - Cheguei, cheguei! - Talles chegou empurrando uma cadeira de rodas para mim, com o maqueiro ao seu lado, coçando a cabeça, sem entender como aquilo havia acontecido.

    A enfermeira pegou Anna Julia no colo e eu parei por um momento, apenas para checar se ela estava suficientemente segura em seus braços. Confortada pelos braços certeiros da mulher, olhei para Talles ao meu lado, oferecendo a mão para que eu segurasse e a aceitei. O maqueiro auxiliou-nos a me posicionar na cadeira de rodas e logo minha filhota estava nos meus braços.

    Certo. Agora sim.

    O parto de Júlia tinha demorado cerca de dezoito horas e, ainda, a pequenina de apenas dois dias já se mostrava com um temperamento mais difícil que os das duas irmãs mais velhas, chorando, as vezes, apenas por dengo, tendo acabado de comer e estando limpinha.

    Não era complicado cuidar de um bebê depois que se pegava o jeito - só era complicado quando seu marido resolvia usar bebês para brincar. Ou então dormia com elas em seu colo. Não podia culpá-lo, porém, por não tentar. Era esforçado e atencioso com todas as três - e comigo também. Só não tinha muito apelo natural.

    O caminho do hospital até a fazenda foi tranquilo. Julia, que passara a noite anterior acordada, estava dormindo em meus braços tão profundamente que nem ensaiou acordar enquanto falava ao telefone com uma das funcionárias que ficou com as duas meninas em casa, nos aguardando.

    Marianna e Tatianna estavam felizes pela nova irmã, o que era uma surpresa agradável. Tatianna, com seus doze anos, tivera muita dificuldade em aceitar Marianna quando ela nascera. E Marianna, com quase quatro, só estava feliz por ter alguém com quem brincar - mal sabia ela que Julia não brincaria por alguns meses ainda.

    Eu devia dizer que estava feliz de uma forma que eu não sabia que poderia ser e devia aquilo tudo ao Talles, desde o começo.

    Meu maridão, meio criança, meio adulto super responsável e workaholic, era a graça dos meus dias cansados e o suspiro de alívio nas horas mais complicadas.

    Nós brigávamos com uma certa frequência e, as vezes, era só de brincadeira. E as apostas acabavam ficando cada vez menos elaboradas como qual das meninas chegaria primeiro ao nosso quarto em um dia de chuva ou quais funcionários começariam a namorar primeiro.

    Mas, apesar do seu jeitão despreocupado e provocativo, Talles era um pai sensacional. Mais do que eu poderia ter imaginado, mais do que eu poderia ter sonhado e infinitamente melhor do que o que eu ou ele tivéramos.

    Anna Júlia estava sendo a mais difícil das três meninas. Já em casa, eu mal conseguia dormir durante a noite, ela chorava sem parar. Depois de três dias e apenas uma ou duas horas de sono, Talles foi buscá-la para que eu a amamentasse e, enquanto o fazia, soltei um resmungo sobre:

    - Chega. Se você se atrever a colocar outra criança na minha barriga, eu corto o seu pau fora.

    Talles riu do meu desaforo e nada disse. Ele era tão atencioso e carinhoso que, quando eu reclamava de coisas assim, sobre a gravidez ou a maternidade, ele só aceitava e me apoiava. De alguma maneira e em algum momento, eu tinha feito com que ele entendesse que daquilo, quem mandava era eu.

    Na verdade, eu mandava em quase tudo.

    Mas eu sinceramente não esperava a reação que ele teve a seguir. Na surdina e sem perguntar por mim, ele procurou o médico da cidade e conseguiu fazer os procedimentos para uma vasectomia. Praticamente escondido e praticamente de surpresa - apesar de alguns funcionários da fazenda estivessem cientes. Contou-me apenas quando tinha realizado. Disse-me que escondera para não me deixar preocupada e não afetar a Júlia, que precisava tanto de mim.

    Amei-o ainda mais por isso. Porque, mesmo depois de mais de dez anos de casado, ele ainda conseguia me surpreender com aqueles atos doces.

    Não era nem um pouco difícil estar com Talles. Apesar de tudo, cada dia era um suspiro de felicidade diferente. Mesmo com as brigas, o estresse e, as vezes, ele sendo totalmente difícil: a gente era feliz pra caralho.

    Minhas filhas moviam minha vida agora. Tatianna, com 11 anos, era inteligente, rápida, esportiva e bastante revoltada com a vida. Ainda tinha problemas para nos dividir com as irmãs, mas concentrava seus esforços e sua raiva nos esportes que praticava. Seguia o pai para baixo e para cima, idolatrando-o de uma forma tão plena e tão sincera que eu invejava.

    Marianna, por outro lado, era quieta e levemente curiosa. Gostava de saber. Em seus 4 anos de vida, estava na fase de entender coisas simples e outras não tão simples assim. O momento mais complicado foi quando perguntou-nos como os bebês iam parar na barriga da mamãe - e como se explicava aquele tipo de coisa para uma criança de 4 anos?

    Principalmente quando flashes da noite que gerara Anna Júlia passavam pela minha mente no momento da pergunta.

    E apesar das três, agora principalmente Anna Júlia, ocuparem o meu dia com suas travessuras e exigências, eu sentia falta de ter o meu projeto, de ter algo para fazer. Não conseguia me sentir bem e confortável com a vida de dona de casa, cuidando de filhos e dando ordens para empregadas, essa não era e nunca tinha sido eu.

    - Eu estava pensando em tentar dar aulas na escola das meninas - confessei para Talles, uma noite. - Sabe, depois que a Ju crescer um pouquinho. Ano que vem, talvez. Pra ocupar a cabeça.

    Talles franziu a testa, movimentando as pequenas entradas sem cabelo que ele começava a cultivar - mas ai de quem falasse qualquer coisa sobre aquilo!

    - Achei que você estava ocupada com as coisas lá dos caras que compraram sua fórmula.

    Torci o rosto, sem poder, exatamente, negar. Desde que me mudara para fazenda, quando nos formamos, comecei a trabalhar numa fórmula que matasse as pragas das plantações e não prejudicasse as plantas. Foram anos de trabalhos, tentativas e frustações. Em um ano, especificamente, perdi parte da safra de morangos, deixando Talles totalmente furioso. Porém, consegui encontrar o ponto certo: o meu pesticida funcionava como uma vitamina para as plantas, mas exterminava todo tipo de praga. Usamos com exclusividade por cinco anos, o que deu à nossa fazenda uma vantagem absurda contra as outras. Porém, depois dos cinco anos, cedemos à pressão de uma empresa gigantesca que queria comprar a fórmula e reproduzir para vender em massa para os fazendeiros de todo o mundo. Pagaram-nos uma fortuna assustadora por isso e, ainda assim, me deram autonomia para monitorar a produção da fórmula e ajudar com os ajustes e melhorias que eles, com laboratórios e recursos muito melhores que os meus, poderiam fazer.

    Eu o fazia à distância, o laboratório principal da empresa ficava em São Paulo, o que dificultava meu acompanhamento, principalmente durante a gravidez; mas isso não era o suficiente. Tomava-me uma ou duas horas de atenção por semana, com um relatório básico que me mandavam - feito, provavelmente, pelo estagiário - e sugestões que enviava por fax. As vezes, faziam videoconferência comigo em reuniões importantes. Mas eu era só um detalhe, alguém inteligente e que conhecia a fórmula que podia ajudar. Não era mais algo meu, não era mais um trabalho.

    - Eles quase não me contatam mais, a fórmula melhorada vai entrar em produção em uns dois meses e não vão mais precisar de mim - choraminguei. - Queria fazer algo depois disso.

    Talles continuava me encarando com aquela expressão de que queria me entender e não conseguia. Na verdade, eu achava que ele nunca tinha conseguido me entender por completo ainda, mesmo depois de quase quinze anos.

    - Você pode me ajudar com a administração da fazenda, oras - disse, por fim. - Sempre preciso de ajuda. Acho que o contador tá roubando alguma coisa.

    Revirei os olhos, sem paciência para Talles arrumando confusão com o contador. Ele implicava com ele desde que o pobre homem elogiara-me em uma festa. Desde então, achava que o cara estava tentando passar a perna nele com o discurso não conseguiu minha mulher e agora quer meu dinheiro, onde eu sempre mandava ele calar a boca e parar de falar merda.

    - Você sempre acha que o contador tá roubando alguma coisa.

    - É porque ele tá! - cismou. - Se você desse uma olhada nos números...

    E, pronto. Ia começar. Talles, apesar de ainda apresentar características adolescentes, amava o seu trabalho e nunca se cansava de falar sobre ele. Depois que o pai faleceu, ele resolveu não trabalhar mais com animais. Em coligação com o meu projeto de pesticida, Talles resolveu transformar toda a fazenda em plantio, embora não de uma coisa só. Com isso, praticando as coisas que aprendera na faculdade, aprendeu a amar o trabalho e fazia de tudo para ajudar as famílias carentes da região. Nós empregávamos quase metade da cidade depois do crescimento da fazenda e tínhamos uma pequena vila dentro da fazenda, para funcionários que moravam mais distantes ou necessitavam ficar mais próximos da família (grávidas, bebês, parentes adoecidos). Além de tudo isso, parte da nossa safra era doada para abrigos e orfanatos próximos - e ele ainda ajudava monetariamente quando a fazenda tinha um lucro que passava de um determinado valor - e passava disso quase sempre. As vezes, passava muito. E, as vezes, mesmo quando não passava, ele dava um jeito. Lembro de um natal que o lucro foi muito inferior ao esperado e ele, mesmo assim, comprou cestas básicas e presentes para todos.

    Talles agora era um homem responsável e com um coração maior que...

    Ah, bom. Deixa pra lá sobre o que é menor que o coração dele.

    - Eu já dei uma olhada nos números, Talles - resmunguei. - Você sabe. Eu não gosto muito da administração da fazenda...

    - Nem eu. Por isso que quase não faço - riu.

    - Seu escritório tá uma bagunça. Me dá mais uns dias e eu arrumo aquilo tudo pra você. Deixa as meninas voltarem pra escola.

    - Eu não fico lá mesmo, tudo bem - debateu.

    Talles não conseguia arrumar o escritório nunca e o serviço administrativo ficava na mão de três funcionários que só empilhavam papéis sem nenhum tipo de organização lógica. As moças que trabalhavam na casa tinham medo de não conseguir arrumar direito - a maioria delas estava aprendendo a ler com o incentivo que Talles dava para seus funcionários voltarem a estudar. Então ficava uma bagunça até que eu, que tinha mais tempo, ficava extremamente irritada e fosse arrumar.

    Ficamos em silêncio, deitados na cama, encarando o teto. Meu corpo ainda estava suado da atividade realizada anteriormente e ainda sentia a respiração de Talles um pouco alterada - apesar de ter sido muito ativo na juventude, agora não tinha tanto tempo para as atividades físicas, embora ainda fosse esguio. Isso o deixava sem fôlego por mais tempo, às vezes, e vivia reclamando que queria voltar a se movimentar. Chegou a comprar um novo saco de areia, mas o pobre coitado ficava abandonado e sem uso a maior parte do tempo.

    A chuva de verão batia nas janelas, refrescando o calor insuportável que fizera durante o dia e dando aquele som ambiente gostoso dos pingos de água batendo na janela e o cheiro entorpecente de terra molhada.

    - Então, sobre a escola... - Recomecei.

    - A gente vê isso mais pra frente, ok? - Talles cortou o assunto. - Falta muito tempo e a Ju ainda tá com um mês. Você não vai começar a dar aulas agora.

    Talles tinha razão sobre isso, então me aquietei. Quando eu achasse que a Júlia poderia ficar algumas horas longe de mim, procuraria a escola para uma entrevista. Tinha certeza que, com o meu currículo, me conseguiriam uma vaga rápida.

    Então, afundei-me nos braços do meu marido, relaxando pelos momentos que tínhamos juntos porque eles sempre eram interrompidos por...

    Júlia chorando.

    - Eu vou lá - levantou-se, antes que eu pudesse tomar qualquer atitude. - Fica aí, já trago ela pra você.

    Sorri e concordei com a cabeça. Admirava muito a prestatividade de Talles porque eu entenderia se ele pedisse para que eu pegasse a Ju. Talles trabalhava o dia inteiro, andando no Sol quente junto com os peões. As vezes de cavalo, as vezes de bug, mas eu ficava em casa, no fresco, brincando com as meninas, e ele ralava. Mas, mesmo assim, enquanto estivesse em casa e eu estivesse deitada, se Júlia chorava, ele era o primeiro a chegar nela.

    Muito coruja.

    Os dias se passaram com extrema rapidez e eu vi minha caçula crescer absurdamente. Era a parte mais triste de ser mãe, eles logo viravam bichinhos respondões e irritados, como Tatianna.

    Tati, no momento, estava zangada porque queria ir à uma festa. A garotinha ainda estava muito irritada por ter que dividir a atenção - principalmente de Talles - com as irmãs, embora adorasse Júlia e sua língua de bebê.

    Aos 11 anos já exigia sair como uma adolescente - que ela ainda não era. Apesar de não estar muito confortável com ela indo à uma festa no limite da cidade, a mãe da menina entrou em contato e disse que era muito importante para a filha dela que Tati estivesse lá, então eu cedi. Mas prometi que essa era a única concessão que eu faria sobre o castigo dela por seu comportamento egoísta e por todas as implicâncias, principalmente com Marianna.

    Talles a levou e deixou-a para a festa, aproveitando a ida para passar em um colega e fechar um negócio. E eu fiquei em casa com Júlia e Mari assistindo algum desenho educativo na TV, pateticamente sentada ao lado do telefone, esperando uma ligação ruim.

    Depois que virei mãe, toda vez que as crianças estavam fora de casa, eu esperava uma ligação ruim.

    Então, lá estava eu, sentada entre a sala e o quarto, com um livro nas mãos e ao lado do telefone... Quando ele realmente tocou.

    O livro caiu no chão e eu atendi com um fôlego de alguém que acabara de cruzar a linha de chegada de uma corrida olímpica.

    - Alô? - O desespero estava latente em minha voz.

    Princesa? Aconteceu alguma coisa?

    Suspirei de alívio ao ouvir a voz do meu pai. Tomei uma lufada de ar e tentei relaxar, entendendo que não tinha nada de ruim acontecendo e que toda a minha ninhada estava bem.

    - Ai, não, pai - aliviei-me. - É que a Tati foi na primeira festa sozinha...

    Não precisava de mais explicações e meu pai, mesmo não sendo um modelo perfeito, entendeu e riu.

    Vai ficar tudo bem, Mila acalmou-me. Fora isso, você está bem, filha? Como vai a Juzinha? E a Mari?

    Meu pai tinha mudado totalmente comigo depois da gravidez de Tatianna. Passara a ser mais presente, mais solícito e nos visitava sempre que podia. Agora menos, já que estava ajudando na campanha de Cael, que concorreria para presidente naquele ano.

    - Tô bem sim, pai. A Ju tá dormindo, ela tá imensa, pai! Sério, essa menina não para de crescer. E a Mari tá aqui, vendo TV. Muito espertinha que ela tá. - ainda estava tentando me acalmar do susto. - E você?

    Tô bem sim, filha disse, de uma forma tão esquisita, que eu soube que tinha não tinha me ligado para saber de como eu estava. Desculpa te ligar assim correndo... Mas eu recebi uma proposta esses dias e, bom, tive que te repassar.

    Voltei a me sentar na cadeira, sabendo que a bomba seria grande e aguardei.

    Como você sabe, o Cael vai concorrer esse ano e ele tem tudo pra ganhar, você sabe. Algumas alianças estão sendo feitas e me convidaram pra ser ministro mais uma vez, mas eu não tenho mais idade pra essas coisas...

    Ah, não.

    "A Manu sugeriu seu nome, Mila. E está certo, seu nome está em alta. Em alguns meses, seu pesticida vai ser vendido no mundo todo. O comitê acha até que você vai ganhar um Nobel.

    - Que Nobel, pai? - Estava quase rindo de nervoso. - Não existe Nobel pra isso.

    Não importa, eles acham que você vai virar um nome importante e que seria ótimo ter você com a gente. Só de vazar que você está cotada para o cargo, a oposição vai enlouquecer.

    - Pai... Eu não sei... Olha... - Eu não conseguia nem falar. Minha garganta estava fechada. Minha primeira reação era dizer não, mas nas condições que o pedido estava sendo feito e as pessoas envolvidas. - Preciso conversar com Talles. Isso mudaria tudo. Você sabe.

    Eu entendo, filha. Mas você entende a importância disso?

    - Sim, pai. Eu cresci com um político.

    Nunca perdia a chance de dar uma alfinetada, porém. Meu pai já estava acostumado e nem discutia - tivera anos para se importar comigo enquanto fazia sua carreira. Agora, mulher feita, eu servia para os seus própositos.

    Dele não, Mila.

    Era Manu e Cael. E eu lhes devia muito.

    Eles querem você como ministra do meio ambiente, Mila. Sei que você iria trabalhar com o que você gosta.

    Entortei a cara porque várias ideias já estavam se passando pela minha cabeça com todas as coisas que eu poderia fazer e a verba que eu teria. Todas as leis ambientais necessárias que ainda não existiam - e o desmatamento descontrolado que acontecia no Norte e no Centro-Oeste. Eu me importava, se todos os anteriores não. Poderia fazer alguma coisa.

    Droga.

    - Ainda preciso pensar, pai. Não posso aceitar assim.

    Eu entendo, filha. Pensa com carinho, fica bem e não se preocupa que a Tati vai voltar logo.

    - Obrigada, pai.

    Beijo, filha.

    E desligou.

    Encarei a pequena Marianna sentada em frente da TV, distraída com seu desenho animado. Começaria a estudar na próxima semana e, talvez, no próximo ano, tivesse que mudar de escola.

    Teríamos que nos mudar da fazenda. Tatianna não veria mais a pequena Lola, sua melhor amiga.

    Todas elas teriam que mudar de pediatra - o que as acompanhava desde o momento em que choraram ao sair de dentro de mim.

    E Talles...

    Talles não gostaria nada, nada disso.

    Exagerado

    Talles

    Eu nunca conseguia me convencer do tamanho da minha sorte.

    Toda vez que meus olhos batiam em suas curvas acentuadas, em seu rosto angular, em seu sorriso sincero ou sua expressão de total raiva por alguma besteira que eu havia feito, somente suspirava. Suspirava porque Ludmila era, de longe, a melhor coisa que havia me acontecido e eu não tinha dúvida alguma de que não havia explicação para o tamanho da minha sorte ao conseguir amarrar aquela mulher ao meu lado e conquistar seu amor e sua adoração com tanto afinco.

    Ela era a luz dourada da minha existência, meu nascer e meu pôr do sol. E eu sabia que, sem ela, não seria metade do homem que sou hoje e nem de perto tão feliz, não sem estar rodeado pelas minhas quatro garotas.

    Mila estava em meu escritório, parecendo muito concentrada em uma quantidade repreensível de papéis. Sua testa se franzia daquela forma inteligente e sensata que fazia quando estava trabalhando ou tentando vencer uma discussão comigo. E estava tão imersa em pensamentos e em sua leitura que não me viu aproximar-me dela até que eu lhe desse a volta e estivesse atrás de si, lhe dando um beijo em seu pescoço alvo e sempre provocante.

    - Linda - murmurei, sem motivo nenhum.

    Ouvi seu riso mais do que vi, envolvendo seu corpo e a cadeira em que sentava de forma displicente, tentando entender qualquer coisa do papel que estava em sua mão, sem muito sucesso. A outra mão de Mila, livre, subiu pelo meu braço, agraciando minha pele com seu toque sutil e contente pela minha presença.

    - Acabou o trabalho? - Perguntou.

    Não parecia estar prestando atenção na conversa, porém. Estava imersa em sua leitura, mas, de rabo de olho, vi-a me encarar, aguardando a resolução daquela situação.

    A gente sabia exatamente como aquilo iria acabar, mas era o jogo que jogávamos há quase quinze anos e nenhum de nós dois estava cansado da brincadeira.

    - Eu só estava morto de saudade de você - murmurei.

    Minha esposa sorriu levemente com minhas palavras porque ela sempre compreendia o que eu queria dizer. Ela era simplesmente linda e não havia discussão: era a mulher da minha vida, embora eu tivesse uma séria complicação para dizer isso claramente, com as palavras que queria utilizar. Mas não era necessário, Ludmila lia meu amor nas entrelinhas das minhas palavras e das minhas declarações e atitudes apaixonadas. Lia, inclusive, nos meus ciúmes e possessões que, embora reclamasse e não fosse exatamente fã, ela entendia na maior. Porque sabia que tudo aquilo era mais superficial que maquiagem quando, na verdade, quem governava nosso relacionamento, nossa casa e minha vida era ela. A rainha do meu mundo, minha esposa e mãe das minhas filhas. A mulher mais maravilhosa de todo o universo e eu, o cara mais sortudo da existência, por ter sua companhia.

    Girou a cadeira para o lado e meus braços

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